quarta-feira, 1 de abril de 2015

Entrevista



Formado pelos experientes músicos Renan Roveran (vocal/guitarra, ex-Bywar, Alcoholikiller), Rafael Oliveira (guitarra), Rodolfo Nekathor (baixo, ex-Zoltar), Roger Costa (bateria, Fire Diamond) e recentemente anunciando a entrada do vocalista Heverton Souza (Imperium Infernale, Eternal Malediction, Zombeers), o Warshipper surgiu em 2011 e em 2014 soltou seu primeiro EP com cara de full-lenght, o ótimo “Worshippers of Doom”. Conversamos com o atencioso Renan sobre o novo trabalho e outros assuntos que envolvem a banda, e também com Heverton. Confiram.

O EP “Worshippers of Doom” é quase um álbum completo, devido a diversos motivos, dentre eles a qualidade de gravação, produção gráfica e composições. O fato de ser o primeiro lançamento da banda fez com que vocês optassem por lançá-lo neste formato?
Renan Roveran: Primeiramente agradeço ao espaço concedido por ti, Vitor e Arte Metal, é muito gratificante participarmos deste fórum dedicado a bandas do underground de nosso país. Sobre a gravação e lançamento do W.O.D. (Worshippers of Doom), inicialmente tínhamos a ideia de gravarmos apenas dois sons e depois esta ideia amadureceu a ponto de selecionarmos cinco músicas para o primeiro material, evoluindo posteriormente para mais duas introduções (Into the Dystopia e Autumn Mist), além da versão “Blackened” de Absence of Colors que saiu como bônus no CD, contendo os vocais do André Evaristo (Torture Squad) e arranjos de teclado de Jr. Jacques (Hammathaz). Apesar disso, todo o conteúdo do CD não atinge 40 minutos de duração, por isso optamos por anunciar como o modelo EP, uma vez que seria mais adequado ao tempo de duração do álbum. No tocante a qualidade de todo o material, sabíamos que o W.O.D. seria nosso cartão de visitas, desta forma optamos por trabalhar aos mesmos moldes de um “full lenght”.

E como foi compor o trabalho?
Roveran: O processo de composição de um novo material é talvez a fase que mais aprecio em uma banda. Por se tratar de algo, em meu ponto de vista, muito particular ao compositor e à banda, não creio que exista fórmula. Na época da minha antiga banda (Bywar) eu costumava trazer o material praticamente todo finalizado, enquanto eu acabava por absorver o que era apresentado pelo outro compositor da banda, Adriano Perfetto, sempre incorporando inúmeros arranjos. Então basicamente eu contribuía com muito mais inputs do que os recebia. No Warshipper testamos com diversos caminhos diferentes. Mais uma vez sou o principal compositor e responsável por arranjos, mas o Rodolfo é um grande compositor também e o Rafael é muito detalhista quanto a arranjos e frases de harmonia, então os dois acabam por solidificar ainda mais as minhas composições. Já o Roger sempre trabalha bastante livre para com as ideias de bateria conseguindo sempre proporcionar um resultado melhor do que o inicialmente concebido quando da criação de uma música. Para as músicas novas que temos preparado para um novo lançamento possivelmente no ano que vem, a participação do Rodolfo tem sido ainda maior com suas próprias composições e temos experimentado compor juntos, o que acaba por fortalecer ainda mais a personalidade sonora do Warshipper.

Apesar da pendência para o Death Metal, a sonoridade praticada por vocês vai além do estilo. Como vocês definiram a música do Warshipper?
Roveran: Se voltarmos a 2008 quando Roger, Rafael e eu vislumbramos a possibilidade de criarmos uma banda que se chamaria “Abduction”, tínhamos em mente criar sons voltados para um Thrash Metal explorando muito a melodia. Naquela época foi inviável seguirmos com o então projeto e acabei utilizando o nome para o 4º full lenght do Bywar. Quando retomamos a ideia em 2011 já com o nome Warshipper, começamos compondo esta linha de som proposta, porém, já havia algum tempo em que desejava voltar a tocar Death Metal, sendo que toquei e gravei um EP em 2006 com uma banda de Death chamada “Hippie Hunter” e pouco antes começarmos os primeiros ensaios do Warshipper, Roger e eu havíamos montado uma banda do gênero com o Rodolfo e seu irmão Nuno Hellknight (Zoltar, Pleasures of Possession), mas durou apenas alguns ensaios. Finalmente quando Rodolfo se juntou ao W.S., certamente sua influência para rumarmos a uma sonoridade mais pesada foi determinante. As músicas novas que temos preparado para um novo álbum, algumas delas já apresentadas ao vivo, possuem elementos mais evidentes do Death Metal, muito embora explorem ainda mais melodia do que as músicas do atual EP.

Três elementos caracterizam a sonoridade da banda: brutalidade, técnica e um pouco de melodia. Na hora de compor, foram estes os principais focos da banda ou vocês deixaram que isso fluísse naturalmente?
Roveran: Certamente as composições fluem de forma natural muitas vezes experimentando com ideias ou arranjos e técnicas para complementá-las, mas acredito que seja uma característica minha usar de melodias e harmonia em composições, até pela minha escola bastante calcada em bandas europeias dos anos 70. A técnica, como disse, é um fator complementar para as composições do W.S. e não é exatamente nosso foco. Se este elemento está presente em nossas músicas, é mais devido à ideias de arranjos do que a construção propriamente dita das músicas. A brutalidade acredito ser inerente ao que chamo na banda de “Time”. Quando juntamos os elementos essenciais de cada um da banda, a brutalidade transcorre e se acentua.

Aliás, “Worshippers of Doom” traz uma sonoridade intensa, apocalíptica de certo modo. Esse clima se restringe apenas às músicas ou é focado nas letras também?
Roveran: Se esta sensação é captada pelo ouvinte então fico satisfeito em saber que conseguimos a sinergia entre a temática proposta no contexto lírico e a sonoridade das composições. Certamente as letras trazem um conteúdo bastante caótico, até porque na maior parte das composições as letras vieram depois da parte instrumental, portanto, era o que as músicas de fato inspiravam direcionando então os temas das letras. É o tema musical do W.S. para este disco, mesmo não sendo disco conceitual.


As músicas contam com leves arranjos de teclados que ficaram a cargo de Jr. Jacques (Hammathaz). Há certa resistência ao teclado no Metal extremo. Por que decidiram incluir este instrumento e como foi trabalhar com Jr.?
Roveran: Eu acho que tudo de depende do “onde” e “como”, quando o tema é teclado em som extremo. Eu sou um grande adepto ao recurso, para as bandas certas é claro. Não imagino o W.S. incorporando um sexto membro dedicado ao teclado na banda, mas certamente há trechos específicos de músicas específicas em que o teclado se torna um grande facilitador a se buscar um clima ou atmosfera desejado No W.O.D. utilizamos de teclado apenas na introdução Autumn Mist e na versão bônus de Absence Of Colors. Gostei da experiência e no futuro é possível que explore mais este tipo de recurso.

Aliás Jr. ajudou na produção do álbum. Como foi todo esse processo, inclusive a masterização a cargo de Brendan Duffey no Norcal Studio?
Roveran: O Junior é um grande amigo de longa data e um excelente vocalista em sua banda Hammathaz. Nos conhecemos há bastante tempo e isso facilitou bastante a química toda durante a gravação. Eu já trabalhei com grandes nomes em gravações passadas e posso assegurar que o Junior está em altíssimo nível. Sua contribuição no processo de produção foi fundamental para o resultado do trabalho. Sobre masterizar com o Brendan, era nossa intenção desde o início do processo de gravação, levando em consideração que ele foi o responsável pela gravação e produção do último disco do Bywar e gostei bastante de trabalhar com ele. Sem contar que ele possui o equipamento ideal para este tipo de trabalho e certamente enriqueceu muito a etapa final do W.O.D.

O disco conta com várias participações especiais. Fale-nos um pouco como se deu essas participações e como foi ter esses músicos no álbum?
Roveran: Eu sempre fui adepto de participações e experimentei com isso algumas vezes no Bywar, onde contamos com participações de Frank Blackfire (ex-Sodom, ex-Kreator), Sataniac (Desaster), dentre outros grandes amigos. Julgamos por interessante realizar algo do tipo com nomes da cena do Brasil, o que engrandece ainda mais o lançamento do W.S., prestigia grandes nomes do underground e sempre rola uma confraternização bacana que nos leva a cervejas e boas risadas. Foi muito legal contar com amigos como o André Evaristo (Torture Squad), Adriano Perfetto (ex-Bywar), Adauto Xavier (Vulture) e Manoel Hellsen.

Qual a repercussão de “Worshippers of Doom” até o momento? O álbum chegou a ter destaque no exterior?
Roveran: Bom, dadas às limitações de distribuição devido ao fato de termos realizado um lançamento independente, a receptividade tem sido satisfatória. Entrevistas como esta do ARTE METAL, resenhas do EP e shows vão estimular ainda mais o contato do público Metal com nossas músicas e esperamos que  nos proporcionem bons feedbacks. Ainda não temos conhecimento de possível repercussão fora do país, por isso é importante utilizarmos dos meios disponíveis de divulgação e trabalharmos para conseguirmos um selo até a gravação do full lenght.

Recentemente foi anunciada a entrada do vocalista Heverton Souza (Imperium Infernale, Zombeers). Como e por que Heverton entrou na banda?
Roveran: Já havíamos flertado com a possibilidade no começo da banda, em 2011, mas na ocasião acabamos selecionando um vocalista de Sorocaba mesmo. Logo ao início das gravações do EP o então vocalista da banda optou por sair do W.S. e decidimos que eu gravaria os vocais, porém eu já sabia que não assumiria a função para os palcos. Sem combinarmos, Roger e eu nos encontramos com o Heverton em um show em São Paulo no ano passado e conversamos sobre a possibilidade. Encaminhamos alguns sons ainda sem mixagem do W.O.D. para ele que topou fazer alguns ensaios e naturalmente se integrou à banda. Estamos todos bastante satisfeitos com o desempenho do “Quinto Elemento” que cada vez mais tem se tornado um grande amigo, também.

Heverton, você já faz parte das bandas Imperium Infernale, Eternal Malediction e Zombeers, além de sempre estar fazendo participações especiais e colaborar com a revista Roadie Crew como jornalista. Como você concilia estes trabalhos? Se considera um ‘workaholic’ do Metal?
Heverton Souza: Workaholic não deveria ser viciado em trabalho e ser remunerado por tal? Porque se sim, a parte da remuneração está longe de minha realidade. (risos). Então vamos por partes: Colaboro com veículos de Metal já há 11 anos, e hoje tenho nisso um modo de manter a formação de jornalista sempre ativa, mesmo que de forma segmentada, pois não é sempre que estou profissionalmente envolvido na área. Sobre as bandas, o Eternal Malediction está inativo por tempo indeterminado, brinco que virou lenda. O Imperium Infernale está em processo de composição e é sem dúvida o foco de minha criatividade, mas ainda não há formação completa para os palcos, o Zombeers tem um álbum inteiro para gravar e divulgar, mas somos juntos um bando de fodidos sem grana e sem qualquer tipo de suporte para tal, o que atrasa um pouco as coisas. Ou seja, o trabalho musical mais promissor no momento é mesmo o Warshipper pela junção de qualidade, seriedade e até oportunidade. E nem mesmo chego a temer conflito de atividades ou algo do tipo, pois é tudo questão de organização de agendas. Nada impossível de se administrar.

Pra finalizar, quais os planos do Warshipper? É muito cedo para falar em um full-lenght?
Roveran: Com certeza não é cedo para falarmos de um próximo trabalho, inclusive já temos material bastante adiantado para as gravações e estamos estudando a possibilidade de começarmos a base toda para a gravação muito em breve, gravando as guias com metrônomo. Os planos neste momento são shows, muitos shows para divulgamos o nome do Warshipper e medirmos a receptividade dos mais diversos públicos da cena Metal Underground de todo o Brasil. Apesar de todos na banda terem muito tempo de estrada, o W.S. fez apenas alguns shows e para a galera da cena somos uma banda “nova”. Agradeço mais uma vez pela oportunidade da entrevista assim como aos leitores. Um grande abraço a todos em nome do Warshipper. “666”

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