quarta-feira, 4 de junho de 2014

Entrevista





Desde 1990 erguendo a bandeira do Classic Rock, a banda paulista Kappa Crucis lançou após 5 anos seu segundo disco de estúdio. Trata-se “Rocks” que mostra uma banda madura onde o nome define bem a sonoridade contida no trabalho. Conversamos com o membro fundador Fábio Dória (bateria/vocal) que, ao lado de Gerson Fischer (vocal/guitarra), Ricardo Tramontin (baixo/vocal) e Alex Stefanovitch (teclado/vocal), lutam para manter o legado da banda.

A pergunta que não quer calar. São quase 25 anos de carreira, mas “Rocks” é apenas o segundo álbum completo do Kappa Crucis. Por quê?
Fábio Dória - Olá Vitor e leitores do Arte Metal. Na verdade acho relativa essa maneira de contar o tempo. Realmente iniciamos nossa caminhada há muitos anos, mas no início fazíamos versões de clássicos do Rock, só depois iniciamos com composições próprias, e ai em seguida gravando demos até chegar o momento de registrar o debute. Nessa caminhada, que por muitas vezes não pôde ser constante, quando decidimos fazer algo voltado para nossa verdadeira personalidade com composições autorais e começar um trabalho intenso nesse sentido, poderíamos até mudar de nome, mas preferimos mantê-lo devido ao grande envolvimento com ele e o reconhecimento a tudo e todos que estiveram com a banda. Várias bandas ao redor do mundo têm como marco inicial de carreira o seu primeiro disco, não importando o quanto estavam trabalhando antes. Então, apesar de termos muito orgulho de tudo o que fizemos desde o início e uma grande consideração por todos os companheiros que trabalharam com a banda, antes do primeiro álbum vejo como algo mais íntimo e, depois, pelo fato da banda passar a ter uma imagem maior pela divulgação, com um trabalho constante e com um comprometimento maior, a história e o tempo podem ser vistos de outro ângulo.  

Não bastasse isso o primeiro trabalho “Jewel Box” saiu somente após 19 anos depois que a banda se formou e o novo trabalho saiu 5 anos após seu antecessor.
Fábio - De acordo com os padrões de lançamento de hoje em dia, sejam bandas médias ou grandes, vejo cinco anos entre um disco e outro como na média geral. Foi o tempo necessário a divulgar “Jewel Box” e preparar minuciosamente “Rocks”. Não queremos fazer nada as pressas apenas para cumprir tabela. Queremos dar nosso melhor.

“Rocks” traz a música característica da banda mais referências ao Heavy Metal nacional, além de uma pitada de Prog Rock e até nuances do hoje tão famigerado Occult Rock. O título condiz com esse contexto musical? Você concorda com essa definição?
Fábio - O título “Rocks” pode ser interpretado de diversas maneiras. Na parte musical, sim, concordo que a palavra ‘Rocks’ é abrangente e fica mais fácil entender que gostamos e temos influências naturais de Heavy, de Hard, de Progressivo, de Southern, etc. Quanto ao Occult Rock, hoje ele vem sendo lembrado pela exposição de algumas bandas que estão em alta no meio do Rock pesado mundial. Nosso trabalho sempre foi o que estão vendo e ouvindo. Bem antes da exposição e até da formação de algumas dessas bandas. Pelo fato de sermos fãs de quase tudo dos anos 70, é natural que haja alguma menção inconsciente do Occult Rock em nosso trabalho. Porém, nada proposital ou pensado.



What Comes Down abre o disco de forma intensa com quase nove minutos de duração. Um belo cartão de visitas, mas uma forma ousada de se abrir um disco com uma faixa longa. Qual foi o propósito de abrir com essa música?
Fábio - Obrigado. Nenhum propósito especial senão começar com uma faixa com boa energia para o ouvinte ter vontade de continuar escutando o disco. É longa, mas é Kappa Crucis. Certas regras não se aplicam no nosso caso.

Arrisco a dizer que além What Comes Down, Mecathronic é uma das melhores faixas do disco. Você tem alguma faixa preferida no trabalho?
Fábio - Sim, gostamos muito de Mecathronic. Particularmente procuro manter o mesmo sentimento em relação ao trabalho como um todo. Nossa banda prefere tentar manter um mesmo nível de qualidade nas músicas do que fazer apenas uma ou duas boas e o resto do disco apenas para cumprir a obrigação. Quando digo manter a qualidade, não quero soar convencido dizendo que é bom, mas digo isso porque realmente nos preocupamos em fazer o melhor possível em tudo.

E quais faixas tem tido mais receptividade do público nos shows?
Fábio - Ainda não pudemos avaliar isso pelo fato do disco ter sido recentemente lançado.

Apesar de soar pesado em alguns momentos, “Rocks” percorre um caminho mais suave e dá bastante ênfase aos arranjos, que ficaram magistrais por sinal. Falem um pouco sobre este processo de composição.
Fábio - Muito obrigado por sua observação sobre os arranjos. Isso nos deixa lisonjeados. Basicamente, compomos em separado. Eu sento na sala de casa e faço uma estrutura básica da música do começo ao fim, com melodias, riffs, etc. Já penso nos arranjos lá adiante. Depois passo ao Gérson para ele já colocar seu estilo na composição, além de suas idéias e a sua interpretação. Após, passamos aos demais que acrescentam suas partes e suas interpretações dentro da estrutura inicial e assim passamos a trabalhar os arranjos gerais. Com o Gérson é a mesma coisa. No primeiro disco houve composições do Ricardo e o trabalho também foi parecido.

O disco mostra também um bom trabalho de produção. Conte como foi este processo.
Fábio - Muito obrigado. Não há segredos. Primeiro trabalhar nas composições e arranjos para chegar o mais seguro no estúdio. Depois buscar o melhor timbre instrumental e a melhor performance nas gravações. Por fim ter muito cuidado com as mixagens e com a masterização. Acompanhei tudo de perto juntamente ao Gérson. Ouvimos muitas vezes tudo o que estava sendo gravado, buscando sempre encaixar o melhor possível. Fizemos a mixagem com nossos ouvidos e idéias e com as mãos do técnico Gérson Carvalho.

A arte da capa mostra certa simplicidade, mas ficou excelente e resume bem o contexto do disco. Como foi o trabalho em cima dela?
Fábio - Obrigado. Um dia na estrada em direção ao estúdio me deparei com pedras enormes que me chamaram atenção. Achei que isso teria uma enorme ligação com o contexto não só do álbum como de nosso trabalho como um todo. Desde a simplicidade da palavra, passando pela abrangência da mesma, pelas rochas de nossa região, sua dureza e pelos obstáculos que temos que superar. Então eu e o Gérson passamos as idéias ao designer, Róbson Ferreira, que infelizmente faleceu uma semana depois de entregar a arte. Passamos as idéias e desenvolvemos com ele o trabalho. Procuramos focar todo o trabalho visual do álbum no contexto.

Você optam por fazer uma mescla de Rock e Metal, ou seja, o estilo não tem estado em alta no Brasil. Se já é difícil bandas que fazem estilos que estão em voga atualmente, como está a agenda de vocês?
Fábio - A agenda está se formando para a divulgação de “Rocks”. Temos feito entrevistas, participado de programas de TV e rádio e começamos a tour de “Rocks” com um show sensacional no Roça N Roll em Minas Gerais.

Aliás, com quase 25 anos de carreira, quais as principais diferenças de se fazer música há cerca de 20 anos e hoje em dia?
Fábio - Continuamos fazendo como no início. Dedicados e fiéis a diversos princípios do autêntico e clássico Rock. Hoje a internet ajuda na divulgação, mas por outro lado existem problemas que não haviam há alguns anos.

Quais os planos da banda daqui pra frente? Muito obrigado pela entrevista!
Fábio - Eu e a banda é que agradecemos ao Arte Metal pela oportunidade! Achei as perguntas muito interessantes para esclarecermos diversos pontos. Hoje os planos da banda são de divulgar “Rocks” de toda maneira possível. Faremos isso ainda durante um bom tempo. Um abraço a vocês e aos leitores.


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