segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Entrevista



Foram 5 anos para poder lançar seu primeiro full-lengh em seu país natal. Isso porque o Sangrena, banda oriunda de Amparo/SP, é um grande nome do Death Metal nacional e faz um som de qualidade incontestável. Após lançar o trabalho “Blessed Black Spirit” no exterior em 2009, este ano o disco finalmente aportou em terras nacionais. Quem falou um pouco mais a respeito foi o guitarrista Fábio Ferreira, que também comentou sobre a cena, além dos projetos futuros. Completam o time Luciano Fedel (vocal/baixo), Gustavo Bonfá (guitarra) e Alan Marques (bateria).

Por que “Blessed Black Spirit” (2009) foi lançado inicialmente na Europa e somente em 2014 aqui no Brasil?
Fábio Ferreira: Na época não conseguimos nenhum selo que tivesse interesse em lançá-lo aqui no Brasil e não tínhamos recursos pra fazer isso de forma independente. Decidimos lançar o disco no exterior pra não perdermos a oportunidade e depois pensaríamos uma forma de fazer o lançamento no Brasil de forma independente. E isso aconteceu agora em 2014.

E depois dessa espera, qual a sensação de finalmente ter o álbum lançado por aqui?
Fábio: É uma sensação de missão cumprida, fechou-se o ciclo. Era meio frustrante não termos o disco pra poder divulgar no nosso país.

“Blessed Black Spirit” mostra uma sonoridade orgânica, fugindo dos padrões atuais. O que vocês podem falar a respeito?
Fábio: Quando pensei na produção desse disco eu queria uma sonoridade mais verdadeira, eu queria uma estética sonora típica de primeiro disco. Ele não tem nada editado, tudo que está lá foi como a gente tocou na época, decidi valorizar isso. A ideia era que o som ficasse próximo do que a gente estava ouvindo dos instrumentos no estúdio e acho que é isso que você chamou de orgânico, não tem nada muito processado na questão dos timbres. Fiquei bastante satisfeito com o resultado e as críticas com relação à produção têm sido muito boas.

Outro fator do disco são as mudanças de andamento, tradicionais do Death Metal ‘old school’. Esse sempre foi o foco da banda?
Fábio: Não diria foco porque elas são espontâneas e saem naturalmente na hora de compor. Talvez essa seja uma característica do Sangrena em função das nossas influências mais ‘old scool’. Mas, se você reparar, quase todas as mudanças de andamento das músicas obedece sempre um mesmo pulso. Vai de compasso simples pra composto, mudam as fórmulas de compassos, às vezes o pulso é tempo, às vezes é contratempo, às vezes dobrado e desdobrado, mas o pulso é sempre o mesmo, se você colocar um metrônomo pra acompanhar a música você vai perceber isso. Essa também é outra característica rítmica do Sangrena.

A produção do disco também chama atenção, pois mesmo gravado há mais de cinco anos mostra uma grande qualidade, superior há muitas feitas atualmente. Conte-nos como foi este processo.
Fábio: Muito obrigado pelas palavras! Eu trabalho à quase 20 anos em um estúdio e já produzi muitas músicas de vários estilos diferentes, mas trabalhar com suas próprias músicas é um desafio enorme. Existe uma carga de responsabilidade imensa nisso, afinal a arte é sua, é seu feeling que está ali. Eu tentei planejar o máximo possível antes da gravação: performance, timbres, processos de produção, etc. pra não ter surpresas durante a gravação. Fizemos uma pré-produção pra finalizarmos os arranjos, decidimos o que teríamos de equipamentos e entramos em estúdio. A produção durou uns quatro meses porque eu tinha outros trabalhos do estúdio em andamento e não tinha como dar prioridade ao Sangrena naquele momento. Como a minha ideia era não editar nada de performances, nós tivemos que suar a camisa pra fazer tudo soar no seu devido lugar. Foi um desafio, mas ficamos muito felizes com o resultado.



Como tem sido a repercussão do trabalho após o lançamento aqui no Brasil?
Fábio: Temos recebido ótimas críticas da mídia especializada brasileira. As pessoas que encontramos nos shows nos falam que ouviram o disco e curtiram bastante. Isso é muito gratificante pra gente.

Quando lançado no exterior, o trabalho rendeu frutos para a banda lá fora? Quais países deram mais retorno ao Sangrena?
Fábio: Temos várias resenhas boas do disco em sites e impressos do exterior, gente que nos procurou pra comprar o disco, tanto da Europa quanto dos EUA. Não deu pra dar uma continuidade no processo pra que ele rendesse frutos porque estávamos longe e qualquer atitude ficou limitada pela distância. Acredito que os locais onde o disco teve melhor receptividade foi o leste europeu e os EUA.

Acredito que a banda já tenha ou esteja compondo algo novo. O que podem nos adiantar a respeito?
Fábio: Todas as músicas do próximo disco já estão compostas. Será um disco conceitual, baseado em um livro brasileiro. Estamos no meio da tour que deve rolar até Janeiro de 2015. Entraremos em estúdio logo no começo do ano e a ideia é lançá-lo no segundo semestre do ano que vem.

O fato de ter conseguido lançar o trabalho no Brasil somente 5 anos após o lançamento oficial do primeiro disco, mostra as dificuldades de se fazer Metal no país. Como vocês enxergam o cenário brasileiro em todos os aspectos?
Fábio: Realmente é muito difícil fazer Metal no Brasil, mas não acho que a culpa é da cena. Temos excelentes bandas de todos os estilos de Metal, assim como zines, mídias, muita gente boa e competente envolvida. O problema é que não temos um mercado pra ela. O Brasil não tem cultura no mercado de arte ainda. Gostando ou não o mundo é capitalista e sem capital fica muito fazer acontecer algo. Acho que as coisas estão começando a melhorar, mas ainda muito lentamente. Tenho esperanças que em um futuro próximo teremos estrutura pra podermos fazer a nossa arte de maneira consistente.

Muito obrigado pela entrevista. Deixem uma mensagem.
Fábio: Muito obrigado ao Arte Metal pelo espaço cedido e podem contar com o Sangrena quando precisarem. Pra quem quiser conhecer melhor a banda ou adquirir o “Blessed Black Spirit” é só entrar em contato pelo email contact@sangrena.com ou www.facebook.com/sangrenaofficial. Não desistam da guerra! Sigam a marcha!



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