terça-feira, 15 de julho de 2014

Entrevista



O Metal argentino sempre teve suas particularidades e cantar na língua pátria está entre elas. Mas, ao contrário do que vem acontecendo por aqui (onde muitas bandas modernas têm adotado o português em suas letras) por lá mais e mais bandas tem se adaptado ao inglês, o que é o caso do Climatic Terra. Fazendo um som moderno focado no Death/Thrash Metal, a banda de Buenos Aires divulga atualmente seu segundo álbum intitulado “Entity” (2013). Falamos com o baixista Leonardo Báez que, ao lado de James Wright (vocal), Ezequiel Catalano e Federico Rodriguez (guitarras) e  Hernan Martiarena (bateria), buscam vôos ainda mais altos.

Primeiramente, qual a principal diferença entre o álbum “Entity” para o debut “Earth Polution”?
Leonardo Báez: A principal diferença está na formação composta por diferentes integrantes, 'Earth Pollution' é mais conceitual nas letras e 'Entity' tem uma abordagem lírica mais aberta, com temas sociais. Na parte musical, 'Entity' segue a mesma linha do primeiro álbum, com algumas alterações, mas a banda sempre seguiu e continuará seguindo uma linha base, que é o Death Metal Melódico. Com a mudança de integrantes sempre altera algo do som, mas o Climatic Terra tem uma essência e dali sai tudo.

A forma de compor mudou de alguma forma de um álbum para o outro? Quais foram os métodos utilizados para compor “Entity”?
Leonardo: Os métodos foram os mesmos em 'Entity', que apresenta mais dos guitarristas que compuseram os riffs, mas como te disse na resposta anterior, a banda tem uma metodologia adotada, a atual formação está influenciada por bandas como Carcass, Death, Cynic, Atheist e algo do velho Hard Rock inglês, de onde veio o início de nosso som que vai passando de formação por formação...

Em “Entity” vocês apresentam uma sonoridade atual, mas que não segue a tendência do momento e ainda possui algo enraizado no Metal tradicional. Vocês tiveram a preocupação em não seguir uma tendência quando estavam compondo o álbum?
Leonardo: Antes te dizia as influências que temos e creio que também as bandas atuais têm as mesmas influências, se escutarmos Arch Enemy, por exemplo, sentimos coisas de Scorpions ou de UFO, até Deep Purple, então se nós podemos ter algo do som antigo com alguns dos sons modernos, é bem-vindo. Não somos mais tão jovens, mas temos um público jovem, então se podemos estar nos dois mundos está bom, não foi planejado, mas acontece sempre na composição.



Um dos destaques do disco é o trabalho de guitarras mostrando bons riffs e bases sólidas. Fale-nos um pouco a respeito disso.
Leonardo: O tema das bases e composições tem muito a ver com o assunto de influências. Existem músicas quem têm muito tempo, especialmente no primeiro álbum, existem canções que datam de 1992. Death e Carcass tinham esse som que está muito influenciado, mais pelos riffs que pelos outros sons. Para os próximos trabalhos entraremos mais nesta temática, do extremo mais tradicional, já que todos, eventualmente, voltamos para as raízes.
Outro fator que chama a atenção nas composições é a melodia dos arranjos na medida certa que mostra certa influência do Metal extremo europeu, principalmente o sueco. Vocês concordam com isso?
Leonardo: Como falei, existe sim algo de Death Metal sueco, mas acredito que o Carcass seja nossa principal influência. O Climatic Terra não tem tantos anos, foi formado em 2005, mas saímos de outra banda de Buenos Aires que data dos anos 90 e já tínhamos essa característica.

Em relação à temática de “Entity” o que a banda procurou abordar nas letras?
Leonardo: As letras são todas do vocalista James, são vivências e influências que ele passou, ele é um viajante, com apenas 25 anos já morou no México, Espanha, Venezuela, Argentina e seu país de origem, a Inglaterra. No disco apresenta suas vivências, temas sociais e de interesse geral, quisemos dar uma reviravolta mudar a ótica das letras, já que o primeiro álbum tratava apenas do tema "aquecimento global e degradação do planeta".

A banda opta por cantar em inglês. Em um passado recente era comum ver bandas argentinas apostando em cantar em espanhol e isso tem mudado a olhos vistos. Por que acha que as bandas, inclusive vocês, apostam em cantar em inglês atualmente?
Leonardo: Cantar em inglês foi decidido desde o começo, foi uma decisão geral da banda, porque acreditamos e concebemos no Metal em inglês. Aqui na Argentina existem muitas bandas que cantam em espanhol e que se dão muito melhor que as bandas que, como nós, optaram pelo inglês. Mas nos últimos anos isto está mudando, já que são cada vez mais bandas que cantam em inglês, e também facilita para entrar em outros mercados, mas só o tempo dirá se nossa escolha foi correta.

Como tem sido a repercussão do trabalho? Em 2014 é perceptível a ascensão da banda no Brasil. Para vocês como é poder ter sua música divulgada em nossas terras?
Leonardo: A verdade é que estamos muito contentes com o que vem acontecendo, as críticas tanto aqui como no Brasil foram muito boas. Tentamos cada vez mais chegar ao público e na verdade, gostaríamos de nos aproximar ainda mais do público brasileiro, por isso colocamos muita ênfase na publicidade e management no solo brasileiro, graças a Metal Media, pudemos ter essa repercussão e esperamos que nos próximos trabalhos possamos estar ainda melhor posicionados para fazermos uma série de shows por aí.



Aliás, a rivalidade entre Brasil e Argentina se resume apenas aos esportes (principalmente o futebol) ou no Metal também há alguma disputa, mesmo que seja saudável?
Leonardo: Não acredito que haja tanta rivalidade, mesmo nos esportes, nos damos muito bem com os brasileiros, talvez com os chilenos exista algo, mas não sei o porquê. Aqui tanto as pessoas comuns quantos os músicos brasileiros são quase locais, pode perguntar a gente como o Krisiun que já tocou com a gente, nossos irmãos do Distraught que já excursionaram conosco duas vezes e já tocamos com eles em POA em três oportunidades. Na verdade acredito que cada vez mais nós argentinos nos aproximamos do público e bandas daí, já tocamos também com Torture Squad, Necropsya e Satisfire em suas visitas pelo país.

E como está a cena na Argentina atualmente? Há espaços para tocar?
Leonardo: A cena argentina está em uma época de transição, entre as bandas mais velhas que tem uma temática mais contestatória, da época das ditaduras militares, e as novas gerações que estão mais abertas a mudanças. Entre estes dois mundos estamos nós, algo da velha e da nova escola. Em termos de espaço para tocar não podemos nos queixar, pois há lugares para shows e nos últimos anos tem melhorado ainda mais, por aqui falta público, quase todo mundo se transformou em músico, mas são ciclos e, eventualmente, o curso se ajeita, mas sim a cena está bem neste momento.

Falando em shows, há algum contato para se apresentarem por aqui?
Leonardo: Já tocamos em três oportunidades no Brasil: 2010 em Sapiranga/RS, em 2011 em Santa Maria/RS e Porto Alegre/RS e em 2013 novamente em Porto Alegre. Fomos convidados para tocar em São Paulo este ano, mas preferimos gravar um novo álbum, então vamos estar aí no início de 2015.

Muito obrigado pela entrevista. Podem deixar uma mensagem aos leitores.
Leonardo: Muito obrigado a você por se preocupar com o Climatic Terra, para o público no Brasil um grande abraço e espero em breve fazermos shows e compartilhar nossa música. Aguante el Metal!


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