quarta-feira, 9 de maio de 2018

Ser youtuber não é ser jornalista




Por Vitor Franceschini

O jornalismo vive uma crise acadêmica (assim diríamos) desde 2009 quando o Superior Tribunal de Justiça (sim, eles) derrubou a regulamentação do diploma da graduação tendo como relator do processo Gilmar Mendes (sim, ele mesmo) – confira a notícia no link.

De lá pra cá, a profissão, que não deixou de ser uma graduação que compete um diploma (tente entrar nas grandes empresas de comunicação sem um), começou a declinar e mostrar níveis de qualidade duvidosa, afinal para muitos o jornalismo consiste em escrever, falar e/ou atuar.

Não bastasse essa desregulamentação do diploma, a internet veio com força total e acabou conturbando mais ainda sobre qual a verdadeira função do jornalismo, afinal deu acesso não só à informação, mas também permitiu produzi-la a esmo, sem qualidade, credibilidade e/ou conhecimento mínimo da teoria da comunicação. Enfim, banalizaram de vez o jornalismo, principalmente com as redes sociais.

Isso sem contar quando confundem a função de informar com a de comentar, muitas vezes taxando como jornalistas comentaristas e articulistas (ou cronistas) esportivos, de cultura, história, etc, que na verdade são especialistas comentando suas especialidades. Exemplo, ex-jogadores, atores, músicos, enfim... No Metal, por exemplo, a gama de comunicadores não inclui somente jornalistas, há muitos especialistas (até pelo fanatismo e fidelidade do estilo, mas a necessidade de transmitir a informação de forma correta (notícias e entrevistas) deveria necessitar do tal.

Pois bem. O que temos visto é um público confuso e produtores de informação achando que tudo que se lê e se faz na internet é jornalismo. Engano total. Um comunicador social não é apenas aquele que tem o dom de escrever, uma voz bela ou saber atuar perante uma câmera. O jornalista graduado passa por estudos teóricos bem mais complexos, que vão desde a história da profissão, passando pela teoria da comunicação, gramática, psicologia da informação, metodologias, estudos sociais e outros que englobam praticamente tudo ao que se refere às ciências humanas, principalmente quando envolve especializações.

Por isso, a qualidade da informação muito se difere. Há toda uma forma de apuração, abordagem e técnica de escrita ao produzir uma informação jornalística, que não é uma opinião do interesse do público e sim uma informação de interesse público. Parar em frente a uma câmera, pegar um microfone ou sentar diante de um teclado e emitir uma opinião e/ou passar uma informação baseada no achismo, qualquer um faz, em qualquer lugar (um bar por exemplo), e jornalismo não consiste nisso. Fazer jornalismo é passar informação com credibilidade, clareza e que contribua com a sociedade.

Portanto, sem desmerecer o talento de ninguém, youtuber, blogueiros e afins não são jornalistas (ao menos em primeira instância) e quando você optar por uma faculdade de comunicação social, não confunda sua suposta futura profissão com isso. Já você que apenas absorve as informações, cuidado, muitas vezes é pagar de idiota acreditar em qualquer um que grave um vídeo, áudio ou escreva um texto, pois opiniões todos temos, mas informação de qualidade é uma questão de escolha e temos à disposição praticamente grátis.

*Vitor Franceschini é editor do ARTE Metal, palmeirense e headbanger que ama música em geral, principalmente a boa. É jornalista graduado, depois blogueiro e já foi youtuber.

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