Em primeira instância
fica aqui um adendo, para não dizer apelo. O Arandu Arakuaa merece atenção não
só do underground metálico nacional, mas também dos defensores e divulgadores
da cultura brasileira de uma forma geral. Afinal, a ênfase e habilidade com que
resgatam e conservam a cultura raiz do Brasil é de certa forma, única.
A já conhecida banda
brasiliense chega ao seu segundo álbum ainda mais característica e marcando de
vez seu território. O grupo pode não ser o único, nem pioneiro em mesclar o
Metal com elementos indígenas e da música brasileira, mas sem dúvidas é o que
faz com mais conhecimento de causa e maestria.
“Wdê Nnãkrda” traz
ainda mais elementos e arranjos típicos da música indígena e ainda soa mais
pesado nos momentos Heavy Metal do que seu antecessor “Kó Yby Oré” (2013) que
já é um marco na carreira do grupo. Se o leitor fechar os olhos, irá imaginar
um grupo de índios empunhando guitarra, baixo e bateria e cantando e urrando em
um terreiro no meio de alguma tribo.
A produção privilegiada
de Caio Duarte (Dynahead) ajudou na distinção dos arranjos recheados de viola caipira,
flautas indígenas, chocalhos e outros instrumentos típicos ao mesmo tempo em
que enfatizou o peso das guitarras, a pegada de bateria e pulsação do baixo com
um som cristalino. No lado Metal temos a extremidade do estilo como principal
foco, sendo que os momentos dançantes e acústicos nos levam a uma viagem por
esse nosso rico verde que é o Brasil.
Impressiona como a
vocalista Nájila está cada vez melhor. A moça canta como uma fada nos momentos
mais leves e arrepia com um rasgado demoníaco quando necessário, parecendo ser
vozes de pessoas diferentes. Zândhio Aquino incorpora muito bem a face indígena
e, como grande estudioso do assunto, soa perfeito em suas interpretações.
Lembrando que com exceção da faixa Povo
Vermelho, o restante é cantado em vários idiomas indígenas.
Me recuso a escolher
apenas uma canção, já que o álbum todo se interliga fazendo com que a alma
brasileira se liberte e passemos por momentos reflexivos, além de bangear nos
momentos mais pesados. Fato é que a introdução Watô Akwe é uma das mais belas que já ouvi. O chato redator
gostaria de um pouco mais de dinamismo, mas talvez seja o nível de exigência,
já que o álbum intimida em cobrar-lhes qualquer coisa. Isso é material
histórico nacional!
9,0
Vitor Franceschini
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