quarta-feira, 25 de setembro de 2019

In Lo(u)co: Uma vez...


Banda Tribal Dance


Por Adalberto Belgamo


Uma das coisas mais legais e duradouras no cenário underground é ter a oportunidade de fazer amigos para a vida toda. As madrugadas nas rodoviárias do interiorzão de São Paulo guardam muitas histórias de companheirismo e os ecos das risadas, que permaneceram nas estruturas de cimento e aço das construções. Sempre havia um banco esperando para ser usado como cama, enquanto os ônibus não partiam. No entanto, pelo menos uma vez por mês, os amigos (velhos e novos) sabiam que se encontrariam de novo. Mais histórias; mais vida “vivida”. Bons tempos.


Era comum a hospedagem na casa dos amigos. Descansar, “filar aquele rango esperto” e mesmo pernoitar naquele sofá básico (ou no colchonete de 2 cm de espessura) eram presentes do Deus Metal (risos). Antes ou depois dos mini festivais e/ou shows, colocávamos a conversa (não apenas a musical; ninguém era alienado) em dia e, logicamente, havia o momento “ostentação”. Discos (na época não havia CD), fitas, camisetas, revistas e pastas (todos faziam pastas com reportagens e fotos de bandas) eram analisados, dissecados e consumidos.


Histórias surreais e engraçadas? Então... Uma vez... (sem dar nome aos bois... – risos)

Show do Dorsal em uma cidade próxima a Texascoara. Um amigo me convidou para almoçar na casa dele. E conversa vai e conversa vem e eis que a refeição chega. Chique no “úrtimu”, com refrigerantes, sucos e sobremesa! As pessoas (família e quem vos escreve – risos) se servindo, falando da vida e tale e coisa e coisa e tale. De repente, do nada, o “amigo” pega uma tartaruga “viva” e joga na cumbuca do feijão! E ainda diz: “consegue nadar em qualquer lugar...”. Surreal!


(Nota: o caldo não estava quente, quem vos escreve não come feijão – ufa! - e o bichinho gostou do banho... mas não imitem a insensatez - risos)


Uma vez...

A banda de uns amigos foi tocar em uma cidade próxima à Texascoara.  O local do show era o mesmo que rolava uns “bate-coxas” pé de serra. Acredita-se que tenham se esquecido de avisar o público da casa que o “baguiu” iria ser louco. Sairia o bate-coxa para entrar o bate-cabeça. Eu estava como roadie da banda. Em um momento, enquanto subia ao palco, uma das minhas pernas de seriema escapou e deu no meio da cabeça de uma moça trans. Enfurecidos, os freqüentadores habituais e amigos da moça juraram sentar a lenha nos cabeludos. Resultado: vi o show da entrada lateral do palco e fui (fomos) para a rodoviária quando as coisas se acalmaram, inclusive com intervenção policial. Foi tenso esperar o ônibus.

(Nota: quem me conhece pessoalmente sabe que sou quase um terrorista  pela liberdade de expressão, gênero e afins – não sou fiscal de bunda – cada um faça o quiser com a sua! – preconceito no século XXI é coisa de goiabão ou laranjão – risos)


Uma vez...

Eu vivi a época dos “SP Metal I e II”. O metal nacional começava a dar os primeiros passos. Em uma das coletâneas, havia a banda Santuário, de Santos. Metal tradicional com o guitarrista influenciado pelo Eddie Van Halen. Eles se apresentariam em Piracicaba/SP. Se não foi o primeiro, foi um dos primeiros eventos underground que eu participei e, como conseqüência, acabei tomando gosto pela coisa (risos). E lá vamos nós para a cidade com o sotaque mais lindo do mundo! Tenho origens naquela região e ainda “sorto” uns “porrrta e horrrta” com muito orgulho!


Imaginem um teatro antigo e bonito. O local do show era isso e muito mais! Já na banda de abertura, um “amigo” machucou a boca, o que resultou um sangramento que não parava. Ficou o show todo cuspindo sangue. Não sei o motivo, mas quando terminou o show do Santuário, alguém “mamado” conseguiu quebrar um espelho centenário do teatro. Resultado: polícia descendo o reio nas pessoas que tentavam escapar e/ou se esconder no centro da cidade. Tivemos sorte. Não fomos atingidos e ainda orientados como chegar à rodoviária.

(Nota: na rodoviária, sem nada para fazer até amanhecer o dia, ficamos fuçando na banca de jornal, principalmente nas histórias em quadrinhos eróticas... ah, e a boca do meu amigo? Ainda sangrava– risos)


Uma vez...

Houve um encontro (ou jogos) dos escreventes do judiciário na minha cidade lá pelos idos de 1994. O Tribal Dance, um grupo no qual eu tocava (ou tentava), foi convidado para fazer o “evento de encerramento” em um clube tradicional. O nosso repertório era basicamente de covers de Ramones, Black Sabbath, Kiss, Jane’s Addiction e algumas composições próprias que, segundo alguns amigos, lembravam New Model Army, Soundgarden e Sabbath. Alguma coisa errada não estava certa! (risos).


O local estava cheio. Não tocamos nem duas músicas e já foram perguntar se não “levávamos” umas canções italianas ou algo mais pop. Resultado: foi o evento mais curto de todos os tempos na história de Texascoara. Alguns amigos, inclusive de fora da cidade, chegaram e não nos encontraram, pois já estávamos no tradicional Bar do Zinho, tomando umas e dando risadas da situação.

(Nota: o cachê seria em cerveja e lanches... não recebemos, obviamente)


E assim segue até hoje. Menos histórias para adicionar ao cancioneiro devido às responsabilidades, mas sempre sobra um tempinho para agregar algo novo!


Inté!


*Adalberto Belgamo é professor, atuando no museu (sem ser peça... ainda - risos), colaborador do Arte Metal, além de ser Parmerista, devorador de música boa, livros, filmes e seriados. Um verdadeiro anarquista fanfarrão.

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