O triângulo mineiro, seguindo a sina do restante do
estado de Minas Gerais, tem mostrado força dentro do cenário Metal nacional ao
apresentar nomes como Uganga, Scourge, entre outros, como grandes bandas da
região. Dentre estes nomes temos o Krow, grupo formado por Guilherme Miranda
(vocal/guitarra), Jhoka Ribeiro (bateria), Lucas The Carcass (guitarra) e
Humberto Costa (baixo), que se consolida através de seu autêntico Death Metal.
Além de explorar temáticas da nossa real história, a banda marca de vez seu
território com o novo trabalho “Traces Of The Trade”, lançado pela banda
através do apoio do Programa de Incentivo à Cultura da Secretaria Municipal de
Educação de Uberlândia/MG. Sobre estes e outros assuntos, falamos com Guilherme
Miranda, que se mostrou bem simpático e à vontade em suas respostas. Confira.
Conte-nos
como foi a concepção geral de “Traces Of The Trade”?
Guilherme
Miranda: Acho que nada descreveria melhor o conceito do disco
do que o próprio parágrafo introdutório que está no encarte do disco. Em
“Traces of the Trade” buscamos trabalhar os aspectos de nossa identidade local,
a partir do processo e dos impactos do trabalho escravo estabelecido em nosso
país. Fazer um recorte a partir de nossa cultura local, da violência, da
opressão sofrida por nosso povo e justificada pelo cristianismo de acordo com
os interesses da produção material de nossa sociedade, é um tema muito Metal,
um assunto que poderia ser abordado de uma maneira Death Metal. A partir disso,
desenvolvemos a sonoridade do álbum de uma maneira densa e brutal, que dialoga
o tempo todo com as letras, deixamos o som mais orgânico e direto também.
“Traces
Of The Trade” é diferenciado desde o aspecto gráfico até o sonoro. Musicalmente
percebemos que no álbum vocês exploram diversas vertentes do Death Metal e
ainda aliam leves influências de outros estilos como o Thrash e Black Metal.
Fale-nos um pouco a respeito disso.
GM:
Nesse
álbum a nossa intenção foi a de produzir um produto artístico em uma concepção
ampla. Desde o início que pensamos em um bloco
conceito/letras/música/sonoridade/timbres/arte gráfica – arte no sentido de
produzir pensamento e reflexão. A bagagem adquirida pela banda torna as
influências múltiplas e isso fez com que o disco tenha nuances tanto Thrash
quanto Black metal ... Somos todos fãs de metal em todas as suas vertentes, principalmente
as mais extremas, e isso se manifesta em nossa música.
Vocês
gravaram o trabalho em Goiânia/GO, mais precisamente no Rock Lab Estúdio, e
optaram por grava-lo em forma analógica. Por que optaram gravar neste formato e
qual a opinião de vocês em relação ao resultado final?
GM:
Na
verdade queríamos que a banda soasse o mais orgânica e real possível, estávamos
afim dessa organicidade no som... O Rock Lab oferece essas condições e foi a
nossa opção novamente. Particularmente o resultado agradou muito, e creio que
essa será a nossa tendência, pois o som ficou sólido como gostaríamos, o que se
somou à nossa identidade. Ficou um som atual, gravado de maneira orgânica.
O
trabalho foi produzido por Gustavo Vasquez, Luis Maldonalle em parceria com a
própria banda. Além de dois produtores, vocês resolveram ajudar na produção.
Fale-nos um pouco sobre o trabalho do Gustavo e do Luis, e como vocês decidiram
participar da produção do disco?
GM:
O
Luis e o Gustavo são grandes amigos, nossa relação extrapola de longe a esfera
profissional. E sentir-se a vontade em estúdio é fundamental, além do mais
gravar em um clima positivo e se divertir com o trabalho acrescenta muito
(risos). Desde que resolvemos gravar “Traces Of The Trade” que conversei com os
2 produtores e eles me falaram de cara que seria interessante se quiséssemos
participar da produção, e essa já era nossa vontade inicial. As coisas fluíram
fácil e naturalmente. Foi excelente trabalhar assim, pretendo continuar essa
fórmula, é uma sensação inexplicável participar de todo o processo.
Quais
faixas você destacaria de “Traces Of The Trade”?
GM:
Eu
destaco Eidolon, Retaliated, Outbreak of
a Maniac e Hazardours Punishment.
O
trabalho é o primeiro com os integrantes Lucas The Carcass (guitarra) e
Humberto Costa (baixo). Como eles entraram na Krow e como tem sido trabalhar
com eles?
GM:
Eles
entraram no KroW após a tour de divulgação do “Before the Ashes” (2009). O Mark
queria seguir outro caminho e não estava mais afim de banda e viagens, etc. O
mesmo se deu com o Sapão e Allisson, que estavam com focos musicais diferentes.
Então o Lucas já era chegado, e a coisa encaixou perfeitamente, com o Humberto
rolou a mesma coisa, apesar de ele não poder viajar e recrutamos para as tours o Lennon, que tem feito um
trabalho fantástico. Trabalhar com eles está bem massa, sem problema, as coisas
de banda de sempre, né? Um bando de louco junto o tempo todo, viajando, e por
aí vai ... Rola todo tipo de coisa em banda (risos).
A
temática de “Traces Of The Trade” está ligada a época escravagista no Brasil.
Fale-nos um pouco mais sobre a temática do álbum e como vocês chegaram até este
tema?
GM:
Basicamente
chegamos ao tema, pois gostaríamos de fazer um disco com uma concepção de
trabalho artístico lato, com letras que se diferenciassem de outras bandas do
estilo e ao mesmo tempo criasse um elo entre a parte lírica e o que nos faz
únicos por sermos de nossa região.
O
trabalho gráfico de “Traces Of The Trade” é maravilhoso e foi feito por Costin
Chioreanu (que já produziu capas para bandas como Grave e Drakthrone). Como
vocês chegaram até o artista romeno e como rolou a concepção gráfica do
trabalho? Houve orientação da banda ou o trabalho já estava produzido e foi
escolhido por vocês?
GM:
O
Costin foi quem fez o trabalho gráfico do “Before the Ashes” quando foi lançado na Europa. A gente se dá muito
bem, ele é um grande artista e entende 100% da nossa proposta desde o primeiro
álbum. No nosso show em Bucareste entre uma gelada e outra, combinamos que ele
seria nosso artista gráfico. Quando gravamos “Traces...”, enviamos a prévia pra
ele, e pedimos que o trabalho fosse feito de uma maneira única, que não fosse
mais uma capa de mais um disco por aí... Depois de um tempo ele mandou o
esquema todo, dizendo que ficou trancado em casa, ouvindo o disco no talo,
lendo as letras e pintou um quadro de 1,5 x 1,5 m e perguntou se estava bom.
Quando eu vi aquilo pensei - caralho!!! Até a capa tá orgânica! Perfeito! E o
resultado é esse.
O
trabalho contou com o apoio do Programa de Incentivo à Cultura da Secretaria
Municipal de Educação de Uberlândia/MG. Como vocês optaram e receberam esse
apoio?
GM:
Esse
programa é uma lei. Entramos em um edital público, nos inscrevemos e cumprimos
todos os processos burocráticos necessários. Dessa forma fomos contemplados.
Aliás,
o que você pensa a respeito deste tipo de incentivo?
GM:
Este
tipo de incentivo é excelente! A arte e a cultura são imprescindíveis à
sociedade, é justo e coerente que o governo se ocupe deste tema e invista nessa
área. Atualmente grande parte dos acervos de arte são montados por bancos.
Então cabe ao Estado financiar programas que incentivem uma produção musical
livre e diversa, pois retirar da arte sua força é a pior maneira de bloquear a
natureza produtiva do pensamento. Eu falo muito nesse tom, pois enxergo o Metal
como arte, e é isso o que as bandas fazem. Vejo o KROW dessa maneira.
Com
está a agenda da banda e como tem sido a repercussão das novas faixas nos
shows?
GM:
A
agenda está cheia e ainda tem muita coisa pra acontecer, o disco saiu recentemente
e estão rolando as primeiras resenhas, a galera tem acesso às musicas agora e a
tendência é que façamos mais e mais shows. A gente queria compor um disco que
funcionasse muito bem ao vivo, e até agora a resposta nos shows tem sido muito
foda! Ultimamente têm acontecido coisas que a gente nunca viveu, coisas que
achávamos que não aconteceria com a nossa banda e hoje tem começado a rolar.
Galera vai aos shows, compra o material, agita o show todo, conhece os sons e
ainda fica depois do show pra trocar ideia, tirar foto e tomar umas cevas...
Isso realmente é o que faz tudo valer à pena, é um privilégio poder viver toda
essa parada!
O
Metal mineiro sempre se destacou nas vertentes mais extremas do estilo. Em sua
opinião, qual o segredo da fórmula das bandas de Minas Gerais?
GM:
É
uma pergunta complicada. Não sei lhe dizer se existe uma fórmula, são vários
aspectos. O Korg do Chakal falou uma coisa interessante no Ruído das Minas.
Segundo ele, aqui em Minas, essa nossa criação bem familiar, fechada, religiosa
faz com que o grito da juventude seja bem extremo, e isso fica explícito no Metal.
Aqui no Triângulo a galera chapa demais, é muita loucura, acho que isso também
conta (risos).
Uberlândia
tem sido um grande berço desta cena e conta com o Triângulo Satânico Mineiro.
Explique-nos melhor o que é isso e quais bandas da região você destacaria?
GM:
O
lance do Triângulo Satânico começou bem como uma zoeira e a coisa ganhou muito
corpo. Direto a gente viajava junto, KroW, Uganga, Attero, Scourge, na época
tinha o Metal Carnage também e por aí vai. E em todo lugar que a gente chegava
rolava muita bagunça, bebedeira, etc. Todas as bandas tinham um som muito
porrada, até que se não me engano o Rodolfo da One Voice de Goiânia/GO falou
que galera do Triângulo era um lance Satânico, e citou esse nome. O Felipe CDC
do DF falou num zine que aqui era o maléfico triângulo, e a coisa pegou, a
gente zoava muito com isso, sempre foi bem massa. Existem vários nomes que
identificam o som de bandas com uma região, e essa é a maneira que utilizamos
aqui. Tem ainda várias bandas cara, o No Defeat que tá gravando disco, La
Tormenta, tem o Escaravelho do Diabo, o próprio Cirrhosis, que foi minha grande
influência na adolescência e é até hoje, tem o Killer Klowns que é numa outra
vertente, mas os caras tocam pra todo lado, Hornor Infernum, Icerk e por aí
vai. Patos de Minas tá com um cenário legal também, tocamos lá agora com 2
bandas bem massa, o Murder Worship e o Darkhon.
Muito
obrigado, podem deixar uma mensagem.
GM:
Eu
que agradeço, é sempre uma honra poder estar em contato com a galera do
underground!!! Vou deixar aqui o link de nossa página no facebook e soundcloud
pra galera curtir e sacar o nosso disco novo – www.facebook.com/krowmetalzone
e www.soundcloud.com/krowmetalzone
- estamos na pilha pra tocar em todos os lugares possíveis e levar insanidade
pra todos os bangers!!! Hailz!!!
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