Por Vitor Franceschini
São quase 24 anos
dedicados ao Death Metal e de crescimento dentro do cenário underground. Não à
toa, hoje o Khrophus é um dos principais nomes do Metal extremo de Santa
Catarina (e por que não do país?), já desfrutando de três álbuns lançados e o
mesmo número de turnês pela Europa. A banda ruma agora para o novo trabalho,
mas com os pés sempre no chão. O guitarrista Adriano Ribeiro e o baterista
Carlos Fernandes falam sobre sua carreira e principalmente o último álbum “Eyes
of Madness” (2013), que ainda divulgam no cenário.
Bom,
como esta é nossa primeira entrevista com a banda, gostaria de abordar um pouco
o mais recente disco da banda “Eyes of Madness” (2013) do qual fizemos uma
resenha (http://blogartemetal.blogspot.com.br/2016/07/khrophus-eyes-of-madness.html). Já se vão quase que quatro anos
do lançamento do mesmo. Como vocês vêem o terceiro disco da banda hoje?
Adriano
Ribeiro: “Eyes Of Madness” como citado na resenha é uma
continuação natural do nosso trabalho. Tivemos grande ascensão com esse álbum,
foram duas turnês pela Europa e América do Sul, e foi muito bem-aceito na
Argentina onde a Grinder Cirujano Records lançou uma versão completa dos 2
últimos álbuns em um CD, que está sendo distribuído por, além da Grinder
Cirujano Records, pela Sevared Records (USA), Satanath Records (Rússia), New
Order Records (Costa Rica), BAGGM (Argentina) e Brutal Records (Brasil). Além
disso, conseguimos tocar em muitos países, e ampliando o nome da banda nessa
caminhada toda. Tenho certeza que esse álbum superou nossas expectativas.
Carlos
Fernandes: Certamente o mais maduro que a banda concebeu até
o momento e creio que ele definiu o nosso som realmente e ali nos achamos como
uma banda e em termos de composição, nunca pensamos demais nas músicas apenas
as criamos de uma forma natural, porém sempre buscamos evoluir e acho que nele
houve uma “limada” e uma “despolida” em muita coisa que antes era demasiado,
tais como duração das músicas e repetições assim com complexidades que hoje
achamos desnecessárias em nossas músicas. Sim amo todo o trabalho da banda até
então mas o “Eyes...” é o melhor na minha opinião, direto, ríspido e brutal!
E
qual foi a principal diferença deste trabalho em relação aos discos anteriores,
“God from the Dead Images” (2003) e “Presages” (2009)?
Adriano
Ribeiro: A principal diferença musical e nas gravações foi o
fato de já termos bem mais experiência do que nos anteriores. Assim pudemos nos
concentrar melhor, aparar arestas, fazer uma boa pré-produção, tudo isso ajuda
em muito na qualidade final.
Carlos
Fernandes: Além disso, tudo que o Adriano citou acho que a
crueza e visceralidade dele me faz crer que esse seja o diferencial dele, porém
tudo muito audível e definido, acho que o “God from the Dead Images” é sujo
demais, e o “Presages” muito limpo, “Eyes Of Madness” é a mistura dos 2 álbuns
antecessores a ele.
Qual
foi a repercussão de “Eyes of Madness” perante público e crítica?
Adriano
Ribeiro: A repercussão foi a melhor possível, e como disse,
superou nossas expectativas. Hoje nos shows vemos as pessoas cantando nossa
música, pedindo as músicas pelo nome, alguns se arriscam até a gravar e nos
enviar vídeos com vocal, guitarra, etc… Acho que para uma banda underground,
isso já nos faz sentir um grande orgulho, saber que estamos fazendo algo que as
pessoas estão gostando, isso é muito gratificante.
Carlos
Fernandes: Como o Adriano citou, temos obtido um ótimo
retorno do público e mídia. Do público o que vemos é muitos cantando algumas
partes junto com a banda e vejo na galera muitos acompanhando no “air drummer”
algo similar ao que faço (muitos até melhor que eu - risos). E quanto à mídia tem mais isso da
definição e amadurecimento da banda sem perder a brutalidade que é uma das
nossas marcas desde o início da banda!
Nota-se
que mesmo estando há mais de 23 anos na ativa, a banda lançou os discos em um
considerável espaço de tempo. A que se deve este fato?
Adriano
Ribeiro: Ter banda no Brasil não é fácil, principalmente
porque não vivemos da mesma, sem contar o custo de se gravar um álbum de
qualidade. Também sempre focamos muito na estrada, fazer shows faz parte da
nossa rotina, e como viajamos para muito longe, acabamos focando muito nas
músicas para os shows.
Em
2016 vocês soltaram a coletânea “Presages / Eyes of Madness” pela gravadora
argentina Grinder Cirujano Records, e que abrange os dois últimos discos da
banda. Como surgiu essa ideia e oportunidade, e porque optaram por lançar os
estes trabalhos em conjunto?
Adriano
Ribeiro: A oportunidade surgiu por causa das turnês, acabei
conhecendo pessoalmente o Jorge, dono da Grinder Cirujano Records, o qual eu já
me correspondia por carta desde os anos 90 quando ele tocava numa banda chamada
Soulless de Buenos Aires. Há uns 3 anos atrás ele acabou vindo passar férias em
Florianópolis/SC e me ligou. Acabou vindo num ensaio nosso e ficou
impressionado. Depois nós fomos tocar em Buenos Aires em 2015 e ele foi ao
show, e nos propôs lançar o “Eyes of Madness” lá. Conversamos por uns meses e
acabei sugerindo de juntar os 2 últimos CD’s já que o “Presages” não tinha
ainda uma versão lá. Ele adorou a ideia e aí lançou. O mais legal de tudo isso
é que ele tem muitos distribuidores, e para o nosso CD ele conseguiu
distribuição oficial nos Estados Unidos, Rússia, Costa Rica, Argentina e
Brasil. Isso já nos abriu outras portas.
Falando
um pouco do futuro do Khrophus, o que vocês podem nos adiantar em relação a um
trabalho inédito em que provavelmente vocês vêm trabalhando?
Adriano
Ribeiro: Ah, não dá para fazer nada em segredo (risos). Pois
então, já estamos trabalhando em 3 músicas novas, e espero que no 1º semestre
de 2017 possa já ter todas as músicas para um futuro álbum e que possamos fazer
uma pré-produção. Agora lançamento mesmo, mais para o fim do 2º semestre.
Carlos
Fernandes: Eu e o Adriano se sentarmos, finalizamos um álbum
do zero em 2 meses, porém há uma procura grande pela banda ao vivo o que nos impossibilita
de sentar e compor algo novo. Já iniciamos algumas músicas, ótimas e assim
quando for possível iniciaremos os trabalhos para um novo álbum do KHROPHUS, há
também a questão da formação instável o que nos amarra muito, mas creio que
tenhamos chegado a uma solução para isso, aguardem novidades!!!
A banda prima pela qualidade
e equilíbrio entre peso e técnica no Death Metal. Vocês pretendem incrementar
mais coisas na sonoridade do grupo ou manter estas características?
Adriano
Ribeiro: Eu sempre compus dessa maneira, não vejo porque
mudar. Lógico que também não podemos ser repetitivos, mas a característica da banda
vai permanecer lá, Death Metal é o que amamos fazer e é isso que vamos fazer.
Carlos
Fernandes: Cara, a base da banda em composição é o Adriano,
mais todos sempre acrescentam algo, mas não vejo o que possamos mudar. Já
acredito que nossa linha mesmo sendo tradicional possui características ímpar o
que já nos livra da vala comum de bandas do estilos que se repetem e acreditam
que velocidade seja tudo. Para nós só existe velocidade se existir razão para
que isso aconteça, se não nós sempre faremos o que nos der vontade e for o que
a banda vive no momento, mas inovar batuques ou eletrônicos, jamais será visto
no som do KHROPHUS.
Assim
como grande parte da região Sul do Brasil, Santa Catarina sempre traz nomes de
qualidade no Death Metal. O Khrophus é um grande representante disso. Como é
representar tal cena e qual o segredo de existirem ótimas bandas do Metal
extremo no estado?
Adriano
Ribeiro: Não nos consideramos como o representante principal
da cena, somos parte dela e trabalhamos muito para que a banda sempre tenha a
qualidade, seja nos álbuns ou ao vivo. Não existe segredo, acho que
primordialmente tem-se que fazer o que gosta com a maior força de vontade
possível, batalhar e lutar sempre. Talvez por aqui ser bem mais frio que a
maior parte do país, as bandas acabam adquirindo certas características que
influenciam o modo de tocar, mas reitero que isso não é proposital e sim
incólume a nossa condição humana.
Carlos
Fernandes: Representar algo ou levar o nome do seu estado e
país mundo afora é uma ‘respons’a grande. Não podemos excursionar por ai sendo
‘headliner’ e entregar um show morno ou médio, afinal a impressão que
deixaríamos lá fora seria “essa é a banda que veio do Brasil? Só isso?”. Exatamente
isso que não queremos e nunca entregaremos isso lá fora ou aqui dentro. Ser
referência no que você faz e se dedicar é algo que faz valer qualquer esforço
ou sacrifício, nos torna humildes em saber que mesmo estando com um nome legal
e respeitado, há bandas já muito mais longe e sendo muito humildes. Então se
eles que são grandes, são assim humildes, quem somos nós para achar que somos
mais que alguém? Cara há bandas “fuderosas” em Santa Catarina, Sodamned,
Rhesthus, Juggernaut, Flesh Grinder, Deadpan, Red Razor, Skombrus, Battalion,
Warhell, Silent Empire, dentre tantas bandas fodas que estão ai ralando e
lutando na cena, uns há anos, outros há poucos anos, porém todos lutamos pelo
mesmo ideal e valores, todos merecem respeito igual.
Vocês
tiveram a oportunidade de tocar pela Europa. O que trouxeram de lição do velho
continente e o que puderam ensinar ao público de lá, além de quais são as
dificuldades de uma turnê no exterior?
Adriano
Ribeiro: Fizemos 3 turnês pela Europa. A lição que tiramos é
que amamos cada vez mais o local onde vivemos. Nada mais gratificante do que
abrir fronteiras, mas retornar com as histórias, as experiências, e poder
compartilhar toda essa vivência. Tocar na Europa foi um sonho de muitos e
muitos anos, foi uma batalha até conseguir pisar nos palcos de lá. Mas foi uma
oportunidade única de acima de tudo ver como as pessoas são iguais,
independente de onde estejam ou da língua que falam. Fomos muito bem recebidos
lá, fizemos ótimos amigos. As dificuldades lá são bem diferentes daqui,
primeiramente a língua, cada país tem uma ou mais oficiais, depois formular
rotas lógicas para reduzir tempo de estrada entre um show e outro.
Carlos
Fernandes: Cara, palavrões, basicamente é isso, se ensina em
português e se aprende em alemão, russo, polonês (risos), receitas culinárias
também trocamos (risos). Além disso, trouxemos o principal, humildade, e muitos
amigos feitos também, que são o que valem a pena, experiências vividas, isso
morre com você, não há um valor para isso!
O
Khrophus é uma banda que se adaptou bastante à internet e a utiliza da melhor
forma, desde divulgação do trabalho da banda, até em se entreter com os
interessados no trabalho do grupo com fotos e vídeos. Qual a importância que a
banda vê nessa atualíssima ferramenta e quais as desvantagens?
Adriano
Ribeiro: Todo o lance de internet da banda foi criação do
Alex Pazetto (baixo/vocal), ele que nos atualizou sempre nisso, se dependesse
de mim ainda estaríamos trocando cartas e divulgando fitas K7 (Demo-tape) (risos).
Mas, a banda precisa ter esse contato com o público, tentamos ser os mais
próximos possíveis, tentamos interagir e postar atualizações na medida do
possível, sem soar chato e exagerado, tem que ter critério e coerência para ser
marketing positivo.
Carlos
Fernandes: Hoje em dia é fundamental, acredito que pecamos
muito ainda se comparado a bandas que pegam pesado nisso e se tornam “grandes”
na internet. Mas temos o pessoal da Sangue Frio Produções no qual vem
trabalhando muito duro para nos colocar em um patamar melhor nesse sentido. Deixar
de ser tão ‘cult’ e ser mais evidenciado via internet, porém só isso é um erro,
de nada adianta ser uma baita banda na telinha do computador e no ao vivo ser
aquela “água de chuchu”, morno e que desanima até de ver, há muitos casos assim
(risos).
Quais
os planos para 2017?
Adriano
Ribeiro: São muitos, mas primordialmente terminar de compor e
lançar o 4º CD, e ampliar nossa atuação na América do Sul e atingir novas
cidades no Brasil e rever amigos nas cidades que já tocamos, novo CD, nova
turnê, assim que tem que ser.
Carlos
Fernandes: Certamente o desejo é tocar muito, mas estabilizar
a formação é prioridade, sem isso não temos nada, mas há uma esperança aí e em
breve teremos mais novidades. Aguardem!
Muito
obrigado, podem deixar uma mensagem aos leitores.
Adriano
Ribeiro: Primeiramente agradecemos aos nossos amigos que nos
acompanham há muito tempo, e àqueles que vamos conhecendo em cada show novo,
agradeço muito por todo apoio recebido e tenha certeza que sempre tentaremos
fazer o melhor para vocês. Agradeço muito ao Patrick da Sangue Frio Produções
que nos dá uma grandiosíssima força e ao Arte Metal pelo espaço e apoio
incondicional ao underground. São as pessoas que mudam o mundo, são as pessoas
que fazem acontecer, e a cena underground prova a cada dia que vive o seu
melhor. Um abraço e obrigado a todos. Valeu.
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