Divulgando seu primeiro
álbum, “Em Dias Assim” (2011), a banda paulistana Impéria serve como um bom
exemplo de que o Rock nacional persiste. Persiste na qualidade, porque o que
ouvimos nas rádios não representa esta essência. É só ouvir o trabalho da banda
e constatar o que realmente é o Rock nacional e, melhor ainda, mesclado com
Hard Rock e Heavy Metal. Conversamos com o baterista Flavius Deliberalli que
nos falou sobre a banda, o disco e diversos outros assuntos. Completam este grande
time Marcio Deliberalli (vocal), Felippe Deliberalli (guitarra) e Ricardo Ueno
(baixo).
A
banda surgiu em 1996, ou seja, há quase vinte anos. Por que o primeiro trabalho
saiu somente 16 anos depois?
Flavius
Deliberalli: Começamos a banda muito novos. Eu era o
mais velho e tinha 15 anos. Meu irmão, Felippe, o guitarrista da banda, tinha
14, e o meu primo, Marcio, o vocalista, estava com 13. Não tínhamos preocupação
com prazos e nenhuma pressão sobre nós, a não ser a nossa mesma para que a
banda desse certo. Desde o início da banda temos músicas próprias. Eu sempre
escrevi letras e o Felippe e o Marcio também, além de sempre estarem compondo
algo, porém, por sermos muito novos, não tínhamos uma visão tão profissional.
Sabíamos que precisávamos compor e lançar músicas, mas não tínhamos pressa e
nem amadurecimento suficiente. Com o tempo, as coisas foram se encaixando, a
banda crescendo e os shows aparecendo em grande proporção. Foi quando vimos que
tínhamos qualidade e que nossas músicas eram bem aceitas. A partir de 2005
passamos a ter uma visão mais profissional de todo o processo e decidimos nos
focar em ter um trabalho autoral. A entrada do Ricardo Ueno (Japa) na banda se
deu no mesmo ano e foi um ponto importante para que toda essa mudança acontecesse.
Já tínhamos muitas músicas, mas a partir de 2005 começamos a direcionar nossas
forças para o objetivo de compilar material para lançar um CD.
As
composições de “Em Dias Assim” (2011) remetem ao tempo de carreira da banda ou
são mais recentes, enfim, surgiram quando decidiram gravar o álbum?
Flavius:
Algumas delas são bem antigas... De 1998, 1999 e 2000. Outras surgiram a partir
de 2005. Em 2008, quando decidimos iniciar o processo de gravação, já tínhamos
todas as músicas prontas. Pouca coisa mudou até o final de 2009, quando
entramos em estúdio.
O
álbum mostra uma sonoridade bem abrangente, mas que não perde a característica
da banda. Vocês mesclam influências que vão desde o Rock nacional, passando
pelo Hard Rock e até o Metal. Essa sempre foi a intenção da banda?
Flavius:
Sim! Nunca tivemos a intenção de rotular nosso som. Todo o processo de criação
das músicas foi bem intenso e livre. Temos muitas influências, mas
principalmente das bandas clássicas de Hard Rock e Metal. Led Zeppelin, Black
Sabbath, Deep Purple, Metallica e Dream Theater são algumas das bandas que mais
nos influenciam até hoje. Nas resenhas sobre o CD isso fica evidente, bem como
a dificuldade que muitos críticos encontram em definir nosso som! (risos)
Desculpem! (mais risos) Não tínhamos essa intenção, é só a nossa música.
(risos) Isso, de uma forma geral, nos diverte, pois mostra que nosso som causou
percepções diferentes em cada um que ouviu.
É
interessante notar que as músicas até possuem um ar dramático e emocional. Você
concorda? Pode falar a respeito?
Flavius:
Sim e não! Na verdade, cada música é uma parte, um capítulo de uma história.
Sendo assim, há partes mais alegres e outras mais tensas.
Aliás,
o álbum chega a ser conceitual? Fale um pouco da temática do trabalho.
Flavius:
Exato, o CD é conceitual e conta a história de um personagem em evolução. Cada
música é uma parte dessa história. Nos moldes da eterna luta do bem contra o
mal, nosso personagem começa sua jornada em um momento de caos. Com o passar do
tempo, e das músicas, a situação vai melhorando. Ele se encontra, entende sua
importância e experimenta diversas situações em uma linha de evolução, até
atingir um momento de calmaria, o objetivo dessa jornada toda. Creio que se
você ouvir o CD novamente, depois do que eu escrevi aqui, vai conseguir
perceber isso.
“Em
Dias Assim” foi produzido por Fernando Magalhães (Barão Vermelho). Como
chegaram até ele e como foi trabalhar com o Fernando?
Flavius:
O Felippe tinha contato com o Roberto Lly, renomado músico e produtor carioca.
O Roberto tem muita amizade com o Fernando e por conta disso, os dois
desenvolvem muitos projetos. Em 2007 eles vinham fazer um show no SESC de Santo
André (SP) e foi aí que nos encontramos. Fomos até lá para conhecê-los e trocar
uma ideia. Depois disso, mantivemos contato com o Fernando e a parceria começou
a nascer. Foi uma grande experiência contar com um produtor do nível do
Fernando no nosso primeiro disco. Para uma banda independente isso conta muito.
Ele foi muito receptivo com o disco e com nossas idéias. Durante todo o
processo de gravação ficou evidente o clima de total harmonia entre todos os
envolvidos e isso refletiu na qualidade do CD. A parceria com o Fernando foi um
dos pontos altos do “Em Dias Assim”, tanto que o solo na faixa Dias de Paz é dele. Gostaria de
ressaltar também a contribuição do Elias Aftim, do Studio Latitude. É onde
ensaiamos até hoje e foi onde gravamos o CD. Muitas noites em claro e finais de
semana intermináveis! (risos)
O
álbum foi lançado há dois anos. Como vocês o vêem hoje e qual a repercussão do
disco até então?
Flavius:
Na
verdade, no último mês de março, fez três anos que o álbum foi lançado. Ainda
soa bastante atual. É sempre um grande prazer executar todas as faixas. O
público o recebeu muito bem e os críticos também. Mesmo hoje, muitos críticos
exaltam a qualidade do CD e temos orgulho de saber que quase 100% das resenhas
falam muito bem dele. Não são poucos os elogios que recebemos nesse tempo todo
e nem as notas altas de avaliação de críticos e músicos. Os dois videoclipes
que lançamos não me deixam mentir. Como parte do “Em Dias Assim”, os
videoclipes de Alta Voltagem e Eu Sou O Que Eu Sou também tiveram
repercussão muito positiva.
Aliás,
vocês já estão trabalhando em outro disco? Podem nos adiantar alguma coisa a
respeito?
Flavius:
Há alguns meses já estamos trabalhando novas ideias de músicas. Nas últimas
semanas esse processo todo ficou mais intenso. Temos expectativa de lançar
algum material novo ainda neste ano. Talvez um EP. Não temos certeza ainda do
formato e nem de quantas músicas, mas acho que teremos material novo neste ano
e um novo CD em um ou dois anos. Claro que estou chutando bem alto, mas temos
material novo sendo criado.
E
como está a agenda de shows? O fato de fazerem um som mais underground tem dado
espaço para a banda?
Flavius:
Desde
2008, quando estávamos prestes a entrar em estúdio e já com a ideia de
trabalhar apenas sons autorais, nosso número de shows caiu bastante. Como
ficamos no trabalho autoral, também passamos a selecionar melhor as
oportunidades de apresentação. Infelizmente, o mercado está bastante complicado
para quem quer apresentar coisas novas. As casas não dão espaço e a maioria dos
produtores ou donos de casas querem apenas explorar as bandas. Além disso,
poucas são as mídias que incentivam as bandas novas e a cena independente. O
mercado da música tem muitos cartéis e caciques e isso dificulta o surgimento
das novas bandas. Em tempo, muito obrigado pelo espaço. São veículos como vocês
que fazem a cena se movimentar. Felizmente, no meio underground encontramos
muitos parceiros: revistas, sites, blogs, canais e programas de TV na internet,
que sempre foram muito receptivos com a banda Impéria e isso nos motiva a
seguir em frente, pois sabemos que existem muitas pessoas que acompanham estes
veículos e curtem demais o nosso trabalho. Ser independente tem um lado
problemático que envolve a busca por um espaço, a ‘jabazeira’ e tudo mais. Em
contrapartida, temos as mídias alternativas nos apoiando e um público que nos
admira. Isso é algo que faz a diferença, você saber que seu trabalho alcançou
pessoas e que elas gostaram.
Muito
obrigado pela entrevista, pode deixar uma mensagem.
Flavius:
Em nome da banda, eu quem agradeço o espaço. Espero que os leitores do Arte
Metal curtam esta entrevista e possam conhecer nosso trabalho. Dentro de pouco
tempo teremos muitas novidades relacionadas a shows e novas músicas. O CD está
disponível para download, além da versão física. Temos também uma linha de
vestuário. Estamos buscando maneiras de nos aproximar de nosso público. Espero
vê-los por aí, pois é sempre um prazer ter contato com o público, seja nas
redes sociais ou nos lugares onde nos apresentamos.
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