Por Vitor Franceschini
Guilherme Malosso
(vocal, guitarra, baixo, bateria) e Yuri Camargo (bateria, teclado, ambiência)
dão vida ao Motherwood, um projeto Amtmospheric Black Metal que resgata as
características do estilo moldadas na segunda metade da década de 90. Só neste
ano lançaram uma promo com duas composições que chamou a atenção no
underground, e o álbum auto-intitulado que fez jus ao alarde. Conversamos com
Guilherme, que falou mais sobre o projeto, o disco e tudo que o envolve, além
de outros assuntos, num bate papo interessante e esclarecedor.
O
Motherwood é um projeto novo, surgido no ano passado. Por isso eu gostaria que
vocês falassem um pouco de como surgiu essa parceria, enfim, como idealizaram o
Motherwood?
Guilherme
Malosso: Nossa parceria começou por volta de 2005 quando
resolvemos fazer algumas músicas por diversão na minha casa. Usávamos um
pequeno amplificador de guitarra e um microfone de computador, era tudo o que
tínhamos na época. Após alguns anos produzindo músicas, eu montei o Estúdio RG
em 2009 e passamos a ter uma estrutura melhor pra produzirmos nossos projetos.
O Motherwood começou como um experimento, em 2016, fizemos a estrutura de seis
músicas e achamos que elas poderiam se tornar parte de um trabalho mais sério,
então trabalhamos muito durante um ano e temos nosso primeiro disco.
A
sonoridade proposta sempre foi a que ouvimos hoje no álbum “Motherwood” ou
vocês a moldaram com o tempo?
Guilherme:
Simplesmente me reuni com o Yuri e fizemos todas as músicas em uma semana. As
ideias iam surgindo naturalmente. Nossa sonoridade é uma mistura de influências
dentro do Metal extremo.
Como
é o trabalho de composição de vocês, ou seja, há uma metedologia? É mais fácil
compor sendo um duo?
Guilherme:
Nos trancamos dentro do estúdio, sentamos em frente ao computador com uma
guitarra e íamos gravando e montando as estruturas. Trabalhamos nisso muito
tempo, foram camadas e mais camadas de tracks até chegarmos à sonoridade que
buscávamos. Enquanto o Yuri trabalhava nas ambiências, eu escrevia as letras e
encaixava os vocais. Foi um processo bem desgastante, mas ficamos satisfeitos
com o resultado.
Aliás,
sei que os criadores odeiam falar sobre as composições que criam. Mas como
definiriam a sonoridade do Motherwood?
Guilherme:
Temos uma sonoridade muito particular, queríamos que nossa música soasse
melancólica e nostálgica, então quando começamos a gravar a pré produção,
sabíamos quais caminhos deveríamos seguir. Não posso rotular minha arte e
fechar minha cabeça para novas ideias e influências.
Vejo
a música da banda atingindo um patamar que nomes como Katatonia e até Alcest
atingiram um dia, sendo que hoje mudaram um pouco sua sonoridade. Mas acredito
que o Motherwood tem muito de Black Metal também, e não só o atmosférico, mas
também o sinfônico (não pelos arranjos, mas em certos climas). Ou seja, vocês
conseguem transitar por diversos estilos, mas criaram uma identidade própria.
Qual a fórmula disso?
Guilherme:
Não existem fórmulas no Motherwood. Minhas influências ajudaram na sonoridade,
mas não faço música pensando em quem vai ouvir, apenas expresso meus
sentimentos em melodias e letras melancólicas. Como o Yuri é um cara que ouve
muita música ambiente e atmosférica, fizemos essa junção. A música extrema me
dá muita liberdade para escrever com sinceridade. É como se cada música fosse
uma jornada.
E
me parece que a banda resgata uma sonoridade desses nomes, preenchendo certa
lacuna, pois não é mais comum ver alguém se arriscando nessa área. Você
concorda?
Guilherme:
Acredito que o medo em agradar o público seja um fator bloqueador na hora de
compor, então algumas bandas não se arriscam e mantém uma fórmula desgastada.
Vejo a música de uma forma diferente. É a minha arte, me comprometo a ser
honesto comigo e me arrisco em fazer o que gosto, não crio barreiras criativas.
Vocês
são músicos experientes que já tocaram em outras bandas. Até que ponto essas
outras influenciaram no projeto e, caso não tenha nenhuma ligação, essa foi uma
preocupação na hora de compor?
Guilherme:
Não tenho influência de nenhuma banda ou projeto que já toquei, minha
preocupação é expressar toda a melancolia que sinto e me envolver pelo ar
nostálgico que a minha música me causa.
A
natureza vem como foco principal na temática das letras. O que exatamente vocês
tentam passar com suas mensagens?
Guilherme:
Tracei uma linha paralela entre os temas “A visão da natureza e sua angústia
perante ao ser humano” e “um mergulho nas águas escuras de minha mente”. A
depressão, melancolia, tristeza são alguns temas líricos. Quando escrevo algo,
me imagino inserido em um cenário. Às vezes transformo sentimentos em símbolos,
ou paisagens, como a frieza de um coração simbolizada por montanhas de gelo.
Somos parte da natureza, quando a destruímos, estamos nos destruindo.
Aliás,
as músicas mostram uma variação de ‘climas’ bem interessante, soando agressivas
em certos momentos e melancólicas em outros. Ok, essa é uma característica do
Amospheric Black Metal, mas a intensidade demonstrada pelo Motherwood é algo
bem particular. Esse é o real sentimento passado juntamente com a mensagem?
Guilherme:
Sim,
meus sentimentos eram fortes e sombrios enquanto escrevia as músicas e as
letras, a agressividade de minha mente foi refletida nesse álbum.
“Motherwood”
foi produzido por vocês mesmos. Por que optaram por isso e como foi trabalhar
na própria música?
Guilherme:
Sou produtor de Metal, nada melhor (ou pior) que produzir seu próprio trabalho.
Há prós e contras. O lado bom é saber como trabalhar na sonoridade, mas é
desgastante o processo para chegar ao objetivo. Quando produzo minha música, o
senso autocrítico pode atrapalhar e dificultar toda a parte de mixagem e
masterização.
O
disco, assim como a promo lançada anteriormente, foi lançado pelo selo Heavy
Metal Rock. Como surgiu essa parceria e como está o trabalho com eles?
Guilherme:
Sou amigo do Wilton (dono do selo) há muito tempo e quando apresentei o disco,
ele topou na hora. É muito gratificante trabalhar com ele, pois é uma pessoa
que conhece muito de Metal e se propôs a trabalhar duro junto com a gente. Devo
todas essas conquistas a ele, o cara que acreditou em nossa arte.
Por
fim, como dissemos, o Motherwood é um duo. Há a vontade de contratar músicos e
sair para fazer alguns shows? Enfim, qual nível de possibilidade disso?
Guilherme:
Não
penso em ter uma banda no momento, mas sim continuar focado em divulgar o álbum
dedicar algum tempo que tenho em escrever material novo com o Yuri. Se alguma
oportunidade concreta bater na minha porta, posso pensar em montar uma banda,
mas não me preocupo com isso agora.
No
mais, é isso. Gostaria de agradecer pela entrevista e deixar um espaço para
você mandar um recado para os leitores.
Guilherme:
Agradeço o espaço, suporte e interesse. Teremos muito material novo em 2018.
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