Por Vitor Franceschini
O Shadowside é um dos
principais nomes brasileiros no Power Metal no exterior. Claro que a banda tem
sua base de fãs por aqui, porém por tudo que já fizeram, a banda merece muito
mais. Atualmente com Dani Nolden (vocal), Raphael Mattos (guitarra), Fabio
Buitvidas (bateria) e Magnus Rosén (baixo, ex-Hammerfall), a banda divulga o
disco “Shades of Humanity” (2017), quarto da carreira e o mais abrangente do
quarteto. A vocalista Dani Nolden, que segura as rédeas desse grande monstro,
fala ao ARTE METAL e conta um pouco mais sobre o trabalho, a entrada de Magnus
e a formação da banda, além do status do grupo.
Primeiramente
eu gostaria de falar do mais recente lançamento da banda, “Shades of Humanity”
(2017). O disco traz as características do Shadowside, mas parece ser o maior
passo evolutivo de vocês, pois soa muito mais moderno que os anteriores e traz
também linhas mais Progressivas. O que você pode falar a respeito disso?
Dani:
Sem
dúvida, é o nosso passo mais ousado até hoje! Acredito que o “Shades of
Humanity” tenha quebrado todas as barreiras que ainda tínhamos. Deixamos de
lado qualquer restrição, qualquer autocensura, permitimos que todo o processo
criativo fosse livre. Isso fez com que nossas características marcantes
aparecessem naturalmente, pois não teríamos como compor sem usar elementos que
já são parte da nossa formação musical, mas também pudemos utilizar ideias que
sentimos que combinariam bem com o que fazemos. O resultado disso é o “Shades
of Humanity”, que foi composto de uma forma bem espontânea, como o álbum
anterior, o “Inner Monster Out” (2011), mas com uma dose extra de confiança,
que adquirimos com a experiência ao longo dos anos e das turnês.
Quando
eu falo moderno, não é algo tendencioso. Digo porque a banda mostra nos
trabalhos anteriores um Power Metal mais ‘comum’ assim diríamos. Costumo dizer
que a banda foi-se aprimorando e hoje soa mais Metal de forma abrangente do que
qualquer outra coisa. Concorda com isso?
Dani:
Sim, completamente! Apesar de muitas pessoas ainda nos enxergarem como uma
banda de Power Metal, parece que a opinião de todos é que mesmo que nos
enquadrem nesse rótulo, não somos uma banda “convencional” de Power Metal, já
que usamos alguns grooves diferentes, entre outras coisas. Várias outras
pessoas não concordam mais com o rótulo de Power Metal de forma alguma, então
concordo que hoje fazemos um Metal mais abrangente, com a mistura do
tradicional com o moderno, com elementos típicos do Metal aliados com de outros
estilos que frequentemente escutamos e acabam nos influenciando de uma forma ou
de outra.
“Shades
of Humanity” deu uma abrandada na velocidade, mantendo um ritmo semi-cadenciado
no aspecto geral, porém soa muito mais pesado. Isso foi algo natural ou vocês
buscaram essa variação e peso no andamento?
Dani:
Foi natural, nós percebemos isso quando já estávamos nos toques finais, no
momento em que começamos a enviar as músicas aos produtores do álbum, os suecos
Fredrik Nordström e Henrik Udd. Nós realmente queríamos algo mais pesado, mas
os grooves e algumas músicas mais cadenciadas foram só uma consequência natural
do que gostamos de fazer.
Acredito
que você (Dani) soa menos agressiva, com mais melodia, porém destaca mais seu
vocal ‘grave’ e mantém um equilíbrio impressionante. Concorda?
Dani:
Sim,
a mudança na sonoridade da voz foi algo intencional, que eu buscava já há algum
tempo. Gosto de explorar toda a extensão da voz e sentia que estava explorando
demais os agudos e deixando um pouco de lado os graves e médios, que são as
regiões onde eu mais gosto de cantar, na verdade. A outra mudança, que na minha
opinião trouxe o maior resultado, foi usar a voz mais “crua” na gravação. Nos
três álbuns anteriores, os produtores me pediram para fazer dobras na voz
principal, então eu gravava o mesmo “take” três vezes exatamente iguais. Na
mixagem, essas três vozes “iguais” eram o que vocês ouviam como a voz
principal. Teoricamente, isso dá um pouco mais de “corpo”, de peso, mas eu
sentia que o efeito na minha voz era exatamente o contrário... essa técnica
estava tirando todo o meu “feeling”, tirava um pouco das cores da minha voz e
deixava tudo um pouco mecânico. Dessa vez, eu fiz questão de gravar apenas um
único “take”. Queria que a voz que estivesse no disco fosse exatamente a que eu
escuto quando estou praticando. E por fim, reservei a agressividade e os drives
para momentos especiais, justamente para serem a surpresa, o tempero, e não
algo que perde a graça porque é feito o tempo todo. Busquei bastante esse
equilíbrio, mas essa evolução é uma coisa contínua... sempre é possível
descobrir mais coisas pra melhorar, então tenho certeza que no próximo álbum,
já vou estar querendo coisas novas de novo! (risos)
É
difícil falar apenas de uma faixa, mas Alive,
a primeira faixa que virou clipe, é a que mais destoa do disco e traz uma dose
extra de modernidade, se destacando de alguma forma. Gostaria que falasse um
pouco mais dessa composição e como ela virou clipe?
Dani:
Quando finalizamos a gravação, todos nós sentimos que Alive seria uma das faixas principais do álbum, mas nós não
queríamos decidir qual seria a primeira música de trabalho e videoclipe, porque
durante o processo de composição e gravação nos envolvemos muito com as
músicas, nos apegamos a elas e é difícil mantermos uma visão objetiva de qual
música realmente é a melhor. Então deixamos que o diretor do clipe, Daniel
Stilling, escolhesse a música. Ele escolheu Alive,
tanto pela história de superação da letra quanto pelo apelo da música, e o
videoclipe acabou virando um curta-metragem incrível feito pelo Daniel. Essa
música é muito especial pra mim, eu escrevi a letra dela enquanto enfrentava um
quadro de depressão e gosto muito de tudo que fizemos nela.
Como
você vê “Shades of Humanity” hoje, quase um ano após seu lançamento?
Dani:
Eu ainda sinto que é o nosso melhor álbum até hoje, ainda o escuto bastante
orgulhosa e feliz com a sonoridade que conseguimos alcançar. Eu sei que todas
as bandas sempre dizem isso (risos), mas é o que eu sinto de verdade. É um
álbum que eu gostaria de escutar mesmo se não fosse da minha própria banda.
E
como chegaram até o baixista Magnus Rosén (ex-Hammerfall) e como é trabalhar
com ele, tanto na gravação do disco, participação dele nas composições, quanto
durante as turnês e a conciliação de ensaio, enfim...?
Dani:
Inicialmente, convidamos o Magnus apenas para gravar o álbum, já que estávamos
sem um baixista na época e não queríamos apressar a busca e escolha de um novo
membro para a banda. Porém, enquanto conversávamos com ele sobre os planos,
sentimos que a química com ele na banda era tão boa que decidimos convidá-lo
pra ser um membro permanente, e ele aceitou! Não ensaiamos pra gravar,
trabalhamos nas músicas pela internet. Tínhamos planos de ensaiar antes da
primeira turnê, mas como nosso primeiro show com essa formação foi iniciando a
turnê dos Estados Unidos, acabamos não ensaiando nem mesmo para o primeiro
show! O plano era ensaiarmos em Nova Iorque no dia da chegada nos Estados
Unidos para tocarmos o primeiro show em Buffalo no dia seguinte, mas eu estava
me recuperando de uma infecção na garganta e não pude ensaiar, e o estúdio
estava em condições precárias e eles não conseguiram nem fazer um ensaio
instrumental. O Magnus estava um pouco preocupado, mas eu tinha certeza que ele
tocaria as músicas com maestria, e foi exatamente isso que aconteceu! Quando
falei no palco que aquele era nosso primeiro show juntos e que nunca havíamos
ensaiado, o público enlouqueceu (risos). Realmente parecia que já tocávamos
juntos há anos, nos sentimos totalmente confortáveis uns com os outros no
palco. É claro que evoluíamos a cada show, mas logo no primeiro percebemos que
o talento e a segurança dele como baixista fez uma diferença enorme, e elevou
muito o nível do show!
Provavelmente
o Shadowside tem muitos fãs em comum com o Hammerfall, afinal o estilo de vocês
não é tão diferente (também nada igual – risos). Neste caso, o quanto ele
agregou à banda?
Dani:
É
verdade, você falou bem... muito em comum, mas nada igual! (risos) Temos
elementos em comum, mas são bandas com características diferentes, então muita
gente que não conhecia Shadowside acabou nos procurando por causa do Magnus e
gostou, enquanto outros que já eram fãs das duas bandas acharam essa união
sensacional porque sentiam que o Magnus é a cara do Shadowside. Realmente ele
tem mesmo espírito que a gente, ele quer melhorar sempre, tem uma personalidade
fácil e calma, então ele caiu como uma luva no grupo.
Aliás,
Raphael Mattos e Fabio Buitvidas estão na banda há mais de dez anos. Gostaria
que falasse sobre essa longevidade também. Qual a fórmula disso e como é
trabalhar com estes dois excelentes músicos?
Dani:
A
fórmula dessa longevidade é tolerância. Um trabalho em um grupo nunca é fácil.
Temos personalidades e gostos diferentes – MUITO diferentes. Sem essa
tolerância uns com os outros, já teríamos encerrado a banda há muito tempo.
Resolvemos nossos problemas na conversa, buscamos soluções que resolvam a
situação para todos, então sempre que aparece algum desentendimento pessoal,
solucionamos da mesma forma que solucionamos problemas com irmãos, com
familiares... colocamos na mesa tudo aquilo que pensamos e damos um jeito! Isso
foi fortalecendo a união entre nós ao longo dos anos. Fora isso, sentimos que
diferenças musicais são boas para a banda, porque nos força a encontrar uma
identidade musical que agrade a todos nós e acaba fazendo com que nossa música
tenha algo de único, que não encontramos nas nossas bandas favoritas.
Vários
lançamentos e turnê pelo mundo inteiro, você eleita várias vezes como uma das
melhores vocalistas de Metal do país, sucesso no Japão e até turnê
norte-americana que atualmente é bem difícil para nomes do Metal brasileiro,
prêmios, enfim... Porém, parece que aqui o Shadowside merece mais atenção. Concorda
com isso, como explicar isso?
Dani:
Eu
vejo que a música em inglês, no Brasil, não tem muito espaço, especialmente
quando é feita por artistas brasileiros, então não sinto que somos injustiçados
aqui... acho que a música em inglês feita por brasileiros é injustiçada de um
modo geral. Sinto que os fãs de Metal do Brasil e a mídia especializada
brasileira nos reconhece bastante, e sinceramente não tenho do que reclamar.
Nossa carreira é mais desenvolvida no exterior, mas quem nos deu a base pra
isso foi o público e a mídia do Brasil. É claro que eu adoraria ir ainda mais
longe aqui no Brasil, mas para isso seria necessário fazer turnês mais extensas
aqui, o que é algo praticamente impossível por causa da falta de estrutura do
nosso país, especialmente com relação às estradas. De qualquer forma, o que
temos de atenção no Brasil foi o que nos possibilitou esses voos mais altos no
exterior, e todos nós somos muito gratos por tudo que os nossos fãs daqui nos
deram. Os poucos shows que conseguimos fazer aqui dificilmente nos rendem muita
coisa financeiramente, mas nós fazemos mesmo assim para agradecer a essas
pessoas que sempre nos apoiaram.
Aliás,
quais as principais experiências a banda tem adquirido durante essas turnês no
exterior e quais particularidade em especial apresentam os EUA, Europa e Japão?
Dani:
Nós ainda não tocamos na Ásia, mas a diferença do Metal nos EUA e na Europa é
enorme! Os shows nos Estados Unidos normalmente são menores, não apenas pra
nós, mas para a grande maioria das bandas de Metal. Nos EUA, o público é
pequeno comparado ao europeu, mas é um público que acompanha uma banda
fielmente! Alguns fãs seguem a banda em vários shows da turnê, outros foram a
shows que fizemos há 10 anos atrás, outros diziam como esperavam pra ver nosso
show ao vivo há mais de 15 anos. O público europeu é intenso, grita, canta e
comparece em peso, mas sinto que eles amam o Metal em geral. É claro que eles
também têm suas bandas favoritas, mas percebo que o americano tem aquela coisa
de “banda do coração”. Eles são mais reservados que o público do leste europeu,
por exemplo, mas interagem fortemente na carreira das bandas que eles curtem. É
muito legal observar essas diferenças culturais sempre que temos a oportunidade
de tocar fora do país!
Recentemente
você foi uma das convidadas especiais para a gravação do DVD do “Souls Spell
Metal Opera” da Soulspell, um audacioso projeto que comemorou 10 anos de
existência e teve presença de 26 dos mais conceituados cantores de Rock/Metal
do Brasil. Como surgiu essa oportunidade e como foi participar do projeto?
Dani:
Eu
conheço o Heleno já há bastante tempo, e no último lançamento do Soulspell, ele
me convidou para participar da gravação de duas músicas, Game of Hours e Horus’s Eye,
interpretando o personagem “The Shadows”. As músicas são muito legais e eu
aceitei na hora! Então, quando ele comentou sobre a possibilidade do DVD e me
perguntou se eu aceitaria participar, também não pensei duas vezes. Foi um
momento histórico para o Metal no Brasil. Não tenho palavras para descrever o
tamanho da honra de participar de algo tão ousado, com cantores e músicos de
tanta competência. Não é fácil subir no palco com essa galera, a
responsabilidade é enorme, mas foi incrível! E no dia 30 de setembro, vou
cantar com eles novamente, dessa vez em Porto Alegre, no Teatro AMRIGS.
Por
fim, é certeza que vocês já estão trabalhando em algo, afinal, lá se vai mais
de um ano do último lançamento inédito. O que pode nos adiantar a respeito
disso?
Dani:
No momento, nós estamos concentrados em shows, pois apesar de já ter se passado
um ano desde o lançamento, ainda temos os planos para os shows no Brasil e
possivelmente um retorno à Europa. Depois disso, vamos começar a trabalhar em
material inédito. Não nos preocupamos muito com o tempo entre um álbum e outro
pois o que importa pra nós é lançarmos coisas que gostamos, e não apenas lançar
porque precisamos lançar. Então, o momento agora é de executar o “Shades of
Humanity” ao vivo em todos os lugares que pudermos!
Muito
obrigado pela entrevista, gostaria que deixasse uma mensagem aos leitores.
Dani:
Vamos anunciar algumas datas de shows no Brasil em breve, então fiquem ligados
no nosso site e nas nossas redes sociais! Assistam ao videoclipe da Alive em https://www.youtube.com/watch?v=EF9Tv5USAYg.
Muito obrigada ao ARTE METAL pelo espaço e aos fãs por todas as mensagens de
apoio, nos veremos logo!
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