terça-feira, 9 de março de 2021

“Dance Of December Souls”, o disco único de uma vasta discografia


 

Por Vitor Franceschini

 

Tem um tempo em que estou ensaiando escrever algo sobre os discos que mais ouvi na vida (e continuo ouvindo!), que não são exatamente de bandas clássicas do Rock / Metal, as icônicas, gigantes mesmo. Mas o intuito é não seguir padrões e definir técnicas dos tais discos e simplesmente deixar fluir a paixão que sinto por eles.

 

O primeiro deles é a obra prima dos suecos do Katatonia, o debut “Dance Of December Souls”, lançado originalmente em 1993. Com exceção de demos, o trabalho não foi antecipado por nada oficial da banda e surpreendeu de cara pelo impacto de sua sonoridade, mesclada no Black/Doom Metal, fugindo um pouco do que britânicos como Paradise Lost, Anathema e My Dyinh Bride propunham na época, que era a fusão do Death Metal com o Doom.

 

“Dance Of December Souls” é um trabalho único de diversas formas. Primeiro que é o único disco da banda que contém tal sonoridade, afinal eles mudaram e moldaram drasticamente seu som com o tempo, se enveredando para algo mais alternativo, calcado no Gothic Rock/Metal. Não tão primorosos como este trabalho, mas ainda excelentes e em atividade.

 

Katatonia na época do lançamento de "Dance Of December Souls"

Outro fator é que a sonoridade encontrada neste álbum, que no final de 2021 completa 28 anos, não se assemelha a nada feito antes e nem depois de seu lançamento (se conhecestes alguma coisa, comente e trarei controvérsias). Você pode encontrar influências vocais ali, os timbres instrumentais acolá, mas jamais uma essência ao menos semelhante e melodias tão bem encaixadas como aqui.

 

“Dance of December Souls” traz melodias bem originais, que parecem advindas das almas de seus integrantes, que fazem com que os riffs agressivos e ríspidos das guitarras pareçam suaves... Os solos que também servem de base, despertam um misto de euforia e melancolia, e isso parece aumentar com o tempo, não só de audição, mas na vida de quem sabe o admirar.

 

A unicidade do disco pode-se definir pelo fato de que o trabalho tenha sido gravado por um trio e esta tenha sido a única oportunidade em que entraram em estúdio, resultando nesta química única. Jonas Renkse, aqui era Lord J. Renkse e foi responsável pelos vocais e pela bateria, além do principal letrista da banda. Hoje é o ‘frontman’ do grupo e ainda tem ao seu lado Anders Nyström, que é conhecido como Blackheim em “Dance Of December Souls”, e foi o responsável por toda a sonoridade que o compõe. Os dois são os únicos remanescentes da formação original. Guillaume Le Huche, vulgo Israphel Wing foi o responsável pelas linhas de baixo. O músico saiu logo depois do lançamento e voltou em 1995, gravou mais alguns trabalhos e deixou a banda definitivamente em 1998. Os teclados ficaram por conta do músico convidado ‘Day DiSyraah’, que nada mais é que o gênio Dan Swanö, que produziu o álbum.

 

No fim, ainda caí nos ‘termos técnicos’ do disco, talvez por algum vício que tenho em resenhas. Mas costumo dizer que é muito difícil falar sobre nossas paixões musicais, talvez porque não haja palavras para defini-las. “Dance Of December Souls” é um disco que ainda me traz muito prazer, mas tem um valor afetivo e um sentimento nostálgico. Mais da metade da minha vida ouvi esse disco, e quando jovem o apreciava por condizer com meus sentimentos internos e atitudes externas, sendo que hoje me vem à tona todo o amadurecimento pessoal e de conhecimento musical que só faz eu apreciar ainda mais essa obra.

 

O disco é dos poucos que tenho na versão em LP e CD, ambas lançadas em 1995 pela Hellion Records aqui no Brasil. Não por causa disso, afinal os guardo com carinho em um local reservado, quando não pego os ouvindo no formato físico, sempre procuro as plataformas digitais para reproduzi-lo. Lembrando que o disco foi originalmente lançado pela gravadora sueca No Fashion Records e relançado diversas vezes por outros selos. Não destacarei nada em “Dance Of December Souls”, afinal ele é o próprio destaque deste texto.

 







 

*Vitor Franceschini é editor do ARTE METAL, jornalista graduado, palmeirense e headbanger que ama música em geral, principalmente a boa. Acha que o Katatonia não morreu depois disso, apenas reencarnou.  

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