Fundada inicialmente
como um projeto de Mantus (Todos instrumentos e guitarra – ao vivo - Mysteriis,
Necromancer, Darkest Hate Warfront) e Triumphsword (vocal, Land of Fog, Thorns
of Evil, ex-Warmachine), a agora banda Patria chega ao seu ápice com o quarto
álbum “Nihil Est Monastica”. Mostrando um Black Metal que nos remete aos tempos
áureos do estilo no início da década de 90 mesclado a o Metal extremo
brasileiro, o Patria segue sua linha sem se preocupar com estereótipos e muito
menos como imposições feitas pela mídia ‘mainstream’. Conversamos com Mantus,
que se mostrou muito atencioso, sobre o novo trabalho, dentre outros assuntos
que envolvem a banda, além de aproveitar um ‘espacinho’ para falar sobre o mais
novo objetivo de sua outra banda, o Mysteriis. Confira a entrevista nas linhas
abaixo.
“Nihil
Est Monastica” mostra o Patria fiel ao seu estilo, mas ainda mais raivoso e
agressivo só que ao mesmo tempo um pouco mais melódico. Você concorda com isso?
MANTUS:
Até certo ponto concordo, ele é um álbum realmente mais raivoso, direto e
também tem sua parcela de melodia, é claro… Mas acredito que em nosso álbum
anterior, "Liturgia Haeresis" (2011), essa questão melódica tenha
sido ainda mais explorada, talvez até além do que gostaríamos. Inclusive foi
baseado nessa nossa própria percepção que tivemos certa preocupação em "recuar"
nesse quesito. De maneira nenhuma queremos perder isso, sempre fez parte da
nossa música e acho uma característica extremamente importante, mas nosso foco
principal nesse disco novo foi tentar buscar um meio termo diferencial para
essa linha melódica, deixando ela mais triste, sombria, torta e
"feia". Também trabalhamos muito melhor os andamentos das músicas, os
detalhes nas batidas, dando espaço até para alguns experimentos que não
tínhamos nos permitido nos lançamentos anteriores. Foi uma espécie de síntese da
nossa discografia com um algum "extra" que tiramos da manga. Tentamos
resgatar a simplicidade do que fizemos nos primeiros discos e misturar com a
complexidade, mesmo que discreta, desse nosso lado mais experimental, ambiente
e progressivo. Não só na parte instrumental como também nas linhas de vocal…
Tudo isso sem perder aquela sonoridade ‘lowfi’ e orgânica do Black Metal do
início dos anos 90, que sempre foi o núcleo da coisa toda. O "Nihil Est
Monastica" é um disco que deve ser ouvido como um todo e diversas vezes.
Não é de tão fácil entendimento e foi feito dessa forma propositalmente, pra
fugir da monotonia e dos ouvidos de qualquer um. No final das contas, estamos
nessa constante busca pela nossa própria identidade e acho que estamos chegando
perto disso de alguma maneira a cada disco que lançamos…
O
novo trabalho seguiu a mesma metodologia dos anteriores na hora de ser
composto? Aliás, como é o processo de composição da banda?
MANTUS:
Basicamente sim. O processo de composição de nossas músicas é muito simples,
pois produzimos praticamente tudo no estúdio na hora da gravação. Como é tudo
gravado no nosso home studio, não existe aquela pressa ou barreiras na hora de
testar ou melhorar uma música. Procuramos fazer tudo no nosso próprio tempo,
experimentando a melhor forma de desenvolver cada música. E é claro que temos
algumas poucas bases "preconcebidas" e ideias bem rústicas, que são
desenvolvidas melhor durante esse percurso, mas no geral é quase tudo feito de
improviso, tentando captar aquele sentimento único do momento, o que muitas
vezes nos deixa até surpresos com o resultado que conseguimos. Algo que talvez
não fosse possível conseguir através de ensaios eu diria... Enfim, soa mais
honesto e natural!
Mantus |
Mesmo
tocando em outras bandas que também fazem Black Metal, a sonoridade do Patria
se difere um tanto dessas hordas soando mais rústica e agressiva. Como vocês
fazem para não deixar influenciar na hora de compor?
MANTUS:
O
PATRIA talvez tenha incrustado no seu DNA um sentimental mais radical e conservador…
Eu sempre procurei nadar contra a maré. Não é pra ser fácil, nem bonito e menos
ainda buscamos superproduções cristalinas e modernas. Isso tudo soa falso e de
plástico, além de pra lá de monótono. Nossa ideia é fugir disso e mostrar o
lado mais underground, profano e "politicamente incorreto" da música.
Não seguimos ditadura dos grandes selos ou mídia… O foco aqui é sujeira,
barulho, cheiro de cova!!! Acho que esse é o principal diferencial do PATRIA e
de certa forma acaba refletindo na nossa música.
Falando
nisso, após quatro álbuns podemos considerar o Patria uma banda ou vocês ainda
a tem como um projeto paralelo?
MANTUS:
Sem dúvida somos uma banda hoje em dia (N.E.: ao vivo integram a banda Igniis
Inferniis na guitarra, WS Vulkan no baixo e Abyssius na bateria). Temos uma
formação completa e ensaiamos semanalmente. Apesar disso não somos uma banda
que toca ao vivo toda hora… Não vivemos da banda e temos nossos trabalhos,
família e responsabilidades em geral, o que não nos permite aceitar qualquer
convite. Mas estamos sempre abertos para shows, quando eles são feitos com
profissionalismo, respeito e dedicação da parte do produtor. Até hoje tocamos
duas vezes ao vivo, uma vez aqui no Rio Grande do Sul e outra vez em São Paulo
capital. Ambos ótimos shows! Trocamos de baixista recentemente, mas acredito
que lá pra julho/agosto estaremos aptos a tocar ao vivo novamente.
Voltando
a “Nihil Est Monastica” qual a principal diferença você destacaria entre ele e
o álbum anterior “Liturgia Haeresis” (2011)?
MANTUS:
Como já disse acima, acho que o "Liturgia Haeresis" foi um álbum
ligeiramente mais melódico, mas num contexto geral creio que um seja a evolução
do outro. É uma continuação de alguma forma, mesmo que não seja
cronologicamente tão coerente… Estamos tentando moldar a nossa música sendo
autocríticos e criando um som que nos chame atenção primeiramente como fãs de
Black Metal. Algo que dê prazer aos nossos ouvidos e que nos remeta àquela aura
primitiva, hoje já esquecida por muitas bandas do estilo.
No
novo álbum há um cover para “Black Vomit” do Sarcófago. Este é o terceiro cover
que vocês gravam (a banda já gravou covers das bandas Songe D'Enfer e Amorphis,
no segundo e terceiro álbuns respectivamente). Como vocês escolhem o que
‘coverizar’ e como foi gravar esse clássico do Metal nacional?
MANTUS:
O Sarcófago é uma entidade pra gente! Somos grandes fãs de todo material e
fazer essa versão pra "Black Vomit" foi quase uma
"obrigação", já que somos uma banda brasileira. Estamos assinados com
a Drakkar na Europa e hoje temos uma distribuição muito mais ampla, nada melhor
do que homenagear uma banda da nossa terra e que também foi parte da nossa
formação musical. Não tocamos ela como a original, pois não combinaria tanto
com a música do PATRIA, então fizemos uma releitura da música, dando a nossa
própria roupagem pra ela. Gostamos bastante do resultado e todos tem falado
muito bem dessa nossa versão. Já participei do Tributo Ao Sarcófago (N.E.:2001
Tribute To Sarcofago) com a minha outra banda, o MYSTERIIS, fazendo uma versão
pra "Nightmare" e eu não ficaria nada triste se houvesse uma nova
versão de um Tributo e entrássemos com a "Black Vomit" do PATRIA
(risos).
Triumphsword |
Este
é o segundo álbum lançado pela Drakkar Productions, da França. Como tem sido o
trabalho com o selo francês? “Nihil Est
Monastica” chegou a ser lançado por algum selo nacional?
MANTUS:
Está tudo indo muito bem! O trabalho deles é ótimo, estamos tendo uma boa
promoção, distribuição e a qualidade do material é sempre impecável. O único
ponto negativo de estarmos assinados com um selo de fora é que está cada dia
mais difícil receber material aqui no Brasil. Com o "Liturgia
Haeresis" recebemos pouquíssimas cópias e ainda tivemos que arcar com um
tributo abusivo da receita federal, que simplesmente acabou com a gente. Além
disso, a Drakkar não tinha uma distribuição muito forte no Brasil e América do
Sul. Ou seja, tínhamos que dar conta da distribuição aqui com o material que
recebíamos de fora e devido aos problemas com a receita, foi um grande fiasco.
Ficamos frustrados com toda essa situação por sermos uma banda brasileira, não
tendo nosso álbum sendo vendido por aqui. Com isso tentamos de todas as formas um
licenciamento pro material ser lançado aqui na América do Sul por algum outro
selo, mas a Drakkar não achou interessante comercialmente e acabou vindo com
outra ideia que, aparentemente, resolveu nossos problemas. Eles já estavam de
olho no mercado metálico brasileiro e por não terem uma distribuição efetiva
aqui, resolveram abrir uma filial no Brasil. Sendo assim agora nossos CDs são
prensados por aqui mesmo e temos uma possibilidade incrivelmente maior de
distribuição na América do Sul, o que é muito legal. Em todo caso a versão em
Viníl/LP e K7 ainda serão feitas na Europa, mas dos males o menor…
A
arte gráfica do álbum ficou a cargo do renomado artista romeno Costin
Chioreanu. Como vocês chegaram até Chioreanu e como foi trabalhar com ele? A
arte já estava pronta ou foi desenvolvida juntamente com a assistência de
vocês?
MANTUS:
Eu
já tinha contato com ele através do meu trabalho com a Indie Recordings, da
Noruega. Gosto muito do estilo de desenho dele e para o PATRIA estávamos à
procura de algo assim, simples, rústico e feito a mão… Conversei com ele,
passei o conceito do álbum e o deixei totalmente livre para criar. Quando ele
retornou com o rascunho todos nós adoramos e fechamos o trabalho. Inclusive já
estamos conversando com ele pra criação da capa do nosso próximo álbum em 2014.
“Nihil
Est Monastica” foi lançado em K7, vinil, digipack e virtualmente. Ultimamente
muitas bandas, principalmente de Black Metal, têm optado por lançar seus
trabalhos em diversos formatos. Com a queda da venda de material físico nos
últimos anos, essa seria uma boa saída, ou melhor, um bom atrativo para vender
material?
MANTUS:
Na verdade até agora foi lançado apenas em Digipack. As versões em Vinil/LP e
K7 só serão lançadas no segundo semestre. Mas voltando a pergunta… Sim,
acredito que os fãs de verdade que viveram os anos 80 e 90 ainda sentem aquela
necessidade de ter o material físico em mãos. Eu falo por mim, que estou sempre
comprando material até hoje… É quase um vício! Não consigo simplesmente baixar
e ouvir. É muito superficial pra mim! Claro que a internet é algo fantástico e
muito prático. Não sou daqueles retrógrados alienados anti-internet e anti-mp3.
Tem o seu valor… Também baixo material e ouço constantemente, pra conhecer.
Quando é uma porcaria vai pro lixo, mas quando eu gosto pode ter certeza que
será devidamente comprado pra minha coleção. Gosto de folhear o encarte,
apreciar, sentir o cheiro do material… Eu como designer gráfico prezo ainda
mais por isso, faz parte da minha área, do meu trabalho. Não existe nada mais
legal do que você colocar um vinil pra tocar e ficar olhando o encarte e aquela
capa grande, sinceramente. São como quadros! É arte pura e sincera! Não sei se
o sentimento é saudosismo ou o que… Mas realmente não entendo qual a graça de algumas
pessoas terem HDs lotados de música em Mp3 e ficarem se vangloriando disso. Que
tédio! (risos) É como se vangloriar por ter 666 vídeos pornôs e nunca ter
comido uma mulher de verdade. (risos) E se gravam em CD-R então, pra mim é
igual boneca inflável! Pode parecer de verdade, mas não é. (risos) Puro lixo!
Muitos dizem que é mais prático e que gostam de ouvir no iPOD e que não tem
mais CD player ou toca discos, beleza! Entendo, mas então faça como lá fora nos
EUA e Europa: seja digno, justo e PAGUE pelo Mp3. Esse tipo de mercado não
vingou aqui no Brasil. Brasileiro tem aquele estigma de querer ser sempre
espertinho, e na prática parece que a carapuça realmente serve. Muita conversa
pra pouca atitude! Uma pena!
Mantus,
você também toca no Mysteriis. Porque a banda resolveu relançar o primeiro
álbum, “About The Christian Despair” (1999), em vinil e por que decidiram fazer
isso através de crowdfunding (sistema de financiamento coletivo onde fãs ajudam
a banda a lançar um trabalho)?
MANTUS:
Muitas pessoas escrevem constantemente pra gente perguntando sobre a
possibilidade de relançamento desse álbum, já que hoje em dia é praticamente
impossível de consegui-lo. Só houve duas prensagens dele em CD, uma em 1999,
que foi o ano do seu lançamento, e outra em 2000, ambas esgotadas há mais de 10
anos. De alguma forma, com o passar dos anos, esse material conquistou muitos
adeptos e se tornou raro e hoje é considerado como um dos grandes clássicos do
Black Metal brasileiro, o que muito nos honra, é claro. Dessa forma como
completamos recentemente 15 anos com o MYSTERIIS, pensamos na ideia de relançar
esse álbum como uma forma de comemoração, um presente para nós da banda e
também para os fãs. Como na época só saiu em CD, nada mais perfeito do que uma
edição no velho bolachão em vinil. A ideia do crowdfunding partiu
instintivamente de um amigo nosso que sugeriu a colaboração das tantas pessoas
que estavam querendo o álbum no nosso perfil no Facebook. Ele alegou que se
aquelas pessoas tivessem colaborando com tanto, o LP já seria uma realidade.
Até aquele momento nós não estávamos muito interados com esse tipo de sistema
de financiamento coletivo, então procuramos saber como tudo funcionava, a
princípio de curiosidade… Mas no final das contas achamos bem interessante pelo
fato de que isso pode dar um ar muito grande de independência para as bandas,
já que com a ajuda dos próprios fãs, um projeto pode vingar e realmente sair do
papel, sem a necessidade da ajuda de um selo, por exemplo. Resolvemos então
arriscar e colocar o projeto em prática, porém de uma forma menos convencional,
não aceitando doações como de costume, mas sim planejando uma espécie de
PRÉ-VENDA do LP, que através de uma quantia quase simbólica sendo paga
antecipadamente (R$50 com o frete grátis), faz o colaborador ajudar a tornar o
lançamento do vinil possível, além de receber o LP assinado pela banda e ter
seu nome publicado no encarte como nossa forma de agradecimento, e para
eternizar aquela parceria. R$50 por um LP novo e com frete grátis hoje em dia é
praticamente de graça, um valor extremamente abaixo do mercado. Não estamos
pensando no lucro, é algo puramente passional. Queremos o material relançado em
LP e estamos na batalha para conseguir. A campanha começou recentemente e já
estamos com quase 50% do valor mínimo alcançado. Quem tiver interesse em fazer
parte do projeto, acesse: www.catarse.me/mysteriis
Muito
obrigado pela entrevista, este espaço é para vocês deixarem suas considerações
finais.
MANTUS:
Muito obrigado pelo espaço! Pra quem quiser conhecer melhor o PATRIA, acesse: www.facebook.com/blackmetalpatria
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