Por Adalberto Belgamo
Eu comecei a me
interessar por música muito cedo. Na minha família rolava de tudo. Brega, Rock,
Sertanejo (Raiz ou não - risos); enfim, de tudo um pouco. No começo dos anos
80, precisamente 81, bom rapaz que sou (risos), viciei-me nas fitinhas cassetes
dos The Beatles e Creedence Clearwater Revival, que meus irmãos colocavam nos
tapes daqueles antigos consoles de carro (Chevette rules - risos) ou deixavam
pela casa. Consigo afirmar que, a partir daquele momento, iniciei o caminho
“sem volta” do Rock/Metal, antepassados e derivados!
Um pouco mais tarde,
depois de muita luta (risos), consegui que me comprassem um som. Uma “sonatinha”
que, após algumas adaptações marotas, consegui adaptar um gravador da Philips
em uma entrada. Começou o caos de colecionador musical, que dura até hoje, mas
aí já é outra história...
Naquela época, sem a
quantidade absurda de informação que existe hoje, para se conhecer bandas e/ou
estilos novos havia sempre o primo do primo do irmão da namorada do tio de um
amigo de fora da cidade (risos), que aparecia com coisas novas em vinil ou
cassete. Tive a oportunidade de conhecer
um desses “malucos” que, do nada, apresentou de uma vez só o “Paranoid” do
Black Sabbath, o “Rock & Roll Over” do Kiss e o “Live in London” do Deep
Purple. Lembram da sonatinha? Só ouvia os discos do Queen emprestados nela e,
então, minhas primeiras comprinhas foram o trio de ferro acima citado.
Em 1983, já com o cabelo
estilo Playmobil (mexe a cabeça, mas o cabelo não sai do lugar - risos) e a
camiseta vermelha do “Volume 4” do Sabbath, a vida era bela. Tirando os
corretivos da polícia, que “confundia” qualquer cabeludo com uma camiseta
vermelha com comunista adorador de satanás! Era final do período da Ditadura
Militar, que alguns insistem em dizer que não houve e idolatram torturadores e
afins. Dá uma tristeza ver “roquistas e redbenguis” apoiando a repressão e a
falta de liberdade. Mas aí já outro assunto...
Enfim, naquele mesmo ano,
eis que anunciaram a vinda do Kiss para o Brasil. Surreal! Uma das minhas
bandas preferidas na época e, para aumentar o frenesi, eu nunca tinha visto um
show de Rock na minha vida! Tinha de ir! Nem que tivesse de vender o fígado!
Naquela ocasião, ele ainda estava em bom estado (risos). Onde conseguir o
dinheiro? “Paitrocínio”, nem pensar! Meu falecido (e muito amado pai!) não
daria o “cash”. Minha mãe tinha medo da viagem. Diz a lenda que a Dona Amélia
ficou rezando da hora em que entrei no ônibus até a volta do show de madrugada
(risos). Há explicação. Tinha 14 anos e o máximo que tinha feito até então,
foram viagens para visitar parentes e, pasmem, uma excursão... para um velório!
Calma, há um motivo, surreal, mas plausível. Meu avô paterno se casou duas
vezes e, no total, teve 25 filhos! Ele não, as esposas, lógico (risos).
Portanto, qualquer evento de família (triste ou não - risos) necessitava de uma
logística diferente.
Hoje eu entendo a
preocupação. Imaginem deixar um moleque que saia de sábado com os amigos com o
equivalente a 21 dinheiros no bolso para comer uma pizza e, com o que sobrava,
comprar 3 fichas de fliperama e se divertir (ou perder) no Cavaleiro Negro,
juntando moedas para comprar cigarro solto e, no máximo, voltar para a casa
antes da meia-noite. ‘Texascoara’ (oficialmente Araraquara) não tinha muito o
que se fazer, ainda mais sem grana (risos). A diversão era ouvir discos e, às
sextas-feiras à noite, preparar a fitinha cassete para gravar uns sons de um
programa da rádio de São Carlos, cidade vizinha. Depois melhorou, e a
“capirotagem” (risos) rolou solta, com reflexos até hoje. Mas aí, mais uma vez,
já é outra história...
Consegui que meu irmão
mais velho pagasse uma excursão e ingresso para o show. As viagens para shows sempre
são divertidas. A primeira vez é difícil esquecer. Deu até vergonha de entrar
no ônibus. Bonito, chique e espaçoso. Fiquei com medo de me barrarem por causa
da minha beleza exótica! (risos). Eu não conhecia ninguém. Lá fiz meus
primeiros amigos por causa do Rock & Roll! Fui apresentado a algumas
substâncias diferentes, mas vamos deixar isso para lá (risos).
O primeiro impacto foi
chegar à cidade cinza. São Paulo é sensacional, apesar da sensação de solidão e
da aspereza do concreto. Ver o Estádio do Morumbi se aproximando foi uma
experiência sensorial. Era (é) enorme! Da janela do ônibus, observar a multidão
em êxtase se espremendo para entrar com ajuda “bacana” dos policiais, jogando
cavalos e descendo a ripa nas pessoas (tristeza...), honestamente, deu certo
medo. Porém, ao descer do ônibus e começar a fazer parte da celebração, a
ansiedade diminuiu. Eu iria ver o Kiss! Os caras pintados! Os que sacrificavam
animais no palco! Brincadeira (risos). Rock & Roll! Senti-me no episódio
dos Anos Incríveis, no qual eles estavam procurando o lugar de um suposto show
dos Stones.
Imaginem um moleque do
interior celebrando a vida, o Rock & Roll pela primeira vez! Detroit Rock City, Love Gun, I Love It Loud
(marcou eternamente uma geração!), Cold
Gin e Rock And Roll All Nite
entre outros clássicos, cantados por milhares de pessoas. A sensação era a de
uma festa eterna, de ter se encontrado, finalmente, no planeta, de amar (até
hoje!) não somente um estilo musical (e derivados), mas um estilo de vida! Foi
um choque!
Depois do show, dava para
notar nos rostos das pessoas a felicidade, a comunhão celebrada por um espetáculo
musical e teatral! Restou procurar pelo merchan não-oficial (o Gene deve ter
ficado muito bravo - risos) e trazer para casa uma camiseta feita de saco de
açúcar (risos) e uma faixinha de cabeça... guardadas e conservadas desde o dia
25 de junho de 1983!
Os anos se passaram e
quem vos escreve continua indo a shows e/ou festivais (um pouco menos, agora...
as responsabilidades da vida adulta e o joelhinho deram uma segurada - risos)
gringos ou não. Só quem vive um estilo de vida consegue entender o que é ir a
um show. Não precisa ser grandioso. Das centenas que vi, posso garantir: o
prazer de um mega festival e o show underground da sua cidade tem o mesmo apelo
e valor. Vamos sempre apoiar as bandas underground e a cena local! Celebrar a
música, fazer novos amigos e ter histórias para contar. Fiquem com Deus (ou
não... - risos) Inté!
Nota
do blog: NÃO SERÃO PUBLICADOS COMENTÁRIOS ANÔNIMOS
Adalberto
Belgamo é professor, atuando no museu (sem ser peça... ainda - risos),
colaborador do Arte Metal, além de ser Parmerista, devorador de música boa,
livros, filmes e seriados. Um verdadeiro anarquista fanfarrão.
Simplesmente sensacional! Eu me identifiquei muito com o texto. Parabéns!
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