Por
Vitor
Franceschini
Não só na sua
sonoridade, mas também nas influências de seus integrantes, a banda curitibana
Lords of Aesir transita entre a música erudita e o Metal. E foi este o
resultado de seu primeiro álbum “Dream of Eternity”, lançado em 2014 pela
Shinigami Records. Colhendo os frutos do debut e já trabalhando em peças
futuras, o tecladista Ian Schmoeller conversou com o Arte Metal e deu detalhes
do processo criativo do disco, além de comentar outros assuntos que envolvem a
banda. Ao seu lado atualmente o músico conta com Karol Schmidt (vocal) e Julio
Machado (guitarra).
Temos
mais de um ano do lançamento do debut “Dream for Eternity” (2014). Como a banda
o vê hoje em dia?
Ian
Schmoeller: Sinto como um grande passo dado, um
objetivo ao qual nos dedicamos bastante, nos deu um norte e uma visão mais
clara sobre o que queremos fazer como banda e nos apresentou de forma mais
completa ao nosso público. Usamos composições de várias fases de nossas vidas e
estudo musical, e mesmo com músicas muito diferentes acredito que conseguimos
uma unidade que não prevíamos inicialmente. É o nosso ponto de partida.
Esgotamo-nos durante 3 anos para dar vida a ele e aprendemos muito com ele. O
primeiro a gente nunca esquece.
Quando
o compuseram esperavam atingir o resultado que atingiram atualmente?
Ian
Schmoeller: Em primeira instância não tínhamos
grandes expectativas. Não é um gênero musical de grande visibilidade e ainda
não conseguimos investir muito tempo e dinheiro. É muito mais por sermos
apaixonados pelo que fazemos do que pela resposta do público. Mas quando isso
vem é muito legal e nos motiva ainda mais. Acredito que conseguimos mostrar
para que viemos e inclusive mostrar que conseguiremos produzir coisas ainda
mais legais daqui em diante. Fazemos menos do que gostaríamos, mas em vista das
dificuldades, quem conhece a história toda se surpreende.
E
qual a formula da banda na hora de compor?
Ian
Schmoeller: Não há uma única fórmula. As ideias
surgem de fontes e formas diferentes, são trabalhadas e finalizadas por pessoas
diferentes com visões diferentes de mundo. Às vezes começa por uma letra; Um
texto filosófico, um filme ou uma experiência de vida motiva algum dos
integrantes a transformar seus pensamentos em palavras. Outras começam por um
instrumento; Um concerto de orquestra, um batuque de maracatu de rua ou um show
de Heavy Metal faz a cabeça fervilhar de frases interessantes. Depois que cada
um anota suas ideias pomos tudo que gostamos a disposição dos outros em midi e
vamos trabalhando e enviando um para o outro. No caso do “Dream for Eternity”
formatamos as músicas mais antigas que não tinham orquestração para dar partes
interessantes para coro, cordas e sopros. Agora já estabelecemos essa proposta
e as próximas já virão com isso pensado.
A
banda evidencia a mescla do Metal com a música clássica. Não é algo incomum,
mas vocês souberam impor suas características. Como é desenvolver esses dois
estilos?
Ian
Schmoeller: Como
todos tivemos um envolvimento inevitável com a música nomeada erudita no nosso
estudo e trabalho e sempre admiramos as bandas que fizeram essa fusão, isso
veio de forma bem natural. Quando eu compus para outras bandas e propostas
diferentes sempre havia algum elemento que “puxava” pro sinfônico. Mas cada um
tem um gosto, uma coisa que gosta mais de ouvir ou tocar, elementos que chamam
atenção em cada obra. Trata-se de buscar fazer o que mais se gosta, inclusive
nos detalhes. Do tipo de solo, da profundidade do assunto das letras, se
naquele momento gostaria mais de um refrão pegajoso ou uma fritação bem Prog.
Agradando primeiro a si mesmo sua arte se torna mais honesta e acredito que
dessa forma também tem mais chances de cativar o público.
O
trabalho das linhas vocais é primoroso. Como foram desenvolvidas?
Ian
Schmoeller: A voz da Karol é de uma capacidade e
versatilidade que ainda não soubemos aproveitar por completo na Lors Of Aesir.
Há músicas (como Black Oasi’) que
foram escritas pensando em uma soprano com uma voz super aguda, leve e ágil (o
que poderia ser bem sofrido para uma mezzo como a Karol). Mas sempre que
testamos algo ela vai lá e faz. Parece que não tem limites. É a coisa mais
legal escrever para uma voz tão cheia de possibilidades. The Voice Beyond foi escrita em 2005 (antes que nos conhecêssemos e
a banda surgisse) originalmente pensando num dueto de voz masculina de Power
Metal e voz feminina aguda, não necessariamente lírica. E tudo coube tão bem
quando usamos a música na Lords Of Aesir. Mas o melhor é depois de conhecer bem
a voz dela e já escrever imaginando exatamente como seria o resultado. É o caso,
por exemplo, de Unpredictable Certainty
e Stardust cujas linhas vocais foram
escritas já pensadas para a voz dela e de The
Truth e Elvish Night que ela
mesma escreveu a sua parte.
A
versatilidade da banda é um grande trunfo, mas diferente de muitos vocês são
objetivos. Isso foi algo que buscaram ou fluiu naturalmente?
Ian
Schmoeller: Nós três que compusemos para o “Dream For
Eternity” temos influências MUITO diversas tanto entre nós quanto
individualmente. Falando por mim, já participei de bandas de Death, Prog,
Black, Power, Hard Rock, Pop Rock, Sinfônico, Thrash e compus para quase todas.
Alguns amigos e alunos também me mostram suas composições para dar sugestões. Nos
meus estudos e como professor, integrante ou regente em bandas, corais,
orquestras e grupos de alunos também trabalho com composições e arranjos para
formações e propostas bem diferentes. Tive também a oportunidade de estudar
outros instrumentos, o que acaba por dar uma visão mais ampla de possibilidades
num arranjo musical. Para mim é inevitável a variação. O que me traz a uma
uniformidade é ter escolhido o meu gênero favorito para focar na Lords Of Aesir.
E
como o trabalho foi recebido pela crítica e público desde então?
Ian
Schmoeller: As respostas que temos de quem ouve é
sempre muito gratificante. Em geral o pessoal admira a qualidade e compara com
bandas estrangeiras, não acreditam que é possível existir uma banda nesse
estilo que funcione, produza, lance material e toque em eventos aqui no Brasil.
A crítica especializada às vezes é mais rígida. E isso é ótimo para nós! Os
amigos muitas vezes não vão apontar alguma falha ou talvez não conheçam bem
nossa proposta. Queremos fazer o que a gente gosta, mas também encontrar meios
de inovar e para isso basta saber o que esperam de nós e buscar surpreender.
“Dream
of Eternity” foi lançado pela Shinigami Records. Como se deu a parceria e como
foi o trabalho com eles?
Ian
Schmoeller: Nosso EP antes do “Drem For Eternity”,
‘Lost The Hope’ (2013), foi lançado quase que só digitalmente. Teve uma edição
limitada de cópias que poucos tiveram acesso e logo acabamos disponibilizando as
faixas online. Mas não teve a mesma repercussão. A parceria com a Shinigami, e
com a Metal Media que os indicou, foi muito prazerosa e produtiva. Hoje nosso
CD é vendido em duas grandes lojas online e temos nosso som conhecido em várias
partes do mundo. As dicas que nos deram também foram muito valiosas. Só temos a
agradecer.
Com
este tempo de lançamento é provável que a banda esteja trabalhando em algo
novo. Há o que possam nos adiantar?
Ian
Schmoeller: Já estamos trabalhando em algo novo
sim! O que posso adiantar é que temos intenção de gravar algumas versões de
músicas eruditas antes de lançar material com composições. Já concordamos sobre
uma ária de obra do Vivaldi. Com certeza vai ser bem divertido de fazer e
acredito que nosso público vai gostar também, além de podermos conquistar
galera nova. Discutimos algumas possíveis temáticas para tratar no segundo
álbum... Provavelmente teremos letras um pouco mais conectadas, sonoridade um
pouco mais progressiva e algumas coisas mais atonais. Certamente gravaremos com
orquestra e coro novamente, mas quem sabe alguns instrumentos diferentes. Dessa
vez também queremos usar ainda menos samplers, deixar o som mais orgânico. Outras
novidades que estamos considerando são algumas letras em português e talvez até
um toque mais regional. Gostamos da ideia de mostrar de onde viemos e de
escancarar que não é somente “nas gringas” que se produz um bom metal
sinfônico.
Muito
obrigado, podem deixar uma mensagem.
Ian
Schmoeller: Nós que agradecemos essa oportunidade
de falar um pouco mais sobre nosso trabalho com a Lords of Aesir. É sempre um
prazer. Esperamos que os leitores se interessem em conhecer melhor nossa banda
e acompanhar o que ainda temos para mostrar. Grande abraço.
AMO ESSA BANDA!!!
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