quinta-feira, 29 de maio de 2014

Entrevista


São 10 anos dedicados ao Death Metal, porém o primeiro trabalho da banda carioca Uncaved, “Meaning Of Death”, só foi lançado no ano passado. O vocalista Joab Farias falou com o Arte Metal sobre esse tempão para gravar e os aspectos do debut. Além disso, ele também comentou sobre os polêmicos fatos que circundaram a banda em uma rede social recentemente. Completam o time Carlos Alberto (guitarra), Eddie Valentino (baixo) e Robson Cruz (bateria). Com vocês, Uncaved.


Primeiramente, por que demoraram quase 10 anos para soltar o primeiro trabalho?

Joab Farias: A falta de um “mercado” dentro do Metal extremo acaba por nos obrigar a fazer tudo sozinhos. Não há selos, gravadoras, enfim, não há movimentação de grana, então só conseguimos fazer o disco quando havia grana na nossa mão. Além disso, tivemos as instabilidades na formação, períodos em que não tínhamos baterista, inexperiência de estúdio de nossa parte, etc. No final, o saldo até que ficou positivo, pois evitamos o infortúnio de publicar um trabalho mal acabado, como acontece com muitas bandas. Mas não posso deixar de receber essa pergunta na forma de uma crítica construtiva, após o lançamento desse primeiro disco nós precisamos nos esforçar mais e não perder o foco, pois pretendemos lançar o próximo disco em 2015.


Neste caso, as composições do disco “Meaning of Death” vêm durante estes 10 anos ou até mesmo da época do Devoration (banda que foi o embrião do Uncaved)?

Joab: As músicas que estão nesse disco são bem antigas, sim. No momento da gravação elas sofreram várias alterações (principalmente por causa do amadurecimento musical que acumulamos nesses anos). Não há nenhuma composição que tenha sido feita para o Devoration, mas talvez alguém que escute o primeiro trabalho da banda (“Where The Corpse Lies, There The Vultures Will Be Gathered Together”) perceba alguma semelhança com as músicas do Uncaved que são de minha autoria, pois a pegada é basicamente a mesma (Death Metal Old School).


A sonoridade do trabalho mostra composições que seguem uma linha mais tradicional do Death Metal. Essa sempre foi a meta da banda ou isso flui naturalmente?

Joab: Acredito que flui naturalmente, porém não tenho como garantir que nossa sonoridade será sempre assim. Os instrumentistas (Carlos, Robson e Eddie) são grandes apreciadores do que se considera Technical Death Metal (bandas como Dying Fetus, Abysmal Dawn, Sinners Bleed, etc), talvez no próximo trabalho haja algumas pitadas dentro dessa vertente. 


Isso nota-se principalmente no trabalho das guitarras que além dos timbres, mostram riffs característicos do Death Metal ‘old school’, concorda?

Joab: Sobre os timbres, nós tentamos deixar cada um dos músicos livre para escolher como seu instrumento irá soar, então não há uma ‘política’ no sentido de manter a sonoridade ‘old school’. Os riffs nesse disco, de um modo geral, são simples, mas novamente não por imposição, e sim por liberdade artística mesmo. Já temos algo nas composições novas que deve quebrar esse paradigma sem descaracterizar a banda.




Outro fator preponderante é a variação rítmica das composições. O Death Metal atual não aposta muito nesta variação e velocidade é o que interessa.

Joab: Isso é algo que eu dificilmente abriria mão. Sei que em arte não deve haver limites, mas é difícil imaginar que uma plateia vai ‘digerir’ uma série de canções inteiras em blasting beats ininterruptos a 240 bpm. Vejo a música como uma ferramenta para expressar o que as palavras não conseguem, e se não houver variações, seu vocabulário acaba ficando limitado e a ‘mensagem’ não é passada. Os riffs não precisam ser pegajosos, mas precisam ser inteligíveis a ponto de os ouvintes conseguirem lembrar da banda após a primeira audição. Quanto mais a velocidade é imposta, mais dificilmente essa lembrança ocorrerá.


A versão nacional do álbum conta com a versão para The Philosopher, do Death. Por que decidiram gravar este cover e porque ele saiu somente aqui no Brasil?

Joab: Eu tentei por várias vezes entrar em contato com a família Schuldiner (principalmente com a mãe de Chuck, Jane Schuldiner) para conseguir a devida autorização para o uso da música, mas não obtive resposta (imagino que ela deva receber centenas de correspondências por mês). Pelo fato de o CD nacional ser um lançamento “não-oficial” (não há um selo envolvido), decidimos manter essa homenagem ao grande Chuck Schuldiner mesmo sem a prévia autorização (tenho tentado contato com a família de Chuck até hoje, sem obter resposta).
No caso do lançamento nos EUA, pela Martyrdom Records, preferimos retirar a canção, pois a homenagem poderia se tornar até mesmo numa ofensa por haver um selo envolvido, o que traz um caráter comercial. Através das entrevistas de Chuck é possível perceber que ele teve vários problemas com selos, lançar um disco através de um selo com uma canção do Death sem a devida autorização seria deselegante.


Como tem sido a repercussão do álbum até então?

Joab: Tem sido ótima, tanto por parte do público como por parte da crítica. Vários amigos têm me procurado para saber sobre o processo de gravação, alguns surpreendem-se com o resultado final da gravação ao saberem que fizemos quase tudo em casa (apenas a bateria foi gravada num estúdio real). Algo que poucas pessoas sabem é que a intenção, quando começamos a gravar esse CD, é que ele fosse nosso primeiro CD-Demo. Após enviar para alguns blogs (entre eles o Arte Metal), vimos que todos o estavam considerando como nosso primeiro ‘full length’, a partir daí gostamos da ideia e a abraçamos. No final das contas, EP, Demo e ‘Full Length’ são apenas palavras, mas ficamos felizes por ver algo que não era tão pretensioso alcançar proporções maiores.


Qual a receptividade do disco no exterior? Em que países ele tem se destacado mais?

Joab: No exterior nós não temos números exatos, a única noção que temos é pelos comentários de fãs internacionais, que têm sempre sido positivos. Até o momento, sabemos de fãs nos EUA, na Geórgia (pequeno país europeu), além de vários contatos com bandas latino-americanas (principalmente no ReverbNation).


Recentemente, houve algumas postagens no Facebook dizendo que a banda seria cristã. Independente de ser ou não, como vocês encararam isso? Vocês acham que de alguma forma isso promoveu ou prejudicou a banda?

Joab: Nós encaramos isso como publicidade gratuita. As pessoas criam perfis falsos para nos difamar, outras pessoas que não nos conhecem passam a ouvir nosso som, e muitas vezes gostam do que ouvem. Eu fico triste de saber que no underground haja pessoas tão pobres de espírito, mas não nego que essa publicidade nos beneficie.


Mas enfim, a banda é cristã? Segue alguma religião?

Joab: Todos os integrantes são cristãos. Mas nada impede que no futuro tenhamos um ou mais integrantes não-cristãos. Se a banda é uma banda cristã ou não, aí já é uma pergunta difícil de se responder com uma resposta curta. Se você analisar as letras, vai notar que não há pregações ou coisas do tipo, porém tudo é escrito sob uma ótica cristã. Podemos falar do Holocausto, de racismo, destruição do meio ambiente, apocalipse zumbi... Não precisamos falar sobre nossa espiritualidade o tempo todo (na verdade quase nunca falamos diretamente sobre isso). Eu considero a banda como uma banda de Death Metal, acho que nós só pregamos com o nosso comportamento, até porque temos noção do que as pessoas querem ou não escutar. Enfim, é uma questão bastante filosófica (e talvez até teológica). Que cada um conheça os fatos e tire suas conclusões. Quem quiser tirar maiores dúvidas, pode nos procurar nas redes sociais, estamos sempre abertos ao diálogo.


Muito obrigado pela entrevista. Este espaço é para deixar uma mensagem.

Joab: Agradeço imensamente pelo espaço, espero que a inteligência, a tolerância e o amor à música praticados por você no Arte Metal (e também no Arte Extrema, que você divide com o amigo Christiano KODA) sejam compreendidos e aceitos pelo maior número de pessoas. Gostaria de agradecer a todos os amigos que nos apoiam, independente de filosofia/credo/religião. Agradeço também a todos os amigos jornalistas (formados ou não) que auxiliam bandas independentes, vocês são primordiais para a difusão da música enquanto cultura. Um grande abraço a todos, o Uncaved existe para vocês.



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