Texto e fotos: Adalberto Belgamo
Arte é arte. Música é
arte, mas há outras formas de manifestações artísticas, incluindo o próprio
patrimônio cultural, físico ou não.
‘Texascoara’ (Araraquara/SP)
sempre foi privilegiada em relação à cultura. Independentemente de ideologia
política, a cidade sempre tem eventos culturais. Algumas vezes mais; outras
menos. Também é uma cidade com certo conservadorismo (não confundir com extrema
imbecilidade de pessoas, que são os experts formados em redes sociais por meio
de textos de 140 caracteres e vídeos de cinco minutos), mas nunca foi um
empecilho para a efervescência cultural, falando especificamente no período de
pós redemocratização.
Há três universidades,
entre pública e privadas, que colaboram para a disseminação da cultura. Eventos
e PPP (Parcerias Público Privada) fomentam os diferentes “paladares”. Além das instituições
de ensino, contamos também com o SESC e
o SESI (o sistema S, que o
desgoverno quer destruir) com importantes contribuições para todos os tipos de
arte. Teatros, shows, exposições e outros “petiscos” ao alcance de todos. Só
não vai quem prefere ficar em casa brigando na internet por causa de “cuecas”
(risos). Os eventos são gratuitos ou, quando muito, é cobrado um valor mínimo
simbólico.
Há diversos coletivos
independentes (a Associação da Praça das
Bandeiras, por exemplo), que também contribuem para que a cultura se
estabeleça e se ramifique pela cidade.
E o poder público?
Forte, atuante e livre de
amarras ideológicas. Todos são contemplados em editais e concursos culturais.
Ademais, Secretaria de Cultura, Fundart
Gerência dos Museus e Patrimônio Histórico
estão sempre atuantes e fazem “milagres” com o orçamento destinado.
Festivais musicais,
teatro, artes plásticas, cinema (audiovisual), oficinas culturais e cursos não
ficam presos no centro da cidade. Ao contrário, são levados a todos os pontos
da cidade, contemplando a população toda.
Acontecem anualmente o Araraquara Rock, Território da Arte, Semana
Luiz Antonio Martinez Correa e
Festival Internacional de Dança, entre outros eventos também
importantíssimos. Por falar em importância, a cidade deu para o mundo Inácio de Loyola Brandão. Zé Celso e o Oficina e, mais
recentemente, a Liniker. São tantas
as contribuições, que outros nomes importantes em vários aspectos da sociedade
ficarão de fora, pois o texto pode virar uma página de lista telefônica (se
ainda existir – risos). No entanto, não podemos esquecer que “Macunaíma” de Mário de Andrade foi escrito na cidade, inclusive em uma chácara –
hoje patrimônio histórico e cultural –, que virou polo de estudos e visitas.
A cidade possui cinco
museus (Histórico e Pedagógico,
Ferroviário, Imagem e Som, Esporte e Museu de Arqueologia e Paleontologia),
além de uma biblioteca riquíssima e arquivo histórico inigualável. Outros
aparelhos culturais são igualmente importantes, como os Teatros Municipal e Wallace,
Centro de Artes Judith Lauand, a Escola Municipal de Dança Iracema Nogueira
e, logicamente, a Casa da Cultura.
E
onde o Inloco se encaixa em tudo isso?
“Arte” Metal. No último
dia 26, ocorreu a Primavera nos Museus.
O ressurgimento de um importante ato educativo, cultural e patrimonial. Museus
não são apenas espaços de resguardo de objetos antigos. Fazem parte do
patrimônio. São lugares de pesquisa, visitação e, acima tudo, reflexão.
Refletir sobre o presente e o futuro, tendo como ponto de partida não apenas os
objetos do passado, mas o aspecto cultural e humano contidos em cada peça,
inclusive aguçando a afetividade que tais objetos e lugares provocam nas
pessoas.
O patrimônio histórico
está sempre em evolução, agregando principalmente “afetividade” que objetos,
lugares e sentimentos nos transmitem. Mesmo de férias, não pude deixar de
participar desse momento de diálogos entre espaços históricos e pessoas. Foi
uma via sacra cultural (risos).
Os museus escolhidos
foram os que estão no centro histórico (velho, antigo, etc.) da cidade. Antes
de mais nada, tenho uma ligação afetiva muito grande com esse território.
Infância, adolescência e parte da fase adulta vividas pelas calçadas e prédios
históricos da cidade. O pessoal “redbengui”, por vários anos, se reunia em
frente ao Museu Histórico para falar de música e ver a vida passar.
O primeiro local foi o
Museu Ferroviário na antiga estação de trem (imagina... de avião - risos).
Lugar maravilhoso! Antes da pandemia, houve o Festival Delas só com bandas
femininas. Eskrota e As Mercenárias foram as atrações principais.
No domingo, estava
presente a Biblioteca Municipal com troca de livros, além de poetas locais.
Como é lindo ver famílias inteiras saírem com leituras prazerosas nas mãos! Ferromodelismo
e objetos centenários ligados ao local nos fazem sentir saudade dos trens como
meio de transporte! Por que acabaram? Pergunta retórica.
A parte musical ficou a
cargo do DJ Sam, Véio para os íntimos (risos). Como sempre, soube sentir o
ambiente e presenteou o público com diferentes ritmos e estilos da MPB
(clássica e atual), Soul, Rap, Rock e um monte de coisas boas!
Além de “dejota”, também
participa de feiras de vinis e CDs. Claro que sai com novas aquisições (risos).
Brutal Truth e Slaughter para despertar o Casco Rachado e Sir Paul McCartney
para acalmar o Besta Fera! (risos).
Depois de conversas com
amigos, bateu aquele fominha marota, pois já passava do meio-dia. A solução foi
comer comidinhas árabes da Família Gibran, que estava como a Kombosa estilosa
cheia de quitutes e cerveja no Museu Histórico.
Disco e CDs na mão e
devidamente paramentado com uma joelheira (risos), fui a pé (mas também não
dirijo – risos) ao Histórico, no qual já trabalhei.
Lá chegando, deparei-me
com uma feira maravilhosa de artesanato e outras artes plásticas. Dois anos
dificeis praticamente sem colocar uma gota de álcool no organismo. Estava
precisando de um descarrego (risos). Além da comidinha gostosa, os amigos e
papos com o pessoal do museu, desceram algumas latinhas (poucas) para o meu
estômago. Resultado: achei que estava em algum festival e entrei bebendo nos
espaços públicos. Vou levar um PAD (Processo Administrativo)! (risos). Fiquei
“locaço”! (risos).
O que fazer? Dar um tempo
e se recompor. Ainda faltava o meu local de trabalho para visitar. Uma chuva
estava chegando e, então, resolvi descer mais cedo. Os locais são muito
próximos.
Araraquara é um museu a
céu aberto. É conhecida mundialmente pelas pegadas de dinossauros e outros
mamíferos de milhões (mas milhões!) de anos atrás.
O MAPA – Museu de
Arqueologia e Paleontologia de Araraquara – está localizado no Boulevard dos
Oitis (lindo!). Fica bem no centro histórico da cidade, ocupando um imóvel que,
entre outras coisas, foi um conservatório musical, no qual estudei violão
clássico por uns anos. Sim, trabalho lá por ser o único dinossauro que escapou
da quinta extinção (estamos indo para a sexta). O único da espécie, que
adquiriu as habilidades da fala! (riso).
Na parte da manhã, houve
uma atividade voltada para as pegadas (ou icnofósseis), que estão demarcadas em
partes das calçadas da rua. No entanto, elas estão em vários locais do
município.
O museu é divido entre a
arqueologia e paleontologia.
Os viveres e culturas dos
primeiros povos, que habitaram a região antes do “achamento” do Brasil (na
realidade, no mínimo, 11000 anos antes) podem ser vistos no espaço da
arqueologia. Há objetos de pedra lascada, vasos de cerâmicas, urnas mortuárias
e outras coisas ligadas aos grupos nômades e às nações e/ou povos indígenas,
que perambularam e se estabeleceram na região por um período de tempo.
Na paleontologia, podemos
encontrar as famosas pegadas em lajes, que foram retiradas das calçadas, além
de material vasto e interessantíssimo sobre os seres que habitavam a região,
quando ainda ela era apenas um deserto por onde transitavam dinossauros e
outros mamíferos. Ah, apenas nos filmes os dinossauros e os homens convivem no
mesmo ambiente.
O museu conta com a
parceria técnica e especializada da Fundação Araporã para resguardo,
preservação e ações educativas e culturais.
Depois de bater um papo
com a amiga do trabalho e acabar uma lata de cerveja (sim, vou levar um PAD!
Risos), desci pra casa, contemplando o patrimônio da cidade. Quantas
lembranças...
Vale lembrar que todas as
atividades foram gratuitas e respeitaram as normas sanitárias. A pandemia ainda
não acabou!
Parabéns e obrigado à
Secretaria de Cultura, Gerência dos Museus, Coordenação do Patrimônio,
Biblioteca Municipal, servidores dos espaços (guerreiros!), imprensa e, em
especial, o público que compareceu!
Inté! Estou voltando para
minhas férias! Fui!
*Adalberto Belgamo é
professor, atuando no museu (sem ser peça... ainda - risos), colaborador do
Arte Metal, além de ser Parmerista, devorador de música boa, livros, filmes e
seriados. Um verdadeiro anarquista fanfarrão.
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