Banda Tribal Dance |
Por
Adalberto Belgamo
Uma
das coisas mais legais e duradouras no cenário underground é ter a oportunidade
de fazer amigos para a vida toda. As madrugadas nas rodoviárias do interiorzão
de São Paulo guardam muitas histórias de companheirismo e os ecos das risadas,
que permaneceram nas estruturas de cimento e aço das construções. Sempre havia
um banco esperando para ser usado como cama, enquanto os ônibus não partiam. No
entanto, pelo menos uma vez por mês, os amigos (velhos e novos) sabiam que se
encontrariam de novo. Mais histórias; mais vida “vivida”. Bons tempos.
Era
comum a hospedagem na casa dos amigos. Descansar, “filar aquele rango esperto”
e mesmo pernoitar naquele sofá básico (ou no colchonete de 2 cm de espessura) eram
presentes do Deus Metal (risos). Antes ou depois dos mini festivais e/ou shows,
colocávamos a conversa (não apenas a musical; ninguém era alienado) em dia e,
logicamente, havia o momento “ostentação”. Discos (na época não havia CD),
fitas, camisetas, revistas e pastas (todos faziam pastas com reportagens e
fotos de bandas) eram analisados, dissecados e consumidos.
Histórias
surreais e engraçadas? Então... Uma vez... (sem dar nome aos bois... – risos)
Show
do Dorsal em uma cidade próxima a Texascoara. Um amigo me convidou para almoçar
na casa dele. E conversa vai e conversa vem e eis que a refeição chega. Chique
no “úrtimu”, com refrigerantes, sucos e sobremesa! As pessoas (família e quem
vos escreve – risos) se servindo, falando da vida e tale e coisa e coisa e
tale. De repente, do nada, o “amigo” pega uma tartaruga “viva” e joga na
cumbuca do feijão! E ainda diz: “consegue nadar em qualquer lugar...”. Surreal!
(Nota:
o caldo não estava quente, quem vos escreve não come feijão – ufa! - e o
bichinho gostou do banho... mas não imitem a insensatez - risos)
Uma
vez...
A
banda de uns amigos foi tocar em uma cidade próxima à Texascoara. O local do show era o mesmo que rolava uns
“bate-coxas” pé de serra. Acredita-se que tenham se esquecido de avisar o
público da casa que o “baguiu” iria ser louco. Sairia o bate-coxa para entrar o
bate-cabeça. Eu estava como roadie da banda. Em um momento, enquanto subia ao
palco, uma das minhas pernas de seriema escapou e deu no meio da cabeça de uma
moça trans. Enfurecidos, os freqüentadores habituais e amigos da moça juraram
sentar a lenha nos cabeludos. Resultado: vi o show da entrada lateral do palco
e fui (fomos) para a rodoviária quando as coisas se acalmaram, inclusive com
intervenção policial. Foi tenso esperar o ônibus.
(Nota:
quem me conhece pessoalmente sabe que sou quase um terrorista pela liberdade de expressão, gênero e afins –
não sou fiscal de bunda – cada um faça o quiser com a sua! – preconceito no
século XXI é coisa de goiabão ou laranjão – risos)
Uma
vez...
Eu
vivi a época dos “SP Metal I e II”. O metal nacional começava a dar os
primeiros passos. Em uma das coletâneas, havia a banda Santuário, de Santos.
Metal tradicional com o guitarrista influenciado pelo Eddie Van Halen. Eles se
apresentariam em Piracicaba/SP. Se não foi o primeiro, foi um dos primeiros
eventos underground que eu participei e, como conseqüência, acabei tomando gosto
pela coisa (risos). E lá vamos nós para a cidade com o sotaque mais lindo do
mundo! Tenho origens naquela região e ainda “sorto” uns “porrrta e horrrta” com
muito orgulho!
Imaginem
um teatro antigo e bonito. O local do show era isso e muito mais! Já na banda
de abertura, um “amigo” machucou a boca, o que resultou um sangramento que não
parava. Ficou o show todo cuspindo sangue. Não sei o motivo, mas quando
terminou o show do Santuário, alguém “mamado” conseguiu quebrar um espelho
centenário do teatro. Resultado: polícia descendo o reio nas pessoas que
tentavam escapar e/ou se esconder no centro da cidade. Tivemos sorte. Não fomos
atingidos e ainda orientados como chegar à rodoviária.
(Nota:
na rodoviária, sem nada para fazer até amanhecer o dia, ficamos fuçando na
banca de jornal, principalmente nas histórias em quadrinhos eróticas... ah, e a
boca do meu amigo? Ainda sangrava– risos)
Uma
vez...
Houve
um encontro (ou jogos) dos escreventes do judiciário na minha cidade lá pelos
idos de 1994. O Tribal Dance, um grupo no qual eu tocava (ou tentava), foi
convidado para fazer o “evento de encerramento” em um clube tradicional. O
nosso repertório era basicamente de covers de Ramones, Black Sabbath, Kiss,
Jane’s Addiction e algumas composições próprias que, segundo alguns amigos,
lembravam New Model Army, Soundgarden e Sabbath. Alguma coisa errada não estava
certa! (risos).
O
local estava cheio. Não tocamos nem duas músicas e já foram perguntar se não
“levávamos” umas canções italianas ou algo mais pop. Resultado: foi o evento
mais curto de todos os tempos na história de Texascoara. Alguns amigos,
inclusive de fora da cidade, chegaram e não nos encontraram, pois já estávamos
no tradicional Bar do Zinho, tomando umas e dando risadas da situação.
(Nota:
o cachê seria em cerveja e lanches... não recebemos, obviamente)
E
assim segue até hoje. Menos histórias para adicionar ao cancioneiro devido às
responsabilidades, mas sempre sobra um tempinho para agregar algo novo!
Inté!
*Adalberto Belgamo é
professor, atuando no museu (sem ser peça... ainda - risos), colaborador do
Arte Metal, além de ser Parmerista, devorador de música boa, livros, filmes e
seriados. Um verdadeiro anarquista fanfarrão.
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