A banda Shadowside acaba de lançar seu terceiro full lenght e dá um grande passo em sua carreira rumo ao topo dos grandes nomes do Metal mundial. Sempre em ascensão, o grupo liderado pela vocalista Dani Nolden, já se consolida como um dos grandes nomes da música pesada brasileira e acumula grandes apresentações por aqui, Europa e América do Norte. Além de Dani, a banda conta com Raphael Mattos (guitarra), Ricardo Piccoli (baixo) e Fabio Buitvidas (bateria) e conseguiu chegar perto da perfeição com “Inner Monster Out”. A vocalista falou conosco sobre o novo trabalho e outros assuntos que abrangem a banda, confira logo abaixo:
Fale-nos do atual momento do Shadowside. Já que a banda acaba de dar um enorme passo em sua carreira com Inner Monster Out.
Dani: Eu acredito que é seguro afirmar que estamos no melhor momento da carreira da banda. O Inner Monster Out é sem dúvida nosso melhor trabalho até hoje. Apesar de todas as bandas dizerem isso, realmente é nosso melhor trabalho (risos). Ele é bem mais maduro, pesado e o gravamos logo depois de uma turnê de quase dois meses na Europa com o W.A.S.P., então não tivemos pausa. A banda está mais ocupada e ativa a cada álbum. A Shadowside tem ocupado praticamente todo o meu tempo e é exatamente isso que eu buscava. Todos nós nos dedicamos muito durante o último ano a esse trabalho e estamos todos orgulhosos do resultado e felizes com o momento da banda.
No primeiro trabalho, o EP Shadowside (2001) e no álbum de estréia Theatre Of Shadows (2005), vocês contaram com formações diferentes. Portanto, nos dois últimos mantiveram a mesma formação. O que houve para manter uma formação coesa, do início da banda até os dias atuais?
Dani: Apenas com essa formação encontramos um grupo estável, que quer a mesma coisa. Não é tão difícil encontrar bons músicos, o problema é encontrar bons músicos que se encaixem no que o restante da banda quer fazer, tanto musicalmente quanto profissionalmente. Não adianta colocar um excelente músico que não quer fazer turnês longas, nem alguém que tenha uma ideia muito específica da direção musical, como aconteceu no passado. Tivemos um músico que queria levar a banda aos poucos para o Pop Rock e nós somos uma banda de Metal. Obviamente não vai funcionar. E mesmo dentro do Metal, nós precisamos de gente com cabeça aberta, porque nós não gostamos de seguir uma fórmula. Se entrasse alguém na banda sabendo que quer fazer Power Metal, nós teríamos problema sempre que quiséssemos fazer algo que soa mais Thrash ou Hard Rock, qualquer outra coisa diferente... Porém finalmente nós encontramos as pessoas certas. Todos nós respiramos música como profissão e como paixão 24 horas por dia e gostamos de criar coisas. Não dá pra prever por quanto tempo uma formação vai permanecer junta, mas essa é a melhor formação que já tivemos e a única que conseguiu criar música de forma divertida, espontânea e ter os mesmos objetivos e planos para o futuro do grupo.
Como funciona o processo de composição do Shadowside?
Dani: Nós deixamos as coisas fluirem... Levamos todas as nossas ideias para o estúdio e então trabalhamos nas músicas juntos. No Inner Monster Out, eu e o Raphael (guitarrista) aparecemos com metade das ideias iniciais cada um, porém nós não estávamos presos a essas nossas ideias, a intenção era apenas dar um ponto de partida para as composições. Então, todos faziam modificações em tudo, cortávamos algumas partes, adicionávamos outras e a maioria das músicas originais são completamente diferentes do resultado final, que foram trabalhadas como uma banda. Foi muito interessante trabalhar assim porque todos nós temos gostos bem distintos. Ao mesmo tempo em que não podemos fugir das nossas características pessoais, também não estávamos preocupados em seguir nossas influências. Saiu um som com bastante personalidade, fora dos rótulos e que agrada a todos os membros da banda.
Nos três discos que vocês lançaram há uma evolução latente principalmente em se tratando de produção e execução das músicas. Portanto, os três álbuns possuem grandes qualidades. Vocês concordam com este fato?
Dani: Sim, nosso objetivo era fazer algo melhor, mas não esquecer o que já havíamos feito... Queríamos apenas lapidar o que sentíamos que estava no caminho certo e acrescentar outras coisas que achamos legal, além de dar cada vez mais identidade para a banda. Eu acredito que essa evolução é natural, especialmente quando a banda busca isso. A preocupação antes de qualquer coisa que fazemos é que seja melhor do que fizemos anteriormente. Não faz sentido lançar um álbum apenas para colocar material no mercado. Para nós, precisa também ser uma conquista, uma realização pessoal. Portanto, tudo que pensávamos não ser tão bom quanto o que fizemos no passado, nós descartávamos. O que considerávamos tão bom quanto, procurávamos melhorar porque apenas igual não é suficiente.
Inner Monster Out parece ter sido um álbum extremamente planejado. Explique-nos sobre isso e como foi trabalhar nele.
Dani: É interessante você dizer isso, ele parece planejado com cuidado, mas não foi. A composição dele foi uma bagunça (risos). Foi tão espontânea, nós fizemos esse álbum de forma divertida, brincando com as músicas, experimentando o riff de um com o refrão do outro. “Waste of Life” saiu em alguns minutos! Eu levei um refrão para o estúdio e não sabia o que fazer com ele (risos). Raphael tinha um riff matador e então Fabio disse “eu sempre quis fazer uma música que começa direto com a voz”. E de repente, gravando parte por parte, a música estava pronta e agora é uma das favoritas, tanto da banda quanto do público. Penso que o álbum soa planejado, porque gravamos de forma extremamente cuidadosa e escutamos todas as nossas demos várias vezes para lapidar as músicas, nos livrarmos do que estava em excesso, colocar uma parte extra quando necessário. Nós apenas sentimos as músicas... Não pensamos em como elas deveriam soar ou que direção deveriam tomar. Não acredito que teríamos atingido esse mesmo resultado se tivéssemos planejado... É como cobrança de pênalti... Se você intencionalmente quiser acertar a trave, você não vai conseguir (risos).
A produção do disco ficou excelente e ficou a cargo da banda e Fredrik Nordström (Arch Enemy, Evergrey, Dimmu Borgir, etc.). Como vocês chegaram até Fredrik? Vocês estudaram trabalhar com algum outro produtor?
Dani: Nós tínhamos alternativas em mente, claro... Quando inicialmente entramos em contato com Fredrik, não sabíamos se ele aceitaria trabalhar conosco. Mas ele era o número 1 desde o começo. Quando ele aceitou, nem pensamos mais em falar com outras pessoas. Tudo que ele faz é bem feito. Você pode não gostar do estilo de uma banda, mas é fato que tudo que vem dele é perfeitamente executado, sempre tem um som excelente e é muito bom dentro da proposta do grupo. Não foi Fredrik que nos levou a esse direcionamento no Inner Monster Out, nós que achamos que ele seria o cara ideal para o que estávamos buscando. Ele é perfeccionista, porém deixou o controle criativo para nós o tempo todo. Ele deixava claro quando algo não estava legal, mas a tarefa de criar algo melhor era nossa. Ele soube tirar o melhor de nós sem qualquer estresse. Eu gosto de trocar de produtor a cada álbum, porque sinto que quando você se acostuma ao método de trabalho de alguém, você se acomoda, deixa de tentar se redescobrir... porém eu faria mais um álbum com Fredrik, afinal trabalhamos juntos por apenas três semanas, ainda tem muito que podemos desenvolver com ele.
Em Inner Monster Out, a banda manteve a característica de composições com refrãos marcantes e de fácil assimilação. Isso é proposital?
Dani: Sim, eu não consigo gostar de uma música com um refrão que não é o destaque de uma música, que passa e você nem lembra. A música pode ser excelente, mas sem um refrão marcante, é como comida sem tempero, para mim. Então, quando trabalho nas melodias, eu nem me preocupo em gravá-las. Se nem eu mesma conseguir lembrar, ninguém vai lembrar (risos). Já esqueci várias melodias que eu considerava boas assim, mas me conformei por acreditar que um refrão precisa funcionar na primeira audição. Muitas vezes, você só tem uma chance para interessar um novo fã, então precisa “agarrá-lo” quando pode. O desafio é fazer um refrão marcante, de fácil assimilação, que não seja infantil. Tem que ser uma melodia interessante, bonita, que funcione com o peso do restante da música. Eu me divirto fazendo isso seja criando as melodias ou o instrumental primeiro. É um quebra-cabeças de qualquer forma.
Como vocês chegaram até Björn “Speed’ Strid (Soilwork), Niklas Isfeldt (Dream Evil) e Mikael Stanne (Dark Tranquillity) para participar na faixa-título?
Dani: Björn é amigo da nossa manager nos Estados Unidos e convidamos Niklas através de Fredrik, já que eles tocam na mesma banda. A música é uma história meio inspirada em Hannibal Lecter e Nietzsche, onde um investigador precisa tomar cuidado para não se tornar igual ao assassino, pois precisa entendê-lo, compreender seus motivos e aprender a pensar como ele. Desde o começo ficou evidente que precisaríamos de convidados se quiséssemos manter a letra. Conforme a música foi tomando forma, ficou cada vez mais claro que Björn e Niklas seriam perfeitos para as melodias, ou ao menos vozes com essas características. Mikael foi a surpresa, não pensei nele inicialmente porque não tinha forma alguma de contatá-lo, mas fizemos amizade com Anders, do Dark Tranquillity, durante um “tour” pelos bares de rock de Gotemburgo e ele foi nos visitar no estúdio no dia da gravação de Björn, acompanhado de Mikael. Não sei se ele gostou muito da música ou se empolgou por estarmos todos gravando, mas ele quis gravar também e é claro que eu adorei a ideia! Ele deu mais um toque especial para a música. O mais interessante de tudo é que nós tiramos todos esses vocalistas das suas zonas de conforto, eles fizeram algo bem diferente do que estão acostumados a fazer nas suas bandas, porém trouxeram algo novo para nós também. Ficou uma mistura bem especial.
E Roger Moreira (Ultraje A Rigor) na versão bônus para “Inútil”? Inusitada essa participação, não?
Dani: Já que era pra chocar com a versão de Inútil... melhor fazer a coisa direito (risos). Eu sou fã do Roger e do Ultraje. Não apenas eu, mas todos nós temos um profundo respeito por tudo que o Ultraje A Rigor significa para o Rock brasileiro. Gravar "Inútil" partiu do desejo de fazer uma música em português, mas como eu não senti que teria tempo suficiente para escrever algo em português, decidimos fazer o cover. Mostramos a versão para o Roger, ele gostou e então perguntamos se ele queria participar. A música ficou bem Metal e a participação dele ficou divertidíssima, deu à música o ar de zombaria inteligente que ela precisa ter.
Já presenciei um show de vocês em 2009 no Araraquara Rock e o show foi matador. Quais lembranças vocês tem daquele dia?
Dani: A cidade nos recebeu maravilhosamente bem, gostei muito desse show! O público estava incrível e estávamos retornando de uma turnê pela Espanha, eu não poderia ter pedido por volta melhor ao Brasil!
Falando em show, a banda possui uma energia incrível no palco e mesmo com um guitarrista apenas vocês possuem grande peso ao vivo. Como vocês se viram no palco?
Dani: Nós experimentamos várias alternativas para os nossos shows... Pensamos em um segundo guitarrista apenas para o show, playback da segunda guitarra, nada além da guitarra do Raphael. Achamos que o que soou melhor foi manter a guitarra pré-gravada apenas nas bases de solos e mais nada, no restante do tempo não sentimos a menor falta de uma segunda guitarra, especialmente nas músicas novas que já foram compostas para apenas um guitarrista. Ele já faz barulho suficiente (risos). Nós somos uma banda bem explosiva... gostamos muito de estar no palco e do que estamos tocando. Tiramos a energia das músicas e do público curtindo e vibrando conosco. E o peso fica por conta dos rapazes que parecem ter sido feitos para tocar Metal.
A banda já tocou com grandes medalhões como Iron Maiden, Helloween, W.A.S.P., Nightwish, entre outros ícones do Metal. Como foi dividir o palco com estes monstros e com quais vocês tiveram maior prazer?
Dani: O tempo é sempre muito curto durante as turnês, o contato entre os músicos é sempre pequeno, às vezes inexistente. Quando nós estamos livres, eles estão ocupados e vice-versa. Todos que pudemos passar algum tempo para beber alguma coisa e conversar foram ótimos, divertidos, mas sem dúvida alguma que tocar com o Iron Maiden foi sonho realizado. Qualquer banda, qualquer músico gosta ou gostou de Iron Maiden e a importância deles para o Rock e Metal são indiscutíveis, vai além de gosto pessoal. Até mesmo nosso produtor Fredrik ficou impressionado por abrirmos para eles. Estar no mesmo palco que eles não parece real. O que passava pela minha cabeça era completa descrença... Eu não conseguia absorver o fato de essa banda, que nasceu sem qualquer pretensão, chamou a atenção do manager do Maiden a ponto de sermos convidados a abrir pra eles. Tenho certeza que os rapazes tiveram pensamentos similares e foi uma noite inesquecível. 18 mil pessoas, fãs de Iron Maiden, recebendo bem a banda de abertura. Cantando e vibrando conosco. Vai ser difícil superar essa memória!
O Shadowside já excursionou diversas vezes pela Europa e América do Norte. Vocês acreditam que para fazer sucesso aqui tem que aparecer lá fora primeiro?
Dani: Eu acredito que um depende do outro. Ninguém vira banda grande aqui sem algum sucesso internacional, porém ninguém faz sucesso internacional sem alguma história aqui. Não teríamos sido levados a sério no exterior se não tivéssemos uma base de fãs sólida aqui no Brasil. Abrimos para o Helloween e Nightwish antes de sermos qualquer coisa lá fora e conquistamos algum público que gostou da banda desde o começo. Isso nos deu a base para dar nossos primeiros passos nos Estados Unidos, que foi o primeiro país que abriu as portas para nós. Conforme crescíamos lá, mais pessoas aqui prestavam atenção em nós também e a coisa se transformou em uma boa bola de neve. A última turnê europeia foi ainda maior e realmente abriu os olhos de muita gente por aqui. E também não a teríamos conseguido se nosso público não se fizesse tão presente. Outras bandas, agentes, gravadoras... todas essas pessoas prestam atenção ao que está acontecendo na internet.
O que você tem ouvido ultimamente?
Dani: O novo do Anthrax, Worship Music. Excelente, atemporal. Todos nós na banda gostamos muito. Finalmente concordamos em alguma coisa (risos).
Parabéns pelo trabalho e muito obrigado. Deixem uma mensagem aos fãs e leitores.
Dani: Muito obrigada pelo espaço, estamos começando a marcar as primeiras datas de shows, então espero vê-los em breve! Escutem o "Inner Monster Out", mostrem para os amigos, mais uma vez provamos no Rock in Rio que o público de Rock e Metal é enorme e apaixonado. Vamos levar nosso movimento para a mídia mainstream do nosso país. Até logo!
muito interessante a entrevista. A Dani tem uma maneira muito clara de dizer as coisas. Parabens pela matéria e para a banda que continue mostrando ao mundo que o Brasil tem de melhor.
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