Primeiramente
conte-nos como surgiu a Kaapora e como se deu a sua entrada na banda?
Evandro:
A banda foi formada por mim, pelo guitarrista Nico e pelo batera Gerni em 2010.
O Nico eu conhecí quando fui convidado pra tocar baixo na banda Korades da
Alemanha. Ele era um dos guitarristas e acabamos nos tornando amigos. Depois
que saí da banda meio que perdemos contato mas eu sempre tive vontade de montar
uma banda com ele, sendo assim quando a Korades acabou nos encontramos por
acaso e aí surgiu a idéa de montar uma banda pra fazer o som que a gente gosta.
O Gerni conhecí por meio de outra banda onde fiz testes para tocar baixo, a
Unhandled Exception. Acabou que eu desistí de tocar baixo e passei a me dedicar
aos vocais arrastando o Gerni pra uma banda nova.
O
nome Kaapora soa estranho e até engraçado em português. Qual a pronúncia e
significado dele?
Evandro:
Sim, soa meio que como catapora não é? (risos). Já ouví isso de algumas
pessoas, mas na verdade a palavra Kaapora tem origem pré-brasileira. É uma
expressão do tupí-guaraní que significa algo como “aquilo ou aquele que vive na
mata”. Essa expressão influenciou várias figuras do folclore brasiliero, como a
Caipora, por exemplo. A pronúncia eu não sei ao certo, pois se trata de um
idioma extinto, mas eu pronunciaria similar a catapora mesmo... (risos)
“Distainer”
é o primeiro trabalho oficial e completo da banda, vocês acreditam que com esse
trabalho atingiram o resultado que queriam?
Evandro:
Olha,
depois de um tempo ouvindo o CD pronto, você sempre descobra alguma coisa que
poderia estar melhor, mas não tem jeito, é assim que ficou e ficará. No geral
estamos muito satisfeitos pois foi tudo feito de maneira independente. A
gravação foi produzida por nós mesmos em nossa sala de ensaios e a mixagem
ficou a cargo do Gerni. Somente a masteriazação entregamos a um profissional
mais gabaritado, por assim dizer.
Como
tem sido a repercussão do trabalho até então?
Evando:
Bem, como a divulgação é feita sem ajuda de selo e afins, mas por nós mesmos,
tem sido pouco abrangente. Mas até agora todo mundo que ouviu gostou e elogiou
bastante. Mandamos o CD pra algumas revistas do Brasil e da Europa e estamos
aguardando a repercussão. As vendas no geral estão fracas, pois hoje em dia
quase ninguém compra CD, mas pra nós o que importa é fazer shows e nos divertir
por aí. Nos shows temos vendido bastante. Como o material é bem recente temos a
certeza que a divulgação melhorará, e se não melhorar, quem se importa?
(risos). O mundo underground pode ser bem ingrato e tentamos provar o tempo
todo que somos mais do que quatro rostos bonitinhos (risos) estamos nessa pela
música.
Apesar
das influências Hardcore, Crust e Grindcore,
eu definiria o som de vocês como sendo um Death Metal mais direto e sem
frescuras. Vocês concordam com isso? Como definiriam a sonoridade do Kaapora?
Evandro:
É bem por aí mesmo, porém é difícil definir o som com um rótulo. Um zine de
Portugal definiu nossa música da seguinte forma: “a very danceable DBeat/Grind that put me
headbanging like a maniac!” (N.E.: Traução: Um Dbeat/Grind muito dançante que
me fez bater a cabeça como um louco) (risos) Apesar desta frase soar engraçada
reflete bem o que tocamos. A questão do Death Metal sem frescuras, a qual você
se refere, acho que é mais porque não temos solos.
“Distainer”
possui composições que caminha por esses estilos citados. É interessante notar
que, apesar disso, as composições da banda não priorizam somente velocidade. O
que você pode nos falar sobre isso?
Evandro:
É
questão de gosto musical mesmo. Eu curto muito partes cadenciadas, e com um
certo groove. Admiro muito o Dying Fetus por isso: as músicas são extremas mas
sempre tem um “quebra-pescoço” no meio que empolga muito. E quando componho
essas passagens mais levadas surgem naturalmente. Às vezes até começo uma
composição por um riff mais lento e depois vou colocando outras partes mais
aceleradas. Tipo no caso de The day I
left the dust, aquele riff do meio foi o primeiro que criei pra música.
Outra
característica notada são que as guitarras priorizam os pesados riffs sem dar
margens para solos. Isso é algo proposital ou saiu naturalmente?
Evandro:
Simplesmente não temos talento pra produzir solos. Eu não sou muito chegado a
solos, mas acho que quando você for usá-los tem que fazer muito bem feito pra
não passar vergonha. Como não sabemos tocar solos simplesmente não os usamos.
Assim podemos nos esconder atrás do rótulo “ Death Metal direto e sem
frescuras” sem passar muita vergonha (risos).
“Distainer”
foi produzido pela própria banda e masterizado por Patrick W. Engel
(Candlemass, Dissection). A produção ficou cristalina, mas foge daquela
estética plastificada que as bandas extremas insistem em utilizar hoje em dia.
Fale-nos um pouco sobre isso.
Evandro:
Hoje em dia a maioria das bandas de Metal soa muito digital, quase artificial
pro meu gosto por isso tentamos não entrar nessa onda. É uma tendência que
começou com bandas mais técnicas, que para mostar todos os detalhes de sua
música virtuosa, recorrem a tecnologia, que acaba dando uma textura “de
plástico” pro som. Sempre quisemos ums som mais sujo mesmo e além disso fizemos
toda a gravação nós mesmos em nossa sala de ensaio sem muita tecnologia, por
assim dizer. Mesmo assim tivemos que dar um “tratamento digital” no som da
bateria, pois infelizmente só com o som da sala de ensaios não estava ficando
bom. Então demos uma trabalhada nisso na hora da mixagem. Foi só, o resto é
exatamente o que saiu dos amplificadores.
Aliás,
como foi e como surgiu a oportunidade de trabalhar com Patrick?
Evandro:
Somos amigos de uma grande banda daqui chamada Purgatory e eles normalmente
trabalham com o Patrick em seus álbuns. O Nico às vezes substitui o baixista do
Purgatory em shows, quando ele não pode tocar e tem muita amizade com o pessoal
da banda. Ele comentou com o René, guitarrista da Purgatory, que estávamos com
a gravação do CD pronta, mas ainda não sabíamos onde iríamos masterizar. Ele
sugeriu o nome do Patrick e nos passou seu e-mail. Entramos em contato e ele
gostou do que ouviu, foi muito prestativo e nos deu várias dicas pra mixagem.
Depois disso só mandamos o material pra ele e em dois dias etava pronto! O cara
é fera.
Eu
citaria They Lie, The Day I Left The Dust
e Dogma’s Cage como alguns dos destaques do disco. Há alguma faixa
preferida da banda?
Evandro:
Acredito que cada um tem suas faixas preferidas mas só posso falar por mim. Gosto muito de Dogma´s
Cage, They Lie, Opinion Maker e Awaking the Dead. São músicas que me empolgam muito
quando as ouço e elas traduzem bem o que é o som da Kaapora para mim.
Além
dessas temos a faixa Neurastênico que é cantada em português.
Como surgiu a ideia de cantar uma faixa em português e o que os outros caras da
banda acharam disso?
Evandro:
Eu tinha essa música completa na manga, só que sem letra. Então mostrei ela
pros caras e começamos a ensaiar sem vocais. Eu fiquei umas duas semanas
pensando sobre o que essa música falaria, então um dia estava assistindo a uma
entrevista no Jô Soares pelo youtube, era de madrugada e eu tinha acabado de
estudar para umas provas na universidade. O entrevistado era aquele Felipe Neto
que tem um vlog se não me engano, e fica reclamando e metendo o pau em tudo. O
Jô Soares chamou ele de neurastênico, em certo ponto da entrevista, e essa
palavra ficou soando na minha cabeça mas fui dormir e no outro dia pesquisei
sobre o significado. Aí a letra surgiu bem rápido e de maneira natural, pois
sou meio neurastênico mesmo (risos). O pessoal da banda não interfere muito nas
letras, mas gostaram da ideia de ter uma música em português.
Essa
composição também tem uma versão em alemão intitulada Neurastheniker e que conta com a participação de Jorn do SKR8 e
Torsten do Korades dividindo os vocais. Como surgiu a ideia de gravar essa
versão e como foi trabalhar com Jorn e Torsten?
Evandro:
Com o Jorn eu cantei no SKR8 por alguns anos. Éramos dois vocalistas e foi
minha primeira experiência nesse posto. O Torsten era baixista e vocalista do Korades
e tocou muito tempo com o Nico. Ele foi também o primeiro baixista da Kaapora,
mas deixou a banda depois de um ano. Mesmo assim ficamos amigos e resolvemos
homenagear esses caras e essas bandas todas que fazem parte da história e da
composição química da Kaapora. Quando compus Neurastênico e decidí que a letra
seria em português achei a ideia de uma faixa bonus em alemão legal, tinha tudo
a ver. Então a ideia era cantar eu mesmo em alemão, mas conversamos e decidimos
convidar os caras pra cantar. Fizemos uma festa na sala de ensaio e chamamos
eles, adaptamos a letra na hora e eles gravaram espontaneamente.
Evandro,
você tocava baixo e fazia backing vocals na banda brasileira Necrotério. Já no
Kaapora assumiu apenas os vocais. Fale-nos um pouco, por que largou o
instrumento e optou apenas por cantar?
Evandro:
Larguei o baixo por frustração comigo mesmo. Eu não evoluía no instrumento e
sempre que via outros baixistas “destruindo” ficava meio deprimido. Aí então
percebí que eu não evoluía no instrumento por pura preguiça mesmo. Meu baixo
ficava encostado em casa, e eu só o pegava pra ir ensaiar. Eu sou muito
preguiçoso nesse aspecto. Quando tocava na Necrotério dava umas colaboradas nos
vocais de vez em quando, mas não imaginava virar vocalista. Então me mudei pra
Alemanha em 2005 e conhecí o pessoal do Skr8. Eles tinham dois vocalistas e um
deles tinha acabado de sair da banda, então me convidei pra assumir o posto. No
primeiro ensaio pensei “que merda é essa que eu to fazendo aquí? Eu não sei
cantar” (risos). O começo foi um pouco complicado mas os caras me deram muita
força e fui melhorando e praticando. Acabei gostando muito e o simples fato de
não ter que ficar carregando instrumento pra lá e pra cá e comprando cordas,
cabos e afins já é uma vantagem enorme, é o posto ideal para mim!! (risos).
Como
está a agenda da banda? Há mais locais para se apresentar na Europa? Há alguma
chance de vocês tocarem algum dia por aqui?
Evandro:
Em fevereiro temos uma mini-tour pela Alemanha, Holanda, Bélgica, Áustria e
talvez Suíça Esporadicamente fazemos show nos finais de semana, pois
trabalhamos e estudamos. Sonho em tocar no Brasil e com certeza faz parte dos
planos num futuro não muito distante. É uma coisa que tem que ser muito bem
organizada, pois envolve muito tempo e dinheiro, mas queremos ir pro Brasil um
dia desses. Seria uma honra pra nós!
Quais
os planos da banda? O que podem nos adiantar de novidades?
Evandro:
Queremos fazer muitos shows e divulgar bastante o álbum. De repente arranjar um
selo ou distribuidora pra melhorar o alcançe do material. Esperamos poder tocar
em alguns grandes festivais nos próximos verões para aumentar nosso público. E
seria legal fazer uma tour mais longa abrindo pra alguma banda grande. Um vídeo
clipe também está sendo preparado nos próximos meses e quem sabe lançaremos um
split com alguma banda daqui em breve!
Muito
obrigado, deixem uma mensagem.
Evandro:
Obrigado pelo espaço e pela oportunidade desta entrevista! Um grande abraço e
você e aos leitores e esperamos nos ver no Brasil uma hora dessas. Quem quiser
CD, Camiseta, etc. entre em contato: merch@kaapora.net.
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