Formada por Rafael
Ghisland (vocal/guitarra), Rafael Tizatto (guitarra), Thiago Tigre (baixo) e
Guilherme Letti (bateria) a banda Neófito trilha pelos caminhos do Death Metal
desde o longínquo ano de 1994. Como quase todos no underground sofreu com as
intempéries de conciliar o trabalho musical com os particulares, mas mesmo
assim conseguiu manter um pequeno feche de luz que acabou a trazendo de volta
em 2009. Aliando a brutalidade do estilo com leves toques de Doom Metal, o grupo
acaba de lançar “Abused”, seu quarto trabalho entre demos, ep e álbum oficial.
Conversamos via e-mail com o baterista Guilherme que nos contou mais detalhes
sobre o novo EP entre outros assuntos que envolvem a banda.
A Neófito está na ativa há quase 20 anos, mas
depois de ter lançado a demo “The Neophyte of Tomorrow” (1996) vocês só
retornaram com um novo trabalho em 2010, com o álbum “Eternal Suffering”. O que
houve durante este tempo, vocês estavam na ativa?
Guilherme Letti: Na verdade não, a Neófito ficou 11 anos na
gaveta, de 1998 até 2009 enquanto trabalhávamos em outros projetos. “The
Neophyte of Tomorrow” foi lançado em 1994, em 1995 lançamos outra demo “Live
Caráh”, o “Eternal Suffering” foi gravado em 1996, onde apenas algumas promo
tapes foram distribuídas e saímos na coletânea “Underfusion One” (1996) pouco
antes da banda acabar. Em 2009 resolvemos ressuscitar a Neófito, fazendo alguns
shows com as músicas do “Eternal Suffering” e resolvemos relançá-lo uma vez que
sua distribuição em 1996 foi bem pequena.
Falando em “Eternal Suffering”, por que a
banda, mesmo com suas qualidades explícitas, só conseguiu gravar um álbum
oficial após 16 anos de luta no underground?
GL: Como disse anteriormente, “Eternal Suffering” foi gravado em 1996, o
relançamento em 2010 foi uma forma de mostrarmos que estamos de volta com força
total.
E como foi a repercussão de “Eternal
Suffering”?
GL: Em 1996, apesar da pouca divulgação foi excelente, recebemos diversas
propostas de gravadoras dispostas a lançar esse disco, mas estávamos envolvidos
com outros projetos, filhos, profissões e optamos por tomar outros caminhos. E
agora em 2010 com o relançamento ficamos bastante surpresos de como esse álbum
ainda estava atual e de como a Neófito conseguiu agradar o pessoal mais jovem
mesmo com um álbum gravado 14 anos antes.
Como foi o processo de composição do novo
trabalho “Abused”? Há alguma música que entraria em “Eternal Suffering” e ficou
de fora que acabou entrando no EP?
GL: Foi de muita pesquisa, estudo, conversa, tentativa e erro. Acho que
fizemos umas 20 músicas, pedimos a opinião de muita gente, para no final
escolhermos apenas o que realmente nos agradou. Estávamos muito preocupados
como esses novos sons iriam soar, e depois de tanto tempo, mas também não queríamos
nos prender ao passado da banda, queríamos achar uma nova identidade e “Abused”
esta aí. Não resgatamos nada de material antigo, no início até pensamos em
fazer isso, mas depois percebemos que as coisas novas que estávamos criando
tinham mais qualidade e soavam mais de acordo com essa nova identidade.
Quais as principais diferenças você vê entre
os dois trabalhos?
GL: Basicamente duas: Integrantes e tecnologia. Quando gravamos “Eternal
Suffering”, eu tinha 15 pra 16 anos e minha visão sobre o mundo e minha
experiência como músico eram uma coisa, hoje com 32 minha forma de enxergar esse
processo é bem diferente, acho que o mesmo aconteceu com o Ghislandi. Em 1996
tínhamos todos mais ou menos a mesma idade e em “Abused” o Tizatto e o Thiago
são mais novos, a energia é outra, quando gravamos “Eternal Suffering” o Tizatto
tinha 8 anos e o Thiago 10, acho que isso refletiu bastante em “Abused”, foi
muito rico essa troca de percepções, musicalidade, a maneira de enxergar o
trabalho. E em relação à tecnologia, pois em 1996 gravamos todo o álbum de
maneira analógica e em rolo, hoje você consegue extrair uma qualidade muito
superior com menos recurso.
Explique-nos a temática das letras de
“Abused” e o que a banda pretende passar com elas.
GL:Fomos muito influenciados por Pablo Gomes (jornalista do Diario
Catarinense), tínhamos uma entrevista agendada com ele e Pablo foi nos
entrevistar na minha casa, onde ensaiávamos. Porém, ele havia recém chegado de
Porto Príncipe no Haiti e estava com a cabeça que era um turbilhão por causa
das barbaridades que havia presenciado lá. Aí ele começou a nos contar
histórias como a dos “Rest Avec” (crianças que eram vendidas como escravos para
famílias mais abastadas pela quantia média de R$7,00), um local chamado
“cozinha do inferno”, onde crianças brincavam e comiam junto com os porcos,
comentou também que o lixo no Haiti é um lixo muito pobre, não existe restos de
arroz, feijão e iogurte, por exemplo, então as crianças se alimentavam de
bolinhos de barro feitos nesse lixão e chupavam cana de açúcar e que hoje o
Haiti é um dos países mais miseráveis do planeta etc. Eu pensei um pouco, olhei
pra ele e disse “isso ai da Death Metal cara!” Ai ele nos enviou diversas fotos
e vários artigos de onde tiramos as ideias das letras.
O som de vocês sempre se caracterizou por não
soar sempre veloz. Mesmo fazendo Death Metal, vocês sempre penderam para um
lado mais Doom Metal, inclusive no último EP. Explique-nos a que se deve esse
fato e quais as principais influências da banda.
GL: Na década de 90 foi o auge das grandes bandas Doom e fomos
influenciados por aquela leva de bandas. Quando saiu o “Gothic” (1991) do Paradise
Lost eu pirei, ai depois com bandas como Anathema, Tiamat, entre outras foi
impossível não nos deixar influenciar. E o Tizatto também antes de entrar pra
Neófito tocava na Lamúria, excelente banda de Doom metal.
Como tem sido a repercussão de “Abused” até o
momento?
GL:Estamos contentes com os resultados, já saíram algumas resenhas bem
positivas, estamos conversando bastante com as pessoas para sabermos no que
acertamos e no que precisamos melhorar, mas no geral as críticas tem se
mostrado bem satisfatórias.
Como o público tem reagido às novas músicas
nos shows e como está a agenda de vocês?
GL: O público ainda pira mais nas músicas do “Eternal Suffering” que são
mais conhecidas. Agora é que as pessoas estão começando a escutar “Abused”, afinal
esse EP saiu agora em maio de 2012, faz apenas 1 mês que esta circulando na
web, fizemos apenas 1 show tocando esses sons, (o pessoal pode conferir no You
Tube) porém, o público esta reagindo bem, a gente percebe uma certa nostalgia no
público mais antigo e também percebe a excitação da gurizada. Creio que estejam
curtindo, mas ainda estamos antenados nos feedbacks da galera. Nossa agenda é
bastante complicada, pois temos nossas famílias e profissões que acabam sendo
um pouco negligenciadas para que consigamos levar adiante a Neófito. Nesse
momento o Ghislandi esta fazendo uma segunda especialização que esta tomando
bastante o seu tempo, então no próximo ano nossa agenda terá que respeitar as
limitações de tempo dele.
Quais os planos da banda? Podem nos adiantar
algo sobre um possível álbum novo?
GL: São tantos planos, tantos quereres... Geralmente trabalhamos em cima
de um planejamento anual que elaboramos em grupo na forma de plano de negócio,
mas queremos continuar compondo e gravando novos sons, o Thiago já quer lançar
outro álbum no início de 2013, temos vários novos sons engatilhados, queremos
tocar em alguns festivais que temos como referência, queremos excursionar pelo
Brasil e fora dele, queremos tocar com nossos ídolos como foi com o Sepultura, queremos
continuar a trocar experiências com outras bandas e com o público, mas creio
que acima de tudo, queremos continuar sendo um grupo de grandes amigos que se
respeitam, se ajudam a suportar as dificuldades da vida, se auxiliam no
crescimento pessoal, enfim, queremos continuar sendo essa família que é a
Neófito.
Muito obrigado, deixe uma mensagem.
GL: “Eu jamais iria para a fogueira por uma opinião minha, afinal, não
tenho certeza alguma. Porém, eu iria
pelo direito de ter e mudar de opinião, quantas vezes eu quisesse. Temos a arte
para não morrer da verdade e sem a música, a vida seria um erro.” Filósofo
alemão: Friedrich Nietzsche. Vídeos, Fotos, Download do EP, entre outras
informações no nosso facebook: www.facebook.com/neofitometal - Curtam! Abraços!
Para fazer o download do
álbum da banda clique aqui.
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