sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Matanza Inc.: “Se um artista hoje não tem um bom número de ‘odiadores’ pode crer que há algo errado”




Por Adalberto Belgamo
Colaborou Vitor Franceschini

Temos visto muitos “Inc” incorporados (desculpem o trocadilho) em nomes de bandas clássicas. Principalmente naquelas em que houve uma divergência entre os integrantes e todo mundo continua na ativa querendo usar o nome da banda... Esse não é o caso do Matanza Inc., afinal, o antigo Matanza se desfez e encerrou as atividades. Porém, o grupo se inspirou no Venom Inc., grande nome do Metal extremo mundial, que caminha lado a lado com seu homônimo, Venom, só que, obviamente com formações diferentes. Liderado pelo compositor e músico Marco Donida (guitarra), o Matanza Inc. é “um recomeço que dá continuidade” a uma saga construída com muito suor. Lançando o álbum “Crônicas do Post Mortem: Um Guia Para Demônios e Espíritos Obsessores”, a banda caminha com calma (não musicalmente falando) buscando divulgar sua arte com Maurício Nogueira (guitarra), Dony Escobar (baixo) e Jonas Cáffaro (bateria), além do vocalista Vital Cavalcante. Dona conversou com o ARTE METAL e falou deste seu ‘novo’ projeto e muito mais.

O Matanza (inc.) foi formado em 1996. A banda está na ativa, apesar da troca de vocalista, por mais de 20 anos. Como vocês observam a evolução da banda e da própria cena através de mais de duas décadas?
Marco Donida: O Matanza teve uma carreira que eu considero muito bem-sucedida. Foram mais de 20 anos, 7 discos e muita coisa legal que aconteceu. Mas foi uma história que chegou ao fim então penso que o Matanza Inc. seja um recomeço. Sobre a “cena”, acredito que tenha mudado muito porque o mundo de hoje está muito distante daquele em que começamos a banda. Nos anos 90 não havia internet e só por isso entendemos que são mundos completamente diferentes. Por um lado, é muito bom ter todas as facilidades e o alcance da tecnologia, mas por outro perdeu-se muito do contato humano que é indispensável para a arte.

A banda fez parte (ou teve a oportunidade) de contar com o espaço que a MTV dava às bandas independentes, não apenas em programas específicos, mas também na programação da emissora. Qual foi o papel da visibilidade em um canal de TV “alternativo”?
Donida: Tivemos sim uma relação com a MTV, mas eu não acho que tenha sido assim tão relevante pra carreira da banda. Aparecíamos em todos os programas de comédia, mas na programação diária mesmo o que tocava era outra coisa. No DVD por exemplo, tinha o selo MTV, mas foi gravado no Hangar 110, lugar em que já tocávamos há anos. As 500 pessoas que compareceram já eram todas figuras conhecidas dos nossos shows, não ganhamos um especial, nenhum clipe nosso bombou na programação e nós não ficamos ricos... Por isso eu não acho que tenha sido assim tão importante na nossa vida. Pelo contrário, acho que queimou nosso filme.

O acréscimo de Inc. ao nome da banda dá a sensação de mudança. “Crônicas do Post Mortem: Um Guia Para Demônios e Espíritos Obsessores” pode ser considerado o oitavo disco de estúdio da banda? Ou vocês querem se separar do que foi feito até então e começar uma nova história, apesar da linha de trabalho não ter mudado?
Donida: O “Crônicas...” deveria sim ter sido o oitavo disco do Matanza, mas a mudança na formação fez que com o Matanza Inc. se tornasse uma outra banda.  Estamos dando continuidade ao som porque o compositor é o mesmo, e as músicas seguem a mesma proposta, mas definitivamente é um trabalho que tem a sua própria identidade.

Aliás, como chegaram ao Vital Cavalcante e qual foi o principal critério de tê-lo no time? E como está a atual formação?
Donida: O Vital é um amigo de longa data, fizemos UFRJ na mesma época e nos esbarramos muitas vezes pelo underground ao longo dos anos. Chegamos a ele porque precisávamos de um vocalista que tivesse um estilo próprio, muita personalidade e talento pra abrir novas possibilidades à banda. O Vital, além de atender a todos os requisitos, é um cara muito gente boa.



Qual a contribuição de Vital no processo de construção do álbum? Há a intenção de seguir caminhos sonoros diferentes dentro do próprio espectro musical, no qual a banda está inserida?
Donida: Na verdade, o álbum já estava praticamente pronto quando ele entrou na banda. Tivemos que adaptar o material pro tom de voz dele, que é mais alto, então isso deu uma outra onda no som, mas as músicas já existiam. Um disco novo passa sempre por incorporar novos elementos, porque do contrário vai simplesmente repetir algo que já foi feito e isso não tem a menor graça. É preciso manter a identidade da banda, mas sempre buscando novas ideias.

Ao ouvirmos o novo trabalho, temos a sensação de que as composições estão mais perto de alguns trabalhos clássicos da banda como, por exemplo, “Música para beber e brigar” (2003) e a “Arte do insulto” (2006). A troca de vocais influenciou na escolha de arranjos, temas, melodias para a retomada do espírito “pé na porta e soco na cara”, levando-se em consideração que “Pior Cenário Possível” de 2015 (último com Jimmy) passava um clima mais tenso, inclusive liricamente?
Donida: Na verdade, não. O Crônicas reúne os momentos mais pesados e escuros entre tudo o que já fizemos. A participação do Korg (The Mist, ex-Chakal) é um bom exemplo disso. Além do mais, querer que um disco soe como outro do início da carreira seria um retrocesso; seria como abrir mão de fazer algo novo que nos faça crescer enquanto músicos.

Quais as expectativas em relação aos fãs a respeito da nova formação e do trabalho? Há certa preocupação com os mais “xiitas” (risos)?
Donida: Os fãs da nossa música ficaram felizes por continuarmos tocando. Uns mais, outros menos, mas de um modo geral há o entendimento de que música nova sendo feita é uma coisa legal. Temos também muitos ‘odiadores’, mas se um artista hoje não tem um bom número de ‘odiadores’ pode crer que há algo errado.

E como vocês tem sentido o retorno tanto do público quanto da crítica?
Donida: A crítica tem sido muito positiva e estamos felizes com receptividade. Ficamos até surpresos porque não esperávamos muita coisa, na verdade. Só queríamos gravar algumas músicas que estavam prontas para que elas não fossem jogadas fora. Mas o resultado ficou bem legal e muitas pessoas nos dizem isso.

Uma referência importante para o som da banda é o Johnny Cash. Quais outros “country outlaws” podem ser considerados influências?
Donida: A influência mesmo foi Johnny Cash e Willie Nelson, mas nós também ouvíamos muito Merle Haggard, Waylon Jennings, Johnny Paycheck... Mas isso já faz muito tempo!

Em geral, quais são as influências dos integrantes da banda, tendo em vista a amálgama sonora que é o Matanza?
Donida: Poderia dizer que eu e o Maurício somos da “galera do Metal”, Jonas e Dony são mais Rock n’ Roll e o Vital vem ali do Hardcore e Pós-Punk, e você pode realmente ouvir um pouco dessa fórmula no disco, mas a verdade é que todos ouvimos muita coisa diferente e tentamos não nos prender a isso. Estou respondendo a essa entrevista ouvindo Les Baxter, por exemplo.

Há planos para uma turnê, já que a banda sempre foi conhecida pelos numerosos e ótimos shows ao vivo?
Donida: Bem, o Matanza Inc. não alimenta grandes expectativas. Não temos essa pilha de fazer turnês, nem nada muito grande. Temos um álbum para divulgar, mas queremos fazer as coisas com calma, tocar onde der, quando der, numa boa, sem pressão. E mesmo que quiséssemos que fosse de outra forma, o país está num momento muito difícil economicamente e é preciso ser realista quanto a isso.

Para finalizar, gostaríamos que falassem sobre os projetos futuros, incluindo HQs e afins.
Donida: Também não queremos pensar muito em projetos futuros porque acredito que o fim esteja próximo. O grande meteoro vai chegar em breve e nos livrar dessa maldita existência humana. Até lá seguimos fazendo nosso Rock, puxando fumo e bebendo cerveja.

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