Por
Vitor
Franceschini
Com o lançamento do
aguardado debut, “Sanguine”, a banda carioca Indiscipline finalmente marca seu
território e agora colhe os frutos que foram semeados desde o lançamento da
primeira demo “In My Guts” (2014). Sementes estas geradas desde a fundação da
banda em 2012. Para falar do novo trabalho e o que a banda trará no futuro, a
guitarrista Maria Cals conversa com o ARTE METAL. O grupo é completado por
Alice (vocal/baixo) e Ale de la Veja (bateria)
Com
a boa repercussão da demo “In My Guts” (2014) e também do trabalho ao vivo
“Live At Toca” (2015), além do trabalho de pré-divulgação do debut, “Sanguinea”
foi um disco aguardado pelo público. Essa ansiedade também tomou conta da banda
e/ou gerou alguma pressão na hora de compor e gravar o disco?
Maria
Cals: Houve sim uma pressão interna para compormos e
gravarmos logo o “Sanguinea”. Já tínhamos dois outros trabalhos, mas ainda
faltava o full-lenght. Seria fácil nos acomodarmos, então lutamos contra isso.
Cerca de seis meses depois do lançamento do “Live at Toca”, começamos a compor
o “Sanguinea”. Fizemos um planejamento, nos estipulamos prazos e trabalhamos
para cumpri-los. Mesmo assim atrasou um pouco, mas tudo bem. Ficou o
aprendizado de MUITAS coisas. No próximo (sim, já pensamos no próximo!)
levaremos tudo em consideração para fazermos ainda melhor.
E
como foi esse processo de composição? Há alguma fórmula especial que a banda
utiliza na hora de compor?
Maria
Cals: O processo é sempre o mesmo: eu componho um riff e
logo depois, em cima disso, monto um “esqueleto” estrutural. Aí a Alice insere
a linha de voz e geralmente usamos uma letra que já foi feita. Às vezes eu
escrevo, às vezes ela, às vezes a quatro mãos, ela ou eu temos uma ideia e a outra
trabalha nisso. Daí ensaiamos no estúdio com a Ale, que vai estudando a linha
de bateria e modificando ao jeito dela (ela curte muito ter uns espaços pra
“improvisação”, principalmente com viradas e etc.).
A cada etapa algo muda, e em alguns casos precisamos mudar tudo. Foi o que aconteceu com a Higher, uma das músicas do “Sanguinea”. Era de um jeito, inclusive tocamos a música nessa primeira versão em alguns shows. Porém, algo (que não sabíamos o que) ainda não nos satisfazia ali, então mudamos tudo. Linha de voz (que é uma coisa super difícil de fazer, porque a melodia é sempre o mais grudento de tudo), estrutura... Mas que bom que o fizemos. Ela nos agrada muito mais agora.
A cada etapa algo muda, e em alguns casos precisamos mudar tudo. Foi o que aconteceu com a Higher, uma das músicas do “Sanguinea”. Era de um jeito, inclusive tocamos a música nessa primeira versão em alguns shows. Porém, algo (que não sabíamos o que) ainda não nos satisfazia ali, então mudamos tudo. Linha de voz (que é uma coisa super difícil de fazer, porque a melodia é sempre o mais grudento de tudo), estrutura... Mas que bom que o fizemos. Ela nos agrada muito mais agora.
A
mescla entre o Metal e o Hard Rock soa quase que perfeitamente equilibrada na
sonoridade do disco. Vocês se preocupam com isso, em não pender pra nenhum lado
ou deixar fluir naturalmente?
Maria
Cals: Na Indiscipline, a gente sempre compõe da forma
mais natural possível, sem pensar que a música tem que soar de um jeito ou de
outro. Claro que as nossas influências aparecem, mas não é algo racionalizado.
Acho que por esse motivo a gente não tenha um “estilo” muito bem definido. A
banda transita entre o Metal, o Hard Rock, o Punk e o Grunge. É algo só nosso,
e do qual gostamos muito.
Aliás,
de onde vem essa influência Metal e Hard que a banda possui?
Maria
Cals: Já estamos na casa dos 30 e poucos anos e ouvimos
Rock e Metal há muito tempo. Sempre tivemos bandas e procuramos acompanhar
tanto a cena underground nacional quanto “mainstream” do Rock e Metal.
Outra
coisa que chama atenção no trabalho é que as melodias contrastam com certa
agressividade, principalmente do trabalho de guitarras no álbum. Seria essa a
energia que a banda passa em sua sonoridade?
Maria
Cals: Eu diria que a marca registrada da Indiscipline é
justamente essa energia - o fato de as guitarras serem pesadas e agressivas
enquanto a melodia oferece um contraponto com uma certa suavidade. É algo que
surpreende o ouvinte e um dos fatos mais comentados sobre a banda.
Falando
em melodia, os vocais de Alice D’Moura complementam essa faceta melódica da
banda, mostrando naturalidade e técnica, além de linhas que pegam o ouvinte
desde a primeira audição do álbum. Fale-nos um pouco a respeito disso.
Maria
Cals: Sim, a Alice é uma excelente cantora, afinadíssima
e com um timbre único e extremamente belo. Quando estávamos gravando as demos
do “Sanguinea”, eu e Felipe (Eregion) ouvíamos as músicas e pensávamos: “porra,
essa sacana da Alice tem uma voz muito bonita mesmo”. Toda a técnica dela é
empírica, pois ela nunca fez aulas formais de canto. No “Sanguinea” tivemos
ainda a valorosa ajuda do Gus Monsanto com a produção vocal e procuramos ir
além do que já havia sido feito no “In My Guts” e também no “Live at Toca”.
Acredito que conseguimos.
O
álbum todo mostra uma energia fora do normal e músicas como Fear in Your Eyes, Burning Bridges, Losing
My Mind, Higher e Poison se
destacam. Essa veia contagiante da banda é algo com que vocês se preocupam ou
soam naturalmente? Aliás, quais faixas vocês destacariam?
Maria
Cals: É natural sim. No máximo o que acontece é compormos
a música em um certo andamento, e então, nos ensaios, pensarmos - e se
acelerarmos/diminuirmos isso aí? É bem curioso como acontece. Com a Losing my Mind mesmo, por exemplo,
rolou. Era uma música mais lenta e um amigo baterista sugeriu que a tocássemos
mais rápido. Fizemos isso e ficou ótimo! Aí, quando fomos gravar, o Eregion,
que produziu o disco, sugeriu que a música aparecesse no disco mais cadenciada,
“pesadona”. Foi o que fizemos.
Aliás,
Fear in Your Eyes ganhou videoclipe e
saiu como música de trabalho. Como e por que a escolheram para tal?
Maria
Cals: Achamos que Fear
in your Eyes de certa forma resume o que a Indiscipline é musicalmente. O
fato de a letra falar de algo presente na vida de muitas mulheres, que é o abuso
sexual, também contou a favor, além do fato de ela ser, até então, totalmente
inédita. Para o primeiro clipe, queríamos algo bem pra frente, andamento
acelerado. Havia duas
candidatas: Fear in your Eyes e Take it or Leave it. Optamos
pela primeira, pois a Take it or Leave it
já constava do nosso registro anterior (“Live At Toca”), muito embora a versão
do “Sanguinea” seja ligeiramente diferente (e, na minha opinião, melhor).
E
como foi idealizado e o trabalho em cima do clipe de Fear in Your Eyes?
Maria
Cals: Contatamos a Cíntia Ventania, baixista das bandas
Scatha e Severa, que também é videomaker e já tinha trabalhado com a gente em
outra ocasião, mas fazendo fotos. Na época, ficamos muito satisfeitas com o
resultado, então resolvemos repetir a dose. Também já tínhamos visto o
portfólio de vídeos dela e gostamos muito. Ela mora no Canadá, mas por sorte
passaria alguns meses aqui no Brasil de férias, portanto nós planejamos para
fazer esse clipe enquanto ela estivesse aqui. Ela teve várias ideias legais e
contribuiu muito com a produção toda. Algumas coisas inusitadas também
aconteceram. Por exemplo, quando chegamos na locação da filmagem, havia várias
molduras de quadros espalhadas. A Cíntia deu a ideia de pendurarmos elas de
forma que ficasse um ambiente meio disfuncional, o que contribuiu muito com o
resultado estético do clipe e também conversa com a letra da música, que, como
já falei anteriormente aqui, aborda o abuso sexual.
A
produção do disco ficou por conta de Felipe Eregion (Unearthly) sendo que a
masterização e mixagem foram realizadas por Arkadiusz “Malta” Malczewski
(Behemoth, Decapitated, Hate, Black River), em Varsóvia (Polônia), no Sound
Division Studio. Como viabilizaram o trabalho e como foi trabalhar com eles? O
resultado final foi o objetivado?
Maria
Cals: Foi a segunda vez que trabalhamos com o Eregion (a
primeira foi no “In My Guts”). Além de ele já conhecer a banda e acompanhar de
perto todo o processo de pré-produção (pois, para quem não sabe, ele também é
meu marido), confiamos muito na opinião e experiência dele. Ele é sempre muito
sincero e exige de nós o que deve ser exigido. Não foram raras as vezes que
brigamos ou ficamos de saco cheio dele, mas depois vimos que ele tinha razão (risos).
É muito importante para nós termos uma pessoa que não nos poupa simplesmente
por ser próximo. Tentamos evitar a “zona
de conforto”. O Malta foi uma sugestão do próprio Felipe, que conhece um dos
caras que trabalham com ele. Por sorte, entre uma turnê aqui e uma gravação ali,
ele teve como encaixar a mix e a master do “Sanguinea”. Foi também excelente,
pois ele fez um trabalho além do “básico”, procurou entender nosso som,
identidade e foi sempre muito profissional e sincero.
O
disco foi lançado pela Shinigami Records. Como surgiu essa oportunidade e como
é trabalhar com um dos maiores selos e distribuidores do Metal nacional?
Maria
Cals: Realmente, é uma honra trabalhar com a Shinigami
Records! Já os conhecíamos e sabíamos do trabalho super profissional do selo. A
oportunidade surgiu através de um contato que a No Class Agency, que nos
representa, fez com eles. Espero que ainda tenhamos várias reprensagens do “Sanguinea”.
E
como o público tem recebido “Sanguinea” até então?
Maria
Cals: O público é sempre muito generoso com a
Indiscipline. Nos acolhem de braços abertos e reconhecem o nosso trabalho e
esforço. Não foi diferente com o “Sanguinea”. Foi um disco muito aguardado (e
ainda é na verdade, porque por enquanto só temos a versão física do disco - ele
sairá em breve em todas as plataformas digitais). Fizemos ainda um projeto de
financiamento coletivo para ajudar na gravação do disco e tivemos sucesso, o
que nos deixou muito felizes.
Além
da divulgação do trabalho, quais os planos da banda para 2017 em questão de
shows, algum lançamento a mais, clipes, enfim...?
Maria
Cals: Temos muitas coisas planejadas para 2017. Tem um
clipe que deve sair até maio, e depois devemos lançar pelo menos mais dois no
segundo semestre. Temos outros vídeos engatilhados também. Fora isso, também já
começamos a pensar naquele que será o sucessor de “Sanguinea”, e queremos tocar
no Brasil e fora dele também!
Muito
obrigado pela entrevista, parabéns pelo trabalho. Podem deixar uma mensagem
final aos leitores.
Maria
Cals: Obrigada você pela oportunidade! Agradecemos também
a quem acompanha a banda. Vocês são foda! Nos vemos na estrada! /,,/
Nenhum comentário:
Postar um comentário