terça-feira, 28 de setembro de 2021

In Lo(u)co: Um Inloco diferente, mas nem tanto...

 


Texto e fotos: Adalberto Belgamo

 

Arte é arte. Música é arte, mas há outras formas de manifestações artísticas, incluindo o próprio patrimônio cultural, físico ou não.

‘Texascoara’ (Araraquara/SP) sempre foi privilegiada em relação à cultura. Independentemente de ideologia política, a cidade sempre tem eventos culturais. Algumas vezes mais; outras menos. Também é uma cidade com certo conservadorismo (não confundir com extrema imbecilidade de pessoas, que são os experts formados em redes sociais por meio de textos de 140 caracteres e vídeos de cinco minutos), mas nunca foi um empecilho para a efervescência cultural, falando especificamente no período de pós redemocratização.

Há três universidades, entre pública e privadas, que colaboram para a disseminação da cultura. Eventos e PPP (Parcerias Público Privada) fomentam os diferentes “paladares”. Além das instituições de ensino, contamos também com o SESC e o SESI (o sistema S, que o desgoverno quer destruir) com importantes contribuições para todos os tipos de arte. Teatros, shows, exposições e outros “petiscos” ao alcance de todos. Só não vai quem prefere ficar em casa brigando na internet por causa de “cuecas” (risos). Os eventos são gratuitos ou, quando muito, é cobrado um valor mínimo simbólico.

Há diversos coletivos independentes (a Associação da Praça das Bandeiras, por exemplo), que também contribuem para que a cultura se estabeleça e se ramifique pela cidade.

 

E o poder público?

Forte, atuante e livre de amarras ideológicas. Todos são contemplados em editais e concursos culturais. Ademais, Secretaria de Cultura, Fundart Gerência dos Museus e Patrimônio Histórico estão sempre atuantes e fazem “milagres” com o orçamento destinado.

Festivais musicais, teatro, artes plásticas, cinema (audiovisual), oficinas culturais e cursos não ficam presos no centro da cidade. Ao contrário, são levados a todos os pontos da cidade, contemplando a população toda.

Acontecem anualmente o Araraquara Rock, Território da Arte, Semana Luiz Antonio Martinez Correa e Festival Internacional de Dança, entre outros eventos também importantíssimos. Por falar em importância, a cidade deu para o mundo Inácio de Loyola Brandão. Zé Celso e o Oficina e, mais recentemente, a Liniker. São tantas as contribuições, que outros nomes importantes em vários aspectos da sociedade ficarão de fora, pois o texto pode virar uma página de lista telefônica (se ainda existir – risos). No entanto, não podemos esquecer que “Macunaíma” de Mário de Andrade foi escrito na cidade, inclusive em uma chácara – hoje patrimônio histórico e cultural –, que virou polo de estudos e visitas.

A cidade possui cinco museus (Histórico e Pedagógico, Ferroviário, Imagem e Som, Esporte e Museu de Arqueologia e Paleontologia), além de uma biblioteca riquíssima e arquivo histórico inigualável. Outros aparelhos culturais são igualmente importantes, como os Teatros Municipal e Wallace, Centro de Artes Judith Lauand, a Escola Municipal de Dança Iracema Nogueira e, logicamente, a Casa da Cultura.

 


E onde o Inloco se encaixa em tudo isso?

“Arte” Metal. No último dia 26, ocorreu a Primavera nos Museus. O ressurgimento de um importante ato educativo, cultural e patrimonial. Museus não são apenas espaços de resguardo de objetos antigos. Fazem parte do patrimônio. São lugares de pesquisa, visitação e, acima tudo, reflexão. Refletir sobre o presente e o futuro, tendo como ponto de partida não apenas os objetos do passado, mas o aspecto cultural e humano contidos em cada peça, inclusive aguçando a afetividade que tais objetos e lugares provocam nas pessoas.

O patrimônio histórico está sempre em evolução, agregando principalmente “afetividade” que objetos, lugares e sentimentos nos transmitem. Mesmo de férias, não pude deixar de participar desse momento de diálogos entre espaços históricos e pessoas. Foi uma via sacra cultural (risos).

Os museus escolhidos foram os que estão no centro histórico (velho, antigo, etc.) da cidade. Antes de mais nada, tenho uma ligação afetiva muito grande com esse território. Infância, adolescência e parte da fase adulta vividas pelas calçadas e prédios históricos da cidade. O pessoal “redbengui”, por vários anos, se reunia em frente ao Museu Histórico para falar de música e ver a vida passar.

O primeiro local foi o Museu Ferroviário na antiga estação de trem (imagina... de avião - risos). Lugar maravilhoso! Antes da pandemia, houve o Festival Delas só com bandas femininas. Eskrota e As Mercenárias foram as atrações principais.

No domingo, estava presente a Biblioteca Municipal com troca de livros, além de poetas locais. Como é lindo ver famílias inteiras saírem com leituras prazerosas nas mãos! Ferromodelismo e objetos centenários ligados ao local nos fazem sentir saudade dos trens como meio de transporte! Por que acabaram? Pergunta retórica.

A parte musical ficou a cargo do DJ Sam, Véio para os íntimos (risos). Como sempre, soube sentir o ambiente e presenteou o público com diferentes ritmos e estilos da MPB (clássica e atual), Soul, Rap, Rock e um monte de coisas boas!

Além de “dejota”, também participa de feiras de vinis e CDs. Claro que sai com novas aquisições (risos). Brutal Truth e Slaughter para despertar o Casco Rachado e Sir Paul McCartney para acalmar o Besta Fera! (risos).

Depois de conversas com amigos, bateu aquele fominha marota, pois já passava do meio-dia. A solução foi comer comidinhas árabes da Família Gibran, que estava como a Kombosa estilosa cheia de quitutes e cerveja no Museu Histórico.

Disco e CDs na mão e devidamente paramentado com uma joelheira (risos), fui a pé (mas também não dirijo – risos) ao Histórico, no qual já trabalhei.

Lá chegando, deparei-me com uma feira maravilhosa de artesanato e outras artes plásticas. Dois anos dificeis praticamente sem colocar uma gota de álcool no organismo. Estava precisando de um descarrego (risos). Além da comidinha gostosa, os amigos e papos com o pessoal do museu, desceram algumas latinhas (poucas) para o meu estômago. Resultado: achei que estava em algum festival e entrei bebendo nos espaços públicos. Vou levar um PAD (Processo Administrativo)! (risos). Fiquei “locaço”! (risos).

O que fazer? Dar um tempo e se recompor. Ainda faltava o meu local de trabalho para visitar. Uma chuva estava chegando e, então, resolvi descer mais cedo. Os locais são muito próximos.

Araraquara é um museu a céu aberto. É conhecida mundialmente pelas pegadas de dinossauros e outros mamíferos de milhões (mas milhões!) de anos atrás.

O MAPA – Museu de Arqueologia e Paleontologia de Araraquara – está localizado no Boulevard dos Oitis (lindo!). Fica bem no centro histórico da cidade, ocupando um imóvel que, entre outras coisas, foi um conservatório musical, no qual estudei violão clássico por uns anos. Sim, trabalho lá por ser o único dinossauro que escapou da quinta extinção (estamos indo para a sexta). O único da espécie, que adquiriu as habilidades da fala! (riso).

Na parte da manhã, houve uma atividade voltada para as pegadas (ou icnofósseis), que estão demarcadas em partes das calçadas da rua. No entanto, elas estão em vários locais do município.

O museu é divido entre a arqueologia e paleontologia.

Os viveres e culturas dos primeiros povos, que habitaram a região antes do “achamento” do Brasil (na realidade, no mínimo, 11000 anos antes) podem ser vistos no espaço da arqueologia. Há objetos de pedra lascada, vasos de cerâmicas, urnas mortuárias e outras coisas ligadas aos grupos nômades e às nações e/ou povos indígenas, que perambularam e se estabeleceram na região por um período de tempo.

Na paleontologia, podemos encontrar as famosas pegadas em lajes, que foram retiradas das calçadas, além de material vasto e interessantíssimo sobre os seres que habitavam a região, quando ainda ela era apenas um deserto por onde transitavam dinossauros e outros mamíferos. Ah, apenas nos filmes os dinossauros e os homens convivem no mesmo ambiente.

O museu conta com a parceria técnica e especializada da Fundação Araporã para resguardo, preservação e ações educativas e culturais.

Depois de bater um papo com a amiga do trabalho e acabar uma lata de cerveja (sim, vou levar um PAD! Risos), desci pra casa, contemplando o patrimônio da cidade. Quantas lembranças...

Vale lembrar que todas as atividades foram gratuitas e respeitaram as normas sanitárias. A pandemia ainda não acabou!

Parabéns e obrigado à Secretaria de Cultura, Gerência dos Museus, Coordenação do Patrimônio, Biblioteca Municipal, servidores dos espaços (guerreiros!), imprensa e, em especial, o público que compareceu!

Inté! Estou voltando para minhas férias! Fui!

 

*Adalberto Belgamo é professor, atuando no museu (sem ser peça... ainda - risos), colaborador do Arte Metal, além de ser Parmerista, devorador de música boa, livros, filmes e seriados. Um verdadeiro anarquista fanfarrão.

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