Por Vitor Franceschini
O Vorgok a princípio é
um duo formado por Edu Lopez (vocal/guitarra, ex-Explicit Hate, Necromancer) e
João Wilson no baixo. A dupla que se juntou lá por 2014, lançou no ano passado
seu debut “Assorted Evils” e mostrou ao mundo um Thrash Metal furioso e
recheado de brutalidade. Agora, contando também com Bruno Tavares (guitarra,
Forceps, Demolishment) a banda colhe os frutos de seu primeiro trabalho. Edu
conversou com o ARTE METAL e nos ajudou a destrinchar melhor o disco e falou
também de outros assuntos.
Primeiramente
gostaria que você apresentasse o Vorgok ao público. Como se deu a formação da
banda, como chegaram até esse nome e o que significa?
Edu
Lopez: Eu tinha recebido o convite para integrar o Necromancer,
que é uma banda de amigos lá dos anos 80 e que sempre foi conhecida por fazer
um Thrash Metal clássico, para promoção do álbum que estava para ser lançado
(exclusivamente com material dos anos 80 e início de 90 que nunca havia sido
propriamente lançado), chamado "Forbidden Art" (2014). Contudo, as
diferenças de objetivo começaram a aparecer quando a banda decidiu iniciar as
composições para um álbum seguinte, pois ficou evidente que a decisão foi fazer
um som, digamos, mais moderno, algo que não é do meu interesse. Por isso,
minhas composições não estavam sendo aproveitadas. As músicas Kill Them Dead, Deception in Disguise e Antagonistic Hostility foram compostas
para o Necromancer e acabaram entrando no disco do Vorgok, todas numa pegada
muito old school, que é o meu interesse. Para não ter dúvidas disso, veja que a
música Hell´s Portrait foi
originalmente composta para o Anschluss, lá por volta de 87, quando eu tinha 15
anos! Com exceção de um riff aqui, um arranjo lá, das letras e do título
(porra, não dá pra gravar, hoje, a letra feita por um moleque de 15 anos! risos)
a música é a mesma. Fico muito feliz de ter gravado essa música, e a considero
uma das mais elaboradas do CD. Por tudo isso, senti que, desta vez, precisava
de uma banda em que pudesse expressar o tipo de Thrash Metal de que sou fã, com
espaço para as minhas composições e visão artística. Dessa necessidade surgiu a
idéia de formar o Vorgok. Eu tinha uma ‘banda’ de covers com o João Wilson
(baixo) só pra diversão. Aquele negócio de ir pro estúdio com os amigos pra
tocar músicas que todo mundo conhece sem compromisso nenhum, tomar umas cervejas
e tal. O baterista dessa ‘banda’ se mudou pra Curitiba e aí convidei o João pra
montar uma banda autoral de Thrash e ele, que é o maior pilhado e adora esse estilo
de Thrash ‘porradão’, topou na hora. Assim começou o Vorgok. Atualmente, a
banda conta também com Bruno Tavares (guitarra; Demolishment, Fórceps) e
estamos trabalhando com diversos ‘session drummers’. Já o
nome "Vorgok" surgiu da necessidade de uma palavra que fosse
curta, soasse forte e traduzisse a seguinte ideia: a coleção de todos os males
passados, presentes e futuros praticados e a serem praticados pela humanidade.
Tendo em vista a inexistência de uma palavra que designasse esse coletivo, fui
fazendo experiências, tipo juntando sílabas desconexas, até chegar em "Vorgok".
Esse significado apresenta a temática lírica da banda.
As
bandas e ex-bandas dos integrantes estão basicamente entre o Thrash e o Death
Metal. O Vorgok também trilha esse caminho. Essa foi a proposta desde o início
que formaram a banda ou é algo que fluiu naturalmente?
Edu:
Sim,
a proposta foi essa desde o início. Curtimos outros estilos de Metal, mas na
banda todo mundo só tem interesse em tocar Metal mais bruto.
E
como é trabalhar com músicos experientes, como os que integram a Vorgok? Quais
as vantagens e desvantagens disso?
Edu:
Não há desvantagens e as vantagens são inúmeras: facilita muito pro processo de
composição e arranjos, pra rotina de ensaios, para estabelecimento de objetivos
comuns e evita a criação de expectativas não realizáveis.
Falando em trabalho, como foi o processo geral de
composição e produção do primeiro disco “Assorted Evils”? Enfim, como é a forma
de compor da banda?
Edu:
As
músicas que estão em "Assorted Evils" foram todas compostas por mim,
inclusive as letras, como exceção da faixa Drowning,
que foi composta pelo João Wilson (baixo) e é um prelúdio em violão de nylon
que funciona como uma introdução para a faixa seguinte, que fecha o disco,
chamada Mass Funeral at Sea. No
entanto, os arranjos das músicas foram exaustivamente trabalhados por mim e
pelo João, que deu uma contribuição importantíssima nessa área. Contudo, espero
e é bem provável que todo mundo participe do processo de composição do próximo
CD.
A
produção de Celo Oliveira no Kolera Home Studio é um dos grandes trunfos do
disco e fez com que ao mesmo tempo o trabalho soasse atual, além de que as
músicas não caiam na mesmice artificial que se tornou muito comum nas bandas de
hoje. Esse foi o objetivo da banda? Fale sobre o trabalho de Celo.
Edu:
Sim, essa preocupação permeou a produção do disco. Hoje em dia, com toda
tecnologia disponível, se você não tiver capacidade de autorrestrição, você
acaba fazendo um som que soa, como dito, artificial, o que acho péssimo. Acredito
que o trabalho do nosso produtor, Celo Oliveira, esteja diretamente associado a
esse resultado. Ele é um profissional altamente competente, jovem, porém muito
experiente, com a cabeça muito aberta e antenado. Creio que o trabalho
desenvolvido na timbragem e na mixagem, sobretudo pelo espaço que encontramos
para o baixo aparecer, sejam elementos importantes para o material não soar
datado, tudo proporcionando um equilíbrio entre o antigo e o moderno, isto é, uma sonoridade claramente
compreensível e equilibrada, mas que não fosse límpida como os padrões atuais,
que muitas vezes te fazem sentir falta do elemento humano. Trabalhar
com o Celo foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para a banda. Além das
qualidades que citei, ele compreendeu rapidamente a proposta do som e
manteve-se fiel a ela, não veio com "invencionices" pra fazer algo
"modernoso". Simplesmente usou seu talento e conhecimento para que,
dentro da nossa proposta, o melhor resultado fosse alcançado. Por tudo isso, o
processo todo de produção foi muito suave e ficamos todos extremamente
satisfeitos e felizes com o resultado final.
A
sonoridade encontrada no debut abrange praticamente quase todas as facetas do
Thrash Metal, porém com uma dose extra de brutalidade. Isso foi intencional ou
fluiu naturalmente?
Edu:
Exatamente. O nosso propósito é fazer um Thrash bem brutal, tangenciando o Death
Metal extremo. Fico feliz com a pergunta porque demonstra que alcançamos esse
objetivo!
Vocês
acreditam que esse peso extra, essa brutalidade a mais pode diferenciar a banda
dentro do estilo?
Edu:
Nunca pensei nisso. Fazer um Thrash com essa ‘brutalidade extra’ sempre foi
nosso objetivo e, portanto, natural pra nós. Mas, agora que você perguntou,
diria que essa abordagem talvez possa sim diferenciar a banda entre as inúmeras
- e excelentes! - bandas do estilo. E pelas ideias que estão surgindo, o
próximo lançamento será ainda mais bruto.
As
maldades cometidas pela raça humana são os temas das letras. Enfim, as letras
acabam se conectando, mas o disco não é conceitual, certo?
Edu:
O disco não foi concebido como um disco conceitual, mas isso é algo que eu
gostaria de explorar no futuro. No entanto, como os temas todos derivam do
conceito de "Vorgok", como expliquei acima, ele dá sim a impressão de
ser um disco conceitual. Bom, talvez até seja e eu é que não me dou conta! (risos)
Acredito
que abordar tal temática não deve ter sido tão difícil, pois o ser humano se
escancara cada vez mais maldoso com o passar das ‘eras’. Como foi escrever as
letras?
Edu:
Cara, foi fácil e difícil ao mesmo tempo. Fácil, porque, muito infelizmente, o
mundo contemporâneo é uma fonte inesgotável de atrocidades, então os temas
sobejam. Difícil, porque é muito pesado e emocionalmente desgastante você ficar
pensando nesses temas sinistros para escrever as letras, algo que é um processo
meio lento e trabalhoso. Por exemplo, um tema que seria excelente explorar é a
pedofilia, mas isso é assunto que realmente me deixa transtornado e pra
escrever sobre isso preciso construir uma estrutura emocional muito firme, algo
que ainda não consegui. Por enquanto, não quero ficar ‘ruminando’ isso na minha
cabeça.
Você
ainda acredita que o ser humano e/ou o planeta Terra tem salvação? Digo, acha
que ainda há esperança?
Edu:
Sou um pessimista convicto. Não acredito em salvação da espécie humana nem,
desgraçadamente, de todas as demais. Na faixa Last Nail in Our Coffin (Último Prego no Nosso Caixão), escrevi:
"A tecnologia progressiva acima da ficção científica, o sistema moral
estabelecido abaixo da degradação. Cravando o último prego no nosso
caixão". Acredito que esse descompasso, em algum momento no futuro, irá,
mais tempo, menos tempo, exterminar a vida no planeta.
Voltando
ao álbum, como tem sido a repercussão de “Assorted Evils”?
Edu:
O álbum tem tido
uma receptividade que nos surpreendeu, com várias resenhas positivas no Brasil,
França, Reino Unido, inclusão na programação de webradios da Europa e América
do Sul, vários pedidos de entrevista e convites para shows. Estamos muito
felizes com a boa receptividade do material e com a quantidade de novos amigos
que temos feito em razão dela.
E
quais os planos para 2017? A banda ainda não conta com um baterista fixo, mas
pretendem se apresentar ao vivo o máximo possível? Quais objetivos neste
sentido?
Edu:
Durante o correr deste ano nosso objetivo é tocar ao vivo o mais que pudermos.
Decidimos contar com a colaboração de diversos ‘session drummers’ ao invés de ter
um ‘baterista fixo’. Dessa maneira, o processo decisório da banda fica mais
fácil porque são apenas 3 pessoas a participar dele. Ano que vem vamos entrar
em modo de composição e, quem sabe, lançar algum material novo no final de
2018.
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