quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Entrevista: Lords of Aesir



Por Vitor Franceschini

Não só na sua sonoridade, mas também nas influências de seus integrantes, a banda curitibana Lords of Aesir transita entre a música erudita e o Metal. E foi este o resultado de seu primeiro álbum “Dream of Eternity”, lançado em 2014 pela Shinigami Records. Colhendo os frutos do debut e já trabalhando em peças futuras, o tecladista Ian Schmoeller conversou com o Arte Metal e deu detalhes do processo criativo do disco, além de comentar outros assuntos que envolvem a banda. Ao seu lado atualmente o músico conta com Karol Schmidt (vocal) e Julio Machado (guitarra).

Temos mais de um ano do lançamento do debut “Dream for Eternity” (2014). Como a banda o vê hoje em dia?
Ian Schmoeller: Sinto como um grande passo dado, um objetivo ao qual nos dedicamos bastante, nos deu um norte e uma visão mais clara sobre o que queremos fazer como banda e nos apresentou de forma mais completa ao nosso público. Usamos composições de várias fases de nossas vidas e estudo musical, e mesmo com músicas muito diferentes acredito que conseguimos uma unidade que não prevíamos inicialmente. É o nosso ponto de partida. Esgotamo-nos durante 3 anos para dar vida a ele e aprendemos muito com ele. O primeiro a gente nunca esquece.

Quando o compuseram esperavam atingir o resultado que atingiram atualmente?
Ian Schmoeller: Em primeira instância não tínhamos grandes expectativas. Não é um gênero musical de grande visibilidade e ainda não conseguimos investir muito tempo e dinheiro. É muito mais por sermos apaixonados pelo que fazemos do que pela resposta do público. Mas quando isso vem é muito legal e nos motiva ainda mais. Acredito que conseguimos mostrar para que viemos e inclusive mostrar que conseguiremos produzir coisas ainda mais legais daqui em diante. Fazemos menos do que gostaríamos, mas em vista das dificuldades, quem conhece a história toda se surpreende.



E qual a formula da banda na hora de compor?
Ian Schmoeller: Não há uma única fórmula. As ideias surgem de fontes e formas diferentes, são trabalhadas e finalizadas por pessoas diferentes com visões diferentes de mundo. Às vezes começa por uma letra; Um texto filosófico, um filme ou uma experiência de vida motiva algum dos integrantes a transformar seus pensamentos em palavras. Outras começam por um instrumento; Um concerto de orquestra, um batuque de maracatu de rua ou um show de Heavy Metal faz a cabeça fervilhar de frases interessantes. Depois que cada um anota suas ideias pomos tudo que gostamos a disposição dos outros em midi e vamos trabalhando e enviando um para o outro. No caso do “Dream for Eternity” formatamos as músicas mais antigas que não tinham orquestração para dar partes interessantes para coro, cordas e sopros. Agora já estabelecemos essa proposta e as próximas já virão com isso pensado.

A banda evidencia a mescla do Metal com a música clássica. Não é algo incomum, mas vocês souberam impor suas características. Como é desenvolver esses dois estilos?
Ian Schmoeller:  Como todos tivemos um envolvimento inevitável com a música nomeada erudita no nosso estudo e trabalho e sempre admiramos as bandas que fizeram essa fusão, isso veio de forma bem natural. Quando eu compus para outras bandas e propostas diferentes sempre havia algum elemento que “puxava” pro sinfônico. Mas cada um tem um gosto, uma coisa que gosta mais de ouvir ou tocar, elementos que chamam atenção em cada obra. Trata-se de buscar fazer o que mais se gosta, inclusive nos detalhes. Do tipo de solo, da profundidade do assunto das letras, se naquele momento gostaria mais de um refrão pegajoso ou uma fritação bem Prog. Agradando primeiro a si mesmo sua arte se torna mais honesta e acredito que dessa forma também tem mais chances de cativar o público.

O trabalho das linhas vocais é primoroso. Como foram desenvolvidas?
Ian Schmoeller: A voz da Karol é de uma capacidade e versatilidade que ainda não soubemos aproveitar por completo na Lors Of Aesir. Há músicas (como Black Oasi’) que foram escritas pensando em uma soprano com uma voz super aguda, leve e ágil (o que poderia ser bem sofrido para uma mezzo como a Karol). Mas sempre que testamos algo ela vai lá e faz. Parece que não tem limites. É a coisa mais legal escrever para uma voz tão cheia de possibilidades. The Voice Beyond foi escrita em 2005 (antes que nos conhecêssemos e a banda surgisse) originalmente pensando num dueto de voz masculina de Power Metal e voz feminina aguda, não necessariamente lírica. E tudo coube tão bem quando usamos a música na Lords Of Aesir. Mas o melhor é depois de conhecer bem a voz dela e já escrever imaginando exatamente como seria o resultado. É o caso, por exemplo, de Unpredictable Certainty e Stardust cujas linhas vocais foram escritas já pensadas para a voz dela e de The Truth e Elvish Night que ela mesma escreveu a sua parte.



A versatilidade da banda é um grande trunfo, mas diferente de muitos vocês são objetivos. Isso foi algo que buscaram ou fluiu naturalmente?
Ian Schmoeller: Nós três que compusemos para o “Dream For Eternity” temos influências MUITO diversas tanto entre nós quanto individualmente. Falando por mim, já participei de bandas de Death, Prog, Black, Power, Hard Rock, Pop Rock, Sinfônico, Thrash e compus para quase todas. Alguns amigos e alunos também me mostram suas composições para dar sugestões. Nos meus estudos e como professor, integrante ou regente em bandas, corais, orquestras e grupos de alunos também trabalho com composições e arranjos para formações e propostas bem diferentes. Tive também a oportunidade de estudar outros instrumentos, o que acaba por dar uma visão mais ampla de possibilidades num arranjo musical. Para mim é inevitável a variação. O que me traz a uma uniformidade é ter escolhido o meu gênero favorito para focar na Lords Of Aesir.

E como o trabalho foi recebido pela crítica e público desde então?
Ian Schmoeller: As respostas que temos de quem ouve é sempre muito gratificante. Em geral o pessoal admira a qualidade e compara com bandas estrangeiras, não acreditam que é possível existir uma banda nesse estilo que funcione, produza, lance material e toque em eventos aqui no Brasil. A crítica especializada às vezes é mais rígida. E isso é ótimo para nós! Os amigos muitas vezes não vão apontar alguma falha ou talvez não conheçam bem nossa proposta. Queremos fazer o que a gente gosta, mas também encontrar meios de inovar e para isso basta saber o que esperam de nós e buscar surpreender.

“Dream of Eternity” foi lançado pela Shinigami Records. Como se deu a parceria e como foi o trabalho com eles?
Ian Schmoeller: Nosso EP antes do “Drem For Eternity”, ‘Lost The Hope’ (2013), foi lançado quase que só digitalmente. Teve uma edição limitada de cópias que poucos tiveram acesso e logo acabamos disponibilizando as faixas online. Mas não teve a mesma repercussão. A parceria com a Shinigami, e com a Metal Media que os indicou, foi muito prazerosa e produtiva. Hoje nosso CD é vendido em duas grandes lojas online e temos nosso som conhecido em várias partes do mundo. As dicas que nos deram também foram muito valiosas. Só temos a agradecer.

Com este tempo de lançamento é provável que a banda esteja trabalhando em algo novo. Há o que possam nos adiantar?
Ian Schmoeller: Já estamos trabalhando em algo novo sim! O que posso adiantar é que temos intenção de gravar algumas versões de músicas eruditas antes de lançar material com composições. Já concordamos sobre uma ária de obra do Vivaldi. Com certeza vai ser bem divertido de fazer e acredito que nosso público vai gostar também, além de podermos conquistar galera nova. Discutimos algumas possíveis temáticas para tratar no segundo álbum... Provavelmente teremos letras um pouco mais conectadas, sonoridade um pouco mais progressiva e algumas coisas mais atonais. Certamente gravaremos com orquestra e coro novamente, mas quem sabe alguns instrumentos diferentes. Dessa vez também queremos usar ainda menos samplers, deixar o som mais orgânico. Outras novidades que estamos considerando são algumas letras em português e talvez até um toque mais regional. Gostamos da ideia de mostrar de onde viemos e de escancarar que não é somente “nas gringas” que se produz um bom metal sinfônico.

Muito obrigado, podem deixar uma mensagem.
Ian Schmoeller: Nós que agradecemos essa oportunidade de falar um pouco mais sobre nosso trabalho com a Lords of Aesir. É sempre um prazer. Esperamos que os leitores se interessem em conhecer melhor nossa banda e acompanhar o que ainda temos para mostrar. Grande abraço.

https://www.facebook.com/Lords.of.Aesir

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