Por Vitor Franceschini
Da mescla de estilos e
da experiência de seus músicos, a banda araraquarense Crookhead criou sua
identidade. A prova é o álbum “Modern
Mayhem” (2016) que, entre extremos, traz diversos elementos soando moderno na
medida certa. O guitarrista Luiz Henrique e o vocalista Luiz Gustavo fala ao
ARTE METAL e conta um pouco mais de como a banda surgiu, o trabalho apresentado
e seu futuro. Completam o time Arnaldo Vieitez (guitarra), Amauri Soares (baixo),
Matheus Botelho (teclado) e Rafael Ferreira (bateria).
Primeiramente
apresente a banda para os leitores, já que a Crookhead é nova na cena?
Luiz
Henrique – A Crookhead é uma banda que nasceu a partir das
influências de seis músicos com diferentes trajetórias. Acredito que falo por
todos da banda quando digo que somos pessoas bastante ecléticas, musicalmente
falando, mas encontramos uma coesão muito forte quando estamos juntos.
Carregamos as influências das bandas pelas quais passamos e tentamos construir
algo juntos que expresse a nossa bagagem, que vêm Do Metal Progressivo, Metal
Melódico, Hard Rock, Death, Thrash e Black Metal, etc.
Apesar
de nova conta com músicos experientes. Como foi o processo de composição do
primeiro EP “Modern Mayhem”?
L.H.
– O processo de composição do EP foi bastante rápido, pois a banda nasceu no
mês de maio de 2015 com data marcada para gravação logo em setembro. Em três
meses, trabalhamos as composições que o Arnaldo e Amauri fizeram na minha casa,
onde produzimos as ‘prés’. No caso de Virtual
Alms e Lords Of Truth, o processo
consistiu basicamente em pegar ideias de riffs e estruturas que eles compuseram
antes da banda ser criada, depois adicionei alguns riffs e passagens, além de
algumas poucas alterações nos arranjos. Já a Intro e Via Crucis são
composições que fiz para a banda. Na bateria, trabalhamos com uma estrutura
programada por mim e, depois, o Rafael Ferreira trabalhou suas ideias nos
ensaios, dando a sua técnica e sua cara para os arranjos. Quando o tecladista
Matheus Botelho entrou na Crookhead, as gravações já estavam finalizadas. Ele
trabalhou seus arranjos por cima das músicas e gostamos muito do resultado. No
que diz respeito às letras, escrevi Via
Crucis, Luiz Grind escreveu Virtual
Alms e Amauri escreveu Lords Of Truth,
onde apenas ajudei com algumas frases e a tradução para o inglês. Cada um
trabalhou temas que falam da contemporaneidade e da vida moderna. Via Crucis é uma letra sobre
preconceito, tendo como imagem a crucificação de Cristo como um contraponto à
perseguição que minorias sofrem por religiosos fanáticos, especialmente no
Brasil; Virtual Alms fala sobre o uso
que as pessoas fazem das redes sociais e como elas afetam sua relação com o
mundo e com as pessoas no mesmo espaço físico que elas; Lords Of Truth trata da questão poder e de como certas verdades são
produzidas por quem detém esse poder de forma a manter seus privilégios e,
através da vigilância, poder controlar grandes populações.
O
trabalho traz a banda apostando em uma sonoridade moderna, mas que não se fixa
apenas em um estilo. Esse direcionamento, aliás ‘não-direcionamento’, foi algo
que vocês tiveram a intenção de seguir desde o início?
L.H.
–
Esse “não-direcionamento” não foi planejado. No entanto, ele aconteceu
naturalmente quando trabalhamos as composições e percebemos os caminhos que
estávamos percorrendo. No meu caso, estava bastante interessado em fazer coisas
que soassem como Nevermore e Opeth, mas acabei encontrando muitas referências
em outras bandas como Ihsahn e Mastodon. Quando Matheus colocou seus arranjos
de teclado nas músicas, percebi o quanto estávamos sob uma forte influência do
Metal progressivo, como Dream Theater, Symphony-X, entre outras. Posso dizer
que uma das características que mais gosto da Crookhead é de que nosso som
parece estar em um movimento de construção constante.
Falando
ainda da sonoridade, vocês optam por um lado progressivo, mas não abrem mão da
extremidade. Assim como optam pela agressividade e também pela melodia. Como
manter tudo isso equilibrado na balança?
L.H.
–
O progressivo realmente é um elemento muito forte no som da Crookhead. Da minha
parte, fui inspirado por John Petrucci a tocar guitarra, portanto sou bastante
suspeito para falar da influência que o progressivo tem na minha vida musical e
consequentemente na banda. Cresci influenciado pelo seu virtuosismo e, ao mesmo
tempo, com um apreço muito forte por coisas melodiosas, que acredito encontrar
no metal progressivo em bandas como Dream Theater e Pain Of Salvation.
Posteriormente, conheci bandas como Opeth, Nevermore, Death, que fazem essa
conexão entre o extremo e o progressivo, mesmo possuindo sonoridades
diferentes. É claro que “progressivo” é um termo que pode ser aplicado de forma
bastante ampla ao som de muitas bandas, há muita discussão sobre isso. Na
Crookhead, o equilíbrio desses elementos vem do bom senso de explorar ao máximo
o que temos na mão na hora dos arranjos. Com duas guitarras e um teclado, temos
muitas possibilidades de aplicação do extremo e do progressivo, então
procuramos valorizar sem deixar o som com informações demais, mas na medida
certa para quem aprecia algo complexo, porém direto ao ponto.
Até
nos vocais de Luiz Gustavo vemos versatilidade, como foi trabalhar nessas
linhas de voz?
Luiz
Gustavo – Inicialmente, tanto os vocais quanto a parte
instrumental da Crookhead eram para soar mais extremos, mais orgânicos, mas,
com o decorrer do tempo, a proposta foi mudando com a entrada do Matheus
Botelho. Com os teclados, as músicas tomaram outra forma e exigiram uma
versatilidade nas linhas vocais. Busquei referências em bandas que já escuto há
muito tempo e que usam uma sonoridade mais digital e trabalham bem com teclados
– como Marilyn Manson, Type O Negative, Fear Factory e artistas semelhantes – e
misturando com os guturais que já eram a proposta inicial da banda.
A
produção do EP é um dos pontos altos e vocês optaram por trabalhar em
Araraquara/SP mesmo com Gabriel do Vale no Nova Estúdio. Isso prova que aqui no
interior tem se condições condizentes para lançar algo de ponta?
L.H.
–
Com toda a certeza. O Gabriel do Vale é um produtor com bastante experiência de
estúdio e já trabalhou com vários estilos. Até onde sei, muitas bandas da
região vêm trabalhar com ele. Acredito que já há algum tempo que existe um
acesso maior a equipamentos e ao conhecimento referente a essa área. Dessa
forma, creio que o interior de SP está muito bem servido de possibilidades de
gravação e produção para as bandas.
Aliás,
como foi trabalhar com o Gabriel?
L.H.
– Como
já esperava, foi muito bom. Todos da banda já haviam gravado com ele (com as
bandas Breakillie, Nagar, Awakke) em algum momento, então nos sentimos em casa.
Inicialmente, ele nos deu um feedback muito positivo sobre as ‘prés’, o que nos
deixou muito felizes e animados para a gravação. Na hora da gravação, foi
extremamente profissional e competente, sempre dando dicas e sugestões
importantes. Era muito perceptível que a sua preocupação com o resultado final
era tão alta quanto a nossa. Ele fez tudo com muito carinho e estava sempre
muito preocupado com a nossa opinião.
Como
está a repercussão de “Modern Mayhem” até então, tanto por parte de público
quanto por parte de crítica?
LH
–
Está sendo muito positiva. Do feedback que tivemos, a produção e a
originalidade do som são as qualidades mais apontadas. Outras pessoas falaram
também em virtuosismo nos arranjos e do peso. Ficamos muito felizes com essa
recepção tão positiva que nosso EP teve. Nos empenhamos para fazer um bom
trabalho, mas os elogios superaram nossas expectativas.
E
como a banda pretende trabalhar em termos de shows durante este ano?
LH
–
Vamos nos inscrever no Araraquara Rock deste ano e estamos de olho em outros
festivais para enviar material. Faremos também shows com outras bandas para
divulgar nosso trabalho e dar uma força para as bandas da nossa cidade e da
região.
Apesar
de vocês estarem divulgando o primeiro EP, acredito que já tenham em mente algo
para um futuro lançamento. O que vocês podem nos adiantar a respeito disso?
LH
–
Já estamos planejando o nosso primeiro CD, que está em fase de composição.
Ainda esse ano, pretendemos estrear nos palcos músicas novas e, se possível,
gravar uma demo para dar um gostinho do que está por vir. Estamos muito
empenhados em fazer um álbum que faça jus aos elogios do nosso primeiro EP, mas
sem necessariamente repetir qualquer fórmula deste. Influências novas
aparecerão, com certeza.
Muito
obrigado, sucesso e podem deixar uma mensagem aos leitores.
LH
–
Gostaríamos de agradecer o apoio que recebemos de todos os envolvidos com o
trabalho da Crookhead, além dos amigos, familiares e, principalmente, todos
aqueles que fazem o possível e o impossível para o Metal continuar acontecendo
no Brasil. Muito obrigado! E aguardem! Em breve teremos grandes novidades sobre
a Crookhead!
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