quarta-feira, 4 de julho de 2018

In Lo(u)co: Black Sabbath – Ibirapuera 1992 e um pouco de ‘chacretes’




Por Adalberto Belgamo

Nas décadas de 80 e 90, havia uma expressão interessante: “meu, o cara curte som!”. O tal do “curte som” era usado pelos fãs de Rock, Metal e derivados. Hoje, mais experiente (mas calma lá, não é assim também, não saí na foto do primeiro voo do 14 Bis – risos), percebo que a expressão era um divisor entre os que gostavam do Rock Clássico, Metal, Punk e Hardcore e de fãs de outros estilos.

Havia uma hierarquia, inclusive cronológica (os “véios” mesmos – risos) em relação à confiança e ao respeito. Um “roquista” (o termo “redbengui” ficou mais presente a partir da metade da década de 80) com a camiseta de uma banda antiga, por exemplo, era... o cara! Mesmo que, na intimidade do lar, o “guru” não dispensasse um Amado Batista e/ou um Odair José (no interior, aquele sertanejão raiz, de viola!) e não perdia um programa do Chacrinha (Terezinha... olha o bacalhau! risos).

A minha pré-adolescência e “aborrecência” foi marcada pelos programas nas tardes de sábado. Havia, além do Chacrinha, o Clube do Bolinha (Eles e Elas, no clube do Bolinha! Risos) e Barros de Alencar. Só a nata do que chamavam de brega (risos). Via mais para ver as participações do “Rock Brasileiro” (segundo alguns críticos) da época, como o Barão Vermelho e o Ira!. Havia as dançarinas, mas “nenhum” adolescente (exalando hormônios – risos) assistia ao programa do Chacra por causa das “moças” (risos). Nada para fazer nas tardes de sábado. Ver “qualquer coisa” para passar o tempo (sei... risos).

Na memória vem apenas os nomes de algumas “chacretes”  como Aurea Figueiredo, Baby, Beth Boné, Bia Zé Colméia, Cambalhota, Chininha, Cida Cleópatra, Cléo Toda Pura, Cristina Azul, Cris Saint Tropez, Daisy Cristal, Débora Lúcia, Edilma Campos, Elvira, Elza Cobrinha, Érica Selvagem, Esther Bem-Me-Quer, Estrela Dalva, Fátima Boa Viagem, Fernanda Terremoto, Garça Dourada, Geni, Gláucia Sued, Gleice Maravilha, Graça Portellão, Gracinha Copacabana, Índia Amazonense, Índia Potira, Índia Ana Circulete, Jussara Mendes, Karina Fofura, Leda Zepelin, Lia Hollywood, Loura Sinistra, Lucinha Apache, Marlene Morbeck, Mirian Cassino, Pimentinha, Regina Polivalent, Rita Cadillac, Rosane da Camiseta, Roseli Dinamite, Sandra Pérola Negra, Sandra Veneno, Sandra Mattera, Sandrinha Radical, Sarita Catatau, Suely Pingo de Ouro, Valderez, Valéria Mon Amour , Vera Furacão e Eva Furacão... (risos)
Voltando ao “cara que curte som”, as influências que recebíamos vinham dos mais velhos, ou seja, do Rock Clássico. Já usávamos o termo “guitar hero” para definir nossos guitarristas preferidos.  Idolatrávamos não somente a técnica musical, mas a postura e, principalmente, as diferenças criativas, que moldaram 99% do que ouvimos atualmente, em relação ao Rock e ao Metal, em especial. É importante expandir o conhecimento musical para outros estilos, mas fica para outra oportunidade... se me derem (risos).

Jimi Hendrix, Ritchie Blackmore, Alex Lifeson, Jimmy Page, Angus Young, David Gilmour, Eric Clapton (que era considerado um deus! E é mesmo!), Pete Townshend, Johnny Ramone, (sim! ele criou um dos estilos musicais mais influentes na história da música ocidental!). Mais para os anos 80, Eddie Van Halen e Randy Rhoads (e tantos outros) moldaram, aprimoraram e criaram técnicas, sonoridades e estilos novos. Além da música, havia a “magia”, que os cercava. Sexo, drogas e Rock and Roll! Vida “on the road”! Festas! Bom, para os fãs, o sexo era um tanto quanto escasso (risos). “E não discordem”! (risos). Eu sei o que vocês fizeram nos verões passados! (risos). As drogas eram os “corotinhos” da época (e mais algumas coisinhas hehehehe), a vida na estrada consistia em atravessar a cidade para ir a festas e fazer “air guitar” (risos). O “Roque” era a única coisa realmente palpável! (risos)

A guitarra, naturalmente, está em constante evolução técnica. No entanto, os “guitar heroes” estão desaparecendo. Talvez seja um dos motivos de os jovens, principalmente, não se interessarem pelo instrumento. Na opinião de quem vos escreve, o último grande representante da raça (risos), que se impôs (por méritos próprios) para a cultura de massa, foi o Slash. Deixando bem claro, alguém que extrapolou os limites do Hard Rock e Heavy Metal, underground ou não. O próprio Kurt Cobain no estilo dele (um gênio na composição!) influenciou muitos guris. É (era) um outro contexto, mas foi de suma importância para o instrumento. Enfim, segue o fluxo... (risos)


Bom, depois da pequena introdução (risos), por que falar de guitarristas? Por quê? Por quê? Por quê? Tony Iommi! O pai, o filho e o neto do Heavy Metal! Simplesmente, criou um conceito e uma sonoridade musical! Ousou ao sair da formação Blues/Jazz/Erudita. Misturou tudo. Criou os riffs, o peso e a densidade do estilo! E acabou! Sem teorias da conspiração. Não concorda? Sol com chuva, casamento de viúva, chuva com sol, casamento de espanhol! (risos)

Vamos então para a Pista de Atletismo do Ibirapuera em 27 de junho de 1992. Black Sabbath!!!
Minha banda e meu guitarrista preferidos de Heavy Metal. É adoração mesmo! (risos). Imaginem como os fãs se sentiram com a notícia da primeira turnê da banda no Brasil? Êxtase, ansiedade, felicidade, perplexidade e idolatria nível “hard”!

Eles estavam lançando o “Dehumanizer” (1992) com uma das formações clássicas. Tony, Geezer, Appice e... Dio! Era um sonho, tanto que um mês após o show, eu ainda estava meio passado, segundo o pessoal da faculdade. Na verdade, naquela época eu era meio passado mesmo (risos). Acho que tenho melhorado um pouco nos últimos anos. Será? (risos)

E fomos de excursãozinha básica. Ônibus lotado. Isopores carregados de cerveja e comidinhas suspeitas (risos). Ainda não era proibido fumar em veículos fechados, então o fumaçê de bastonetes bronzeadores de pulmões (e outras coisinhas...) corriam soltos. Ansiedade a mil!

E o sonho dos “caras que curtem som” se materializou com os primeiros acordes de The Mob Rules. Ver o Iommi tocando com um sorriso no rosto – pela primeira vez no Brasil – foi surreal. E o peso que saia dos PAs? Orgástico, no bom sentido (risos)! Ele é um “lindo”! Espiritualmente e musicalmente falando. O “homi” é feio demais! E olhe que não me foi permitido passar na fila da beleza, antes da chegada a este planeta (risos).

De repente apareceu o elfo... Dio! De onde vinha a voz e o carisma de um ser que, na melhor das hipóteses, batia na cintura do “Bonecão de Posto” (risos), que vos escreve? À esquerda... Mr. Geezer Butler. Misericórdia! O cara espancava (no bom sentido) o baixo, sem pena, como se fosse o último show, que estava fazendo! Na bateria...Vinny Apice! Nos teclados, fazendo todas as texturas... Geoff Nichols!

Todas as vezes, que me pedem para definir o Heavy Metal com bandas como exemplos, as que saem ao mesmo tempo do cérebro protegido por uma calvície avançada (risos), são sempre a “era” Dio no Black Sabbath e o Judas Priest. E eu vi as duas!!!
Setlist: The Mob Rules , Computer God , Children of the Sea , Time Machine , War Pigs, I, Die Young, Guitar Solo, Black Sabbath , TV Crimes , Master of Insanity , Drum Solo, Iron Man e Heaven and Hell. Encore: Neon Knights e Paranoid. Laguna Sunrise (tape)

A sequência inicial, as quatro primeiras obras de arte, fizeram muitos marmanjos derramarem lágrimas. Não vou contar quem “chorei” para vocês... (risos). E participação do público em Heaven and Hell? E as músicas da era Ozzy? O que foi aquilo? Parece fanatismo de adolescente, não é? Mas é mesmo! (risos).

A música é a trilha sonora dos momentos mais marcantes da existência no planeta Terra, bons ou ruins. Garanto que este show do Black Sabbath foi um dos dias mais felizes da minha vida, sem titubear! Sonho de infância realizado! Os outros shows da banda nas terras do “Temeridade” (affff) foram antológicos, mas a primeira vez, usando o clichê, a gente nunca esquece.

Crianças e “crianços”, independente do tamanho da banda, sempre vale a pena ver um show ao vivo das bandas que vocês mais gostam, uma, duas, três... quatro vezes. Fica marcado para o resto da vida, mesmo quando vocês se tornarem “os caras que curtem som”! (risos). Pessoas que não tem, no mínimo, um pneuzinho de bicicleta em volta da pança e não frequentam shows... não tem (e não terão) histórias para contar.
Eu me arriscava (na verdade, arrisco-me até hoje... sem muito sucesso – risos) em tocar guitarra naquela época. Sinceramente, foi difícil olhar para a minha Giannini Pro Line (ostentação no início da década de 90 – risos) depois do baque. Tocar? Aventurei-me umas duas semanas depois, mas baixinho...
Inté!

*Adalberto Belgamo é professor, atuando no museu (sem ser peça... ainda - risos), colaborador do Arte Metal, além de ser Parmerista, devorador de música boa, livros, filmes e seriados. Um verdadeiro anarquista fanfarrão.

Um comentário:

  1. Imagino o tamanho do DIO, apesar de ser gigante no Palco, não era maior que um Anão de Jardim, faço ideia por ter assistido o primo dele em Brasilia com a The Rods, outro gigante no Palco, cantando muito.

    Mas Black Sabbath é tudo mesmo, todas as fases, principalmente o álbum com Ian Gillan.

    Um arrependimento: Não ter ido assistir Heaven And Hell em 2009 em Brasilia, 1 ano depois, praticamente exato, DIO faleceu e nunca mais poderia assistir com ele, depois não tive mais chance de assistir.

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