quinta-feira, 12 de junho de 2014

Entrevista



Divulgando seu primeiro álbum, “Em Dias Assim” (2011), a banda paulistana Impéria serve como um bom exemplo de que o Rock nacional persiste. Persiste na qualidade, porque o que ouvimos nas rádios não representa esta essência. É só ouvir o trabalho da banda e constatar o que realmente é o Rock nacional e, melhor ainda, mesclado com Hard Rock e Heavy Metal. Conversamos com o baterista Flavius Deliberalli que nos falou sobre a banda, o disco e diversos outros assuntos. Completam este grande time Marcio Deliberalli (vocal), Felippe Deliberalli (guitarra) e Ricardo Ueno (baixo).

A banda surgiu em 1996, ou seja, há quase vinte anos. Por que o primeiro trabalho saiu somente 16 anos depois?
Flavius Deliberalli: Começamos a banda muito novos. Eu era o mais velho e tinha 15 anos. Meu irmão, Felippe, o guitarrista da banda, tinha 14, e o meu primo, Marcio, o vocalista, estava com 13. Não tínhamos preocupação com prazos e nenhuma pressão sobre nós, a não ser a nossa mesma para que a banda desse certo. Desde o início da banda temos músicas próprias. Eu sempre escrevi letras e o Felippe e o Marcio também, além de sempre estarem compondo algo, porém, por sermos muito novos, não tínhamos uma visão tão profissional. Sabíamos que precisávamos compor e lançar músicas, mas não tínhamos pressa e nem amadurecimento suficiente. Com o tempo, as coisas foram se encaixando, a banda crescendo e os shows aparecendo em grande proporção. Foi quando vimos que tínhamos qualidade e que nossas músicas eram bem aceitas. A partir de 2005 passamos a ter uma visão mais profissional de todo o processo e decidimos nos focar em ter um trabalho autoral. A entrada do Ricardo Ueno (Japa) na banda se deu no mesmo ano e foi um ponto importante para que toda essa mudança acontecesse. Já tínhamos muitas músicas, mas a partir de 2005 começamos a direcionar nossas forças para o objetivo de compilar material para lançar um CD.

As composições de “Em Dias Assim” (2011) remetem ao tempo de carreira da banda ou são mais recentes, enfim, surgiram quando decidiram gravar o álbum?
Flavius: Algumas delas são bem antigas... De 1998, 1999 e 2000. Outras surgiram a partir de 2005. Em 2008, quando decidimos iniciar o processo de gravação, já tínhamos todas as músicas prontas. Pouca coisa mudou até o final de 2009, quando entramos em estúdio.

O álbum mostra uma sonoridade bem abrangente, mas que não perde a característica da banda. Vocês mesclam influências que vão desde o Rock nacional, passando pelo Hard Rock e até o Metal. Essa sempre foi a intenção da banda?
Flavius: Sim! Nunca tivemos a intenção de rotular nosso som. Todo o processo de criação das músicas foi bem intenso e livre. Temos muitas influências, mas principalmente das bandas clássicas de Hard Rock e Metal. Led Zeppelin, Black Sabbath, Deep Purple, Metallica e Dream Theater são algumas das bandas que mais nos influenciam até hoje. Nas resenhas sobre o CD isso fica evidente, bem como a dificuldade que muitos críticos encontram em definir nosso som! (risos) Desculpem! (mais risos) Não tínhamos essa intenção, é só a nossa música. (risos) Isso, de uma forma geral, nos diverte, pois mostra que nosso som causou percepções diferentes em cada um que ouviu.

É interessante notar que as músicas até possuem um ar dramático e emocional. Você concorda? Pode falar a respeito?
Flavius: Sim e não! Na verdade, cada música é uma parte, um capítulo de uma história. Sendo assim, há partes mais alegres e outras mais tensas.



Aliás, o álbum chega a ser conceitual? Fale um pouco da temática do trabalho.
Flavius: Exato, o CD é conceitual e conta a história de um personagem em evolução. Cada música é uma parte dessa história. Nos moldes da eterna luta do bem contra o mal, nosso personagem começa sua jornada em um momento de caos. Com o passar do tempo, e das músicas, a situação vai melhorando. Ele se encontra, entende sua importância e experimenta diversas situações em uma linha de evolução, até atingir um momento de calmaria, o objetivo dessa jornada toda. Creio que se você ouvir o CD novamente, depois do que eu escrevi aqui, vai conseguir perceber isso.

“Em Dias Assim” foi produzido por Fernando Magalhães (Barão Vermelho). Como chegaram até ele e como foi trabalhar com o Fernando?
Flavius: O Felippe tinha contato com o Roberto Lly, renomado músico e produtor carioca. O Roberto tem muita amizade com o Fernando e por conta disso, os dois desenvolvem muitos projetos. Em 2007 eles vinham fazer um show no SESC de Santo André (SP) e foi aí que nos encontramos. Fomos até lá para conhecê-los e trocar uma ideia. Depois disso, mantivemos contato com o Fernando e a parceria começou a nascer. Foi uma grande experiência contar com um produtor do nível do Fernando no nosso primeiro disco. Para uma banda independente isso conta muito. Ele foi muito receptivo com o disco e com nossas idéias. Durante todo o processo de gravação ficou evidente o clima de total harmonia entre todos os envolvidos e isso refletiu na qualidade do CD. A parceria com o Fernando foi um dos pontos altos do “Em Dias Assim”, tanto que o solo na faixa Dias de Paz é dele. Gostaria de ressaltar também a contribuição do Elias Aftim, do Studio Latitude. É onde ensaiamos até hoje e foi onde gravamos o CD. Muitas noites em claro e finais de semana intermináveis! (risos)

O álbum foi lançado há dois anos. Como vocês o vêem hoje e qual a repercussão do disco até então?
Flavius: Na verdade, no último mês de março, fez três anos que o álbum foi lançado. Ainda soa bastante atual. É sempre um grande prazer executar todas as faixas. O público o recebeu muito bem e os críticos também. Mesmo hoje, muitos críticos exaltam a qualidade do CD e temos orgulho de saber que quase 100% das resenhas falam muito bem dele. Não são poucos os elogios que recebemos nesse tempo todo e nem as notas altas de avaliação de críticos e músicos. Os dois videoclipes que lançamos não me deixam mentir. Como parte do “Em Dias Assim”, os videoclipes de Alta Voltagem e Eu Sou O Que Eu Sou também tiveram repercussão muito positiva.

Aliás, vocês já estão trabalhando em outro disco? Podem nos adiantar alguma coisa a respeito?
Flavius: Há alguns meses já estamos trabalhando novas ideias de músicas. Nas últimas semanas esse processo todo ficou mais intenso. Temos expectativa de lançar algum material novo ainda neste ano. Talvez um EP. Não temos certeza ainda do formato e nem de quantas músicas, mas acho que teremos material novo neste ano e um novo CD em um ou dois anos. Claro que estou chutando bem alto, mas temos material novo sendo criado.

E como está a agenda de shows? O fato de fazerem um som mais underground tem dado espaço para a banda?
Flavius: Desde 2008, quando estávamos prestes a entrar em estúdio e já com a ideia de trabalhar apenas sons autorais, nosso número de shows caiu bastante. Como ficamos no trabalho autoral, também passamos a selecionar melhor as oportunidades de apresentação. Infelizmente, o mercado está bastante complicado para quem quer apresentar coisas novas. As casas não dão espaço e a maioria dos produtores ou donos de casas querem apenas explorar as bandas. Além disso, poucas são as mídias que incentivam as bandas novas e a cena independente. O mercado da música tem muitos cartéis e caciques e isso dificulta o surgimento das novas bandas. Em tempo, muito obrigado pelo espaço. São veículos como vocês que fazem a cena se movimentar. Felizmente, no meio underground encontramos muitos parceiros: revistas, sites, blogs, canais e programas de TV na internet, que sempre foram muito receptivos com a banda Impéria e isso nos motiva a seguir em frente, pois sabemos que existem muitas pessoas que acompanham estes veículos e curtem demais o nosso trabalho. Ser independente tem um lado problemático que envolve a busca por um espaço, a ‘jabazeira’ e tudo mais. Em contrapartida, temos as mídias alternativas nos apoiando e um público que nos admira. Isso é algo que faz a diferença, você saber que seu trabalho alcançou pessoas e que elas gostaram.

Muito obrigado pela entrevista, pode deixar uma mensagem.
Flavius: Em nome da banda, eu quem agradeço o espaço. Espero que os leitores do Arte Metal curtam esta entrevista e possam conhecer nosso trabalho. Dentro de pouco tempo teremos muitas novidades relacionadas a shows e novas músicas. O CD está disponível para download, além da versão física. Temos também uma linha de vestuário. Estamos buscando maneiras de nos aproximar de nosso público. Espero vê-los por aí, pois é sempre um prazer ter contato com o público, seja nas redes sociais ou nos lugares onde nos apresentamos.


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