São mais de 20 anos dedicados ao Metal extremo brasileiro,
em especial o Death Metal ‘old school’. Sim, é bom frisar que o Oligarquia é
uma atêntica banda de Death Metal das antigas, que se estabeleceu desde a
lendária demo “Really To Be Dead”, lançada há quase vinte anos e que é
disputada a tapas até hoje. Liderada pelo baterista Panda Reis, a banda se
tornou referência do estilo no país e um dos principais nomes da podridão
paulista. Panda é o nosso convidado do Killing Yourself desta vez.
“Conviction of the Death!!!” –
Oligarquia (1995 – demo): Esta demo tape foi gravada pelo nosso
grande amigo Tchello Martins, no lendário estúdio Anonimato. Foi nessa demo que
conhecemos esse produtor, que anos depois produziu gente como Krisiun,
Claustrofobia e hoje trabalha como engenheiro de som dos Racionais Mc´s. Me
lembro que nessa época a gente estava em uma fase bem louca, épocas de exageros
saca? Gravamos a demo inteira em apenas uma madrugada e posso garantir que foi
bem divertida essa madrugada. Toda a parte gráfica dessa demo tape foi feita
por mim mesmo, a capa eu tirei de uma revista de uma sala de espera em um
consultório odontológico, xeroquei o logo e colei sobre a foto, escrevi o nome
da demo com “branquinho” e datilografei todo o encarte, foi realmente um trampo
artesanal. Tudo foi feito entre amigos, uns tiraram cópias coloridas, outros
faziam cópias das fitas K7 e assim seguiu até chegarmos a 500 cópias
distribuídas. A temática já era uma veia social e política, a banda nasceu disso,
de conversas sobre política e filosofia em bares banhadas a álcool e outras
“cositas más”, até mesmo o nome surgiu em uma aula de história no colégio,
seria natural que seguíssemos essa temática
“Really to Be Dead” –
Oligarquia (1999 – demo): Nessa segunda demo procuramos evoluir
tanto na parte de produção como na parte gráfica e apresentação do material,
ainda gravada em fita K7, gravamos com mais tempo e sem tanta pressa como a
primeira. A arte gráfica foi feita toda em gráfica de papel melhor e o desenho
feito por meu irmão, que era um artista plástico sensacional , que trabalhou
com gente como Racionais, Happin Hood , Xis , 4P etc... Gravamos em um estúdio
próximo a Teodoro Sampaio e já estávamos tocando melhor, o que facilitou todo o
trampo, pois agora sabíamos o que queríamos para essa demo tape, e também
seguramos a onda da loucura nessa demo, não que tenha atrapalhado na anterior,
mas achamos melhor ver como seria se gravássemos mais careta dessa vez, acabou
não mudando nada (risos). Pelo menos fizemos menos merda dessa vez (extra
estúdios). As letras seguiram os mesmos temas e assuntos. Nessa demo tape
gravamos um cover do Benediction.
“Nechropolis” – Oligarquia
(2000): A demo anterior teve a nossa maior distribuição de
todos os tempos, foram mais de 2.000 cópias e com essa demo rodamos o Brasil,
com isso a Destroyer Records nos fez uma proposta para lançarmos nosso primeiro
disco. Então entramos no estúdio do Ciero (Da Tribo Estúdio) para gravar esse CD
“Nechropolis”, e dessa vez foi um lance mais profissional , apesar de termos
voltado aos exageros durante as gravações no estúdio Da Tribo, que na época
ficava na zona leste. As sessões foram super divertidas, o Ciero é um puta de
um cara gente boa, foi nesse trampo que começamos uma amizade bem legal, que
dura até os dias de hoje. O nome eu escolhi quando estávamos eu o Alex
Chiovitti dando um rolê pelos bares da região da Cardeal Arco Verde (Avenida
boemia de SP) demos de cara com o cemitério São Pedro, na faixada desse
cemitério, lia-se Necropole de São Bento , na hora me deu um start e resolvi
batizar o disco com o nome Cidade dos Mortos em Latim, que virou Nechropolis.
Sendo o disco de estreia da banda, me surpreende que fizemos um bom trabalho,
na verdade esse é o disco que eu mais gosto da banda, não apenas pelas músicas
ou nossa performance , mas pela época, o momento em que o disco foi gravado. Esse
é o disco em que as letras começaram a ser uma maior preocupação pra mim, tanto
é que tivemos conversas calorosas , por causa de letras que eu achava
ideologicamente fracas, mas tiveram que entrar , pois democraticamente
aceitamos letras de todos os membros da banda, mesmo que algumas eu considere
fracas, mas foi ótimo para consolidar a democracia lírica da banda. A partir
desse trampo, começamos a tocar pelo país. Esse disco está preso com a
gravadora até hoje, que pede dinheiro para poder relançá-lo , então acho que
nunca será relançado (risos).
“Humanavirus”
– Oligarquia (2004): Assinamos com a Mutilation Records, e eles
nos ofereceram condições para a gravação que nunca tivemos e nunca mais teremos
(acredito eu). Eles bancaram o estúdio Mr. Som , do Pompeu (Korzus), um puta
estúdio em Moema, tudo pago por eles. Chegávamos por volta das 10h da manhã e
saímos na madrugada de lá, ficávamos mais da metade desse tempo jogando
Playstation, fumando maconha e tomando cerveja. Me lembro que foi tranquilo
gravarmos o instrumental, deu uma embaçada nos vocais, por causa da pronúncia,
o Pompeu e o Heros foram bem exigentes com a gente, mas acho que estávamos bem
ensaiados, os vocais também estavam, mas pronuncia é diferente né ... Todo o
conceito do álbum foi discutido entre a banda, dessa vez a maioria das letras
ficaram comigo e o Artour (baixo), e a parte gráfica com o Alex e o Guilherme.
Gosto desse disco, mas não gosto da capa, o encarte ficou legal, mas a capa ...
se fosse hoje eu mudaria. A ideia do conceito e o nome são sensacionais, o humano
como sendo um vírus para o planeta terra é bem legal, por isso acho que a capa
poderia ter sido melhor elaborada , mas até hoje não me lembro se eu a aprovei
ou se a maioria venceu ou ainda se teve o dedo da gravadora, eu vivia uma época
meio louca , não me lembro de muitas coisas desse tempo. O que sei é que esse
disco colocou a banda pra tocar com a maioria das bandas que curtíamos e
viajamos o país em condições melhores do que até então, ainda hoje é o material
de maior venda e aceitação.
“Enslave by Light “ –
Oligarquia / Opus Draconis (2004): Split que foi lançado
apenas na Europa, pela gravadora Dark Profanation Records, de Portugal. Foi
legal ter um material lançado oficialmente na Europa, porém nunca soubemos como
ele foi por lá e nunca recebemos um centavo por esse disco. Até ai tudo bem , nunca
ganhamos nada do que lançamos, mas os caras da gravadora só mandaram uma cópia
pra cá, o que impossibilitou de inserirmos o disco aqui no Brasil e pra piorar,
teve gente criticando um split entre uma banda de Death Metal tradicional com
uma banda de Black metal. Não me pergunte o porquê da crítica, pois achei ‘du
caralho’ misturar bandas distintas, pois abre possibilidades de pessoas de
outros estilos te conhecer, te ouvir. Foi uma experiência legal, confesso que
mal pensada, pois apenas colocamos músicas dos discos anteriores, hoje eu
gravaria sons novos só pra esse trampo, mas foda-se, já foi lançada e com
certeza nunca será relançado.
“Distilling
Hatred” – Oligarquia (2011): Esse disco nasceu em uma
época em que a banda estava mais raivosa, eu vinha estudando muito, faculdade ,
pós graduação e cursos e leituras diversas. Me transformou em um ativista mais
atuante que antes, na verdade eu diria mais pensante, e isso refletiu nas
letras, nos nomes das músicas e a capa, que é sensacional, a que eu mais gosto
da banda e foi feita pelo amigo de longa data, Felipe Erigion (ex–Unearthly). Ele
seguiu perfeitamente o que eu pensava pra capa, na verdade acho que ficou até
melhor do que eu pensava para a capa. Nesse estávamos sem gravadora e fizemos
uma parceria com a Poluição Sonora Records e alguns apoiadores, para lançarmos
esse disco. Ele é banhado de ódio, as letras, a maneira que tocamos, tudo ali é
pura destilação do ódio particular de cada um e do ódio coletivo. Eu costumo
dizer entre os amigos, que esse disco esgotou todo aquele ódio que tinha dentro
de mim, parece que ele serviu mais como uma terapia particular do que outra
coisa, depois desse disco, continuei estudando e pesquisando, porém abri meu
leque intelectual e comecei a estudar assuntos diversos e não apenas história
política e ciências sociais, mas a Antropologia , Teologia e filosofia entraram
no cardápio e comecei a me preocupar com a história oral e a versão dos
vencidos, isso graças a estudos de etnias que formaram nosso País e naturalmente
me envolvi mais com a temática ancestral e original da formação do Pais (
Africano , Indígena e Europeu ). Em contrapartida os caras da banda estavam
tocando muito, nunca a banda esteve tão entrosada como nesse período. Tivemos
problemas com os donos do underground, pois sem gravadora, trabalhando de
maneira independente, achamos justo cobrar pelo CD o preço justo, ou seja, sem
mais valia, apenas o valor do custo da obra. Resultado, o CD saiu com o valor
na capa de R$ 7,00, o que indignou algumas distribuidoras e lojas, pois não
viram espaço para obterem os lucros exorbitantes de outrora. Resultado, brigas
com distribuidoras, lojas reclamando e de certa maneira nos criticando pelo
ato... Isso me fez perceber como estava o nosso underground, e que nem todas as
distribuidoras, selos e lojas que se diziam apoiar o underground real, se
mostraram apenas capitalistas do underground.
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