Por Adalberto Belgamo
Colaborou Vitor Franceschini
Temos visto muitos “Inc”
incorporados (desculpem o trocadilho) em nomes de bandas clássicas.
Principalmente naquelas em que houve uma divergência entre os integrantes e
todo mundo continua na ativa querendo usar o nome da banda... Esse não é o caso
do Matanza Inc., afinal, o antigo Matanza se desfez e encerrou as atividades.
Porém, o grupo se inspirou no Venom Inc., grande nome do Metal extremo mundial,
que caminha lado a lado com seu homônimo, Venom, só que, obviamente com
formações diferentes. Liderado pelo compositor e músico Marco Donida
(guitarra), o Matanza Inc. é “um recomeço que dá continuidade” a uma saga
construída com muito suor. Lançando o álbum “Crônicas do Post Mortem: Um Guia
Para Demônios e Espíritos Obsessores”, a banda caminha com calma (não
musicalmente falando) buscando divulgar sua arte com Maurício Nogueira (guitarra),
Dony Escobar (baixo) e Jonas Cáffaro (bateria), além do vocalista Vital
Cavalcante. Dona conversou com o ARTE
METAL e falou deste seu ‘novo’ projeto e muito mais.
O Matanza (inc.) foi
formado em 1996. A banda está na ativa, apesar da troca de vocalista, por mais
de 20 anos. Como vocês observam a evolução da banda e da própria cena através
de mais de duas décadas?
Marco
Donida: O Matanza teve uma carreira que eu considero muito
bem-sucedida. Foram mais de 20 anos, 7 discos e muita coisa legal que
aconteceu. Mas foi uma história que chegou ao fim então penso que o Matanza Inc.
seja um recomeço. Sobre a “cena”, acredito que tenha mudado muito porque o
mundo de hoje está muito distante daquele em que começamos a banda. Nos anos 90
não havia internet e só por isso entendemos que são mundos completamente
diferentes. Por um lado, é muito bom ter todas as facilidades e o alcance da
tecnologia, mas por outro perdeu-se muito do contato humano que é indispensável
para a arte.
A banda fez parte (ou
teve a oportunidade) de contar com o espaço que a MTV dava às bandas
independentes, não apenas em programas específicos, mas também na programação
da emissora. Qual foi o papel da visibilidade em um canal de TV “alternativo”?
Donida: Tivemos
sim uma relação com a MTV, mas eu não acho que tenha sido assim tão relevante
pra carreira da banda. Aparecíamos em todos os programas de comédia, mas na
programação diária mesmo o que tocava era outra coisa. No DVD por exemplo,
tinha o selo MTV, mas foi gravado no Hangar 110, lugar em que já tocávamos há
anos. As 500 pessoas que compareceram já eram todas figuras conhecidas dos
nossos shows, não ganhamos um especial, nenhum clipe nosso bombou na
programação e nós não ficamos ricos... Por isso eu não acho que tenha sido
assim tão importante na nossa vida. Pelo contrário, acho que queimou nosso
filme.
O acréscimo de Inc. ao
nome da banda dá a sensação de mudança. “Crônicas do Post Mortem: Um Guia Para
Demônios e Espíritos Obsessores” pode ser considerado o oitavo disco de estúdio
da banda? Ou vocês querem se separar do que foi feito até então e começar uma
nova história, apesar da linha de trabalho não ter mudado?
Donida: O
“Crônicas...” deveria sim ter sido o oitavo disco do Matanza, mas a mudança na
formação fez que com o Matanza Inc. se tornasse uma outra banda. Estamos dando continuidade ao som porque o
compositor é o mesmo, e as músicas seguem a mesma proposta, mas definitivamente
é um trabalho que tem a sua própria identidade.
Aliás, como chegaram ao
Vital Cavalcante e qual foi o principal critério de tê-lo no time? E como está
a atual formação?
Donida: O
Vital é um amigo de longa data, fizemos UFRJ na mesma época e nos esbarramos
muitas vezes pelo underground ao longo dos anos. Chegamos a ele porque
precisávamos de um vocalista que tivesse um estilo próprio, muita personalidade
e talento pra abrir novas possibilidades à banda. O Vital, além de atender a
todos os requisitos, é um cara muito gente boa.
Qual a contribuição de
Vital no processo de construção do álbum? Há a intenção de seguir caminhos
sonoros diferentes dentro do próprio espectro musical, no qual a banda está
inserida?
Donida: Na
verdade, o álbum já estava praticamente pronto quando ele entrou na banda.
Tivemos que adaptar o material pro tom de voz dele, que é mais alto, então isso
deu uma outra onda no som, mas as músicas já existiam. Um disco novo passa
sempre por incorporar novos elementos, porque do contrário vai simplesmente
repetir algo que já foi feito e isso não tem a menor graça. É preciso manter a
identidade da banda, mas sempre buscando novas ideias.
Ao ouvirmos o novo
trabalho, temos a sensação de que as composições estão mais perto de alguns
trabalhos clássicos da banda como, por exemplo, “Música para beber e brigar”
(2003) e a “Arte do insulto” (2006). A troca de vocais influenciou na escolha
de arranjos, temas, melodias para a retomada do espírito “pé na porta e soco na
cara”, levando-se em consideração que “Pior Cenário Possível” de 2015 (último
com Jimmy) passava um clima mais tenso, inclusive liricamente?
Donida: Na
verdade, não. O Crônicas reúne os momentos mais pesados e escuros entre tudo o
que já fizemos. A participação do Korg (The Mist, ex-Chakal) é um bom exemplo
disso. Além do mais, querer que um disco soe como outro do início da carreira
seria um retrocesso; seria como abrir mão de fazer algo novo que nos faça
crescer enquanto músicos.
Quais as expectativas em
relação aos fãs a respeito da nova formação e do trabalho? Há certa preocupação
com os mais “xiitas” (risos)?
Donida: Os
fãs da nossa música ficaram felizes por continuarmos tocando. Uns mais, outros
menos, mas de um modo geral há o entendimento de que música nova sendo feita é
uma coisa legal. Temos também muitos ‘odiadores’, mas se um artista hoje não
tem um bom número de ‘odiadores’ pode crer que há algo errado.
E como vocês tem sentido
o retorno tanto do público quanto da crítica?
Donida: A
crítica tem sido muito positiva e estamos felizes com receptividade. Ficamos
até surpresos porque não esperávamos muita coisa, na verdade. Só queríamos
gravar algumas músicas que estavam prontas para que elas não fossem jogadas
fora. Mas o resultado ficou bem legal e muitas pessoas nos dizem isso.
Uma referência importante
para o som da banda é o Johnny Cash. Quais outros “country outlaws” podem ser
considerados influências?
Donida: A
influência mesmo foi Johnny Cash e Willie Nelson, mas nós também ouvíamos muito
Merle Haggard, Waylon Jennings, Johnny Paycheck... Mas isso já faz muito tempo!
Em geral, quais são as
influências dos integrantes da banda, tendo em vista a amálgama sonora que é o
Matanza?
Donida: Poderia
dizer que eu e o Maurício somos da “galera do Metal”, Jonas e Dony são mais
Rock n’ Roll e o Vital vem ali do Hardcore e Pós-Punk, e você pode realmente
ouvir um pouco dessa fórmula no disco, mas a verdade é que todos ouvimos muita
coisa diferente e tentamos não nos prender a isso. Estou respondendo a essa
entrevista ouvindo Les Baxter, por exemplo.
Há planos para uma turnê,
já que a banda sempre foi conhecida pelos numerosos e ótimos shows ao vivo?
Donida: Bem,
o Matanza Inc. não alimenta grandes expectativas. Não temos essa pilha de fazer
turnês, nem nada muito grande. Temos um álbum para divulgar, mas queremos fazer
as coisas com calma, tocar onde der, quando der, numa boa, sem pressão. E mesmo
que quiséssemos que fosse de outra forma, o país está num momento muito difícil
economicamente e é preciso ser realista quanto a isso.
Para finalizar,
gostaríamos que falassem sobre os projetos futuros, incluindo HQs e afins.
Donida: Também
não queremos pensar muito em projetos futuros porque acredito que o fim esteja
próximo. O grande meteoro vai chegar em breve e nos livrar dessa maldita
existência humana. Até lá seguimos fazendo nosso Rock, puxando fumo e bebendo
cerveja.
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