Esta foto é uma mera ilustração |
Por Vitor Franceschini
Antes de qualquer
pré-julgamento de algum leitor ‘hater’ (viciei nessa palavra), deixo bem claro
que não acho que ‘metaleiro’ ou ‘headbanger’ ou ‘rockeiro’, como queiram (eu
prefiro o termo abrasileirado) deva ter alguma posição política. Só acredito
que no Rock e no Metal não cabem ideias conservadoras, além de sistemas
totalitários e/ou baseados na demagogia religiosa, além dos travestidos bons
costumes da família tradicional. Inclusive eu já disse isso no primeiro artigo
desta seção (confira aqui).
Porém, essa história do
‘metaleiro’ e o Metal brasileiro ter vindo da periferia e classe trabalhadora é
balela. Calma, não estou aqui dizendo que o metaleiro (chega de apóstrofos)
brasileiro é vagabundo ou burguês, mas a grande maioria da nossa cena
(principalmente baseada no estado de São Paulo) não provém de periferia coisa
nenhuma, como muitos taxam por aí.
Foi a primeira vez que
fiz uma pesquisa baseada em textos, depoimentos e documentários, além de uma
vivência de 20 anos de cena, para elaborar um texto dessa seção e constatar: o
metaleiro brasileiro é em sua grande maioria de classe média, e está ali entre
a baixa e alta.
Quer basear-se? Constate
na histórica cena underground dos anos 80 e confirme realmente quem surgiu das
periferias naquela época? Foram os punks, que muitas vezes se dirigiam à galera
do Metal como cabeludos filhinhos de papai - é só assistir aos documentários “Botinada
(The Rise of Punk Rock in Brazil)” de Gastão Moreira e “Guidable - A verdadeira
História do Ratos de Porão” de Fernando Rick e reparar em tais menções.
Isso e uma verdade? Não
estou aqui pra desmentir lendas do cenário da música pesada nacional e muito
menos pra taxar alguém disso. Fato é que durante a minha convivência no cenário
nacional, que vem em meados dos anos 90, compartilhei eventos com uma grande
maioria que de periferia não tinha (e nem têm) nada, em especial se destacando
o cenário da região central (total) do interior do estado de São Paulo.
E quando eu me refiro à
classe, eu falo sobre aquele sujeito que trabalha desde a pré-adolescência
porque precisa, pega ‘busão’ desde o primário e o dinheiro ou é pra comer ou ir
no rolê, os dois não dá. Sem contar que todo esse rala ainda conta com o bônus
de morar num bairro periférico e ainda contar com olhares desconfiados de quem
a gente desconfia.
O que muito se via e se
vê, são metaleiros pré-estabelecidos e com base familiar bem constituída, bem
estruturada. Mas isso aqui no Brasil, meu caro, até porque nunca vivi a cena do
exterior. Lembro-me muito bem de conviver inclusive com uma galera onde o pai e
a mãe iam (vão) buscar os filhos em portas de shows (obs.: já cheguei a ir de carona
com motorista particular de amigo em evento), uma grande maioria que possuía
uma grande oportunidade de estudo e só vejo que tudo isso se tornou ainda mais
comum hoje. Você não vê camisetas do Slayer, Iron Maiden, Helloween, Slayer nos
morros e na periferia a torto e a direito, e sim, isso é um sinal.
Isso que estou
constatando é um problema? Claro que não! Como alguém que não exige regras
deveria se incomodar com isso? Porém, tal fato comprova que a grande maioria
dos metaleiros brasileiros (principalmente da minha idade pra trás, em torno
dos 30 anos) não travavam uma luta social e sim uma luta pessoal familiar. O
nosso conflito era, na maioria das vezes (mais uma vez) contra a repressão da
família que sempre nos sustentou da forma correta (sim, eu não oriundo da
periferia, mas vivi nela).
O metaleiro brasileiro é,
em sua grande maioria, um ditador de regras onde o conservadorismo só muda de
direção e tem em pauta a música pesada e é muito mais um rebelde sem causa.
Isso também porque o estilo é mais abrangente e chegou aqui um pouco mais
tarde, fazendo com que cada ‘revolução’ fosse mais pessoal do que social.
Tudo isso gerou essa boa
parte reacionária que constatamos hoje e que muitos da dita ‘esquerda’ não
conseguem compreender. Porém, não me ponho a favor de ideias da direita
tradicional serem impostas dentro do Rock / Heavy Metal simplesmente por serem
conservadoras. Mas, só quero dizer, que achar que o Heavy Metal é algo de
esquerda ou foi algo de esquerda, principalmente aqui no Brasil, é pura ilusão.
Quanto a moçada que está chegando hoje, estão ainda mais bem servidos e sem
necessidade de lutar contra o caos social, ainda mais com a comodidade da
internet. Isso nunca me enganou.
Obs.: NÃO SERÃO PUBLICADOS
COMENTÁRIOS DE ANÔNIMOS.
*Vitor
Franceschini é editor do ARTE Metal, jornalista graduado, palmeirense e
headbanger que ama música em geral, principalmente a boa. Não é bipolarizado,
mas bipolar.
Muito bem semeada a semente da discórdia! kkkkk
ResponderExcluirMas ótimo texto, Vitor. Eu também sempre fui o mais fudido do rolê (ou competia com o que era rsrs), tive dificuldades de encontrar amizades no Metal principalmente por isso, por maioria dos metaleiros serem de classes mais abastadas que a minha, o raciocínio meio que não bate... e realmente é bem complicado lidar com o moralismo de gente que idolatra Lemmy Kilmister, Ozzy, Billy Idol, Kurt Cobain e tal... é muita ignorância em contraste com a quantidade de informação que temos disponível (e gratuita) hoje em dia. Aquele abraço!
Perfeita sua reflexão!
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