(2021 – Nacional)
Independente
Toda era, cena ou movimento musical tem sua marca ou seu “rosto”. Independente de estilos, sempre há artistas que, de certa forma, delimitam as características artísticas de um movimento. O Rock e seus derivados não fogem à regra.
Quando se é adolescente,
principalmente, a identificação, em um primeiro momento, vem na forma de ritmos
e melodias. Tal padrão era facilmente identificado nos anos 80. Nem todos
tinham acesso a traduções ou o domínio da língua inglesa. Ainda não havia
“internet” e todas as facilidades para descobrir as “mensagens” nas letras.
Tinha de se virar com dicionário, algumas poucas revistas ou contar com a
bondade de alguém (risos).
O importante – no caso do
Metal, em especial – eram o peso, a agressividade e as melodias vocais. O Black Sabbath com o Dio era a expressão mais pura do Metal
tradicional. O Exodus representava a
fúria do Thrash Metal. O Mötley Crue
o Hair Metal. São escolhas aleatórias e pessoais, claro. Apenas exemplos de
“identificação e/ou identidade”.
E no Brasil? A mesma
situação. De um lado bandas cantando em inglês; do outro, em português. No entanto, a narrativa lírica tinha muito
mais a ver com o universo europeu e estadunidense que com a “nossa” história.
Exceção ao Movimento Punk, pouquíssimas bandas abordavam temas sociais e
históricos.
Independentemente de
quais bandas foram mais reconhecidas, obtiveram mais projeção (nacional ou
internacional), faturou mais (com Metal underground? Difícil, com raras
exceções – risos), a Dorsal Atlântica
era (e ainda é, pelo menos para quem vos escreve) a síntese – o “rosto” – do
estilo no país.
Imagine-se um adolescente
e/ou jovem adulto nos anos 80 que, além do sentimento de pertencimento a um
coletivo, ainda contava com uma banda que escancarava de forma inteligente as
amarguras e tristezas de uma nação? Vale a pena lembrar que estávamos ainda sob
o domínio do regime militar.
“Todos que suportaram a
tortura mentem (...). Sensacional! Tanto “Canudos”
(2017), quanto “Pandemia” dialogam intrinsicamente com o público,
levando-se em consideração o registro histórico de um momento, triste,
revoltante e delicado. Se o planeta ainda existir e os “humanoides” (risos)
procurarem por registros em 3021, encontrarão o retrato perfeito da situação de
100 anos atrás.
“Pandemia”
conta com a genialidade musical de Carlos
Lopes. Ele consegue fugir dos clichês do estilo, buscando riffs e melodias
no imaginário coletivo musical do Brasil. “Filtrando” a agressividade e o peso
das canções, encontramos referências de construções musicais típicas do vasto
repertório de estilos tupiniquins. É interessante (para quem gosta, lógico)
observar a miscelânea musical. Referências, as quais se encontram e se misturam
de forma coesa e coerente.
Liricamente é o retrato
da catástrofe atual. Encadeamento de letras inteligentíssimas, as quais abordam
e escarram a misoginia, o racismo, a homofobia e outras insanidades da “atual Idade
Média”, além dos abismos socioeconômicos e a desintegração dos direitos da
classe trabalhadora.
O pacote é completo. Não
tem como desmembrar o instrumental da mensagem, apesar de “alguns goiabas”
(devem ser da goiabeira da “suposta” ministra – risos) continuarem com o
discurso do “importante é o som”.
A arte gráfica do
trabalho? Sem comentários. Perfeita! Se alguém ouvir o álbum e ainda não
encontrar “para que lado samba”, provavelmente, “é ruim da cabeça ou doente do
pé”, ou no caso do Metal, doente do “pescoço” (risos). Nota: 1000.
http://www.dorsalatlantica.com.br/
https://www.facebook.com/dorsalatlantica/
10
Adalberto
Belgamo
Foda!
ResponderExcluirSensacional, esse disco é maravilhoso.
ResponderExcluirAnsioso por escutar ambos os projetos. Avante!
ResponderExcluir