quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Killing Yourself: Panda Reis (Oligarquia)




São mais de 20 anos dedicados ao Metal extremo brasileiro, em especial o Death Metal ‘old school’. Sim, é bom frisar que o Oligarquia é uma atêntica banda de Death Metal das antigas, que se estabeleceu desde a lendária demo “Really To Be Dead”, lançada há quase vinte anos e que é disputada a tapas até hoje. Liderada pelo baterista Panda Reis, a banda se tornou referência do estilo no país e um dos principais nomes da podridão paulista. Panda é o nosso convidado do Killing Yourself desta vez.

“Conviction of the Death!!!” – Oligarquia (1995 – demo): Esta demo tape foi gravada pelo nosso grande amigo Tchello Martins, no lendário estúdio Anonimato. Foi nessa demo que conhecemos esse produtor, que anos depois produziu gente como Krisiun, Claustrofobia e hoje trabalha como engenheiro de som dos Racionais Mc´s. Me lembro que nessa época a gente estava em uma fase bem louca, épocas de exageros saca? Gravamos a demo inteira em apenas uma madrugada e posso garantir que foi bem divertida essa madrugada. Toda a parte gráfica dessa demo tape foi feita por mim mesmo, a capa eu tirei de uma revista de uma sala de espera em um consultório odontológico, xeroquei o logo e colei sobre a foto, escrevi o nome da demo com “branquinho” e datilografei todo o encarte, foi realmente um trampo artesanal. Tudo foi feito entre amigos, uns tiraram cópias coloridas, outros faziam cópias das fitas K7 e assim seguiu até chegarmos a 500 cópias distribuídas. A temática já era uma veia social e política, a banda nasceu disso, de conversas sobre política e filosofia em bares banhadas a álcool e outras “cositas más”, até mesmo o nome surgiu em uma aula de história no colégio, seria natural que seguíssemos essa temática

“Really to Be Dead” – Oligarquia (1999 – demo): Nessa segunda demo procuramos evoluir tanto na parte de produção como na parte gráfica e apresentação do material, ainda gravada em fita K7, gravamos com mais tempo e sem tanta pressa como a primeira. A arte gráfica foi feita toda em gráfica de papel melhor e o desenho feito por meu irmão, que era um artista plástico sensacional , que trabalhou com gente como Racionais, Happin Hood , Xis , 4P etc... Gravamos em um estúdio próximo a Teodoro Sampaio e já estávamos tocando melhor, o que facilitou todo o trampo, pois agora sabíamos o que queríamos para essa demo tape, e também seguramos a onda da loucura nessa demo, não que tenha atrapalhado na anterior, mas achamos melhor ver como seria se gravássemos mais careta dessa vez, acabou não mudando nada (risos). Pelo menos fizemos menos merda dessa vez (extra estúdios). As letras seguiram os mesmos temas e assuntos. Nessa demo tape gravamos um cover do Benediction.



“Nechropolis” – Oligarquia (2000): A demo anterior teve a nossa maior distribuição de todos os tempos, foram mais de 2.000 cópias e com essa demo rodamos o Brasil, com isso a Destroyer Records nos fez uma proposta para lançarmos nosso primeiro disco. Então entramos no estúdio do Ciero (Da Tribo Estúdio) para gravar esse CD “Nechropolis”, e dessa vez foi um lance mais profissional , apesar de termos voltado aos exageros durante as gravações no estúdio Da Tribo, que na época ficava na zona leste. As sessões foram super divertidas, o Ciero é um puta de um cara gente boa, foi nesse trampo que começamos uma amizade bem legal, que dura até os dias de hoje. O nome eu escolhi quando estávamos eu o Alex Chiovitti dando um rolê pelos bares da região da Cardeal Arco Verde (Avenida boemia de SP) demos de cara com o cemitério São Pedro, na faixada desse cemitério, lia-se Necropole de São Bento , na hora me deu um start e resolvi batizar o disco com o nome Cidade dos Mortos em Latim, que virou Nechropolis. Sendo o disco de estreia da banda, me surpreende que fizemos um bom trabalho, na verdade esse é o disco que eu mais gosto da banda, não apenas pelas músicas ou nossa performance , mas pela época, o momento em que o disco foi gravado. Esse é o disco em que as letras começaram a ser uma maior preocupação pra mim, tanto é que tivemos conversas calorosas , por causa de letras que eu achava ideologicamente fracas, mas tiveram que entrar , pois democraticamente aceitamos letras de todos os membros da banda, mesmo que algumas eu considere fracas, mas foi ótimo para consolidar a democracia lírica da banda. A partir desse trampo, começamos a tocar pelo país. Esse disco está preso com a gravadora até hoje, que pede dinheiro para poder relançá-lo , então acho que nunca será relançado (risos).

“Humanavirus” – Oligarquia (2004): Assinamos com a Mutilation Records, e eles nos ofereceram condições para a gravação que nunca tivemos e nunca mais teremos (acredito eu). Eles bancaram o estúdio Mr. Som , do Pompeu (Korzus), um puta estúdio em Moema, tudo pago por eles. Chegávamos por volta das 10h da manhã e saímos na madrugada de lá, ficávamos mais da metade desse tempo jogando Playstation, fumando maconha e tomando cerveja. Me lembro que foi tranquilo gravarmos o instrumental, deu uma embaçada nos vocais, por causa da pronúncia, o Pompeu e o Heros foram bem exigentes com a gente, mas acho que estávamos bem ensaiados, os vocais também estavam, mas pronuncia é diferente né ... Todo o conceito do álbum foi discutido entre a banda, dessa vez a maioria das letras ficaram comigo e o Artour (baixo), e a parte gráfica com o Alex e o Guilherme. Gosto desse disco, mas não gosto da capa, o encarte ficou legal, mas a capa ... se fosse hoje eu mudaria. A ideia do conceito e o nome são sensacionais, o humano como sendo um vírus para o planeta terra é bem legal, por isso acho que a capa poderia ter sido melhor elaborada , mas até hoje não me lembro se eu a aprovei ou se a maioria venceu ou ainda se teve o dedo da gravadora, eu vivia uma época meio louca , não me lembro de muitas coisas desse tempo. O que sei é que esse disco colocou a banda pra tocar com a maioria das bandas que curtíamos e viajamos o país em condições melhores do que até então, ainda hoje é o material de maior venda e aceitação.



“Enslave by Light “ – Oligarquia / Opus Draconis (2004): Split que foi lançado apenas na Europa, pela gravadora Dark Profanation Records, de Portugal. Foi legal ter um material lançado oficialmente na Europa, porém nunca soubemos como ele foi por lá e nunca recebemos um centavo por esse disco. Até ai tudo bem , nunca ganhamos nada do que lançamos, mas os caras da gravadora só mandaram uma cópia pra cá, o que impossibilitou de inserirmos o disco aqui no Brasil e pra piorar, teve gente criticando um split entre uma banda de Death Metal tradicional com uma banda de Black metal. Não me pergunte o porquê da crítica, pois achei ‘du caralho’ misturar bandas distintas, pois abre possibilidades de pessoas de outros estilos te conhecer, te ouvir. Foi uma experiência legal, confesso que mal pensada, pois apenas colocamos músicas dos discos anteriores, hoje eu gravaria sons novos só pra esse trampo, mas foda-se, já foi lançada e com certeza nunca será relançado.



“Distilling Hatred” – Oligarquia (2011): Esse disco nasceu em uma época em que a banda estava mais raivosa, eu vinha estudando muito, faculdade , pós graduação e cursos e leituras diversas. Me transformou em um ativista mais atuante que antes, na verdade eu diria mais pensante, e isso refletiu nas letras, nos nomes das músicas e a capa, que é sensacional, a que eu mais gosto da banda e foi feita pelo amigo de longa data, Felipe Erigion (ex–Unearthly). Ele seguiu perfeitamente o que eu pensava pra capa, na verdade acho que ficou até melhor do que eu pensava para a capa. Nesse estávamos sem gravadora e fizemos uma parceria com a Poluição Sonora Records e alguns apoiadores, para lançarmos esse disco. Ele é banhado de ódio, as letras, a maneira que tocamos, tudo ali é pura destilação do ódio particular de cada um e do ódio coletivo. Eu costumo dizer entre os amigos, que esse disco esgotou todo aquele ódio que tinha dentro de mim, parece que ele serviu mais como uma terapia particular do que outra coisa, depois desse disco, continuei estudando e pesquisando, porém abri meu leque intelectual e comecei a estudar assuntos diversos e não apenas história política e ciências sociais, mas a Antropologia , Teologia e filosofia entraram no cardápio e comecei a me preocupar com a história oral e a versão dos vencidos, isso graças a estudos de etnias que formaram nosso País e naturalmente me envolvi mais com a temática ancestral e original da formação do Pais ( Africano , Indígena e Europeu ). Em contrapartida os caras da banda estavam tocando muito, nunca a banda esteve tão entrosada como nesse período. Tivemos problemas com os donos do underground, pois sem gravadora, trabalhando de maneira independente, achamos justo cobrar pelo CD o preço justo, ou seja, sem mais valia, apenas o valor do custo da obra. Resultado, o CD saiu com o valor na capa de R$ 7,00, o que indignou algumas distribuidoras e lojas, pois não viram espaço para obterem os lucros exorbitantes de outrora. Resultado, brigas com distribuidoras, lojas reclamando e de certa maneira nos criticando pelo ato... Isso me fez perceber como estava o nosso underground, e que nem todas as distribuidoras, selos e lojas que se diziam apoiar o underground real, se mostraram apenas capitalistas do underground.


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