quarta-feira, 25 de abril de 2018

In Lo(u)co: Nuclear Assault no Brasil em 1989



Por Adalberto Belgamo

Umas das coisas mais legais em relação aos shows nos anos 80 era a “aventura”, pela qual os “interessados” tinham de se submeter para ver os poucos shows gringos, que aconteciam no país.

Trinta (ou mais - risos) anos atrás, tais shows, principalmente os do underground, eram raros abaixo da linha do Equador. Um, dois ou no máximo três por ano. O frenesi era intenso, quando anunciavam uma banda e/ou artista internacional, principalmente para os fãs do Metal.

A década de 80 foi marcada pelo surgimento do Thrash Metal e subgêneros. Tanto lá fora como aqui, o estilo estava em alta na cena underground. Estávamos saindo (ou adicionando...) da era das bandas clássicas e da NWOBHM. As próprias bandas brasileiras começaram a assimilar o estilo e produzir música de excelente qualidade.

Uma das minhas bandas preferidas de Thrash Metal era (é) o Nuclear Assault. O som, a postura política das letras, que retratavam o caos no planeta (criado pela ganância humana desenfreada), condiziam (e condizem) com muitas das minhas convicções ideológicas (não - panfletárias e esquizofrênicas - risos), as quais se resumem ao respeito inviolável da liberdade de expressão e da igualdade social e econômica de todas as classes sociais. Utopia? Sim, mas vale muito a pena a luta, principalmente no meu caso, professor há mais de 20 anos, tentando levar dignidade e cidadania (direitos e deveres) aos lugares esquecidos tanto pelo Estado, como pela iniciativa privada. Mas, aí já é outro assunto.

Voltando à música (risos), não havia a facilidade para adquirir ingressos, muito menos excursões para shows “menores”. Hoje em dia, pela graça de Deus ou do Capiroto (risos), é muito mais simples a logística (risos), que basicamente é entrar na internet, comprar a entrada e arranjar uma excursão ou dividir as despesas do carro com os amigos, que dirigem e tem carro, lógico. Não é o meu caso. Sem carro e sem habilitação. Seis reprovações. As ruas estão bem melhores sem a minha habilidade no volante! (risos).

O que fazíamos, então?

Na noite anterior preparávamos os lanchinhos para a viagem, pois comer em posto ou lanchonete era considerado um luxo! (risos). Descíamos para a rodoviária e tomávamos o ônibus das duas da madrugada para chegar a São Paulo às seis da manhã e ir para a Galeria do Rock pegar os ingressos. Dava um certo medo que não houvesse mais ingressos, mesmo tendo reservado. As lojas, que os vendiam, não se preocupavam muito (ou não sabiam - risos) com o termo “reservado”. Normalmente, dava certo. Mas o que fazer até a hora do show, que sempre estava marcado para as nove da noite, porém começava as onze? (risos).
Fazíamos a Via Sacra ‘Capirótica’ (risos). Aproveitando a viagem, também para comprar discos. Da Woodstock para a Galeria do Rock e da Galeria do Rock para a Woodstock (risos). Ficávamos andando com uma mochila e um monte de LPs nas mãos, os quais, podem acreditar, levávamos aos shows e ficávamos segurando, enquanto as bandas tocavam. Não dava para confiar no guarda-volumes! (risos).

O Nuclear Assault aconteceu no Dama Xoc, uma das casas mais importantes para shows que havia em Sampa, lugar legal de fácil acesso por “cataloco” (ou busão - risos) na Zona Oeste.

Como sempre, os shows serviam para encontrarmos vários amigos do interior, de cidades como Jaboticabal, Monte Alto e Bauru. Ficávamos na expectativa de como seriam os shows (o Sepultura foi a banda de abertura). E papo vem e papo vai. Aquele desfile de “peludos” (risos) com tênis de basquete, cabelos compridos e calças aperta-bagos! (risos). Graças a Deus ou ao Casco Rachado (risos) que as mulheres estão cada vez mais presentes na cena, curtindo e, principalmente, em cima dos palcos, deixando muitos “cuecões (alguns fascitoides) para trás! Hail to the ladies!!!


Enfim, os shows!

O Sepultura foi muito bom, porém todos queriam mesmo era o Nuclear Assault! Danny Lilker, ao vivo! A banda toda extrapolando energia e agressividade (no bom sentido), desfilando “crássicos” em um set list com mais de vinte músicas. Equal Rights, Game Over, Survival, My America... como dizemos no interior, “cada enxadada uma minhoca!” (risos). O som estava perfeito, fazendo com que os timbres das guitarras parecessem um soco na cara! Muito violento, no sentido musical da coisa!

O lugar estava lotado, mas como a posição do palco em relação à plateia era perfeita, não havia a necessidade (só se realmente quisesse se “aventurar”) de ficar muito próximo. As rodas de pogo, o mosh, o stage diving foram insanos. Em cima do palco, misturavam-se público e banda! Um tumulto “delicinha”! (risos). E quem vos escreve, presenciando tudo isso, com um pacote de discos em uma das mãos, o cigarrinho (ainda não era proibido) na outra, balançando a cabeleira “palymobil”, torcendo para que os óculos não caíssem! Um verdadeiro “Bonecão de Olinda”, observando tudo através dos onze graus (risos) das lentes dos óculos, extasiado... petrificado!

20 de maio de 1989, a data que não ficou marcada apenas na mente, mas no coração. Ninguém saiu, após o término do show, a mesma pessoa em relação ao Heavy (Thrash) Metal. Impossível. Um dos melhores shows que vi na minha vida! E já vi (e pretendo) ver muitos mais ainda.

Depois da lição de Thrash Metal, só nos restou ir para o Terminal do Tietê, esperar o primeiro ônibus da manhã para voltar a Texascoara. Alguns tiraram um cochilo, outros conversaram sobre o show, e quem vos escreve continuou a segurar o pacote de discos em uma das mãos (medo de ser assaltado - risos) e uma coxinha da lanchonete da “rodô” na outra. Depois da avalanche sonora, somente uma gordurosa para baixar a adrenalina, um “luxo” merecido... (risos) Inté!


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Adalberto Belgamo é professor, atuando no museu (sem ser peça... ainda - risos), colaborador do Arte Metal, além de ser Parmerista, devorador de música boa, livros, filmes e seriados. Um verdadeiro anarquista fanfarrão.

Um comentário:

  1. Dan Lilker só monta banda uma mais paulada que a outra, Brutal Truth é outra prova. Mas é foda, arrisco a dizer q até hoje é foda curtir Metal no interior, o povo parece estar voltando a acompanhar só os clássicos, então quando uma banda foda vem pro Brasil, mesmo sendo muito conhecida lá fora (por vezes, até mesmo na cena do Brasil), por aqui o povo não dá a mínima, aí é aquela briga pra achar quem possa fazer van pela região. Digo isso porque passei por uma situação assim em Marília, pra ver o show do Cannibal Corpse/ Testament(!?) em Sampa, em 2015. E metaleiro quebrado é foda, todo mundo na van parando em posto pra fazer lanchinho, eu já levei um kit sobrevivência:1 pacote de pão de forma e mais algumas gramas de mortadela kk. Curti o show sóbrio, mas vendo pelo lado bom, foi até melhor (tinha um locão que me oferecia pinga toda hora, eu dava uma bicada modesta e blz hehe), ver o show dos caras e lembrar boa parte da performance é muito bom. Abraço Adalberto/Vitor, é issaí!

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