Um ser discreto, mas
amante de um bom barulho. Icônico, presente em diversos projetos, inclusive nos
meios de comunicação especializados. Estamos falando de Chis, X, Koda, Chris...
De baterista de banda cover a apresentador de programas de televisão, hoje é o
Bento d’Os Capial. Antes (e agora atualmente também) integra a Prey of Chaos,
seus principais sucessos, além da banda de Rock alternativo Eleanora. Este é o
nosso convidado que vai pro paredão de mais uma seção Killing Yourself e
comenta seus principais registros fonográficos.
“As Blood You Would Give for
Your Faith?” – Prey of Chaos (2009)
Foi uma experiência
nova até então, e emocionante. Acho que foi a primeira vez que gravei
‘oficialmente’ em estúdio, ou seja, com o objetivo de divulgar o trabalho, ao
invés de apenas gravar algo para mim. A temática da Prey of Chaos, de maneira
geral, gira em torno de desigualdades político-sociais, basicamente. Isso vem
desde o início e continua até hoje. A respeito da produção, curiosamente gosto
demais de como o som foi captado originalmente! Amo aquela versão crua da demo,
e não gosto da versão final do trabalho, no que se refere à mixagem. É uma
frustração que só não é maior porque considero (somente eu) a versão crua como
a original (risos). Recordo-me de que eu tinha um jeito de fazer ‘blast beats’
em que eu marcava o tempo no prato de condução. Mas certa vez o baixista
comentou que não curtia muito a ideia, então, nos registros posteriores,
abandonei essa marcação. Também lembro que tivemos que regravar duas músicas,
se não me engano, mas foi tudo tranquilo. Curiosamente não utilizamos metrônomo
e filmamos toda a gravação (exceto das duas que regravamos) e, quando
sincronizei o áudio da demo com a imagem dessas, o tempo ficou praticamente
igual! Fiquei contente por perceber que tocávamos na mesma velocidade as faixas
(risos)! Tem um lugar no coração, assim como todos os registros que já tive a
oportunidade de fazer, mesmo que a versão final não me agrade, pelo que expus
acima (risos).
Prey of Chaos |
“Lost Hope” – Prey of Chaos
(2012)
Honestamente, foi
estressante e decepcionante. Vou revelar uma coisa aqui. É a demo da banda que
mais gosto, mas gravá-la foi frustrante, ao menos para mim. Fiquei insatisfeito
com meu desempenho, e era difícil nós nos juntarmos para conseguir finalizar as
gravações com tranqüilidade, já que cada um mora em uma cidade diferente.
Quando finalizamos, incrivelmente não gostamos do resultado e engavetamos o
material. Acho que foram vários meses, talvez um ano, não me lembro, mas um dia
peguei aquilo de novo e escutei. E amei a demo! Dei uma mexida lá e cá, arrumei
umas cagadas e quando mostrei aos caras, eles também se empolgaram muito. E assim,
“Lost Hope” foi lançada! Para mim, foi a produção mais poderosa que nosso
baixista já fez. Acho “Lost Hope” uma gravação ‘cheia’, muito pesada.
Inicialmente eu não tinha curtido muito o timbre da caixa, com a pele bem
esticada, mas depois de um tempo, adorei-a daquele jeito! As temáticas
continuaram seguindo a linha mencionada na resposta da demo anterior. Tem duas
curiosidades sobre “Lost Hope”: o cover de Crucificados
pelo Sistema, do RDP, foi autorizado pelo João Gordo, e eu lembro que
decidi acelerar a música ainda mais, na hora em que já estava tudo pronto para
a gravação. Quando o Jarrão (baixosta da POC) deu o “rec”, avisei que ia tocar
mais rápido e assim o fiz. Quando o Japa (guitarra/vocal) ouviu posteriormente,
ficou meio bravo comigo (de zoeira) porque ficou mais difícil de ele acompanhar
a música (risos). Outra curiosidade é que a demo teria inicialmente onze músicas.
No entanto, a gravadora Shinigami Records estava convidando bandas para a
coletânea “Hellstouch” (2013) na mesma época em que estávamos finalizando “Lost
Hope”. Assim, decidimos pegar duas músicas e mandamos para eles. Como falei,
amo essa demo, é meu registro favorito da Prey of Chaos. Adoro a gravação,
adoro as composições em si. Lembro que foi muito bem recebida pela mídia
especializada e por quem acompanha a banda. E isso representa muito para mim,
já que é muito legal saber que alguém gosta de seu trabalho.
“Kill Him!” – Prey of Chaos
(2013 - EP)
Foi incrivelmente
fácil, ao contrário de “Lost Hope”. Tanto que a ideia de lançar um EP surgiu
durante o ensaio das músicas e, naquela mesma tarde, já gravamos as três
músicas (o EP é composto por outras duas ao vivo). A coisa fluiu como nunca! Como
estávamos entrosados, foi prazeroso e rápido gravar ”Kill Him!”. Mas devo admitir
que, embora eu goste das músicas, senti falta da velocidade nelas. No EP,
exploramos coisas mais cadenciadas, exceto pela faixa de minha autoria, Almost Gore, na qual tentei colocar
alguns ‘blast beats’. Lembro que foi tudo tão dinâmico na produção, que logo a
capa também já estava pronta. Ah, sim, e na mesma sessão, gravamos também The Kill, cover do Napalm Death que
entrou no tributo brasileiro à banda. Também adoro essa gravação. “Kill Him!”
foi nosso último registro antes de a banda fazer essa pausa de dois anos e meio
(retornamos em fevereiro de 2016). Lembro que foram feitos 40 EPs físicos, e
conseguimos vender tudo naquele que seria o último show da Prey (antes do
retorno), em São Carlos. Tocamos sem o baixista, que teve um compromisso no
dia.
“Nossa
Grindroça Querida” – Os Capial (2015)
Apesar de estarmos
muito entrosados, por conta de ensaios fervorosos, a gravação foi difícil para
mim, particularmente. Por alguma razão, tive problemas com minhas pernas, que
teimavam em não me obedecer e, assim, os bumbos ficaram desencaixados em
diversos momentos do CD. Esse problema passou meses depois... e retornou
recentemente. Estou me exercitando pra tentar sanar isso de vez. O disco foi
gravado na casa do baixista da Prey of Chaos, o Jarrão, de uma vez, ao vivo
(inclusive os vocais juntos). O processo foi rápido, pelo fato de estarmos bem
entrosados, como mencionei. Mas fiquei frustrado com minha performance. Eu não
me importaria em regravar o material (risos). Deixamos a produção toda na mão
do Jarrão, e o cara caprichou na sujeira do material. Ficou pesado, extremo,
foda! Quanto à temática, Os Capial fala (quase) sempre sobre atividades
agrícolas e a vida no campo, de maneira geral. Nossa intenção é continuar
sempre com essa proposta. Acho que é mais a minha frustração por não ter
conseguido tocar direito na gravação, mas ainda acho um disco muito legal. Representa
algo um pouco mais profissional, já que foi meu primeiro full a sair por um
selo, o Rotten Foetus Productions, do Diomar Souza. Uma honra para mim estar no
cast desse cara, que hoje comanda a Cemitério Records, selo pelo qual saíram os
dois álbuns posteriores da banda.
“Grindiagem
Deatherra” – Os Capial (2016)
Esse também estava bem
ensaiadinho. Foi fácil de gravar, e dessa vez, foi tudo separado, no Estúdio
Távola, do grande amigo Artur Rinaldi. Havíamos reservado oito horas de estúdio
só para gravar a bateria, mas consegui finalizar tudo em duas horas e meia
(risos)! Assim, antecipamos a gravação de guitarra, e tudo correu muito bem. A
produção do “Grindiagem...” é suja também, e ficou assim principalmente a meu
pedido. O Artur e o Dito queriam algo um pouco mais limpo, mas pedi para que ao
menos a bateria ficasse bem pouco trigada. Adorei o resultado, e é meu CD
favorito d’Os Capial! Acho que é o CD em que toquei mais rápido na minha vida.
E foi tudo natural. Quando escutei as músicas prontas, nem eu acreditava que eu
conseguia ser veloz daquele jeito (risos). Além disso, a arte é muito bonita,
em minha opinião. Aliás, a arte dos três discos, para mim, são excepcionais! Para
mim, é um CD que me enche de orgulho. Saber que consegui tocar daquele jeito
foi fantástico. Para mim, o “Grindiagem...” é perfeito (risos)!
“Emboscada
Caipira de Plasma” – Os Capial (2017)
Esse deu um pouco mais
de trabalho e foi um pouco estressante em alguns momentos. Tive que regravar
duas músicas, se não me engano. Mas, de maneira geral, foi a mesma coisa: gravei
a bateria bem rapidamente e ‘me livrei’ logo (risos). No entanto, inventei de
criar a música Barulho de maneira
coletiva, e finalizar esse som foi bastante trabalhoso. Quase me arrependi da
ideia por todo o trabalho que deu, apesar de eu adorar o registro. Novamente
gravamos no Estúdio Távola, com o Artur, e dessa vez eu ‘cedi’ a ele e ao Dito,
em relação a uma produção mais limpa. Isso é, o disco é sujão, mas é mais bem
produzido. E para chegarmos a esse resultado, demorou muito também. Eu e o Dito
estávamos tentando chegar a um meio termo, além de outros diversos imprevistos
que deram trabalho também ao Artur, coitado (risos). No fim das contas, saiu um
registro que considero excelente em termos de produção. Quanto às composições
em si, não acho que tenhamos evoluído, não (risos). Gostamos de fazer o
grindcore ‘padrão’, então, não tentamos inovar. Fazemos aquilo que gostamos.
Algo de Death Metal até apareceu aqui, assim como no “Grindiagem...”, mas tudo
naturalmente. Obviamente é sinal de nossas influências. Acho que o “Emoscada...”
é o trabalho mais bem aceito d’Os Capial. Seu lançamento é extremamente recente
(15 de julho), mas já abriu portas e rendeu muitos elogios até o momento. Isso,
nem precisaria dizer, mas é muito gratificante para mim. Agradeço a
oportunidade de falar um pouco sobre os registros, Biro! Abração, rapaz!
ESSE É GUERREIRO. MERECE CADA CONQUISTA.
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