quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Arandu Arakuaa – “Wdê Nnãkrda” – 2015 – Independente (Nacional)

Em primeira instância fica aqui um adendo, para não dizer apelo. O Arandu Arakuaa merece atenção não só do underground metálico nacional, mas também dos defensores e divulgadores da cultura brasileira de uma forma geral. Afinal, a ênfase e habilidade com que resgatam e conservam a cultura raiz do Brasil é de certa forma, única.

A já conhecida banda brasiliense chega ao seu segundo álbum ainda mais característica e marcando de vez seu território. O grupo pode não ser o único, nem pioneiro em mesclar o Metal com elementos indígenas e da música brasileira, mas sem dúvidas é o que faz com mais conhecimento de causa e maestria.

“Wdê Nnãkrda” traz ainda mais elementos e arranjos típicos da música indígena e ainda soa mais pesado nos momentos Heavy Metal do que seu antecessor “Kó Yby Oré” (2013) que já é um marco na carreira do grupo. Se o leitor fechar os olhos, irá imaginar um grupo de índios empunhando guitarra, baixo e bateria e cantando e urrando em um terreiro no meio de alguma tribo.

A produção privilegiada de Caio Duarte (Dynahead) ajudou na distinção dos arranjos recheados de viola caipira, flautas indígenas, chocalhos e outros instrumentos típicos ao mesmo tempo em que enfatizou o peso das guitarras, a pegada de bateria e pulsação do baixo com um som cristalino. No lado Metal temos a extremidade do estilo como principal foco, sendo que os momentos dançantes e acústicos nos levam a uma viagem por esse nosso rico verde que é o Brasil.

Impressiona como a vocalista Nájila está cada vez melhor. A moça canta como uma fada nos momentos mais leves e arrepia com um rasgado demoníaco quando necessário, parecendo ser vozes de pessoas diferentes. Zândhio Aquino incorpora muito bem a face indígena e, como grande estudioso do assunto, soa perfeito em suas interpretações. Lembrando que com exceção da faixa Povo Vermelho, o restante é cantado em vários idiomas indígenas.

Me recuso a escolher apenas uma canção, já que o álbum todo se interliga fazendo com que a alma brasileira se liberte e passemos por momentos reflexivos, além de bangear nos momentos mais pesados. Fato é que a introdução Watô Akwe é uma das mais belas que já ouvi. O chato redator gostaria de um pouco mais de dinamismo, mas talvez seja o nível de exigência, já que o álbum intimida em cobrar-lhes qualquer coisa. Isso é material histórico nacional!


9,0

Vitor Franceschini


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