sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Kaapora: extremo, direto e sem frecuras




Radicado na Alemanha desde 2005, o ex-baixista da banda curitibana Necrotério, o brasileiro Evandro, juntamente com o guitarrista Nico e o batera Gerni, formou o Kaapora. Desde 2011 a banda conta com Giant no baixo e lançou a demo “Awaking The Dead” no mesmo ano. Em 2012 o grupo germânico brasileiro lançou “Distainer”, álbum que mostra diversas facetas que vão deste o Death Metal passando pelo Crust/Grindcore até o Hardcore. Divulgando seu novo trabalho, falamos com nosso conterrâneo que nos falou sobre “Distainer”, além nos apresentar à banda, dentre outras curiosidades. Confira!

Primeiramente conte-nos como surgiu a Kaapora e como se deu a sua entrada na banda?
Evandro: A banda foi formada por mim, pelo guitarrista Nico e pelo batera Gerni em 2010. O Nico eu conhecí quando fui convidado pra tocar baixo na banda Korades da Alemanha. Ele era um dos guitarristas e acabamos nos tornando amigos. Depois que saí da banda meio que perdemos contato mas eu sempre tive vontade de montar uma banda com ele, sendo assim quando a Korades acabou nos encontramos por acaso e aí surgiu a idéa de montar uma banda pra fazer o som que a gente gosta. O Gerni conhecí por meio de outra banda onde fiz testes para tocar baixo, a Unhandled Exception. Acabou que eu desistí de tocar baixo e passei a me dedicar aos vocais arrastando o Gerni pra uma banda nova.

O nome Kaapora soa estranho e até engraçado em português. Qual a pronúncia e significado dele?
Evandro: Sim, soa meio que como catapora não é? (risos). Já ouví isso de algumas pessoas, mas na verdade a palavra Kaapora tem origem pré-brasileira. É uma expressão do tupí-guaraní que significa algo como “aquilo ou aquele que vive na mata”. Essa expressão influenciou várias figuras do folclore brasiliero, como a Caipora, por exemplo. A pronúncia eu não sei ao certo, pois se trata de um idioma extinto, mas eu pronunciaria similar a catapora mesmo... (risos)

“Distainer” é o primeiro trabalho oficial e completo da banda, vocês acreditam que com esse trabalho atingiram o resultado que queriam?
Evandro: Olha, depois de um tempo ouvindo o CD pronto, você sempre descobra alguma coisa que poderia estar melhor, mas não tem jeito, é assim que ficou e ficará. No geral estamos muito satisfeitos pois foi tudo feito de maneira independente. A gravação foi produzida por nós mesmos em nossa sala de ensaios e a mixagem ficou a cargo do Gerni. Somente a masteriazação entregamos a um profissional mais gabaritado, por assim dizer.

Como tem sido a repercussão do trabalho até então?
Evando: Bem, como a divulgação é feita sem ajuda de selo e afins, mas por nós mesmos, tem sido pouco abrangente. Mas até agora todo mundo que ouviu gostou e elogiou bastante. Mandamos o CD pra algumas revistas do Brasil e da Europa e estamos aguardando a repercussão. As vendas no geral estão fracas, pois hoje em dia quase ninguém compra CD, mas pra nós o que importa é fazer shows e nos divertir por aí. Nos shows temos vendido bastante. Como o material é bem recente temos a certeza que a divulgação melhorará, e se não melhorar, quem se importa? (risos). O mundo underground pode ser bem ingrato e tentamos provar o tempo todo que somos mais do que quatro rostos bonitinhos (risos) estamos nessa pela música.

Apesar das influências  Hardcore, Crust e Grindcore, eu definiria o som de vocês como sendo um Death Metal mais direto e sem frescuras. Vocês concordam com isso? Como definiriam a sonoridade do Kaapora?
Evandro: É bem por aí mesmo, porém é difícil definir o som com um rótulo. Um zine de Portugal definiu nossa música da seguinte forma: “a very danceable DBeat/Grind that put me headbanging like a maniac!” (N.E.: Traução: Um Dbeat/Grind muito dançante que me fez bater a cabeça como um louco) (risos) Apesar desta frase soar engraçada reflete bem o que tocamos. A questão do Death Metal sem frescuras, a qual você se refere, acho que é mais porque não temos solos.

“Distainer” possui composições que caminha por esses estilos citados. É interessante notar que, apesar disso, as composições da banda não priorizam somente velocidade. O que você pode nos falar sobre isso?
Evandro: É questão de gosto musical mesmo. Eu curto muito partes cadenciadas, e com um certo groove. Admiro muito o Dying Fetus por isso: as músicas são extremas mas sempre tem um “quebra-pescoço” no meio que empolga muito. E quando componho essas passagens mais levadas surgem naturalmente. Às vezes até começo uma composição por um riff mais lento e depois vou colocando outras partes mais aceleradas. Tipo no caso de The day I left the dust, aquele riff do meio foi o primeiro que criei pra música.

Outra característica notada são que as guitarras priorizam os pesados riffs sem dar margens para solos. Isso é algo proposital ou saiu naturalmente?
Evandro: Simplesmente não temos talento pra produzir solos. Eu não sou muito chegado a solos, mas acho que quando você for usá-los tem que fazer muito bem feito pra não passar vergonha. Como não sabemos tocar solos simplesmente não os usamos. Assim podemos nos esconder atrás do rótulo “ Death Metal direto e sem frescuras” sem passar muita vergonha (risos).



“Distainer” foi produzido pela própria banda e masterizado por Patrick W. Engel (Candlemass, Dissection). A produção ficou cristalina, mas foge daquela estética plastificada que as bandas extremas insistem em utilizar hoje em dia. Fale-nos um pouco sobre isso.
Evandro: Hoje em dia a maioria das bandas de Metal soa muito digital, quase artificial pro meu gosto por isso tentamos não entrar nessa onda. É uma tendência que começou com bandas mais técnicas, que para mostar todos os detalhes de sua música virtuosa, recorrem a tecnologia, que acaba dando uma textura “de plástico” pro som. Sempre quisemos ums som mais sujo mesmo e além disso fizemos toda a gravação nós mesmos em nossa sala de ensaio sem muita tecnologia, por assim dizer. Mesmo assim tivemos que dar um “tratamento digital” no som da bateria, pois infelizmente só com o som da sala de ensaios não estava ficando bom. Então demos uma trabalhada nisso na hora da mixagem. Foi só, o resto é exatamente o que saiu dos amplificadores.

Aliás, como foi e como surgiu a oportunidade de trabalhar com Patrick?
Evandro: Somos amigos de uma grande banda daqui chamada Purgatory e eles normalmente trabalham com o Patrick em seus álbuns. O Nico às vezes substitui o baixista do Purgatory em shows, quando ele não pode tocar e tem muita amizade com o pessoal da banda. Ele comentou com o René, guitarrista da Purgatory, que estávamos com a gravação do CD pronta, mas ainda não sabíamos onde iríamos masterizar. Ele sugeriu o nome do Patrick e nos passou seu e-mail. Entramos em contato e ele gostou do que ouviu, foi muito prestativo e nos deu várias dicas pra mixagem. Depois disso só mandamos o material pra ele e em dois dias etava pronto! O cara é fera.

Eu citaria They Lie, The Day I Left The Dust e Dogma’s Cage como alguns dos destaques do disco. Há alguma faixa preferida da banda?
Evandro: Acredito que cada um tem suas faixas preferidas mas só posso falar por mim. Gosto muito de Dogma´s Cage, They Lie, Opinion Maker e Awaking the Dead. São músicas que me empolgam muito quando as ouço e elas traduzem bem o que é o som da Kaapora para mim.

Além dessas temos a faixa  Neurastênico que é cantada em português. Como surgiu a ideia de cantar uma faixa em português e o que os outros caras da banda acharam disso?
Evandro: Eu tinha essa música completa na manga, só que sem letra. Então mostrei ela pros caras e começamos a ensaiar sem vocais. Eu fiquei umas duas semanas pensando sobre o que essa música falaria, então um dia estava assistindo a uma entrevista no Jô Soares pelo youtube, era de madrugada e eu tinha acabado de estudar para umas provas na universidade. O entrevistado era aquele Felipe Neto que tem um vlog se não me engano, e fica reclamando e metendo o pau em tudo. O Jô Soares chamou ele de neurastênico, em certo ponto da entrevista, e essa palavra ficou soando na minha cabeça mas fui dormir e no outro dia pesquisei sobre o significado. Aí a letra surgiu bem rápido e de maneira natural, pois sou meio neurastênico mesmo (risos). O pessoal da banda não interfere muito nas letras, mas gostaram da ideia de ter uma música em português.

Essa composição também tem uma versão em alemão intitulada Neurastheniker e que conta com a participação de Jorn do SKR8 e Torsten do Korades dividindo os vocais. Como surgiu a ideia de gravar essa versão e como foi trabalhar com Jorn e Torsten?
Evandro: Com o Jorn eu cantei no SKR8 por alguns anos. Éramos dois vocalistas e foi minha primeira experiência nesse posto. O Torsten era baixista e vocalista do Korades e tocou muito tempo com o Nico. Ele foi também o primeiro baixista da Kaapora, mas deixou a banda depois de um ano. Mesmo assim ficamos amigos e resolvemos homenagear esses caras e essas bandas todas que fazem parte da história e da composição química da Kaapora. Quando compus Neurastênico e decidí que a letra seria em português achei a ideia de uma faixa bonus em alemão legal, tinha tudo a ver. Então a ideia era cantar eu mesmo em alemão, mas conversamos e decidimos convidar os caras pra cantar. Fizemos uma festa na sala de ensaio e chamamos eles, adaptamos a letra na hora e eles gravaram espontaneamente. 

Evandro, você tocava baixo e fazia backing vocals na banda brasileira Necrotério. Já no Kaapora assumiu apenas os vocais. Fale-nos um pouco, por que largou o instrumento e optou apenas por cantar?
Evandro: Larguei o baixo por frustração comigo mesmo. Eu não evoluía no instrumento e sempre que via outros baixistas “destruindo” ficava meio deprimido. Aí então percebí que eu não evoluía no instrumento por pura preguiça mesmo. Meu baixo ficava encostado em casa, e eu só o pegava pra ir ensaiar. Eu sou muito preguiçoso nesse aspecto. Quando tocava na Necrotério dava umas colaboradas nos vocais de vez em quando, mas não imaginava virar vocalista. Então me mudei pra Alemanha em 2005 e conhecí o pessoal do Skr8. Eles tinham dois vocalistas e um deles tinha acabado de sair da banda, então me convidei pra assumir o posto. No primeiro ensaio pensei “que merda é essa que eu to fazendo aquí? Eu não sei cantar” (risos). O começo foi um pouco complicado mas os caras me deram muita força e fui melhorando e praticando. Acabei gostando muito e o simples fato de não ter que ficar carregando instrumento pra lá e pra cá e comprando cordas, cabos e afins já é uma vantagem enorme, é o posto ideal para mim!! (risos).

Como está a agenda da banda? Há mais locais para se apresentar na Europa? Há alguma chance de vocês tocarem algum dia por aqui?
Evandro: Em fevereiro temos uma mini-tour pela Alemanha, Holanda, Bélgica, Áustria e talvez Suíça  Esporadicamente fazemos show nos finais de semana, pois trabalhamos e estudamos. Sonho em tocar no Brasil e com certeza faz parte dos planos num futuro não muito distante. É uma coisa que tem que ser muito bem organizada, pois envolve muito tempo e dinheiro, mas queremos ir pro Brasil um dia desses. Seria uma honra pra nós!

Quais os planos da banda? O que podem nos adiantar de novidades?
Evandro: Queremos fazer muitos shows e divulgar bastante o álbum. De repente arranjar um selo ou distribuidora pra melhorar o alcançe do material. Esperamos poder tocar em alguns grandes festivais nos próximos verões para aumentar nosso público. E seria legal fazer uma tour mais longa abrindo pra alguma banda grande. Um vídeo clipe também está sendo preparado nos próximos meses e quem sabe lançaremos um split com alguma banda daqui em breve!

Muito obrigado, deixem uma mensagem.
Evandro: Obrigado pelo espaço e pela oportunidade desta entrevista! Um grande abraço e você e aos leitores e esperamos nos ver no Brasil uma hora dessas. Quem quiser CD, Camiseta, etc. entre em contato: merch@kaapora.net.

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