quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Recomendando biografias




Por Vitor Franceschini

Claro que todo tipo de leitura é bem-vinda, mas não há igual para se mexer com a imaginação do que os livros. A abrangência de reflexões, pensamentos, imaginação e abertura da mente que uma leitura proporciona é inigualável no mundo da arte. Sem contar que expande o vocabulário e melhora a escrita da pessoa, mas estes são aspectos técnicos. Mesmo ler não sendo o mais forte entre os hábitos humanos, principalmente em se tratando de Brasil.

E a leitura é como a música. Há a simples, a leve, a pesada, a que fala das coisas reais, as fictícias, e por aí vai. E entre as que falam sobre a realidade e ficam num aspecto de leve leitura (depende do autor) estão as biografias. Muito contestadas por ‘die hards’ literários (sim, radical tem em todo ramo), as biografias (e/ou autobiografias) nos oferecem aspectos interessantes que nos aproximam tanto de artistas que já conhecemos, quanto dos que não conhecemos. Quando bem escritas então, trazem inclusive aspectos além da vida do biografado, coisas como os momentos políticos e sociais da época em que a vida do sujeito se passa... Inclusive, muito se assemelham à ficção, o quão inacreditável são alguns momentos que apenas o indivíduo biografado viveu.

Este é meu gênero preferido, tanto que perdi as contas das biografias que li na vida, mas o que me vêm à mente no momento (sem mencionar os títulos, que aí já é pedir demais) me lembro de ter lido sobre a vida e o trabalho de nomes como: Garrincha, André Agassi, Nelson Rodrigues, Zilda Mayo, José Carlos Pace, Nelson Piquet, Marcos (goleiro), João Gordo, Jô Soares... enfim.

Mas, nunca li tantas em pouco tempo como as quatro últimas que li no último semestre, acredito que no ano foram umas sete ou oito. Nada assíduo, ok, mas no mundo dinâmico em que vivemos, e se contar os outros gêneros e formatos que leio, está de bom tamanho. Aliás, o ano nem terminou ainda. Bom, e também o que importa? (risos)

Pois, bem venho por meio deste recomendar estas quatro últimas, porque foi uma sequência 100% de qualidade e satisfação. A primeira delas ganhei de presente de um amigo que, creio eu, mal sabia que eu pouco conhecia do artista. Mesmo assim, claro que fui ler, e o grau de superação de expectativas neste caso é bem maior.

Trata-se de “James Brown - Sua Vida - Sua Música”, de R.J. Smith (Editora Leya). O artista dispensa apresentações, mas sua história de vida, que em muitos momentos merece vaia, aliás, é de prender e aprender. Muito bem escrita pelo autor (que ‘só’ é editor sênior da Los Angeles magazine e colunista da The Village Voice. Já contribuiu para veículos como GQ, The New York Times Magazine e Men’s Vogue), traz uma leitura de média dificuldade, e aspectos como lutas políticas e sociais, muito bem ambientadas durante a vida do biografado. O mais legal é que influência a buscar pela arte do autor, mas não muito a admirá-lo como pessoa, o que aproxima ainda mais os relatos da verdade. Obra prima.

As outras duas são curtas como a música feita pelos seus integrantes. Ambas, autobiografias, com poucas colaborações, “Commando: A Autobiografia de Johnny Ramone” (Editora Leya) e “Coração Envenenado: Minha Vida Com Os Ramones” (Editora Barracuda), esta última escrita pelo baixista Dee Dee Ramone, mostram cada uma com a visão de seu autor, a vida conjunta excêntrica do grupo, além das vidas pessoais. O primeiro mesmo com seu ar autoritário e conservador (essencial para comandar a carreira dos Ramones), mostra a distinção do que era a própria vida do mesmo com a história da maior banda de Punk Rock de todos os tempos. Já o segundo, um ‘junkie a longo prazo’, já tinha uma vida que se aproximava mais da essência do Rock and Roll e do que era relatado nas composições do grupo, afinal, Dee Dee era o principal letrista da banda. Ambas curtas e de fácil leitura.

A última, também uma autobiografia, é “Paul Stanley: Uma Vida Sem Máscaras” (Editora Belas Letras), onde o que surpreende é a capacidade de escrever que Paul, líder e guitarrista do Kiss, mostra (também!). Músico e compositor consagrado, pintor de qualidade, o cara ainda se revela um ótimo escritor, pelo menos para contar sua própria história. A leitura é a mais leve e encantadora de todas, mostrando superação e um dom para evoluir tanto profissionalmente, quanto como pessoa, visto em poucos.

Bom, o intuito aqui era este mesmo, recomendar as últimas biografias que li, que foram leituras tão prazerosas que resolvi compartilhá-las. Ah, pelo que vi na internet os livros são fáceis de encontrar e por bons preços. No mais, criem esse hábito de ler e se você já o tem, mantenha-o.

*Vitor Franceschini é editor do ARTE METAL, jornalista graduado, palmeirense e headbanger que ama música em geral, principalmente a boa. Faz tempo que tenta escrever uma autobiografia, mas acha que não significa nada para tanto.

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