São quase quinze anos
dedicados ao Black Metal nacional e após duas demos, os paulistanos do Creptum
resolveram regravar uma delas. Trata-se de “The Age of Darkness”, originalmente
lançada em 2004 e que foi relançada com uma nova roupagem este ano. A banda
acertou em cheio e, ao invés de dar um passo pra trás, deu dois pra frente.
Conversamos com o vocalista e guitarrista Tanatos que falou sobre o
relançamento, o futuro da banda e a cena. Completam o time Deimous Nefus
(guitarra), Animus Atra (bateria), além da mais nova integrante Bast (baixo).
Por
que a banda decidiu regravar a demo “The Age of Darkness”, originalmente
lançada em 2004?
Tanatos:
Voltamos com o Creptum com os membros originais, porém, na época que foi
gravada a demo “The Age of Darkness” (2004) eu já havia saído da banda, mesmo
tendo participado de quase todo o processo de composição. Queríamos fechar este
ciclo agora, 10 anos depois.
E
como foi todo esse processo? Vocês procuraram buscar uma nova sonoridade, mas
mantendo as características das composições?
Tanatos:
Depois de alguns ensaios, percebemos algumas mudanças leves, principalmente em
nossa postura. Tentamos aplicar mais melodias em algumas composições, mesmo não
sendo uma característica nossa. Creio que este intervalo de 10 anos fez com que
a gente tivesse tempo de perceber detalhes nas músicas que não havíamos notado
na época da primeira gravação. Sobre a voz, resolvi trazer de volta um pouco
das idéias vocais que tinha quando compusemos o material original.
A
faixa Oh My Lord... é a única
composição nova no trabalho. Vocês já tinham essa faixa composta anteriormente
ou compuseram exclusivamente para o “The Age of Darkness”?
Tanatos:
Oh my Lord..
talvez seja uma das primeiras composições do Creptum. Já havíamos gravado ela
na “...Make This World Burn” (2003). Aliás, o nome da demo e a parte gráfica
foram baseadas nela. Musicalmente, é a mais importante para nós. Foi a partir
dela que começamos a moldar essa linha rápida com quebras e uma suave melodia,
mas ainda manter os dois pés no Black Metal cru e agressivo.
Ainda
falando de Oh My Lord... vocês
procuraram manter ela mais próxima das características das faixas regravadas ou
deixaram fluir naturalmente?
Tanatos:
Para
esta regravação, como disse anteriormente, gostaríamos de fechar o ciclo.
Sabendo da oportunidade de gravar um material com uma qualidade de produção
melhor, não gostaríamos de deixá-la de fora, assim como a Disciple of Evil, que também está como bônus no atual EP.
A
primeira versão de “The Age Of Darkness” já mostrava uma grande evolução em
relação à primeira demo “...Make This World Burn”. O que você acha que mais
diferencia esses dois trabalhos?
Tanatos:
Houve
de fato uma evolução. Creio que a principal diferença se deu no amadurecimento
de cada membro da banda. Entre os dois trabalhos iniciais, é possível notar que
a banda começa a definir uma identidade. Mesmo com as mudanças de formação
ocorridas na época, essa identidade não foi prejudicada. Hoje, com a nova
gravação, posso dizer que ainda mantemos a essência dessa identidade.
O
Creptum aposta em um Black Metal mais ríspido e direto, dispensando arranjos
com teclados ou passagens mais viajantes. Esse sempre foi o foco da banda e
flui com naturalidade?
Tanatos:
Sim. A idéia inicial era abusar do Black Metal “sem frescura”, arranjos
simples, rápidos e agressivos. Pela época em que o Creptum surgiu, Animus e eu,
estávamos muito nessa pegada ainda do “Panzer Division Marduk” do Marduk
(apesar de ser de 1999), “Diabolis Interium” (2001) do Dark Funeral, “Angelgrinder”
(2002) do Lord Belial, e isso foi um fator determinante para essa linha que estávamos
começando a formar.
Aliás,
a banda prioriza a velocidade, mas dá espaços para leves quebradas e pequenas
mudanças de andamento. Seria essa a principal característica do Creptum?
Tanatos:
Creio que sim. Possuíamos uma carência técnica no início, e isso fez com que a
gente procurasse meios de suprir isso pela agressividade, na medida do possível
tentávamos colocar essas quebras com melodias simples. Já posso adiantar que
isto tem sido trabalhado para os próximos sons.
O
novo trabalho traz uma produção primorosa, como foi esse processo?
Tanatos:
Deimous Nefus, nosso guitarrista, foi quem ficou responsável por esta produção.
Ele já trabalha com isso há anos e vem se aprimorando cada vez mais. A
oportunidade de poder gravar no estúdio CD Áudio Souza Lima, foi sensacional
para nós. Uma qualidade extremamente profissional, o que resultou num trabalho
que ficamos muito satisfeitos.
A
arte gráfica também foi modificada e refeita, mantendo a essência da original.
Como foi elaborado este trabalho?
Tanatos:
Quando decidimos pela regravação, achei importante mostrar esta evolução também
no material gráfico. Eu ainda possuía as bases que usei na primeira versão e,
como todo profissional, quando vejo os trabalhos antigos feitos por mim, sempre
acho que poderia fazer de uma forma diferente hoje. Por ser extremamente
crítico com isso, não gostaria que nosso trabalho ficasse devendo na parte
gráfica. Aquela história de que não se julga um livro (ou álbum) pela capa é
falácia de gente preguiçosa. Gostaria que mais pessoas pensassem assim. Aliás,
um projeto gráfico de um álbum não é apenas capa, é preciso pensar a arte
gráfica como um todo, este é o principal diferencial em contraponto à música
digital.
O
Creptum mostra estar pronto para o lançamento de um full-lenght. O que vocês
pode nos adiantar sobre um futuro trabalho?
Tanatos:
Infelizmente temos tido bastante dificuldade com selos/gravadoras no Brasil.
Não me espantaria se nosso full saísse por algum selo do exterior. Sobre as
músicas, estamos trabalhando em composições novas. Sendo um material totalmente
inédito, talvez haja algumas surpresas quanto à linha de composição, mas
tentaremos manter a agressividade e rispidez já características do Creptum.
A
cena Black Metal brasileira mostra muitas bandas de qualidade, dentre elas
Patria, Imperium Infernale, Symphony Draconis e Creptum. Como vocês vêem esse
cenário atualmente e ao que acham que o estilo cresceu tanto em termos de
qualidade no underground nacional?
Tanatos:
A qualidade que vemos é notória e incontestável. O acesso que temos hoje aos
grandes nomes do Black Metal mundial ajudou muito isso. Estamos melhorando, mas
o espaço para bandas novas ainda é complicado em shows de bandas de fora. O que
eu acho que deveria acontecer, é a abertura desses espaços para bandas
nacionais entre as internacionais. Ainda acontece muito, principalmente aqui em
São Paulo (capital), de ver festivais ‘inflados’ com bandas de fora e apenas 1
nacional, aparentemente com o único objetivo de se cobrar mais por ingressos. É
triste, mas é fato!
Muito
obrigado pela entrevista. Pode deixar uma mensagem aos leitores.
Tanatos:
Agradeço imensamente a oportunidade de poder falar um pouco sobre o Creptum em
seu blog. Pessoas que trabalham duro em prol do underground nacional como você,
Vitor, é de grande valor para a cena como um todo. Pedimos às pessoas que
procurem conhecer as bandas de sua região, vá a eventos, comprem CDs, camisetas
para apoiá-las. Temos bandas de altíssimo nível, dos mais diversos estilos e em
todo território nacional, não tem desculpa para gastar apenas com quem vem de
fora.
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