quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Entrevista: Syren



Por Vitor Francerschini

São quase 10 anos de carreira, porém foi com “Motordevil” – segundo álbum da banda lançado este ano – que o Syren marcou de vez seu território entre as principais bandas do Metal tradicional do Brasil. O Arte Metal conversou com o vocalista Luiz Syren e o baterista Julio Martins que, além de divulgar o novo trabalho, levantam a bandeira do estilo proposto ao lado de Leandro Carvalho (guitarra) e Maurício Martins (baixo).

Primeiramente eu queria que vocês apontassem qual a principal diferença entre o primeiro álbum “Heavy Metal” (2011) e “Motordevil” (2015)?
Luiz Syren: A época e a formação. O “Heavy Metal” foi composto por três membros Eu , Alex Macedo (guitarra) e Bruno Coe (baixo) e chamamos o Braulio Drumont (ex-Vulgar e Unearthly ) para gravar a bateria. Tínhamos na cabeça que deveria soar um mix do moderno com o old school Metal e acredito que chegamos bem próximo disso. O “Motordevil” foi uma nova formação e isso trouxe novas influências, assim como também houveram algumas parcerias de amigos extra banda para algumas músicas (Alex Macedo, D. Arrawn, Kleber Marcelino) e tudo isso fez ser um pouco diferente (não muito) do álbum anterior, mas, ainda não chegamos ao ponto que queremos. Eu acredito que todo o "know how" adquirido nesses anos na parte de mixagem e master fez com que o álbum soasse mais agressivo que o anterior.
Julio Martins: A principal diferença foi as diferentes influências utilizadas, por causa da nova formação. Eu e Guilherme trouxemos algumas influências mais modernas de sonoridade e composição, que mescladas à escola mais tradicional do Luiz e do Bruno funcionaram muito bem. Além disso, todos na banda possuem um pezinho lá no Thrash Metal, o que fez o “Motordevil” sair um pouco mais agressivo do que o “Heavy Metal”.

Bom, nota-se uma evolução total da banda em “Motordevil”. Desde a coesão, individualmente também vocês mostram uma evolução natural, além do trabalho de produção. Isso foi algo natural ou a banda procurou fechar as lacunas deixadas nos trabalhos anteriores?
Julio Martins: Foi algo natural. A proposta do “Heavy Metal” é um pouco diferente, assim como foi o processo de composição e gravação do mesmo. Outros músicos, outro trabalho, outra época… A proposta era diferente. O “Heavy Metal” soa como ele deveria soar, assim como o “Motordevil” (risos). Tentamos sempre buscar, claro, a sonoridade orgânica. São seres humanos tocando. E gostamos muito dessa sonoridade! Infelizmente, ela vem se perdendo ao longo dos anos, nos novos lançamentos, tanto nacionais como internacionais. Quase tudo é plastificado hoje. Uma pena.
Luiz Syren: Estamos sempre tentando rever conceitos do que foi realizado e com isso superá-lo em cada trabalho.

Aliás, como foi o processo de composição de “Motordevil”? No que vocês procuraram inovar neste processo?
Luiz Syren: O processo de composição foi o mesmo adotado para o “Heavy Metal”, tudo girava em cima do "power riff", é a nossa base de composição, a semente de tudo, minhas melodias são feitas em cima do feeling que aparece quando eu escuto o primeiro riff da música e isso ainda não mudou (risos).


O novo disco conta com produção de Bruno Coe (baixo), Guilherme De Siervi (guitarra) e Julio Martins (bateria). Como foi trabalhar em conjunto, quais vantagens e desvantagens disso, e por que decidiram por produzir o álbum entre vocês mesmos?
Julio Martins: Bom, acho que a vantagem é a mesma que a desvantagem: quatro cérebros funcionando ao mesmo tempo (risos). Por um lado, é muito bom, pois existem várias influências ali, que servem de tempero para uma única obra. São vários elementos de vários estilos diferentes colocados por cada membro da banda. Isso faz o trabalho soar diferente, único! Procuramos fazer do “Motordevil” um disco que nós gostaríamos de escutar! Somos fâs do nosso próprio disco, e adoramos ele! Isso é extremamente gratificante! Outra coisa, foram as músicas compostas por outros músicos de fora, que fazem o disco ter uma variação ainda maior, dentro daquele contexto. O que não torna o trabalho chato de ser escutado. Por outro lado, quatro cabeças pensando ao mesmo tempo, geram discussões e um leve estresse (risos). Normal, porque cada um pensa em uma coisa diferente (exatamente pela variedade de influências). O negócio, é chegar ali no meio termo, em que todos ficam contentes!

A sonoridade do Syren é focada no Heavy Metal na sua veia mais tradicional. Esse direcionamento é algo que a banda sempre quis fazer ou vocês deixam que flua naturalmente?
Julio Martins: Sim! Isso é o que sempre quisemos e buscamos. É um estilo com pouca coisa nova aparecendo no mercado atual, estamos indo um pouco contra a maré (risos). Mas é o estilo que todos gostamos e achamos muito importante ter essa variedade tão escassa nesses tempos.

Aliás, mesmo seguindo o Metal tradicional, “Motordevil” é um álbum que soa atual. Fale um pouco a respeito disso.
Luiz Syren: Somos fãs de Heavy Metal tradicional assim como Thrash Metal old school e isso flui naturalmente em nós. Acho que o mix desses dois estilos mais o feeling para o moderno, não só na composição, mas, também para mixagem e produção, nos fazem ser um híbrido nesse meio.
Julio Martins: Como já falado, eu e Guilherme trouxemos algumas influências mais modernas, de bandas mais modernas. No meu caso vem muito das bandas dos anos 90 e 2000, não só do Rock e Metal tradicional, mas também do Hardcore, Thrash e etc. E temos essa sonoridade mais "moderna" como o que consideramos melhor. Unido com a sonoridade mais orgânica e visceral que o Luiz e Bruno possuem, chegamos a esse resultado: Heavy metal tradicional, soando 2015!

Além da melodia contrastando com a agressividade e o peso, os refrãos são fortes no novo álbum. Esses foram o foco na hora de compor?
Julio Martins: Nunca pensamos "Ah, vamos fazer um refrão forte". Fomos compondo as músicas e os refrães foram surgindo, naturalmente, as melodias e cadências harmônicas. O Guilherme e o Bruno têm muita facilidade na hora de construir as harmonias, nesse sentido. E o Luiz possui uma facilidade incrível para criar melodias pegajosas, ótimas para refrães. Mas nada no “Motordevil” foi forçado. Foi tudo muito natural. O foco sempre foi fazer um disco que gostássemos de escutar!
Luiz Syren: Todas as melodias são feitas na hora que eu escuto o já citado "power riff" (risos), parece que ele fala comigo e descreve o rumo que toda a parte da voz deve seguir. O refrão é apenas a confirmação do feeling da música, eu não fico estudando ou visualizando como deve ser o refrão para ficar marcado na cabeça das pessoas ou para elas cantarem junto, eles são feitos da mesma forma que todo o resto, em cima do feeling que surge na hora.



Mesmo com várias faixas como destaque, acredito que a música Motordevil passa algo mais emotivo no disco, enfim está um passo a frente. Vocês concordam? Quais faixas do novo trabalho indicariam para alguém que o precisasse ouvir em 10 minutos? (risos)
Luiz Syren: O que mais admiro nos álbuns da Syren é que não existem unanimidades, por exemplo, essa mesma música já foi citada como confusa no refrão em uma crítica, já citaram a Long Road como a mais emotiva, já citaram a Power of Something também e por aí vai (risos), e isso me deixa extremamente feliz pois cada composição mexer de forma diferente ao momento de quem as escuta e o mais bacana é que as pessoas fazem questão de frisar isso para nós. Em minha opinião a faixa mais a frente de todas seria a Stitched, o trabalho ultra moderno do instrumental junto às dinâmicas de voz, fazem o híbrido perfeito e novo. Pergunta complicada (risos), eu diria : Siga a sequência do álbum e tente parar nos 10 minutos após (gargalhadas).
Julio Martins: Particularmente, sempre gostei muito de Motordevil. Foi a primeira faixa composta para o disco. Outras como Fighter e Long Road já existiam, desde os tempos de “Heavy Metal”, mas Motordevil foi a primeira faixa composta para esse novo trabalho, e sempre achei ela a cara do disco, o resumo. Bom, escutar um disco em 10 minutos nunca é bom né? (risos) Sei que muita gente faz isso hoje. O mundo cada vez mais louco e corrido. As pessoas não apreciam mais nada. Acho que todo disco deve ser escutado inteiro, pois é uma obra. As músicas se complementam.

E como tem sido a repercussão do trabalho até então, tanto pela mídia quanto pelo público?
Luiz Syren: Não me canso de falar e de me assustar com o volume de ótimas críticas dos veículos especializados assim como de público com relação ao nosso trabalho, coisa surreal mesmo, somos imensamente gratos a Metal Media e a Shinigami Rec. por realizarem um excelente trabalho.

Julio Martins: Tem sido muito bem recebido. Tanto em território nacional, como internacional. Ainda estamos buscando o lançamento do “Motordevil” por alguma gravadora fora do país, mas mesmo assim, já chegou no ouvido da galera lá fora, e temos recebido muitos elogios e pedidos de shows. Fomos procurados muito pela mídia especializada tanto fora, como dentro do Brasil, para fazer releases sobre o disco, entrevistas e etc. Estamos muito felizes com essa recepção.

Falamos em Metal tradicional e tem-se notado bandas apostando novamente neste estilo sem que soe datado, tais quais Brutallian, Primator, Hibria, enfim... A que vocês acham que deve este fato e o que podem comentar com esse leve ressurgimento do estilo?
Luiz Syren: Apostando no estilo novamente ? Bem, o Hibria é de 96, o Brutallian de 02 e nem vou citar Dark Avenger, Dreadnox, Shadowside, Metalmorphose, Fates Prophecy e várias outras que apostam alto no estilo até hoje e que nada de pouca idade tem (risos). O problema que de uns bons anos para cá o mundo ficou revoltado e "reclamão" demais (risos) e as pessoas querem extravasar as frustrações em shows onde a brutalidade sonora seja o rumo, se você notar o Thrash Metal tradicional está ressurgindo novamente nesse mesmo quadro, repare a quantidade de shows com bandas de Death, Black, Extremo, Screamo e até mesmo o New Metal chorão (confundido algumas vezes como Thrash Metal Moderno) e compare com as de Heavy Metal tradicional? Elas existem, são várias e ótimas, mas, infelizmente não são convidadas e se os membros não fizeram parte do Angra, Viper e Shaman não se destacam tanto na mídia. Produtores estamos espalhados pelo Brasil esperando uma oportunidade para colocar a casa abaixo (risos).
Julio Martins: Acho que está na essência do ‘rockeiro’ ir contra a maré. Muita gente hoje aposta nos estilos em alta, aqui na América Latina no caso, os estilos mais extremos como o Thrash, Black e Death Metal. Acaba saturando o mercado. Porque são bandas que na maioria das vezes soam iguais. Muita gente boa, mas fazendo muita coisa igual. E as pessoas ficam um pouco presas naquele tornado de bandas desses estilos, e esquecem que existe muita coisa boa que está andando ao lado desse tornado. E isso existe não só por parte do público, mas como das gravadoras, que muitas vezes preferem apostar no "comum", que vai vender alguma coisa, do que no "diferente", que pode vender MUITO ou pode não vender NADA. Entendo que essa aposta é difícil, mas se não fossem os "aventureiros", ainda estaríamos morando em cavernas. E sim, existe muita coisa legal sendo feita no Heavy Metal tradicional hoje!

Quais os planos para estes próximos quatro meses finais de 2015?
Luiz Syren: Lançaremos uma sequência de 4 vídeos em formato acústico exclusivo para os passageiros da locomotiva Syren, faremos as filmagens do vídeo oficial do novo álbum, participaremos de 2 grandes festivais no RJ onde a renda será revertida a um grande centro que cuida de animais que sofreram maus tratos e de abandonados. 

Muito obrigado, este espaço é para deixarem uma mensagem aos leitores.
Luiz Syren: Mais uma vez agradecemos o valioso espaço e tempo de todos vocês que leram a entrevista até aqui, ao pessoal do Arte Metal por sustentar a bandeira da música pesada. Agradecemos todo o apoio e atenção que vocês amigos e passageiros dessa barulhenta locomotiva e que fazem ela prosseguir cada vez mais rápida e com mais força. Nos vemos na próxima estação... MUITO OBRIGADO.
Julio Martins: Primeiramente, agradecemos muito a oportunidade e o espaço cedidos por vocês para a divulgação do nosso trabalho! Agradecemos também a todos os fãs e pessoas que colaboram escutando nossas músicas, indo nos shows e comprando nosso material! Acreditem… Vocês todos são o combustível para essa locomotiva nunca parar de andar! Escutem o “Motordevil” de cabo a rabo! Não se arrependerão! Escutem todos os discos que gostam inteiros, pois nós músicos tomamos muito cuidado para "formatar" ele e soar bem como uma obra completa! Apreciem! Toquem bateria e guitarra no ar e batam cabeça no ônibus, metro, no meio da rua… Onde sentirem vontade! (risos) Sintam a arte, pois ela foi feita para ser sentida! Fiquem por dentro das novidades da Syren pelo site, Facebook ou Instagram!! Abraços a todos!


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