Por Douglas Ribeiro
Fotos por Paulo Júnior / Alessandro Gaioto
/ Karla Brunaldi
Tiago Cego é vocalista da
banda Incoma, de Maringá/PR. Conheci
ele num desses grupos de bandas de Metal Nacional, quando tinha minha conta no
Facebook. Fui conhecendo o som, e os caras têm o que dizer. As letras do Incoma falam sobre o distópico
cotidiano do ser humano, suas mudanças psicológicas, conscientes e físicas,
viagens filosóficas sobre o perfil predador de si mesmo que as pessoas exercem
sobre si mesmas e seus semelhantes, junto a uma alienação que o mau uso da
tecnologia causa. A banda tem dois clipes, I,
the Parasite e Human 3.0, este último mais recente, disponíveis no YouTube e
plataformas de música. Neste papo, converso com ele a respeito do processo de criação
da banda, além de suas inspirações individuais.
Antes
de tudo, obrigado pela conversa!
Tiago
Cego: Eu que agradeço pelo espaço aqui no ARTE METAL, parabéns pela proposta de
aproximar os amantes da arte e do underground. Essa prosa está sendo muito
importante para mim.
Quando
e quem te influenciou a assumir os vocais?
Tiago: Depois
de refletir um pouco, foi a falta de grana para comprar um baixo lá em 1999 que
me fez cantar. Quando adolescente, me chamaram para tocar baixo numa banda. Em
pouco tempo eu não comprei o instrumento e não aprendi a tocar. Resultado: fui
demitido. Meses depois me chamaram para cantar e gostei da ideia. Depois de uns
meses veio a banda com amigos mais próximos. No começo éramos Punk Rock com
letras de cânticos cristãos, depois que apareceram algumas caixas de fita K7 e
uns CDs de Metal e tudo mudou, passamos a nos inspirar em tudo o que era de mais
agressivo e montamos a banda Cafaranaum,
100% inspirados pelas bandas Rebaelliun
e Krisiun. Após algumas trocas de
integrantes, criamos o "In Coma" (separado mesmo) (https://www.youtube.com/watch?v=Jgif8FE5MBs)
que durou até 2007. Cafarnaum - 2000
- Isso era uma banda de Brutal Death Metal de adolescentes (risos).
Como
você se juntou ao Incoma?
Tiago: Eu
conhecia o trabalho dos irmãos Aldana através da banda Kahbla, como eles também estavam parados há um tempo, dei a ideia
de montar uma banda de Metal, o primeiro contato foi via Orkut, em 2009. Anos
depois encontrei o Leonardo (batera) no busão a caminho do trabalho e começamos
a trocar umas ideias, dois anos depois, ele, o Bruno Aldana e eu, sentamos para
conversar e dar início à banda, 6 meses depois lançamos o single “Enemy Inside” (https://www.youtube.com/watch?v=USytz4_03uc).
E aqui estamos, 5 anos de história.
As
composições da banda são complexas, além de bem produzidas. Como é o processo
de composição, vocês escrevem as letras juntos, ou um tema em comum é escolhido
e um dos membros da banda põe no papel?
Tiago: Quem
nos dera, a gente tenta soar um tanto técnicos sem ser muito progressivo (risos).
Até o “Human 3.0”, os temas das
letras não seguiam uma linha temática, cada letra tem uma proposta totalmente
diferente, porém, durante uma conversa sobre com quais temas poderíamos focar,
vimos que as três têm uma coisa em comum: a ideia sobre o que somos e o que
podemos nos tornar, não apenas a consciência, mas em aspectos físicos e as
consequências futuras que nos espera. As letras novas estão sendo escritas pelo
Rocco (baixo) e tem um teor bem filosófico, seja individual ou coletivo, das
dores que o cotidiano trazem até mesmo aos anos de evolução/atraso que vivemos
como ser humano. Sobre como compomos, os guitarristas trazem os novos riffs, eu
separo uma letra já pronta e o batera estuda tudo na hora, vamos para o estúdio
e começamos a criar o esqueleto. Todos trazem ideias e cada um deixa um pedaço
de si nas composições, aí vem o mix de influências: Metal, música brasileira,
Rock clássico, música erudita, Pop (risos) e o que mais aparecer. Tentamos
juntar tudo isso sem deixar nossa assinatura de lado. Cada música é bem
diferente, mas tem um toque que acaba denunciando nosso som. Depois vamos para
a produção, trabalhamos da seguinte forma: ensaiamos por um bom tempo para
definir a essência da música. Os guitarristas, baixo e batera pensam nos
arranjos para preencher a composição e eu desenho os vocais, fazemos uma pré-produção
e atuamos em cima dela. Com isso em mãos, focamos em apenas uma ou duas
músicas. Como o custo é alto, preferimos lançar um single e videoclipe e ir
apresentando ao público.
Como
a quarentena influenciou no desempenho de suas atividades criativas?
Tiago: A
influência da quarentena tem sido muito positiva, todo mundo chega no estúdio
com uma ideia, riff ou arranjo novo para uma música. Isso será muito bom para o
EP que estamos trabalhando, acredito que será muito diferente do que já fizemos
antes.
Fora
o Metal, que outros tipos de som você gosta de ouvir? Existem gêneros musicais
"improváveis" que você goste?
Tiago:
Eu saí do pagode e hoje toco Death Metal. Passei muito tempo fechado no Metal,
tanto que quase não conhecia as bandas clássicas dos anos 70 que são os
alicerces do Rock e Metal que temos hoje. Depois de um tempo nessa, resolvi me
abrir para outros horizontes, aí veio a música brasileira, o hip hop, a
lisergia dos anos 60 aos 70 no brasil e no mundo, os sintetizados dos anos 80,
muito Soul e até funk carioca eu ouço para entender o mundo da música, eu
procuro compreender o que há por trás de cada época e artista.
Como
foi o processo de filmagem de "Human 3.0"?
Tiago: Como
já havíamos trabalhado com o Paulão no clipe da I, the Parasite, aí foi bem mais fácil fazer o "Human 3.0". Simplificamos a ideia para reduzir as
dificuldades e fizemos tudo no preto e branco, filmando cada integrante. Fomos
para o estúdio, o Paulo fez a direção e nós atuamos de forma mais enfática que
no anterior. Foram três takes de cada integrante para que ele pudesse separar a
melhor imagem para a sincronização com o áudio. Depois de três dias ele já
enviou o vídeo para avaliação, aprovamos de primeira.
Que
artistas e bandas você tem mais escutado ultimamente? Recomenda um som pra
galera aí!
Tiago: Essa
parte toca meu ego (risos). Sou de fase, passo de seis meses a um ano ouvindo
um artista mesclado com outros e depois mudo o humor e fico mais seis em outro.
Eu uso o last.fm(https://www.last.fm/user/novoperfil)
para registrar tudo o que ouço, nos últimos 30 dias, pulo do Death ao Tom Zé e Racionais. Vou
listar aqui minhas bandas que considero prediletas, aquelas que transcenderam
os anos 2000 até agora:
- Cephalic Carnage
- Neurosis
- Rebaelliun/Nephasth
- Misery Index
- Pink Floyd
- Origin
- Death
- Nile
- Tim Maia
- Septicflesh
- OM
- Dying Fetus
- Zé Ramalho
Além
das musicais, que outras referências e influências você carrega?
Tiago: De
certa forma, sou muito ligado a arte de modo geral, mas não me considero uma
pessoa especial ou coisa do tipo, gosto muito de cinema e artes visuais. Isso
vem da infância, por influência indireta da minha mãe. Tive muito contato com
poesia no passado tanto que ganhei um apelido de chacal por conta de uma poesia
do Mário Quintana. Gosto muito de Augusto dos Anjos, tanto que a letra da I, the Parasite tem muita influência
dele.
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