Por Vitor Franceschini
Havard Lunde é o
multi-isntrumentista por trás da grata surpresa norueguesa chamada Moonscape.
Com a ajuda de outros músicos, que participaram do trabalho (confira os nomes
no final da entrevista, Lunde criou uma sonoridade que é voltada ao atmosférico
e progressivo, com toque de Metal extremo. Com o álbum conceitual “Entity” (leia
a resenha aqui),
lançado no último dia 2 de outubro, o projeto alçou seu primeiro vôo e promete surpreender
ainda mais. Havard falou com o ARTE METAL sobre tudo que envolve o disco,
incluindo seus fantasmas particulares que inspiraram a história do trabalho,
que consiste em um homem que não se atreve mais a enfrentar o mundo ao seu
redor e acaba enfrentando as consequências desse isolamento.
Quando
você criou o Moonscape, todo o conceito por traz do trabalho já estava pronto
ou você foi desenvolvendo isso depois de montar o projeto?
Havard
Lunde: Eu tive a idéia de um projeto solo por muitos anos,
mas nunca consegui formalizar isso até fevereiro de 2015, quando comecei a
escrever o álbum "Entity". Fiz música há muitos anos, desde que
comecei a tocar em bandas em 1995, mas nunca consegui encontrar a inspiração
para começar a trabalhar em um álbum como fiz com esse. Eu sou um grande fã de Ayreon,
e a maneira como Arjen Lucassen faz as coisas funcionarem em seus álbuns. Ao
mesmo tempo, sempre fui fã de Dan Swanö e seu trabalho com Edge of Sanity, Nightingale
etc., especialmente no álbun "Crimson" (1996). Eu também tenho uma
queda pelo Rock Progressivo dos anos 70, então a idéia de uma composição em
grande escala veio naturalmente.
Aliás,
sonoramente falando, você já tinha qual proposta ia seguir?
Havard:
Na verdade, o único objetivo que tive era ter um álbum com uma atmosfera, mas
nada mais detalhado do que isso. Claro que eu fiz algumas decisões sobre os
detalhes sobre a panorâmica e tudo isso, mas a mistura principal e a atmosfera
que você pode ouvir são feitas por Shaun Rayment (Enochian Theory).
Como
você criou a história por traz do disco? O que há de real e o que há de ficção
em “Entity”? É algo pessoal?
Havard:
O conceito realmente se desenvolveu todo o tempo, durante os dois anos
necessários para fazer o álbum, e ainda estou descobrindo novos elementos e
como posso me relacionar com toda a história. Eu realmente escrevi toda a
música no início, e senti que quase escrevi uma história já, sem ter adicionado
nenhuma palavra para ele ainda. Quando comecei a fazer as letras, acabei de
escrever palavras que caiam bem com a música, sem pensar no que diziam. Mas de
alguma forma elas realmente fizeram muito sentido para mim, então eu percebi
que elas tinham que vir de algum lugar. É tudo pessoal, mas há muitas metáforas
que espero que ajude o ouvinte a se relacionar também. Acho que todos têm seus
demônios e, em breve, este álbum será a história sobre como venci um dos meus
demônios.
E
onde você acha que a história se encaixa no mundo atual? Afinal, estamos
vivendo em uma era bem individualista, você não acha?
Havard:
Como mencionei anteriormente, acho que todos podem se relacionar com a história
de alguma forma, e todos têm seus demônios, seja ela solidão, isolamento,
depressão, etc. Um demônio vem de muitas formas, e para ser sincero, o meu veio
de todos deles. Quando você se isola, fica solitário e, quando fica solitário,
começa a pensar demais. Pensar demais leva você a uma depressão, e é aí que
seus demônios começam a aparecer.
Voltando
à sonoridade, “Entity” soa bem versátil, passando por parte mais suaves que se
contrastam com outras mais agressivas, isto é, tendo elementos desde o
Progressivo, Metal e Black Metal. Enfim, qual é a fórmula disso tudo?
Havard:
A
fórmula é que não há fórmula, eu acho (risos)! Eu queria fazer a melhor música que
eu pudesse, e eu queria incorporar coisas diferentes que poderiam lhe dar
textura e atmosfera. Essas são ferramentas importantes quando você quer contar
uma história, e posso dizer honestamente que senti que fiz isso mesmo antes de
começar a escrever letras. Como mencionei antes, adoro Edge of Sanity, e queria
combinar guitarras pesadas com melodias agradáveis, mas também combinar outros
estilos inspiradores, como Doom Metal, Rock Progressivo e coisas mais
sinfônicas. Provavelmente parece um caos completo, mas acho que consegui
equilibrar tudo muito bem (risos)!
O
disco tem a participação de diversos músicos, aliás, mais de uma dezena deles.
Como surgiram os convites e como foi organizar e trabalhar com eles?
Havard:
Percebi
cedo que não conseguiria fazer todos os solos, então comecei a olhar em torno
de alguns possíveis candidatos. Eu queria ter alguém que tivesse seu próprio
som, mas que também poderia encaixar as diferentes partes da música, onde havia
uma abertura para um solo. Andreas Jonsson (ex-Architect) foi o primeiro, então
Alex Campbell (Seek Irony) gravou alguns solos e, no final, acho que acabei com
sete guitarristas, dois tecladistas, três cantores, um saxofonista e uma
pianista. Encontrei a maioria deles através de grupos do Facebook, fóruns de
violão, etc.
Você
acredita que as participações destes músicos ajudaram a moldar a sonoridade
apresentada no trabalho?
Havard:
Nenhuma dúvida sobre isso! Sinceramente sinto que levaram toda a música para um
nível totalmente novo. Eu escrevi as letras, a música e arranjei tudo, mas
essas contribuições tornaram o álbum ótimo. Depois de cerca de 27 minutos de
música, há uma "batalha" solo de guitarra de cinco partes, que
simboliza a batalha entre o protagonista e seu demônio. Esses bits mostram
alguns trabalhos de guitarras realmente excelentes, e são coisas assim que
realmente ajudam a adicionar textura musical à história. O mesmo aconteceu
quando Sean Winter fez seu solo de saxofone apenas alguns segundos após a
mencionada "batalha". Esses são apenas dois exemplos de seções em que
os instrumentos realmente trazem o que está acontecendo na história.
“Entity”
não foi lançado oficialmente e sai no dia 2 de outubro (entrevista feita no dia
26 de setembro). Porém, você já o divulgou pra imprensa. Qual o ‘feedback’ que
o trabalho tem tido até então e qual a sua própria impressão?
Havard:
O feedback foi fenomenal! Estou realmente impressionado com as ótimas críticas
que recebi até agora. Recebi a pontuação total de quase todos eles, então estou
muito feliz com a forma como as coisas estão acontecendo. Eu só queria fazer um
álbum com o qual eu ficaria feliz, e se outras pessoas gostassem também, isso
seria apenas um bônus. Mas agora eles estão chamando o álbum de uma obra-prima,
então eu acho que eles devem estar gostando do que estão ouvindo (risos)!
Muito
se fala que a Escandinávia respira Metal, aliás, é que se imagina aqui no
Brasil, que o estilo é bem popular por aí? Isso realmente acontece? Como está o
cenário do Metal na Noruega?
Havard:
A julgar por todos os zines grandes e pequenos que posso ver na internet, a
cena do Metal no Brasil é bastante forte. O nome mais conhecido do Metal
brasileiro, pelo menos para mim, sempre foi o Sepultura. A cena norueguesa é
tão importante com bandas como Satyricon, Dimmu Borgir, Emperor, Leprous, Mind
Pagan, etc. Eu devo confessar que não sou um fã realmente de nenhum deles, pois
eu prefiro o rock dos anos 70 como Yes, Deep Purple, Black Sabbath, etc.
Por
fim, o que você conhece ou acompanha do Metal brasileiro?
Havard:
Muito
pouco, tenho vergonha de admitir! O Metal brasileiro, para mim, sempre foi
sinônimo de Sepultura, mas foi apenas recentemente que comecei a analisar o que
o resto do mundo tem para oferecer. Fiquei um pouco preocupado com a minha
própria música que não tive tempo de descobrir coisas novas até agora. Uma
coisa que me parece é a quantidade de zines undergrounds que estão surgindo no
Brasil, e isso é incrível! Eles estão mantendo o espírito vivo, e isso é o mais
importante de todos.
Awesome!!!
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