sexta-feira, 22 de maio de 2015

Entrevista: Machinergy



Com a ousadia e criatividade típica dos portugueses, a banda Machinergy, oriunda de Arruda dos Vinhos, divulga o seu segundo álbum “Sounds Evolution” (2014). Conversamos com o guitarrista e vocalista Rui Vieira que ao lado de Nuno Mariano (baixo) e Helder Rodrigues (bateria), falou sobre a produção do álbum novo, sua divulgação, além dos outros lançamentos, perspectivas da banda, cena brasileira e muito mais.

Qual a principal diferença entre “Sounds Evolution” e o primeiro álbum “Rhythmotion” (2010)?
Rui Vieira: Acho que a grande diferença está nas músicas mais diretas e mais rápidas. No "Rhythmotion", a composição foi mais experimental e há poucas músicas rápidas, o mid-tempo predomina. Na verdade, "Rhythmotion" recebeu bastante elogios pela sua característica mais experimental. Em "Sounds Evolution", fomos beber à nossa raiz mais Thrash e aceleramos a máquina. Mantivemos alguns traços do primeiro álbum, mas é um disco diferente, também na sua composição. Pessoalmente, sinto que foi um passo em frente no que diz respeito à forma como abordamos os temas e como montamos o álbum. É certeza que o terceiro álbum será diferente de "Sounds Evolution" pois o Machinergy não é banda de repetir fórmulas.

E o processo de composição do novo trabalho, foi influenciado de alguma forma pelo álbum anterior?
Rui: Quisemos seguir um rumo diferente do que já tínhamos produzido em "Rhythmotion". Daí podemos dizer que teve influência no sentido de não querer fazer algo igual. Importante foi a rodagem na estrada, que entretanto ganhamos com variados shows por todo o Portugal. Nós (eu e o Helder) não tocávamos juntos há muito tempo e só após o lançamento de "Rhythmotion" começamos a tocar de novo. O "vivo" nos deu uma outra necessidade, a de criar temas mais ativos, mais frenéticos. Adicionamos ao nosso set algumas músicas que estão no "Sounds..." (já compostas naquela altura) e verificamos que a reação da galera e a forma como nos sentíamos a tocar essas faixas novas era muito boa. Constatamos que a direção dos temas novos estava a funcionar e seria assim que o novo álbum seria composto.

Aliás, “Sounds Evolution” foi totalmente produzido por vocês mesmos. Por que optaram por trabalhar dessa forma?
Rui: Nós produzimos nossa música porque criamos um espaço que nos permite experimentar tudo o que envolve a gravação de um disco. Isso é muito bom, pois tens tempo para repetir o que for necessário, melhorar aqui e acolá sem o stress de estúdio a pagar. Também fica mais fácil chegar onde queres, o efeito que pretendes, etc. Por vezes é difícil descrever algumas coisas a um produtor. Por outro lado, estarmos confinados a nós próprios também tem um lado menos positivo, se assim o podemos chamar, e que é o não ter uma "voz" exterior que te retire da tua zona de conforto, que te confronte com outras ideias e até ponha em causa algumas coisas que estás fazendo. No próximo disco vamos ver como será o processo, se continuamos com as rédeas de todo o processo ou se passamos a liderança a terceiros. Logo veremos.

A sonoridade do álbum mescla bem o Thrash com o Death Metal, como vocês definiriam a música do Machinergy?
Rui: Fica complicado definir nosso som. Isto porque sentimos que ele não só mescla Death com Thrash, mas também outras vertentes como, por exemplo, riffs mais técnico-industriais ou algo mais solto a roçar a costela Punk/Crust. Mas a minha vocalização gutural e a forma como atacamos nossa música, por vezes deixa a nossa sonoridade ali numa fronteira tênue entre o Thrash e o Death Metal. Não querendo parecer clichê, o que fazemos é Metal (com letra maiúscula), pois como já referi, não queremos fazer discos iguais e eles tanto podem ter diretamente a ver com Thrash (como foi "Sounds Evolution"), mais experimentais ("Rhythmotion"), ou podem ser outra coisa qualquer que não sabemos agora. Uma coisa é certa, pesado, dinâmico e enérgico será sempre! Olha, acabei de criar a definição para a música do Machinergy: HDE Metal! Heavy - Dinamic - Energic Metal! Parece-me bem...

Inclusive, acredito que vocês soam até mais Death Metal, mesmo se considerando uma banda de Thrash Metal.
Rui: Eu sempre digo que nossa raiz é o Thrash dos finais dos anos 80, início de 90, pois foi esse estilo que nos fez formar nossa primeira banda. É mais uma referência, pois gostamos de toda a música, desde que mexa conosco. Mas é a tal linha tênue que separa o Thrash do Death e aí podem entrar exemplos como o Death (banda), inicialmente Death Metal mas com muito de Thrash também, principalmente nos riffs. "Spiritual Healing" é um álbum que mistura bem esses dois mundos, ainda sem os ‘progressismos’ em que a banda embarcou depois. Lá está, se colocarmos outra voz nesse disco, se calhar já não é tão Death assim. Nossa costela Death, bem que podemos identificar com bandas como Death, Obituary ou "early" Sepultura (até ao "Beneath..."). O "Schizo..." e o "Beneath..." são um bocado assim também, não se consegue definir bem se é Death ou Thrash. Também adoramos algumas coisas de Fear Factory que, se virmos bem, em última instância, é Death Metal. Mas com novos inputs.

O dinamismo de “Sounds Evolution” é uma das principais características do álbum. Esse é um fator intencional ou fluiu naturalmente?
Rui: Penso que tenha fluído, mas também nos mentalizamos desde o início e já com a experiência de gravações anteriores e com estrada, em construir algo assim, mais coerente do início ao fim, sempre com grande força, energia e dinamismo. Portanto, acho que podemos considerar que foi um fator intencional. Gostamos do primeiro álbum, mas apesar da sua diversidade e até alguma singularidade, achamos que o novo disco deveria ser mais "movimentado", um bocado virado para o "vivo" também. Tentamos simplificar e criar música mais direta e reproduzível ao vivo. Tivemos mais cuidado na forma como o montamos, por isso acho que flui muito bem do início ao fim.



A banda opta por mesclar letras e nomes das músicas entre o português e o inglês. Por que isso?
Rui: Acho que foi algo mesmo muito natural ao início e agora já é uma "marca" nossa, se assim o podemos chamar. Para além de letras em inglês e português e, por vezes, as duas juntas na mesma música, também trabalhamos os títulos dos temas e até jogamos com a forma como determinada palavra deva soar. Paraphernalia está escrita em inglês mas eu canto eu português. Enfim, já é um processo natural e que iremos manter. Adoramos criar novas palavras, muitas vezes com duplo sentido. Rhythmotion, Innergy, Beautifall ou Venomith são alguns exemplos. Gosto de ir ao Google e verificar que a palavra “venomith” não existe! É uma das coisas em que trabalhamos bastante, este "crossover" linguístico, que poderá não ficar por aqui. Em termos musicais, gostávamos de conseguir algo assim também, exótico, diferente, algo que seja logo reconhecido como sendo Machinergy. É para isso que trabalhamos todos os dias. Haveremos de lá chegar.

Vocês soltaram o álbum inteiro em vídeo com vocês tocando no Youtube. Como surgiu a ideia disso e como foi trabalhar nesta produção?
Rui: A ideia foi apresentar algo diferente. As bandas costumam apresentar lyric videos ou o álbum em streaming com umas imagens ou mesmo só por áudio. Nós pensamos o contrário. Porque não apresentar tudo como se fosse um show privado? Assim, a galera pode ouvir e ver os caras ao mesmo tempo. Nós temos facilidade no campo do vídeo, pois o Helder Rodrigues (baterista) é profissional na área. Portanto, fica fácil fazer este tipo de suporte. Pode parecer algo elaborado, mas foi muito fácil. É claro que tocamos o disco várias vezes, mas não exigiu nenhuma produção por aí além, foi gravado no nosso estúdio. Os clipes individuais são outro caso. Fica mais complicado, requer mais trabalho e imaginação, mas o Helder gosta disso e se entrega a esse processo de alma e coração. Ele é o cara por detrás de todas essas produções.

Nota-se nas composições algo de nomes brasileiros como Sarcófago, Sextrash e Sepultura das antigas. Vocês gostam do Metal do Brasil?
Rui: Claro que gostamos, ouvimos muito Metal do Brasil, inclusive, temos tido bastante ligação com bandas brasileiras, quer ao vivo, quer discograficamente. O nosso EP "Rhythm Between Sounds" (2012) foi lançado com o Prellude e o Retaliatory, duas bandas brasileiras, diferentes, mas com excelente música. Já acompanhamos o Uganga em três datas quando passaram por Portugal com a sua tour Eurocaos e tocamos recentemente com o Encéfalo. Quantos aos nomes mencionados, claro que o old Sepultura é o que é, nada mais há a dizer. Em relação ao Sarcófago, sinceramente, não sou conhecedor de fundo, nem do Sextrash, mas gosto das bandas, claro. Ratos de Porão me influenciou bastante (em outros projetos mais Punk/Crossover onde toco), adoro The Mist, Flageladör e Overdose. O documentário "Ruído das Minas" é muito bom! Tem um feeling bem underground e mostra a todo o mundo a riqueza que foi BH e o boom do Metal brasileiro. As bandas que referi também soam do caralho, Retaliatory é foda grossa, Prellude tem aquela "vibe" Maiden e Uganga faz um crossover muito inteligente.

“Sounds Evolution” foi lançado de forma independente. Aqui no Brasil as bandas sofrem muito para conseguir lançar um material através de uma gravadora ou selo. Aí seria a mesma coisa?
Rui: É a mesma coisa. A meu ver, a questão de arranjar um selo, hoje em dia é ainda mais difícil. Antes existiam poucas bandas e com estilos próprios que conseguiam contrato com gravadoras, mas atualmente existe tanta oferta, tanta repetição, que fica tramado arranjar alguém que acredite em si, no seu projeto e queira alinhar num lançamento pois isso significa largar grana. A competição é enorme e por vezes até se esquece a música no meio disto tudo. É ingrato uma banda investir tantos anos num disco e quando o lança, após um ano, o disco já é "velho" na cabeça das pessoas, nas mídias e no mercado. A enxurrada de discos é de tal ordem que isto tudo mais parece um MacRecords! Mas nós não podemos ter razão de queixa, neste momento. O Fernando Roberto (Metal Soldiers e NBQRecords), amigo de grandes bandas aí no Brasil e que tem editado muitas delas aqui na Europa, é o nosso atual parceiro e tem ajudado muito o Machinergy, seja com a edição e distribuição do EP "Rhythm Between Sounds" ou agora com o "Sounds..." aí no Brasil. Nós conhecemos o Fernando desde a tour com o Uganga em Portugal, que ele ajudou a organizar. Desde aí que temos colaborado muito estritamente e esperamos que a aliança continue pois está funcionando.

E como está a repercussão de “Sounds Evolution” até então? Vocês chegaram a ter ‘feedback’ aqui do Brasil?
Rui: O feedback ao disco, no geral, tem sido positivo. As críticas têm variado, há muito boas, há algumas piores, enfim, como dizemos por cá, "quem anda à chuva, molha-se". Investimos bastante na divulgação deste disco e, considerando que somos uma banda independente, penso que o resultado final é muito positivo, não só pelas reviews, mas pelo alcance que a nossa música já conseguiu. Tentamos difundir o disco da Malásia à Indonésia, da Argentina ao Canadá. É claro que somos uma gota num oceano muito vasto, mas não interessa. O que interessa é continuar na luta e divulgar, pois achamos que nossa música merece ser ouvida e é capaz de existir um espacinho para nós. Em cerca de 400 a 500 envios digitais para audição do álbum, obter perto de 50 reviews, várias entrevistas e convites para concertos, julgo ser muito bom. No Brasil já tivemos uma entrevista em direta com Gleison Junior no programa "Roadie Metal", uma review do blog "Road To Metal", uma review do teu blog "Arte Metal" e consequente artigo no "Whiplash!" e, possivelmente, haverá outras que não chegaremos a ter conhecimento. Isto para além do nosso álbum e EP serem distribuídos no Brasil pela Metal Soldiers e Metal Underground Records.

Este espaço é para deixarem uma mensagem aos brasileiros e leitores do blog.

Rui: Caro Vitor, queremos te agradecer a oportunidade desta entrevista e desejar continuação de excelente trabalho nas tuas várias plataformas. Para a galera, descubram Machinergy, o vosso tempo será bem empregado, pois acabamos por ter uma ligação natural ao Brasil, seja pela língua, seja pela influência de muita música boa que vem daí. Vamos tentar chegar a terras de Vera Cruz ainda mais no futuro, quem sabe com uma digressão. Queremos agradecer a todos que nos apoiam e que têm nosso CD, camiseta ou já ouviram o MXN pela net. Vão checando nosso facebook (www.facebook.com/machinergy) ou site oficial (www.machinergy.com) para nos conhecer e estar a par das novidades, e há sempre muitas! Um abraço para todos os irmãos do Brasil!

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