Foto: Kristina Tandrup Gittesdatter |
O
sexteto dinamarquês Huldre é aquilo que pode se chamar de genuinamente uma
banda de Folk Metal. Afinal, a banda que está na ativa há apenas 4 anos,
investe em tal sonoridade sem se utilizar de teclados ou sintetizadores,
incorporando ao Metal instrumentos ‘reais’ do gênero Folk tais como flauta,
violino e hurdy gudy (instrumento típico da época medieval). Além do mais, o
Huldre aborda temas da mitologia e do folclore de seu país cantando em sua
língua pátria. Divulgando seu primeiro trabalho “Intet Menneskebarn” desde o
ano passado, a banda tem obtido ótimos resultados, principalmente em seu
continente. Falamos com a violinista Laura Emilie Beck e com o baixista Bjarne
Kristiansen que nos contaram mais sobre a banda, o primeiro disco, todo
conceito que o envolve, além de darem sua opinião sobre a ascensão do Folk
Metal pelo mundo. Completam a formação: Nanna Barslev (vocal), Lasse Olufson
(guitarra), Jacob Lund (bateria) e Troels Nørgaard (flauta e hudy gurdy).
Fale-nos como foi o processo de
composição de “Intet Menneskebarn”? Aprovaram o resultado final?
Laura:
Para mim, compor foi a parte mais fácil de "Intet Menneskebarn".
Quando compomos nós geralmente nos encontramos em nossa sala de ensaio, onde um
membro da banda aleatório inicia a ação de uma ideia com o resto dos
integrantes - que pode ser um riff, uma melodia ou uma letra - e então basta
começarmos a tocar o que vem à nossa mente. Isso é basicamente como nós
compomos nossas músicas. No entanto, o ajuste final de toda a composição (que é
tocada em partes, etc) pode levar bom tempo, e às vezes até mesmo continuar por
anos antes de todos ficarem satisfeitos com o resultado.
Vocês investem em um som de
característica Folk Metal e que aborda temas como a mitologia e o folclore
dinamarquês. Fale-nos um pouco mais a respeito disso?
Bjarne:
Isso varia um pouco, as letras são compostas por Nanna (vocalista). Muitas
vezes ela parece olhar para o clima e a atmosfera de uma canção e baseia as
letras em torno de todo sentimento da coisa. Portanto, é natural que, quando
trabalham principalmente com música Folk escandinava é natural as letras falarem
sobre o folclore e a natureza. Se a composição dá uma vibração de lobos e
florestas de inverno, então é sobre isso que a letra vai falar.
O instrumental da banda alia bem
técnicas do Heavy Metal tradicional e com pegadas Folk, onde algumas canções
chegam a serem até dançantes e bem melódicas. O que vocês podem nos falar sobre
essa mescla?
Bjarne:
É um resultado muito orgânico e natural que vem desde o background de todos os
membros da banda. Eu sou o único da banda que não toca paralelamente em uma
banda de música Folk. Todos os outros passam muito dos fins de semana de verão tocando
música Folk tradicional em vários mercados medievais e vikings, tanto na
Dinamarca quanto em outros países. Esses caras são muito experientes no que
fazem, e têm feito isso por muito tempo, por isso é bastante natural que a
música Folk tem obtido um papel muito importante na nossa música. A parte Metal
geralmente vem de mim, Jacob (bateria) e Lasse (guitarra) e tende a inclinar-se
em algum lugar entre o Heavy Metal ‘old school’ com uma pitada de coisas mais
extremas com influências Black Metal.
Um fator que chama atenção
positivamente é que a banda não se utiliza de teclados e sintetizadores nos
arranjos das músicas, já que contam com uma violinista e uma flautista na
banda. Isso faz com que o som do Huldre soe mais orgânico. O que vocês podem
falar sobre isso?
Laura:
(risos) Você é o primeiro a mencionar isso - obrigado por perceber! Nossa ideia
principal é tocar o verdadeiro Folk Metal, você sabe – (enfática) Folk e Metal,
não Metal com algumas flautas genéricas ou Folk com alguns tambores extras.
Para nós, isso significa que nós queremos usar instrumentos "reais",
em vez de equipamentos eletrônicos para obter o som certo. No entanto, eu toco
um violino elétrico e uso alguns efeitos sonoros de vez em quando, para mim, só
faz mais sentido tocar música em instrumentos como violino Folk em vez de teclados
feitos para soar como violinos. E então eu não uso teclado ou sintetizador. Eu
não seria parte da banda se não tivéssemos um violino (risos).
Bjarne:
Como mencionado antes, temos os músicos com as habilidades para lidar com os
instrumentos tradicionais. Usar um teclado nunca nem passou pela nossa mente.
Outro fator interessante é o
contraste dos vocais de Nanna Barslev com o peso das composições.
Bjarne:
Nanna tem um estilo muito próprio e gosta de expressar modos conflitantes.
Felizmente ela faz realmente um excelente trabalho vocal e há algo muito belo
em trabalhar no contraste entre o pesado e "feio" vs a luz e
"bonito", assim posso dizer. É a dança de fadas com um ‘troll’.
As letras são cantadas em
dinamarquês. O fato de abordar temas oriundos de sua terra natal foi um fator
preponderante para cantar em sua língua pátria?
Laura:
Somos inspirados por contos e Folk dinamarquês e escandinavo, assim surge
naturalmente uma atmosfera que nos faz compor as letras em dinamarquês. Também
acho que a maneira que Nanna canta e utiliza essa linguagem não seria possível
fazê-la em outro idioma.
A produção de “Intet Menneskebarn” também
chama atenção. Todos os instrumentos soam nítidos e isso contribui bastante com
o som complexo da banda. Como foi este processo?
Laura:
O álbum foi gravado no Estúdio LSD, em Lübeck, na Alemanha, com Lasse Lammert
como produtor. Tem sido um grande prazer trabalhar com Lasse - ele é
extremamente bom no que faz (assim como uma grande pessoa) e estou muito
satisfeita com a forma como ele mixou o som do violino.
Bjarne:
Nós somos uma banda de 6 pessoas perfeccionistas e trabalhamos com outro perfeccionista,
por isso levou um tempo para todo mundo ficar feliz com a mixagem, mas
conseguimos isso e estamos muito felizes. Foi muito importante para nós para
dar espaço para os instrumentos que levam a melodia, mantendo
uma
seção rítmica pesada e sólida para a textura resultante de um som que vale a
pena ouvir.
Como tem sido a repercussão do
álbum até então?
Laura:
Tem sido esmagadora e recebida positivamente em quase toda parte, o que tem
sido uma grande surpresa para todos nós. Nós realmente não sabemos como as
pessoas de fora da banda iriam pensar sobre a nossa música, portanto,
esperávamos o melhor e temíamos o pior, mas acho que nenhum de nós esperava
resposta tão positiva.
Bjarne:
Concordo plenamente. Estamos nos aproximando de algo como 60 resenhas em todo o
mundo e até agora não temos visto nenhuma resenha negativa. É claro que estamos
muito orgulhosos com isso. Provavelmente também um pouco surpresos.
O Folk Metal têm se difundido
bastante pelo mundo. Há bandas do estilo até em países cuja cultura nada tem a
ver com os temas. O que vocês pensam sobre isso?
Laura:
Bem, para mim qualquer tipo de história/folclore é igualmente válida como base
para Folk Metal - também se você adotar o folclore de outro país ou parte do
mundo. Eu acho que, na verdade, ele iria trazer algumas abordagens novas e
frescas, por exemplo, Folk metal nórdico é tocado por outras pessoas vindas de
toda parte do mundo.
Bjarne:
Folk Metal faz sentido em qualquer lugar do mundo, mas ele começa a ficar um
pouco estranho se as bandas tentam lidar com a música popular que não é de sua
região, como dizer... por exemplo, Celtic Metal tocado por uma banda brasileira,
ou algo assim. Ouvi algumas excelentes bandas de Black Metal árabe incorporando
música popular tradicional provenientes das partes e parece realmente incrível
e mal. O termo "Folk Metal" não deve ser limitado a apenas o Folk
escandinavo.
Muito obrigado, podem deixar uma
mensagem.
Laura:
De nada, muito obrigado pelo seu interesse no Huldre!
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