Por Vitor Franceschini
Tem um tempo em que estou
ensaiando escrever algo sobre os discos que mais ouvi na vida (e continuo
ouvindo!), que não são exatamente de bandas clássicas do Rock / Metal, as
icônicas, gigantes mesmo. Mas o intuito é não seguir padrões e definir técnicas
dos tais discos e simplesmente deixar fluir a paixão que sinto por eles.
O primeiro deles é a obra
prima dos suecos do Katatonia, o
debut “Dance Of December Souls”,
lançado originalmente em 1993. Com exceção de demos, o trabalho não foi
antecipado por nada oficial da banda e surpreendeu de cara pelo impacto de sua
sonoridade, mesclada no Black/Doom Metal, fugindo um pouco do que britânicos
como Paradise Lost, Anathema e My Dyinh Bride propunham na época, que
era a fusão do Death Metal com o Doom.
“Dance
Of December Souls” é um trabalho único de diversas formas.
Primeiro que é o único disco da banda que contém tal sonoridade, afinal eles
mudaram e moldaram drasticamente seu som com o tempo, se enveredando para algo
mais alternativo, calcado no Gothic Rock/Metal. Não tão primorosos como este
trabalho, mas ainda excelentes e em atividade.
Katatonia na época do lançamento de "Dance Of December Souls" |
Outro fator é que a
sonoridade encontrada neste álbum, que no final de 2021 completa 28 anos, não
se assemelha a nada feito antes e nem depois de seu lançamento (se conhecestes
alguma coisa, comente e trarei controvérsias). Você pode encontrar influências
vocais ali, os timbres instrumentais acolá, mas jamais uma essência ao menos
semelhante e melodias tão bem encaixadas como aqui.
“Dance
of December Souls” traz melodias bem originais, que parecem
advindas das almas de seus integrantes, que fazem com que os riffs agressivos e
ríspidos das guitarras pareçam suaves... Os solos que também servem de base,
despertam um misto de euforia e melancolia, e isso parece aumentar com o tempo,
não só de audição, mas na vida de quem sabe o admirar.
A unicidade do disco pode-se
definir pelo fato de que o trabalho tenha sido gravado por um trio e esta tenha
sido a única oportunidade em que entraram em estúdio, resultando nesta química
única. Jonas Renkse, aqui era Lord J. Renkse e foi responsável pelos vocais e
pela bateria, além do principal letrista da banda. Hoje é o ‘frontman’ do grupo
e ainda tem ao seu lado Anders Nyström, que é conhecido como Blackheim em
“Dance Of December Souls”, e foi o responsável por toda a sonoridade que o
compõe. Os dois são os únicos remanescentes da formação original. Guillaume Le
Huche, vulgo Israphel Wing foi o responsável pelas linhas de baixo. O músico
saiu logo depois do lançamento e voltou em 1995, gravou mais alguns trabalhos e
deixou a banda definitivamente em 1998. Os teclados ficaram por conta do músico
convidado ‘Day DiSyraah’, que nada mais é que o gênio Dan Swanö, que produziu o álbum.
No fim, ainda caí nos
‘termos técnicos’ do disco, talvez por algum vício que tenho em resenhas. Mas
costumo dizer que é muito difícil falar sobre nossas paixões musicais, talvez
porque não haja palavras para defini-las. “Dance Of December Souls” é um disco
que ainda me traz muito prazer, mas tem um valor afetivo e um sentimento
nostálgico. Mais da metade da minha vida ouvi esse disco, e quando jovem o
apreciava por condizer com meus sentimentos internos e atitudes externas, sendo
que hoje me vem à tona todo o amadurecimento pessoal e de conhecimento musical
que só faz eu apreciar ainda mais essa obra.
O disco é dos poucos que
tenho na versão em LP e CD, ambas lançadas em 1995 pela Hellion Records
aqui no Brasil. Não por causa disso, afinal os guardo com carinho em um local
reservado, quando não pego os ouvindo no formato físico, sempre procuro as
plataformas digitais para reproduzi-lo. Lembrando que o disco foi originalmente
lançado pela gravadora sueca No Fashion Records e relançado diversas vezes por
outros selos. Não destacarei nada em “Dance Of December Souls”, afinal ele é o
próprio destaque deste texto.
*Vitor
Franceschini é editor do ARTE METAL, jornalista graduado, palmeirense e headbanger
que ama música em geral, principalmente a boa. Acha que o Katatonia não morreu
depois disso, apenas reencarnou.
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