Não há dúvidas que os
gaúchos do Harmony Fault são uns dos maiores representantes nacionais do
Goregrind. Aliando seu som ao Death Metal, a banda hoje formada por Guilherme
Freiberger (vocal/baixo), Pulga (guitarra) e Calebe (bateria/vocal), promove
seu melhor registro até então, o ótimo “Savage Horror Dementia” (2014).
Conversamos com Guilherme sobre este trabalho, além de outros assuntos,
incluindo a cena Goregrind no Brasil.
De
praxe, conte-nos como foi o processo de composição do segundo álbum “Savage
Horror Dementia”?
Guilherme
Freiberger: Primeiramente gostaria de agradecer em
nome da Harmony Fault pela oportunidade em participar desta entrevista, deste
importante meio de divulgação do underground. Bom, o nosso processo de gravação
segue a mesma linha desde o princípio da HF. Algum integrante chega com uma
idéia, seja na guita, batera ou baixo, toca e os demais tentam encaixar algum
riff, base ou batera, ou a idéia surge no meio do ensaio mesmo e tentamos
encaixar o instrumental, o vocal geralmente fica para o final. É um sistema
muito simples, mas nos tem dado um bom resultado.
Que
comparações vocês fariam com o primeiro disco “Rotting Flesh Good Meal” (2011)?
Guilherme:
Acho que isto é uma coisa inevitável para qualquer banda, mas apesar de gostar
muito do primeiro disco e ainda escutar ele muito, creio que evoluímos tanto
musicalmente como em termos de gravação neste segundo disco. Os sons, apesar de
manter a nossa sujeira características estão mais “audíveis”, pois pode-se
escutar mais detalhes nos sons. O nosso entrosamento também tem melhorado e o
Ismael do estúdio também evoluiu quanto ao resultado final da gravação.
O
novo trabalho inclui três regravações. Por que decidiram regravar essas três
composições?
Guilherme:
Decidimos
regravar estes sons com uma nova “roupagem”, trazendo eles para a nossa atual
fase, pois eram sons que foram importantes para nós na época do início da
banda. Além disso, digamos que foram sons que se tornaram “clássicos” da banda
naquela época e o pessoal pedia e ainda pede muito nas ‘gigs’ (shows).
Ainda há um cover para Bleeding Peptic Ulcer do Regurgitate.
Porque decidiram por incluir um cover no trabalho e a escolha da faixa?
Guilherme:
Faz algum tempo que tiramos covers de bandas que curtimos e que nos influenciam
musicalmente, já tocamos Sarcastic, Agathocles e GUT também. Desta vez optamos
por tocar o Regurgitate, pois todos curtimos muito e por isso resolvemos gravar
como uma forma de homenagem a esta doente banda sueca.
“Savage
Horror Dementia” traz certo distanciamento do Death Metal presente no primeiro
álbum, mas ainda há resquícios. Vocês concordam?
Guilherme:
Exato,
concordo plenamente, este resquício já vem conosco desde a segunda demo “Sangue
e Vísceras” (2004), talvez pela mudança de formação e até querendo trazer a
banda mais próxima ao estilo Goregrind que é o que todos curtimos, só que na
época não conseguíamos fazer (risos). Então esta evolução veio naturalmente e hoje
podemos dizer que estamos fazendo o que sempre gostamos e queríamos fazer, Goregrind
com groove e violência, mas sem deixar as influências de Death Metal que sempre
gostamos.
Aliás,
essa pegada de Death Metal fica mais evidente nos riffs de guitarras. O
trabalho de guitarras é um dos destaques. Fale-nos um pouco a respeito disso.
Guilherme:
O integrante mais influenciado pelo Death Metal é o nosso ‘guita’ Pulga, ele
gosta muito de bandas como Death, Obituary, Cannibal Corpse e afins. A entrada
dele antes do lançamento do “Rotting Flesh Good Meal” (2011), trouxe um novo
gás pra o HF e uma nova roupagem pra banda, ele encaixou muito bem na nossa
proposta e hoje podemos dizer que ele é um dos grandes responsáveis pela boa
repercussão da HF musicalmente falando.
O
peso do novo álbum se dá por conta da cozinha que varia no ritmo. Esse peso e
essa variação surgem naturalmente ou a banda foca nestes quesitos?
Guilherme:
Surge naturalmente como tudo na HF, o Calebe e eu sempre gostamos de
intensidade sonora e “podridão”, pois sempre fomos influenciados por bandas Gore,
Grind, Porn e Splatter como Sarcastic, Vômito, Regurgitate, GUT, CBT,
Agathocles e uma penca de outras bandas. Então acabou sendo natural investirmos
em equipamentos que tem esta função como caixas, pratos e pedais específicos,
que em conjunto acabam dando um peso a mais.
Outro
diferencial do disco é a boa produção a cargo de Ismael Foppa junto com a
banda. Como foi produzir o álbum com Ismael?
Guilherme:
É sempre muito bom trabalhar com o Isma, ele já conhece a HF desde o seu
princípio lá em 2002 e vem acompanhando o nosso trabalho desde então. É um cara
bastante técnico, que saca bem desta parte de gravação e sabe o que queremos,
portanto nos dá dicas importantes sobre o nosso trabalho e nos ouve bastante
também, isto é muito importante.
A arte da capa também
chama atenção e foi feita por Carlos Porto, que já trabalhou com a banda
anteriormente. Por que decidiram trabalhar com ele novamente e como foi o
processo de concepção da arte?
Guilherme: Este também
é um baita profissional, ele desenha muito bem e saca bem as nossas propostas.
Decidimos trabalhar novamente com ele, pois ficamos muito satisfeitos com o
trabalho dele no primeiro disco e, portanto, pra que mudar?! A idéia da arte
foi dada por nós e optamos que ele poderia usar a criatividade para dar “alma”
ao negócio, não queríamos limitar o trabalho dele pois sabemos que ele tem
muito potencial, aí então ele nos mostrou o trabalho, fizemos pequenas
alterações e finalizamos o trabalho.
Com
está a repercussão de “Savage Horror Dementia” atualmente? E como está o
trabalho com os selos Terceiro Mundo Caos e Cianeto Discos, responsáveis pelo
lançamento do novo álbum?
Guilherme:
A repercussão está muito boa não podemos nos queixar e o apoio que o Casalunga
da Terceiro Mundo e o Gil da Cianeto Discos nos deram foi essencial para este
lançamento. Infelizmente a Cianeto acabou fechando durante o processo de
lançamento, mas o Casalunga conseguiu suprir bem esta falta na divulgação.
Temos muito a agradecer a ele, pois ele sempre nos apoiou e se mostrou uma
pessoa muito disponível e amiga durante todo este processo. Graças a ele o
nosso disco está rodando o mundo todo e chegando a países como Japão, Europa,
EUA e etc.
O
que a banda poderia falar a respeito do cenário Goregrind no Brasil? Tem tido
espaço para se apresentarem? Apesar do público fiel, há uma boa receptividade
do gênero por aqui?
Guilherme:
A cena Goregrind no Brasil tem seus altos e baixos como a maioria do
underground, teve uma época que bandas como Sarcastic, Vômito e Premature Autopsy
acabaram, o que foi um baque para nós, principalmente aqui do sul. Mas vemos
que a cena está se fortalecendo novamente, com o retorno de bandas como a
Sarcastic, Necrocéfalo (esta Grindcore) e Dead Fetus Collection que dão um novo
gás a cena e nos motivam a continuar cada vez mais “sickos”. Bandas já
tradicionais da cena como Flesh Grinder, MDK, Rancid Flesh, Syphilitic Abortion
entre outras mantém a cena de pé e atuante, sem contar que sempre surgem novas
bandas que estão dispostas a continuar disseminando o barulho Brasil a fora... Espaço
para ‘gigs’ sempre tem, pois sempre tem algum maluco disposto a escutar um Goregrind
em sua cidade e acaba nos convidando para tocar, nem sempre é possível, mas na
maioria das vezes aceitamos a estes convites e procuramos incomodar aos
“sensíveis” ouvidos do público (risos). A receptividade do gênero no Brasil
acho que se dá mais por regiões específicas como RS, SP, SC, ES, por exemplo,
que são regiões onde o estilo é bastante disseminado com muitas bandas e afins,
mas certamente o Goregrind é um estilo que tem fãs em vários cantos do Brasil.
Muito
obrigado, parabéns pelo trabalho. Este espaço é de vocês.
Guilherme:
Muito obrigado pela oportunidade e espaço no blog Arte Metal, ficamos muito
felizes em poder contribuir para a disseminação do Goregrind. Espaços como este
são importantíssimos para que o underground continue se perpetuando por aí. Quanto
a HF fiquem ligados que no segundo semestre teremos novidades quanto ao
lançamento do nosso primeiro clip e no início de 2016 sairá um Split 7”EP com
os brothers da Dead Fetus Colection via Uterous Production(Alemanha). Um forte
abraço e STAY SICK!!!!
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