Foram 5 anos para poder
lançar seu primeiro full-lengh em seu país natal. Isso porque o Sangrena, banda
oriunda de Amparo/SP, é um grande nome do Death Metal nacional e faz um som de
qualidade incontestável. Após lançar o trabalho “Blessed Black Spirit” no
exterior em 2009, este ano o disco finalmente aportou em terras nacionais. Quem
falou um pouco mais a respeito foi o guitarrista Fábio Ferreira, que também
comentou sobre a cena, além dos projetos futuros. Completam o time Luciano
Fedel (vocal/baixo), Gustavo Bonfá (guitarra) e Alan Marques (bateria).
Por
que “Blessed Black Spirit” (2009) foi lançado inicialmente na Europa e somente
em 2014 aqui no Brasil?
Fábio
Ferreira: Na época não conseguimos nenhum selo que tivesse
interesse em lançá-lo aqui no Brasil e não tínhamos recursos pra fazer isso de
forma independente. Decidimos lançar o disco no exterior pra não perdermos a
oportunidade e depois pensaríamos uma forma de fazer o lançamento no Brasil de
forma independente. E isso aconteceu agora em 2014.
E
depois dessa espera, qual a sensação de finalmente ter o álbum lançado por
aqui?
Fábio:
É uma sensação de missão cumprida, fechou-se o ciclo. Era meio frustrante não
termos o disco pra poder divulgar no nosso país.
“Blessed
Black Spirit” mostra uma sonoridade orgânica, fugindo dos padrões atuais. O que
vocês podem falar a respeito?
Fábio:
Quando pensei na produção desse disco eu queria uma sonoridade mais verdadeira,
eu queria uma estética sonora típica de primeiro disco. Ele não tem nada
editado, tudo que está lá foi como a gente tocou na época, decidi valorizar
isso. A ideia era que o som ficasse próximo do que a gente estava ouvindo dos
instrumentos no estúdio e acho que é isso que você chamou de orgânico, não tem
nada muito processado na questão dos timbres. Fiquei bastante satisfeito com o
resultado e as críticas com relação à produção têm sido muito boas.
Outro
fator do disco são as mudanças de andamento, tradicionais do Death Metal ‘old
school’. Esse sempre foi o foco da banda?
Fábio:
Não
diria foco porque elas são espontâneas e saem naturalmente na hora de compor.
Talvez essa seja uma característica do Sangrena em função das nossas
influências mais ‘old scool’. Mas, se você reparar, quase todas as mudanças de
andamento das músicas obedece sempre um mesmo pulso. Vai de compasso simples
pra composto, mudam as fórmulas de compassos, às vezes o pulso é tempo, às
vezes é contratempo, às vezes dobrado e desdobrado, mas o pulso é sempre o
mesmo, se você colocar um metrônomo pra acompanhar a música você vai perceber
isso. Essa também é outra característica rítmica do Sangrena.
A
produção do disco também chama atenção, pois mesmo gravado há mais de cinco
anos mostra uma grande qualidade, superior há muitas feitas atualmente.
Conte-nos como foi este processo.
Fábio:
Muito obrigado pelas palavras! Eu trabalho à quase 20 anos em um estúdio e já
produzi muitas músicas de vários estilos diferentes, mas trabalhar com suas
próprias músicas é um desafio enorme. Existe uma carga de responsabilidade
imensa nisso, afinal a arte é sua, é seu feeling que está ali. Eu tentei
planejar o máximo possível antes da gravação: performance, timbres, processos
de produção, etc. pra não ter surpresas durante a gravação. Fizemos uma
pré-produção pra finalizarmos os arranjos, decidimos o que teríamos de
equipamentos e entramos em estúdio. A produção durou uns quatro meses porque eu
tinha outros trabalhos do estúdio em andamento e não tinha como dar prioridade
ao Sangrena naquele momento. Como a minha ideia era não editar nada de
performances, nós tivemos que suar a camisa pra fazer tudo soar no seu devido
lugar. Foi um desafio, mas ficamos muito felizes com o resultado.
Como
tem sido a repercussão do trabalho após o lançamento aqui no Brasil?
Fábio:
Temos
recebido ótimas críticas da mídia especializada brasileira. As pessoas que
encontramos nos shows nos falam que ouviram o disco e curtiram bastante. Isso é
muito gratificante pra gente.
Quando
lançado no exterior, o trabalho rendeu frutos para a banda lá fora? Quais
países deram mais retorno ao Sangrena?
Fábio:
Temos várias resenhas boas do disco em sites e impressos do exterior, gente que
nos procurou pra comprar o disco, tanto da Europa quanto dos EUA. Não deu pra
dar uma continuidade no processo pra que ele rendesse frutos porque estávamos
longe e qualquer atitude ficou limitada pela distância. Acredito que os locais
onde o disco teve melhor receptividade foi o leste europeu e os EUA.
Acredito
que a banda já tenha ou esteja compondo algo novo. O que podem nos adiantar a
respeito?
Fábio:
Todas as músicas do próximo disco já estão compostas. Será um disco conceitual,
baseado em um livro brasileiro. Estamos no meio da tour que deve rolar até
Janeiro de 2015. Entraremos em estúdio logo no começo do ano e a ideia é lançá-lo
no segundo semestre do ano que vem.
O
fato de ter conseguido lançar o trabalho no Brasil somente 5 anos após o
lançamento oficial do primeiro disco, mostra as dificuldades de se fazer Metal
no país. Como vocês enxergam o cenário brasileiro em todos os aspectos?
Fábio:
Realmente é muito difícil fazer Metal no Brasil, mas não acho que a culpa é da
cena. Temos excelentes bandas de todos os estilos de Metal, assim como zines,
mídias, muita gente boa e competente envolvida. O problema é que não temos um
mercado pra ela. O Brasil não tem cultura no mercado de arte ainda. Gostando ou
não o mundo é capitalista e sem capital fica muito fazer acontecer algo. Acho
que as coisas estão começando a melhorar, mas ainda muito lentamente. Tenho
esperanças que em um futuro próximo teremos estrutura pra podermos fazer a
nossa arte de maneira consistente.
Muito
obrigado pela entrevista. Deixem uma mensagem.
Fábio:
Muito obrigado ao Arte Metal pelo espaço cedido e podem contar com o Sangrena
quando precisarem. Pra quem quiser conhecer melhor a banda ou adquirir o “Blessed
Black Spirit” é só entrar em contato pelo email contact@sangrena.com
ou www.facebook.com/sangrenaofficial.
Não desistam da guerra! Sigam a marcha!
Nenhum comentário:
Postar um comentário