Muitos guitarristas são
vistos como egocêntricos e quando lançam álbuns solos instrumentais focados nas
seis cordas este estereótipo aumenta ainda mais. Ao ler esta entrevista o
leitor verá que este não é o caso do músico paraense Wael Daou. Afinal, o cara
lançou seu primeiro EP “Ancient Conquerors” (2013) sem intenção nenhuma de
chamar atenção e muito menos de mostrar sua habilidade com o instrumento,
simplesmente por prazer em tocar e fazer música. Obviamente que Wael trabalhou na divulgação
de seu registro, porém o guitarrista ficou surpreso com a repercussão do mesmo
e já planeja vôos mais altos. Com vocês: Wael Daou.
Sabemos
que você estudou música no Líbano, país de seus pais. Conte-nos um pouco sobre
sua formação como músico.
Wael
Daou: Tive mais ou menos 1 ano de aulas com o Elias Njeim
grande músico libanês, depois disso segui sendo autodidata, na época a internet
não era uma realidade pra mim, então corria pras bibliotecas da universidade
federal e estadual atrás de livros, e lá basicamente estudei muita coisa sobre
música erudita. Fiz alguns cursos no conservatório Carlos Gomes, e prestei
vestibular pra música na UEPA (Universidade Estadual do Pará), mas não concluí,
pois decidi, na época, dar um tempo e trabalhar. Nisso parei de tocar por 4 anos.
Como
músico e principalmente guitarrista, como você chegou até o Rock e ao Metal?
Wael:
A culpa é do meu tio! (risos) Ele morou um tempo em casa quando eu tinha uns 7
ou 8 anos, me escondia debaixo da cama dele pra ficar ouvindo Motörhead,
Megadeth, e Judas Priest, mas foi quando eu ouvi Metallica a primeira vez eu
disse: “mãe, quero tocar guitarra igual o Metallica”. (risos)
Falando
de seu primeiro EP, “Ancient Conquerors”, como foi o processo de composição do
mesmo?
Wael:
Eu estava totalmente parado, 4 anos sem nem tocar violão. Um belo dia acordei e
pensei: “Porra vou jogar tudo no lixo?”. Levantei e passei 3 meses
desenferrujando! Fiquei frustrado de ver que eu não conseguia mais executar
algumas coisas, e nesse meu dia a dia de exercícios começaram a surgir uma ideia
atrás da outra, compus as 6 músicas mais ou menos em 6 meses, enquanto eu
pesquisava sobre os conquistadores ia completando a história que eu queria que
a música passasse. Os riffs transpassam agressividade, mas os arranjos por trás
fazem o ouvinte entrar no clima da vida de cada um dos conquistadores.
Apesar
de ser um disco instrumental você usou como temática grandes conquistadores do
mundo. Como foi adaptar essas composições de acordo com cada nome que desbravou
o mundo e por que você decidiu utilizar esta temática?
Wael:
Eu acredito muito que o que o compositor compõe tem tudo a ver com sua vivência,
experiências de vida, interesses, e principalmente como ele vê o mundo, comigo
não foi diferente. Amo música instrumental, escrever uma letra sobre cada um
seria bem mais simples do que passar através da música um pouco da vida de cada
um dos conquistadores. Comecei a pesquisar sobre essas pessoas, seus feitos,
suas batalhas, seus pontos fracos, seus erros, e me imaginei no momento de
compor os temas, numa conversa com eles, em alguns momentos compus pensando na
trilha de um campo de batalha, como ocorreu em Xerxes I. Arranjar as músicas foi bem mais complexo do que compor
os riffs, pois foi no arranjo que o direcionamento foi dado ao ouvinte.
Trabalhos
solos de guitarristas costumam ser direcionados aos próprios músicos. Em
“Ancient Conquerors” nota-se que você não pensou só no lado virtuose das
músicas, mas sim em algo mais variado e que abrange a musicalidade total das
composições. Isso foi intencional para também atingir os leigos no assunto?
Wael:
Virtuosismo
qualquer pessoa com boas horas de estudo consegue adquirir. Pra que mostrar
isso se nem sempre existe essa necessidade? Creio que a musica mais virtuosa do
disco deve ser Xerxes I pelo seu início,
o objetivo ali foi criar caos, como se estivéssemos vendo o ápice da batalha
mais sangrenta de Xerxes, e isso transpassa nos ‘blastbeats’, nos contratempos
das cordas, e nos arpejos. A técnica vem como ferramenta de expressão musical e
não como o principal de uma composição.
Você
compôs e tocou quase todos os instrumentos no disco, menos o baixo que ficou
por conta de Marcos Saraiva. Por que optou por não tocar baixo e como foi
trabalhar com Marcos?
Wael:
Eu compus todos os instrumentos do CD, das cordas, ao piano, do baixo a
bateria, gostaria de ser multiinstrumentista, mas não sou. A minha ideia era
chamar músicos para executar em estúdio os arranjos, entrei em contato com
vários, mas sempre sumiam, mesmo tendo oferecido o cachê que eles pedissem. Em
relação à bateria, eu havia feito somente o essencial pra guiar o baterista que
fosse gravar, mas quando vi que todos furaram, prestei mais atenção nos
detalhes e editei as linhas de bateria. Já trabalhei com o Marcos há muitos
anos, ele foi baixista do Alma Cog. Sua vida também havia dado uma guinada
inesperada, e fazia anos que eu não o via, de repente esse maluco aparece com
sangue nos olhos pra destruir novamente! (risos) Se não fosse pelo Marcos eu
nunca teria aprendido a mexer nos programas de gravação, que possibilitaram
produzir o CD. O Marcos além de um grande amigo é o melhor baixista com quem já
toquei.
As
composições do EP possuem influências de Metal, Rock, música clássica e
erudita, além de Jazz. Qual é a sua verdadeira escola e o quão difícil é
mesclar esses estilos, principalmente em um disco focado nas guitarras?
Wael:
Minha escola é o Metal! Eu sinto prazer mesmo tocando isso! Mas a música não
tem limites somente nomenclaturas. Como músico sempre tentei desenvolver uma
identidade própria tocando e compondo, unindo o que eu gosto de ouvir. Nunca
ouvi muita música, desde que comecei a tocar guitarra escuto Metallica,
Megadeth, Iced Earth, Death e Jason Becker, no jazz Frank Gambale e Allan
Holdsworth, e na música clássica Mussorgsky, Borodin e Dvorak. Mesclar isso
tudo não é difícil quando se faz com naturalidade, o músico não toca com maestria
o que ele não gosta de ouvir.
Como
está a repercussão do EP até então?
Wael:
Foda! (risos) Cara, compus o CD pensando: “Porra ninguém vai gostar disso!” e
“Pelo menos fica pra posteridade, um dia meus netos ouvirão!” Mas graças a
pessoas como você Vitor do Arte Metal, que trabalham incansavelmente apoiando a
cena nacional, o CD teve uma repercussão incrível, muitas pessoas ajudaram nas
redes sociais, amigos, familiares, músicos, realmente me impressionei.
O
que você pode nos adiantar sobre um próximo trabalho? Há chances de você
incluir vocais em algumas composições ou até montar uma banda em paralelo que
conte com um vocalista?
Wael:
Já comecei a produção do meu próximo CD instrumental, já tenho a temática
também e ele já conta com 5 músicas, posso adiantar que desta vez vai sair
sangue se espremer a capa!(risos) Terão sim algumas partes com vocais, mas não
a música toda, minha esposa participará com linhas vocais em árabe, e outros
vocalistas amigos meus também serão convidados. Banda é sempre complicado,
trabalhar seriamente em conjunto é uma dádiva para poucos, mas estou me
reunindo com uma galera boa, e o intuito é ‘trampar’ em cima de um Tecnical
Death Metal. Ano que vem teremos muito trabalho.
Muito
obrigado pela entrevista. Este espaço é seu para as considerações finais.
Wael:
Cara eu que agradeço, pode parecer besteira, mas essa entrevista é um dos meus
sonhos realizados, queria aproveitar o espaço pra agradecer a todos pelo apoio,
força, e motivação, sem vocês de nada valeria isso tudo.
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