Por Vitor Franceschini
Assim que se formou, a
banda Dagor Sorhdeam já entrou em estúdio para gravar seu debut, “Fog of War”,
em 2019. Tudo tão rápido, mas bem planejado, já que o conteúdo do álbum é rico
e traz o Power Metal numa performance arrebatadora e criativa, além de
extremamente equilibrada. Não bastasse isso, temas inteligentes e uma
inspiração que vem lá de dentro complementam o trabalho. Formado por Gus Castro
(vocal), Fe Nabhan (teclados/Orquestrações), Bruno Sena (baixo/guitarra) e Alex
Cristopher (bateria), a banda já deu um importante pontapé inicial. Quem fala
com o ARTE METAL é Nabhan, que conta tudo e um pouco mais sobre este início e o
primeiro disco.
Primeiramente
eu gostaria que você falasse de como surgiu o Dagor Sorhdeam, o significado do
nome e a proposta inicial da banda?
Fe
Nabhan: A Dagor Sorhdeam surgiu no começo de 2019 quando o
nosso produtor, Thiago Bianchi, formou um time para as gravações do nosso
primeiro álbum: “Fog of War”. A ideia inicial era formar uma banda de Power
Metal com vocais mais graves, orquestrações, peso e refrãos marcantes. O nome
da banda tem um significado, sem dúvida, mas mantemos em segredo. Convidamos
todos para tentar adivinhar e ganhar produtos da banda. É uma forma que
encontramos para aumentar a interação com o público.
Apesar
de terem surgido em 2019, vocês são músicos com certa bagagem. Mesmo assim, o
lançamento do primeiro álbum já no mesmo ano é bem rápido. Acredito que muita
coisa de “Fog of War” (2019) estava pronta antes mesmo da banda se formar?
Fe: Verdade.
Eu já tinha o conceito do álbum e a estrutura das músicas, mas o que fez a
diferença foi a contribuição de todos os músicos da banda com suas ideias e
técnicas para o desenvolvimento dessa sonoridade. Eu confiei totalmente na
primeira versão apresentada por todos, que certamente viria com uma certa
isenção musical. Esse desapego com formas ou estilos trouxe uma identidade
própria para o nosso som, já que cada um da banda tem seu estilo musical
preferido. O uso da primeira versão também foi útil para um processo mais
vertical na tomada de decisões, o que certamente agilizou as gravações.
Falando
nisso, parte do processo de composição do disco foi feito enquanto você estava
como acompanhante de um paciente em um hospital. Eu gostaria que falasse um pouco
mais sobre este processo, que está focado nas letras. Como foi se inspirar,
refletir e compor desta forma?
Fe: Eu
fiquei tantos meses no hospital que passei a questionar a nossa fragilidade
enquanto ser humano. A percepção de que somos perecíveis e que tudo pode mudar
da noite para o dia me fez vivenciar de forma mais intensa as incertezas que
nos cercam sobre a família, o trabalho... o futuro. Esta vivência foi uma
influência direta para a composição das letras em “Fog of War”.
Aliás,
as letras trazem histórias fictícias, porém baseadas em batalhas e invasões
reais. São adaptações na verdade. Fale um pouco sobre isso. De como chegou a
essa ideia e como foi desenvolvê-las?
Fe:
O
Power Metal quase sempre esteve conectado com ficção científica, história e
guerras e nada mais incerto do que uma guerra, por isso a escolha do tema.
Veja, em Sur la Terre os soldados tem
que decidir se saem ou não da trincheira. Em Downfall um kamikaze tem a obrigação de se atirar um navio inimigo,
mas não quer. Em Voluntários da Pátria
o almirante deve decidir se abarroa sua frota inteira, ou não. Em The Rise of the Phoenix, novamente a
incerteza de abandonar o lar para novas conquistas. The Five Great é sobre o uso de uma bússola em uma batalha entre os
reinos guerreiros da China. Battle of Ice
põe em cheque a decisão do herói russo Alexander Nevsky em atacar sobre um lago
congelado. Point of no Return é
basicamente sobre o insuportável trauma de guerra e Algor Mortis, talvez a mais densa do álbum, fala sobre o sacrifício
de um pai no fronte oriental da 2WW. Decisões e incertezas.
Aliás,
apesar de o disco não ser conceitual, o nome do trabalho traz um conceito.
Gostaria que falasse sobre isso também.
Fe: Já
sabíamos que queríamos falar sobre incertezas em um contexto de deflagração
bélica. Faltava uma base consagrada para amarrar todo esse conceito. Esta base
encontramos no livro “Da Guerra” ou “Vom Kriege”, no original. Este livro é um
tratado sobre guerras escrito pelo general prussiano Carl von Clausewitz. A
expressão “Fog of War” popularizada por Clausewitz neste livro indica a nuvem
de incertezas que envolve um conflito antes de ele eclodir. Também é possível
encontrar os nomes dos capítulos do livro: “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu, em
cada música. E aqui é a primeira vez que revelamos isso!
Partindo
pra parte sonora, musical... Vocês estão inseridos dentro do Power Metal. É um
estilo extremamente explorado. No entanto, o Dagor Sohrdeam consegue fazer com
que seu som não soe saturado, pelo contrário. Apesar de alguns clichês, é uma
sonoridade que parece renovada, que traz identidade. Era isso que vocês estavam
buscando?
Fe: A
influência musical é muito importante para a composição de um som, mas é
fundamental que a gente busque uma identidade sonora e que se mantenha fiel a
ela o tempo em que for relevante ser fiel a ela. É muito legal a gente ouvir um
riff de baixo tipo Iron Maiden, ou um arranjo de teclado tipo Nightwish, uma
cantora tipo Tarja Turunen ou até um guitarrista que lembra o Devin Townsend.
Se tentarmos copiar padrões dificilmente vamos superar os originais. Por isso,
embora não tivéssemos muita noção de como poderia soar o álbum, buscamos sair
do padrão. Acredito que o uso das primeiras versões para a montagem das músicas
contribuiu para isso acontecer.
O
peso é outro fator preponderante em “Fog Of War”. O estilo geralmente equilibra
ou até perde neste quesito. Já vocês parecem fazer questão se soarem mais
densos. Isso foi natural ou algo que buscaram?
Fe: Imaginamos
que o fato de “Fog of War” possuir músicas com refrãos mais melódicos, mais
marcantes, deveríamos compensar isso com mais peso que é o que motiva o público
do Metal. Mas claro que o peso e equilíbrio são fruto do equipamento utilizado,
do estúdio de gravação e fundamentalmente do produtor musical e sua equipe.
Mesmo
assim, vocês conseguem inserir orquestrações mantendo o equilíbrio entre os
elementos. Como é encaixar essa ‘pompa’ ao disco e continuar soando agressivo?
Enfim, qual é essa fórmula?
Fe:
Em
um som com muitos elementos, com muitas texturas, é fundamental que os
instrumentos não briguem entre si para que não ocorra interferência entre as
frequências sonoras. Para isso é importante, durante o processo de composição,
que cada instrumento brilhe quando deve, mesmo que isso signifique a edição e o
corte de partes da música.
Acredito
que a contribuição de Thiago Bianchi (Noturnall) foi fundamental pra isso. Como
chegaram até ele e como foi trabalhar com Bianchi? O resultado foi o esperado?
Fe:
Sem
dúvida. Ele é o grande maestro por trás do projeto que somente atingiu as
expectativas graças a sua bagagem, o seu profissionalismo e o seu
comprometimento com a qualidade e o alto nível técnico. Eu conheci o Thiago
quando entrei em contato com o estúdio Fusão para cotar a produção do “Fog of
War”. Ele topou na hora encabeçar o projeto, o que foi muito legal e nos deu
muita confiança para seguir em frente.
E
como “Fog of War” tem sido recebido pelo público e mídia, sendo que vocês vêm
trabalhando de forma independente? Algum sinal do exterior?
Fe:
Por
incrível que pareça nós ainda não contratamos assessoria para ajudar na
divulgação do álbum e no agendamento de shows. Estamos estruturando a banda com
site, mídias sociais, serviços de stream e loja virtual. As pessoas que acessam
o álbum têm dado um retorno muito positivo o que nos encoraja a ir além. Também
imprimimos alguns CDs, que estão com uma procura acima do esperado no exterior,
principalmente na Europa. Buscamos incrementar uma base sólida de fãs para
banda, com fundamentos que permitam voos mais altos no futuro.
Infelizmente,
enquanto fazemos essa entrevista estamos vivendo uma pandemia, causando um
isolamento que nossa geração e outras nunca viveram. Portanto acredito que
houve várias mudanças de planos da banda na forma de divulgar o trabalho. Como
vocês estão planejando isso?
Fe: Sim,
é um fato inédito para nós que está afetando o nosso cotidiano e vai, ainda,
deixar passivos mesmo depois de acabar. Claramente isso afetou a nossa
programação que incluía novas versões para as músicas, videoclipe e agenda de
shows. Porém, o momento agora é de se cuidar e cuidar dos seus familiares,
tentando tirar o melhor proveito possível da situação.
Muito
obrigado pela entrevista. Podem deixar um recado aos leitores.
Fe:
Muito
obrigado a todas as pessoas que nos seguem, nos apoiam, e curtem o nosso som.
Obrigado especial ao ARTE METAL. O que vocês fazem pelo Metal nacional é muito
bonito e especial. O apoio de vocês é fundamental para a cena metal e torna
nossa comunidade mais forte. E juntos, somos fortes.
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