quarta-feira, 7 de março de 2018

Sem Textão: O ‘Metaleiro’ brasileiro nunca me enganou

Esta foto é uma mera ilustração



Por Vitor Franceschini

Antes de qualquer pré-julgamento de algum leitor ‘hater’ (viciei nessa palavra), deixo bem claro que não acho que ‘metaleiro’ ou ‘headbanger’ ou ‘rockeiro’, como queiram (eu prefiro o termo abrasileirado) deva ter alguma posição política. Só acredito que no Rock e no Metal não cabem ideias conservadoras, além de sistemas totalitários e/ou baseados na demagogia religiosa, além dos travestidos bons costumes da família tradicional. Inclusive eu já disse isso no primeiro artigo desta seção (confira aqui).

Porém, essa história do ‘metaleiro’ e o Metal brasileiro ter vindo da periferia e classe trabalhadora é balela. Calma, não estou aqui dizendo que o metaleiro (chega de apóstrofos) brasileiro é vagabundo ou burguês, mas a grande maioria da nossa cena (principalmente baseada no estado de São Paulo) não provém de periferia coisa nenhuma, como muitos taxam por aí.

Foi a primeira vez que fiz uma pesquisa baseada em textos, depoimentos e documentários, além de uma vivência de 20 anos de cena, para elaborar um texto dessa seção e constatar: o metaleiro brasileiro é em sua grande maioria de classe média, e está ali entre a baixa e alta.

Quer basear-se? Constate na histórica cena underground dos anos 80 e confirme realmente quem surgiu das periferias naquela época? Foram os punks, que muitas vezes se dirigiam à galera do Metal como cabeludos filhinhos de papai - é só assistir aos documentários “Botinada (The Rise of Punk Rock in Brazil)” de Gastão Moreira e “Guidable - A verdadeira História do Ratos de Porão” de Fernando Rick e reparar em tais menções.

Isso e uma verdade? Não estou aqui pra desmentir lendas do cenário da música pesada nacional e muito menos pra taxar alguém disso. Fato é que durante a minha convivência no cenário nacional, que vem em meados dos anos 90, compartilhei eventos com uma grande maioria que de periferia não tinha (e nem têm) nada, em especial se destacando o cenário da região central (total) do interior do estado de São Paulo.

E quando eu me refiro à classe, eu falo sobre aquele sujeito que trabalha desde a pré-adolescência porque precisa, pega ‘busão’ desde o primário e o dinheiro ou é pra comer ou ir no rolê, os dois não dá. Sem contar que todo esse rala ainda conta com o bônus de morar num bairro periférico e ainda contar com olhares desconfiados de quem a gente desconfia.

O que muito se via e se vê, são metaleiros pré-estabelecidos e com base familiar bem constituída, bem estruturada. Mas isso aqui no Brasil, meu caro, até porque nunca vivi a cena do exterior. Lembro-me muito bem de conviver inclusive com uma galera onde o pai e a mãe iam (vão) buscar os filhos em portas de shows (obs.: já cheguei a ir de carona com motorista particular de amigo em evento), uma grande maioria que possuía uma grande oportunidade de estudo e só vejo que tudo isso se tornou ainda mais comum hoje. Você não vê camisetas do Slayer, Iron Maiden, Helloween, Slayer nos morros e na periferia a torto e a direito, e sim, isso é um sinal.

Isso que estou constatando é um problema? Claro que não! Como alguém que não exige regras deveria se incomodar com isso? Porém, tal fato comprova que a grande maioria dos metaleiros brasileiros (principalmente da minha idade pra trás, em torno dos 30 anos) não travavam uma luta social e sim uma luta pessoal familiar. O nosso conflito era, na maioria das vezes (mais uma vez) contra a repressão da família que sempre nos sustentou da forma correta (sim, eu não oriundo da periferia, mas vivi nela).

O metaleiro brasileiro é, em sua grande maioria, um ditador de regras onde o conservadorismo só muda de direção e tem em pauta a música pesada e é muito mais um rebelde sem causa. Isso também porque o estilo é mais abrangente e chegou aqui um pouco mais tarde, fazendo com que cada ‘revolução’ fosse mais pessoal do que social.

Tudo isso gerou essa boa parte reacionária que constatamos hoje e que muitos da dita ‘esquerda’ não conseguem compreender. Porém, não me ponho a favor de ideias da direita tradicional serem impostas dentro do Rock / Heavy Metal simplesmente por serem conservadoras. Mas, só quero dizer, que achar que o Heavy Metal é algo de esquerda ou foi algo de esquerda, principalmente aqui no Brasil, é pura ilusão. Quanto a moçada que está chegando hoje, estão ainda mais bem servidos e sem necessidade de lutar contra o caos social, ainda mais com a comodidade da internet. Isso nunca me enganou.

Obs.: NÃO SERÃO PUBLICADOS COMENTÁRIOS DE ANÔNIMOS.

*Vitor Franceschini é editor do ARTE Metal, jornalista graduado, palmeirense e headbanger que ama música em geral, principalmente a boa. Não é bipolarizado, mas bipolar.  

2 comentários:

  1. Muito bem semeada a semente da discórdia! kkkkk
    Mas ótimo texto, Vitor. Eu também sempre fui o mais fudido do rolê (ou competia com o que era rsrs), tive dificuldades de encontrar amizades no Metal principalmente por isso, por maioria dos metaleiros serem de classes mais abastadas que a minha, o raciocínio meio que não bate... e realmente é bem complicado lidar com o moralismo de gente que idolatra Lemmy Kilmister, Ozzy, Billy Idol, Kurt Cobain e tal... é muita ignorância em contraste com a quantidade de informação que temos disponível (e gratuita) hoje em dia. Aquele abraço!

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