quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Killing Yourself: F.A.C.O. (Necrobiotic)




O tempo de estrada nem sempre condiz com a contribuição de um músico ao cenário que ele compõe. Por isso, se levarmos em conta que Flávio Oliveira, vulgo F.A.C.O., guitarrista e vocalista do Necrobiotic, está há pouco mais de vinte anos na ativa e já fez muito mais que muitos músicos de vanguarda ao Metal extremo, concluímos tal fato. Integrante da banda mineira e hoje seu principal mentor, o músico de Divinópolis/MG, é o convidado da vez do Killing Yourself!

“Carnal Suffering of the War” – Demo – Necrobiotic (1997): Eu não gravei a demo, mas estava lá no porão do Jorbel ajudando o Toninho com a captação. Entrei na banda em 96, mas me desentendi com um dos integrantes da época e sai por alguns meses, coincidentemente no período da gravação da demo. Uma demo ensaio de Splatter/Death Metal gravada em um ensaio com uma captação extremamente precária. Um microfone e um 4x1. Muita vontade e pouquissimo recurso. Mas era bom viu, eu entrei no Necro depois da segunda apresentação ao vivo da banda, como era bom, era muito massa fazer parte daquilo.



Necrobiotic no início de carreira


“Alive and Rotting” – Necrobiotic (2011): Nostálgico, o sentimento foi excelente. Não tínhamos praticamente nenhuma experiência em estúdio, e isso pode ser notado no álbum, mas as músicas são muito maduras, a maioria delas maturou muito tempo até ser gravada. Foi um disco gravado em um estúdio amador, praticamente sem recursos. Mas ficamos muito felizes, era o registro da volta da banda, com alguns anos de atraso soltamos nosso debut, e boa parte das músicas já estava pronta há anos, pelo menos 50% das músicas (inteiras) desse disco foram compostas entre 94 e 99 e o restante no início dos anos 2000. Foi o último registro do Necro com 2 vocais, eu nunca quis cantar na vida, mas acabei assumindo parte dos vocais...

“Death Metal Machine” – Necrobiotic (2014): Esse é um disco controverso. Eu estava num momento pessoal muito difícil na minha vida particular. As músicas eram bastante complexas, as letras eram extremamente complexas, inclusive nós tocamos poucas músicas desse período. Foi um período de muitos excessos de pelo menos metade da banda, a formação quase mudou no meio da gravação, o Beto sumiu (risos). É um disco mais melódico, beirando o Death Metal melódico em vários momentos. Cometemos muitos erros na produção, erros mesmo. Dessa vez não foi falta de experiência, preguiça de alguns e loucura de outros… pra você ter ideia, a sessão de vocais deve ter tido umas 05, foi uma merda, e eu estava assumindo de vez os vocais, e sinceramente não gostei do resultado. Pra muita gente é nosso melhor disco, mas meio que jogamos ele fora na produção, enfim tempos insanos 2013 pra 2014. Esse álbum rendeu nossa primeira tour na América Latina, primeira tour no Nordeste e uma música que é bastante conhecida, Death Metal Machine.

Por volta de 2014


“The Extinction of Faith” – Necrobiotic (2016): Gravar esse disco foi uma experiência e tanto. Primeiro eu assumi a produção de maneira bem definitiva e as rédeas curtas de tudo que fazíamos, pra não termos os mesmos problemas de antes. Segundo que nós gravamos bateria e voz no estúdio Engenho, com o André Cabelo, e as guitarras nós gravamos no Stonehenge com o Tiago Castro. O máximo do profissionalismo musical das Gerais. Então eu aprendi pra caralho de produção, usei amplificadores que eu nunca mais voltarei a sequer ver, foi sem dúvida uma experiência e tanto. Outra coisa foi a questão musical, nós resolvemos dar um passo para trás na complexidade das músicas, voltamos a fazer um som mais direto, menos melódico, meu vocal amadureceu e tem a cereja do bolo, The Extinction of Faith, resgatada de uma tape com um ensaio gravado em 97. O disco narra uma história, as músicas guardam relação com essa história, é sem dúvida uma obra extremamente coerente, eu pensei nos mínimos detalhes de tudo pra fazer o álbum mais coeso possível. Esse disco rendeu uma puta tour no Brasil, e abriu caminho para tocarmos na Europa.



“Under the Sign of I” – EP – Necrobiotic (2018): Foi o material mais fácil de ser gravado, todo mundo muito entrosado, em excelente forma, e é meio álbum (risos). Esse material foi um disco abortado, pois mudamos metade da formação da banda durante a composição dele, daí eu e o Broka resolvemos fazer um EP. Nos mesmos moldes do “Extinction…”, tudo perfeito, Cabelo, cordas no Estúdio Atack, que é excelente para cordas, e o Rafão e César mataram a pau também, excelente performance dos dois. Musicalmente estamos mais Splatter novamente, o que faltou um pouco no “Extinction…”, e é a proposta da banda, enfim, é um grande registro. Foi a primeira vez que não gravei todas as guitarras base de um disco do qual participo, isso facilitou muito para mim. O único erro dessa produção foi ter mixado/masterizado no exterior com um camarada de Hamburgo, merecíamos um som mais orgânico, principalmente pra bateria... De qualquer maneira com esse material ganhamos a Europa.

Atual Necrobiotic 


“Symphonies for the Mentally Deceased” – Necrobiotic (2019): Esse álbum fluiu muito fácil. Em menos de 1 ano compusemos tudo, arranjamos e gravamos. Ensaiamos muito para entrar no estúdio, foi um processo cansativo, mas no fim rolou tudo muito bem na gravação. É a estréia do Evandro, e diga-se de passagem, o trabalho de bateria está incrível. O Manfredo (Riff Studio) fez um puta trabalho na mixagem/masterização, e acho que dá pra ver a personalidade do Rafão e do César no álbum, eles participaram mais das composições, do que no EP, e me influenciaram bastante na produção. Funcionou muito bem a sinergia no fim das contas, mesmo sendo muito corrido e eu estando bem longe durante a gravação das partes deles, eu fiz uma viagem a trabalho que durou um mês durante o processo de gravação do disco. Eu deleguei muita coisa pra eles, e eles se saíram muito bem, quando eu voltei de viagem eu fiquei impressionado com o trabalho deles. A sensação é de dever cumprido eu acho que conseguimos superar nossos álbuns anteriores, todos deram seu melhor, e o resultado é um disco do qual eu gosto muito. É mais um disco temático, dessa vez falando sobre loucura, com muita influência de Grindcore em uma ponta de Doom Metal na outra, tudo isso dentro da nossa sonoridade tradicional. Do ponto de vista pessoal, o trabalho de vocais nesse disco é bem bom, sem dúvida os melhores vocais que gravei até hoje e eu tenho que aprender uns solos pra tour (risos), improvisei total na gravação. Agora é estrada, Europa incluída novamente, e beber pra caralho por ai. Nos vemos na estrada!

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