quarta-feira, 21 de abril de 2021

Sem Textão: Metal diversão: parece que foi ontem, mas lá se foram 20 anos (ou mais)



Por Vitor Franceschini

 

O Metal e o ‘metaleiro’ (falo assim, e pouco me importo se você acha ruim) é nostálgico. Às vezes até demais. Porém, nem sempre isso é ruim. Se a gente souber lidar com o passado, preservando o presente e valorizando o futuro, isso é totalmente viável e prazeroso. Afinal, não tem como não sentir saudade das coisas boas que se foram, muito menos deixar de viver o agora e nos prepararmos para o amanhã.

Revirando meu bagunçado arquivo de publicações, certa hora tive que ir ao banheiro (desculpe os detalhes, mas tem que ser dito), passei a mão em uma revista, sem ver, até porque não uso smartphone sentado no vaso, e fui cumprir minhas necessidades. Até que olhei para a capa e o ano, quando pensei: “poxa, essa não é tão velha assim, queria ler uma mais velha”.

Eis que, pro meu espanto, calculei, e lá se foram mais de 20 anos desde aquela edição, que era mais precisamente de novembro de 2000. Trata-se de uma tradicional Rock Brigade, talvez no final de seu auge. Falando em auge, pela capa (na foto acima), nota-se como o Power Metal estava estourando. O Rhapsody (hoje Rhapsody of Fire, que na época eu tinha pavor) estampa a capa, com os destaques sendo o Hammerfall e os pais disso tudo, o Helloween. O pôster vinha com o Symphony X, ícone da mescla Prog/Power Metal, e nos anúncios cartazes de shows de fenômenos italianos do estilo como Labyrinth e Vision Divine, convocando o público para a invasão italiana.

Pois bem, voltando ao assunto ‘nostalgia’, no Heavy Metal se celebra muito os anos 80 e com razão. Pois foi rica para o estilo, atingiu o ‘mainstream’ e cresceu junto com o surgimento da MTV e dos videoclipes. Além disso, foi uma era de troca intensa de material e de uma tecnologia (K7, vinil) que perdura até hoje e envolve todo um ritual para se consumir música.

Mas, além dos anos 90 como um todo, o início dos anos 2000 também traz ótimas lembranças. Ainda não vivíamos a era das redes sociais, apesar dos fóruns em sites especializados começarem a gatinhar por aqui. Então, ainda havia o alto consumo de material físico e trocas de fitas (famosas ‘trade tapes’) e muita correspondência.

Falando nisso, na mesma edição da revista que folheei, fui direto para as cartas. Lá, em letras minúsculas, os editores davam espaço para fóruns sem assuntos específicos e o negócio era extremamente hilário. Tretas que duravam edições, imagina só, o sujeito intimando uma galera e a resposta vindo somente na edição seguinte, quando vinha. Coisa do tipo: “o cara que escreveu tal assunto na edição passada, mora na minha cidade, é um poser, começou a ouvir som ontem”, João da Silva de Pindamonhangaba/SP. Ou algo como “Eu queria conhecer a Suzie que disse que gosta do Bon Jovi na edição de agosto”, Manoel Souza de Macaé/RJ... Isso tudo num material impresso. Sensacional!

Sem contar a seção de correspondências (do qual participei e muito na época, preservando contatos até hoje, só que pelas redes sociais). Nela, anúncios do tipo: “Sou amante das trevas e ouço Katatonia, Paradise Lost e afins, se você curte esses sons e gosta de tomar vinho no cemitério, encontrou a pessoa certa. Mas somente para amizade!”, Mônica Pires, Salvador/BA. Ou, “O Punk vai salvar o mundo, curto sons como Cólera, GBH e Greem Day, se você quer salvar o mundo comigo, entre em contato”, José Pereira, Rio Branco/AC. Tudo com direito a endereços residenciais, sem medo de ser feliz.

Na seção negócios, os anúncios de trocas de K7, CD´s e LP’s, além de prestações de serviços, desde gravações caseiras, passando por luthieria, entre outros. Também tinha a seção de bandas, para contatos imediatos e afins. Uma época mágica, onde, apesar do distanciamento da situação político/social dos cidadãos, as coisas eram mais pacíficas e menos polarizadas, neste último caso, muito menos.

Enfim, esse texto foi só para relatar isso mesmo, mas também para ponderar um pouco as coisas, além de valorizar o passado. Os tempos mudam, as coisas se adaptam, mas a grande maioria de nós humanos, neste mundo, somos sobreviventes e dependemos muito uns dos outros, por isso respeito, caráter e tolerância são fundamentais, principalmente em tempos caóticos, onde o ódio ganhou vozes intensas, inclusive no poder.

 

Obs.: os nomes das pessoas aqui mencionados são fictícios.

 

*Vitor Franceschini é editor do ARTE Metal, jornalista graduado, palmeirense e headbanger que ama música em geral, principalmente a boa. Na época editava o fanzine Goredeath Zine.

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