Por Vitor Francerschini
São quase 10 anos de
carreira, porém foi com “Motordevil” – segundo álbum da banda lançado este ano
– que o Syren marcou de vez seu território entre as principais bandas do Metal
tradicional do Brasil. O Arte Metal conversou com o vocalista Luiz Syren e o
baterista Julio Martins que, além de divulgar o novo trabalho, levantam a
bandeira do estilo proposto ao lado de Leandro Carvalho (guitarra) e Maurício
Martins (baixo).
Primeiramente
eu queria que vocês apontassem qual a principal diferença entre o primeiro
álbum “Heavy Metal” (2011) e “Motordevil” (2015)?
Luiz
Syren: A época e a formação. O “Heavy Metal” foi composto
por três membros Eu , Alex Macedo (guitarra) e Bruno Coe (baixo) e chamamos o
Braulio Drumont (ex-Vulgar e Unearthly ) para gravar a bateria. Tínhamos na
cabeça que deveria soar um mix do moderno com o old school Metal e acredito que
chegamos bem próximo disso. O “Motordevil” foi uma nova formação e isso trouxe
novas influências, assim como também houveram algumas parcerias de amigos extra
banda para algumas músicas (Alex Macedo, D. Arrawn, Kleber Marcelino) e tudo isso
fez ser um pouco diferente (não muito) do álbum anterior, mas, ainda não
chegamos ao ponto que queremos. Eu acredito que todo o "know how"
adquirido nesses anos na parte de mixagem e master fez com que o álbum soasse
mais agressivo que o anterior.
Julio
Martins: A principal diferença foi as diferentes influências
utilizadas, por causa da nova formação. Eu e Guilherme trouxemos algumas
influências mais modernas de sonoridade e composição, que mescladas à escola
mais tradicional do Luiz e do Bruno funcionaram muito bem. Além disso, todos na
banda possuem um pezinho lá no Thrash Metal, o que fez o “Motordevil” sair um
pouco mais agressivo do que o “Heavy Metal”.
Bom,
nota-se uma evolução total da banda em “Motordevil”. Desde a coesão,
individualmente também vocês mostram uma evolução natural, além do trabalho de
produção. Isso foi algo natural ou a banda procurou fechar as lacunas deixadas
nos trabalhos anteriores?
Julio
Martins: Foi algo natural. A proposta do “Heavy Metal” é um
pouco diferente, assim como foi o processo de composição e gravação do mesmo.
Outros músicos, outro trabalho, outra época… A proposta era diferente. O “Heavy
Metal” soa como ele deveria soar, assim como o “Motordevil” (risos). Tentamos
sempre buscar, claro, a sonoridade orgânica. São seres humanos tocando. E
gostamos muito dessa sonoridade! Infelizmente, ela vem se perdendo ao longo dos
anos, nos novos lançamentos, tanto nacionais como internacionais. Quase tudo é
plastificado hoje. Uma pena.
Luiz
Syren: Estamos sempre tentando rever conceitos do que foi
realizado e com isso superá-lo em cada trabalho.
Aliás,
como foi o processo de composição de “Motordevil”? No que vocês procuraram
inovar neste processo?
Luiz
Syren: O processo de composição foi o mesmo adotado para o
“Heavy Metal”, tudo girava em cima do "power riff", é a nossa base de
composição, a semente de tudo, minhas melodias são feitas em cima do feeling
que aparece quando eu escuto o primeiro riff da música e isso ainda não mudou (risos).
O
novo disco conta com produção de Bruno Coe (baixo), Guilherme De Siervi
(guitarra) e Julio Martins (bateria). Como foi trabalhar em conjunto, quais
vantagens e desvantagens disso, e por que decidiram por produzir o álbum entre
vocês mesmos?
Julio
Martins: Bom, acho que a vantagem é a mesma que a
desvantagem: quatro cérebros funcionando ao mesmo tempo (risos). Por um lado, é
muito bom, pois existem várias influências ali, que servem de tempero para uma
única obra. São vários elementos de vários estilos diferentes colocados por
cada membro da banda. Isso faz o trabalho soar diferente, único! Procuramos
fazer do “Motordevil” um disco que nós gostaríamos de escutar! Somos fâs do
nosso próprio disco, e adoramos ele! Isso é extremamente gratificante! Outra
coisa, foram as músicas compostas por outros músicos de fora, que fazem o disco
ter uma variação ainda maior, dentro daquele contexto. O que não torna o
trabalho chato de ser escutado. Por outro lado, quatro cabeças pensando ao
mesmo tempo, geram discussões e um leve estresse (risos). Normal, porque cada
um pensa em uma coisa diferente (exatamente pela variedade de influências). O
negócio, é chegar ali no meio termo, em que todos ficam contentes!
A
sonoridade do Syren é focada no Heavy Metal na sua veia mais tradicional. Esse
direcionamento é algo que a banda sempre quis fazer ou vocês deixam que flua
naturalmente?
Julio
Martins: Sim! Isso é o que sempre quisemos e buscamos. É um
estilo com pouca coisa nova aparecendo no mercado atual, estamos indo um pouco
contra a maré (risos). Mas é o estilo que todos gostamos e achamos muito importante
ter essa variedade tão escassa nesses tempos.
Aliás,
mesmo seguindo o Metal tradicional, “Motordevil” é um álbum que soa atual. Fale
um pouco a respeito disso.
Luiz
Syren: Somos fãs de Heavy Metal tradicional assim como
Thrash Metal old school e isso flui naturalmente em nós. Acho que o mix desses
dois estilos mais o feeling para o moderno, não só na composição, mas, também
para mixagem e produção, nos fazem ser um híbrido nesse meio.
Julio
Martins: Como já falado, eu e Guilherme trouxemos algumas
influências mais modernas, de bandas mais modernas. No meu caso vem muito das
bandas dos anos 90 e 2000, não só do Rock e Metal tradicional, mas também do
Hardcore, Thrash e etc. E temos essa sonoridade mais "moderna" como o
que consideramos melhor. Unido com a sonoridade mais orgânica e visceral que o
Luiz e Bruno possuem, chegamos a esse resultado: Heavy metal tradicional,
soando 2015!
Além
da melodia contrastando com a agressividade e o peso, os refrãos são fortes no
novo álbum. Esses foram o foco na hora de compor?
Julio
Martins: Nunca pensamos "Ah, vamos fazer um refrão
forte". Fomos compondo as músicas e os refrães foram surgindo, naturalmente,
as melodias e cadências harmônicas. O Guilherme e o Bruno têm muita facilidade
na hora de construir as harmonias, nesse sentido. E o Luiz possui uma
facilidade incrível para criar melodias pegajosas, ótimas para refrães. Mas
nada no “Motordevil” foi forçado. Foi tudo muito natural. O foco sempre foi
fazer um disco que gostássemos de escutar!
Luiz
Syren: Todas as melodias são feitas na hora que eu escuto
o já citado "power riff" (risos), parece que ele fala comigo e
descreve o rumo que toda a parte da voz deve seguir. O refrão é apenas a
confirmação do feeling da música, eu não fico estudando ou visualizando como
deve ser o refrão para ficar marcado na cabeça das pessoas ou para elas
cantarem junto, eles são feitos da mesma forma que todo o resto, em cima do
feeling que surge na hora.
Mesmo
com várias faixas como destaque, acredito que a música Motordevil passa algo mais emotivo no disco, enfim está um passo a
frente. Vocês concordam? Quais faixas do novo trabalho indicariam para alguém
que o precisasse ouvir em 10 minutos? (risos)
Luiz
Syren: O que mais admiro nos álbuns da Syren é que não
existem unanimidades, por exemplo, essa mesma música já foi citada como confusa
no refrão em uma crítica, já citaram a Long
Road como a mais emotiva, já citaram a Power
of Something também e por aí vai (risos), e isso me deixa extremamente
feliz pois cada composição mexer de forma diferente ao momento de quem as
escuta e o mais bacana é que as pessoas fazem questão de frisar isso para nós. Em
minha opinião a faixa mais a frente de todas seria a Stitched, o trabalho
ultra moderno do instrumental junto às dinâmicas de voz, fazem o híbrido
perfeito e novo. Pergunta complicada (risos), eu diria : Siga a sequência do
álbum e tente parar nos 10 minutos após (gargalhadas).
Julio
Martins: Particularmente, sempre gostei muito de Motordevil. Foi a primeira faixa
composta para o disco. Outras como Fighter
e Long Road já existiam, desde os
tempos de “Heavy Metal”, mas Motordevil
foi a primeira faixa composta para esse novo trabalho, e sempre achei ela a
cara do disco, o resumo. Bom, escutar um disco em 10 minutos nunca é bom né? (risos)
Sei que muita gente faz isso hoje. O mundo cada vez mais louco e corrido. As
pessoas não apreciam mais nada. Acho que todo disco deve ser escutado inteiro,
pois é uma obra. As músicas se complementam.
E
como tem sido a repercussão do trabalho até então, tanto pela mídia quanto pelo
público?
Luiz
Syren: Não me canso de falar e de me assustar com o volume
de ótimas críticas dos veículos especializados assim como de público com
relação ao nosso trabalho, coisa surreal mesmo, somos imensamente gratos a
Metal Media e a Shinigami Rec. por realizarem um excelente trabalho.
Julio
Martins: Tem sido muito bem recebido. Tanto em território
nacional, como internacional. Ainda estamos buscando o lançamento do “Motordevil”
por alguma gravadora fora do país, mas mesmo assim, já chegou no ouvido da
galera lá fora, e temos recebido muitos elogios e pedidos de shows. Fomos
procurados muito pela mídia especializada tanto fora, como dentro do Brasil,
para fazer releases sobre o disco, entrevistas e etc. Estamos muito felizes com
essa recepção.
Falamos
em Metal tradicional e tem-se notado bandas apostando novamente neste estilo
sem que soe datado, tais quais Brutallian, Primator, Hibria, enfim... A que
vocês acham que deve este fato e o que podem comentar com esse leve
ressurgimento do estilo?
Luiz
Syren: Apostando no estilo novamente ? Bem, o Hibria é de
96, o Brutallian de 02 e nem vou citar Dark Avenger, Dreadnox, Shadowside,
Metalmorphose, Fates Prophecy e várias outras que apostam alto no estilo até
hoje e que nada de pouca idade tem (risos). O problema que de uns bons anos
para cá o mundo ficou revoltado e "reclamão" demais (risos) e as
pessoas querem extravasar as frustrações em shows onde a brutalidade sonora
seja o rumo, se você notar o Thrash Metal tradicional está ressurgindo
novamente nesse mesmo quadro, repare a quantidade de shows com bandas de Death,
Black, Extremo, Screamo e até mesmo o New Metal chorão (confundido algumas vezes
como Thrash Metal Moderno) e compare com as de Heavy Metal tradicional? Elas
existem, são várias e ótimas, mas, infelizmente não são convidadas e se os
membros não fizeram parte do Angra, Viper e Shaman não se destacam tanto na
mídia. Produtores estamos espalhados pelo Brasil esperando uma oportunidade
para colocar a casa abaixo (risos).
Julio
Martins: Acho que está na essência do ‘rockeiro’ ir contra a
maré. Muita gente hoje aposta nos estilos em alta, aqui na América Latina no
caso, os estilos mais extremos como o Thrash, Black e Death Metal. Acaba
saturando o mercado. Porque são bandas que na maioria das vezes soam iguais.
Muita gente boa, mas fazendo muita coisa igual. E as pessoas ficam um pouco
presas naquele tornado de bandas desses estilos, e esquecem que existe muita
coisa boa que está andando ao lado desse tornado. E isso existe não só por
parte do público, mas como das gravadoras, que muitas vezes preferem apostar no
"comum", que vai vender alguma coisa, do que no
"diferente", que pode vender MUITO ou pode não vender NADA. Entendo
que essa aposta é difícil, mas se não fossem os "aventureiros", ainda
estaríamos morando em cavernas. E sim, existe muita coisa legal sendo feita no
Heavy Metal tradicional hoje!
Quais
os planos para estes próximos quatro meses finais de 2015?
Luiz
Syren: Lançaremos uma sequência de 4 vídeos em formato
acústico exclusivo para os passageiros da locomotiva Syren, faremos as
filmagens do vídeo oficial do novo álbum, participaremos de 2 grandes festivais
no RJ onde a renda será revertida a um grande centro que cuida de animais que
sofreram maus tratos e de abandonados.
Muito
obrigado, este espaço é para deixarem uma mensagem aos leitores.
Luiz
Syren: Mais uma vez agradecemos o valioso espaço e tempo
de todos vocês que leram a entrevista até aqui, ao pessoal do Arte Metal por
sustentar a bandeira da música pesada. Agradecemos todo o apoio e atenção que
vocês amigos e passageiros dessa barulhenta locomotiva e que fazem ela prosseguir
cada vez mais rápida e com mais força. Nos vemos na próxima estação... MUITO
OBRIGADO.
Julio
Martins: Primeiramente, agradecemos muito a oportunidade e o
espaço cedidos por vocês para a divulgação do nosso trabalho! Agradecemos
também a todos os fãs e pessoas que colaboram escutando nossas músicas, indo
nos shows e comprando nosso material! Acreditem… Vocês todos são o combustível
para essa locomotiva nunca parar de andar! Escutem o “Motordevil” de cabo a
rabo! Não se arrependerão! Escutem todos os discos que gostam inteiros, pois
nós músicos tomamos muito cuidado para "formatar" ele e soar bem como
uma obra completa! Apreciem! Toquem bateria e guitarra no ar e batam cabeça no ônibus,
metro, no meio da rua… Onde sentirem vontade! (risos) Sintam a arte, pois ela
foi feita para ser sentida! Fiquem por dentro das novidades da Syren pelo site,
Facebook ou Instagram!! Abraços a todos!
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