Por Adalberto Belgamo
Vamos deixar algumas
coisas claras. Matar um urso, mesmo que “alguns” chamem de esporte? Sou contra,
mas nunca deixaria de ouvir uma banda, que conheço e sou fã há quase quatro
décadas, por isso. É algo intrínseco em uma parte da cultura estadunidense.
Também sou contra a posse de armas por “lunáticos”, mas não é esse o cerne do
texto.
Colecionar obras de arte
e ter uma vida ostentação? O que eu tenho a ver com isso? Fizeram um vídeo com
“selinho”? Não sou fiscal de bunda. Cada um na sua. Coleciona objetos de terror
clássico? Assim eu tivesse “cascaio” para fazer o mesmo! (risos)
Publicamente, nunca li (e
olha que leio muito!) ou ouvi aberrações misóginas, racistas e afins, muito
menos analisando e interpretando as letras. A intenção do texto é a de se
concentrar na produção musical em estúdio. E só.
Conheci a banda em 84 por
meio de uma fita cassete, enviada por um amigo. “Kill’Em All” (1983). Devido à péssima
qualidade da gravação (deveria ser a enésima vez que a fita original fora
copiada - risos), percebi algo novo na cena da música pesada. Não era os anos
70, muito menos o Hair Metal dos anos 80.
Tempos depois, escutei o
trabalho em um registro muito (mas muito) melhor. Apaixonante! Geração “Fuck
Off”! Calça agarradinha (não confundir com o atual governador do Estado de SP! risos),
tênis cano alto. Sensação de pertencimento!
Tive a sorte de ter essa
sensação em dois momentos da vida: Thrash Metal dos anos 80 e movimento musical
de Seattle, que alguns chamam de Grunge. No final dos anos 80, nem as bandas se
consideravam Grunge. Acredito que nem sabiam o que era isso (risos).
Por que considero o
Metallica a banda pioneira na cena Thrash Metal, apesar de outras, que estavam
lançando e desenvolvendo projetos parecidos? "Antes do “Kill...”, havia
bandas tocando rápido (Speed Metal). No entanto, apesar da velocidade e do
peso, ainda faltava algo: a agressividade. Então, depois de muito pesquisar e
pensar a respeito, considero (não sou a voz da razão, claro) o Metallica os
criadores do estilo.
Em 84, tive a
oportunidade de (ai sim!) ouvir o “Ride The Lighting” (1984) em uma qualidade
muito boa, ainda que em “fitinha”. Foi um soco no estômago, uma tapa na cara,
uma rasteira e um peteleco nos bagos (risos).
Eles conseguiram juntar
NWOBHM/Metal Clássico, velocidade e a agressividade do Hardocre/Punk.
Misturaram tudo e com uma criatividade fora do comum fizeram o álbum que, na
opinião de quem vos escreve, sintetiza toda a geração dos anos 80, quando
falamos em Thrash Metal.
“Ah, mas o Exodus e o
Slayer?”. Sensacionais também! Mas com concepções diferentes. “Mas e o “Master
of Puppets” (1986), considerado a obra-prima dos caras?”. Concordo, mas o “Ride...”
tem um valor afetivo especial.
O “Master...” sintetiza
toda a genialidade musical do Cliff Burton e a exuberância em compor riffs do
James. É um álbum impecável! Musicalmente e liricamente é o ápice da banda. Naquele
momento, especulava-se que o underground já não seria mais o “suficiente” para a
banda e, provavelmente, mesmo com a morte do Cliff, eles teriam de fazer uma
escolha. Continuar a se rebelar contra o ‘mainstream’, ou conquistá-lo sem
abrir muitas exceções?
O “And Justice For All”
(1988) já era uma “dica” de qual o caminho a banda escolheria, inclusive já
como uma “prévia”, principalmente na concepção das canções do que seria o Black
álbum (“Metallica”, de 1991). Tive a oportunidade de ver a turnê do disco.
Surreal! Ainda mantinham
as mesmas crenças do início da carreira, ao mesmo tempo em que o
profissionalismo e o “business” entravam em cena para ficar de vez por todas.
Ainda era Metallica, mas com os olhos voltados para o futuro. Fizeram um clipe,
tipo de coisa inimaginável até então. Isso não quer dizer que não haja
profissionalismo no undreground, muito pelo contrário. Mas podemos “dizer” que
é bem diferente tocar para públicos pequenos e médios e, de repente, tornar-se
headliner de grandes festivais e ver aumentar a exposição na mídia “não
especializada”.
Black álbum, o traidor do
movimento! (risos) Um baita disco! Sim, um baita disco! A produção é algo fora
do comum. O som da bateria, a compressão das guitarras e o peso do baixo
dificilmente serão repetidos na história da música pesada, nem pela própria
banda.
É um trabalho, que divide
perfeitamente os anos 80 dos 90. Disco mais denso e lento. Incorporaram
influências, que passavam despercebidas, mas sempre estiveram com a banda. Se o
Cliff Burton estivesse vivo e ainda fizesse parte da banda, com certeza, muitos
arranjos teriam a cara dele, devido à diversidade musical pela qual ele era
apaixonado.
Criativamente falando, o
James provou que é um dos maiores “riff masters” da história do Metal, pois ele
deixa a velocidade de lado e se concentra mais no peso. Não que os trabalhos
anteriores não tivessem peso, lógico.
Há algo de Rock
Clássico/Southern presente, mas com um peso descomunal, que veio à tona devido
à produção. Eles finalmente, mesmo com outros movimentos musicais com mais
destaque na época, entram de sola no maistream.
Se foi algo bom ou não,
cada um que faça o próprio julgamento. Alguns acusam a banda de ter virado as
costas para o passado, inclusive para outras bandas e, portanto, não as
ajudando a atingir o mesmo status.
“Load” (1996) e “Re-load”
(1997). Por incrível que pareça para alguns, não são trabalhos horríveis.
Talvez, um pouco sem inspiração e criatividade. A impressão é que eles decidiram
entrar um pouco mais no campo do Southern/Rock Clássico, ao mesmo tempo em que tentavam
se encaixar nas tendências da época.
A questão é simples.
Assim como o poder fascina ideologias políticas (direita, centro, esquerda,
côncavo, convexo - risos), a fama contamina e abre novas perspectivas de vida
(financeiras, inclusive), as quais eles (com exceção do Lars - risos) nunca imaginariam
alcançar. Há as questões da maturidade, responsabilidades familiares e afins,
também.
A impressão que se tinha
era a de uma banda nova, influenciada pelo Metallica do ‘Black álbum’, mas com
uma “pegada” atirando parra todos os lados. No final, foram álbuns importantes
para construir uma nova base de fãs, principalmente da geração MTV que,
consequentemente, acabou conhecendo a discografia “oitentista”, anterior ao ‘Black
álbum’.
Se já torciam o nariz
para o ‘Black álbum’, imaginem para a fase “Load”? (risos) E eis que surge,
então, o “St. Anger” (2003). Riffs e melodias mal aproveitadas e uma produção
horrível (a bateria parece uma pipoqueira! - risos). Se queriam ser Nu Metal,
que fizessem direito. Mas com umas quatro ou cinco garrafas de cerveja na
cabeça... ainda assim fica difícil. Se os criadores não tocam no assunto, quem
sou eu para discordar? Sem mais.
“Death Magnetic” (2008) e “Hardwired... to
Self-Destruct” (2016). Bons álbuns. Apesar de não chegarem aos
pés da época, que tentaram emular (anos 80), são trabalhos pelo menos honestos.
Ouvindo, dá para perceber que optaram por um formato não apelativo. Tentaram
resgatar os fãs mais críticos e, sinceramente, conseguiram. Acredita-se que
seguirão esse caminho, mas tudo é possível (risos).
Ainda há os outros álbuns
(“Lulu”, “S&M I e II”, etc.), mas, apesar de interessantes, não fazem parte
da discografia de estúdio da banda. Independente das “fases”, não tem como
desconsiderar uma discografia tão importante e muito menos “cancelar” (tendência
atual, pertinente em alguns casos) a banda por fatores “extracampo”
reprováveis, mas bem longe do genocídio de mais de 350.000 mil pessoas.
Inté
*Adalberto Belgamo é
professor, atuando no museu (sem ser peça... ainda - risos), colaborador do
Arte Metal, além de ser Parmerista, devorador de música boa, livros, filmes e seriados.
Um verdadeiro anarquista fanfarrão.
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